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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

5 de junho de 2011

Enfermópoles

Nenhuma ação isolada, nem nenhuma ação coletiva, está apta a modificar deveras o atual estado de desumanidade incondicional no qual estamos – todos nós – mergulhados, principalmente se somos habitantes de grandes centros metropolitanos, de grandes metrópoles. O ritmo exigido pelo modo de vida urbano impõe uma cadência enfermiça aos processos naturais do corpo humano.

Por isso, as metrópoles deveriam se chamar enfermópoles, pois funcionam como fermento de inumeráveis quadros patológicos, somáticos ou psicossomáticos.

As enfermidades decorrentes da adequação ao modo de vida urbano progridem numa proporção maior e mais silenciosa do que o crescimento urbano propriamente dito, tão silenciosa que não foram catalogadas, ainda, todas as variáveis para a sua mais exata e completa apreciação.

Para aliviar o tom pessimista e apocalíptico destas afirmações – pois é tendência mundial o crescimento dos centros urbanos – transcrevo os seguintes pensamentos que, por ora, circunvolucionam a minha mente no esforço de forjar alguma alternativa honestamente viável a indivíduos que, como eu, tiveram suas verdades derrubadas, caídas por terra, destronadas do ápice das melhores tradições, destituídas das crenças fundamentadas na fé inquestionável.

Somente o estado de estabilidade profunda está devidamente habilitado a se confrontar às instabilidades intensas, diversificadas e encobertas que se nos apresentam durante a rotina, em nosso dia-a-dia trivial.

Sempre tive a impressão de que o brasileiro não sabia capitalizar oportunidades. Enganei-me. O brasileiro tem capacidade, sim, de capitalizar. O sistema de saúde está aí para comprovar esta tese. Ou melhor, o sistema antissaúde. A doença sistêmica.

Quantos não são os que vivem em função da doença? Quantos não estão enriquecendo ao custo da dor e da enfermidade alheia? Não seriam estes portadores de sangue em suas próprias mãos, pois contribuem, ainda que de forma indireta, à prática do assassinato?

O cultivo do estado enfermiço – de um Estado enfermiço – não é exclusividade do brasileiro. Está difundido por todo o planeta, ultrapassando os limites do organismo humano, abrangendo outras espécies: espécies animais, vegetais e minerais. A humanidade doente está destruindo – não vagarosa, porém vigorosamente - florestas, paisagens e mares.

Tenho em mim a compreensão de que enquanto ocorrerem mortes por descaso, erro e negligência nos hospitais públicos, os crimes de assassinato continuarão a existir, pois esta é a forma que o corpo coletivo tem para instigar equilíbrio em favor de uma civilização saudável, sem diferenças entre seus componentes, cuja constituição é feita de matéria orgânica e psíquica similar e verossímil. Ou seja, enquanto existirem diferenças no trato de seres iguais, enquanto persistirem desigualdades sociais, é inerente ao organismo social providenciar ajustes ao equilíbrio, por mais cruéis que possam parecer tais ajustes. O organismo social devolve toda instabilidade em forma potencializada, multiplicada.

A meu ver, a principal questão nesta altura do texto é: — Eu; um mero componente de insignificante aparência neste imenso corpo social; o que eu posso fazer para modificar, de verdade, este atual estado, uma vez que a impotência contribui pela piora da vida pessoal e, conseguintemente, da vida coletiva?

Minha modesta compreensão permite vislumbrar como resposta o seguinte: — Devo assumir o comando das minhas disposições internas. Esta é a dimensão que está ao meu alcance de forma inegável e imediata. Nisto reside a estabilidade apta ao encontro imperturbável com a instabilidade.

Neste ínterim, esbarramos no conceito de livre-arbítrio – outra falácia apregoada que merece ser desconstruída em prol de uma compreensão livre e desimpedida... desbloqueada das imposições de qualquer gênero (imposições culturais, marteladas por métodos educativos moldados e modeladores da obediência fundamentada no medo... medo de não conseguir o próprio sustento, medo de não conseguir uma boa colocação social caso não se submeta à aprendizagem e à aplicação que é ensinada nas escolas, nas universidades, nas empresas e nas instituições públicas).

À primeira vista, o assumir o comando das próprias disposições internas é algo simples... tão simples quanto os cuidados e zelos em favor da eclosão de uma minúscula semente em gigantesca árvore, por mais tempo que isto demande...

É assim que se sente quem tem o comando sincero e silencioso sobre si mesmo: um gigante... um gigante pronto para estender sua sombra à eclosão de sementes irmãs!

Liban Raach

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