Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de julho de 2011

Vazio de que?

Reflexões

É maravilhoso! Não há outra definição, ou melhor, não há como definir o quão gratificante é perceber o desdobramento dos fatos, das situações, por vezes profundamente dolorosas que antes não tinham como ser percebidas, assimiladas, compreendidas. Sempre deixei claro em meus textos, o quanto me ressentia com os constantes ataques de tédio, insatisfação e vazio, sentimentos estes que eram seguidos de uma imperiosa necessidade de preenchimento, e que me roubavam a capacidade de desfrutar a vida, o esplendor de cada momento. Tal imperiosa necessidade de preenchimento foi, inicialmente tentada das mais variedades de formas insanas possíveis, do que, inevitavelmente só podia propiciar mais caos e confusão ao a já instalados. Era uma matemática insana, uma fórmula formada pela dor do vazio, acrescida de alguma forma de prazer imediato, com seu alivio momentâneo, precedido sempre de dor ao quadrado, quando não, ao cubo. Sempre a mesma insanidade de fazer as mesmas coisas esperando por resultados diferentes. Nunca, ao longo de todos estes anos, me ocorreu com tanta clareza que eu não tinha momentos de vazio, o que tinha era uma profunda e imperiosa necessidade de "esvaziamento" de tudo que não me era natural, de tudo aquilo que permiti, por falta de maturidade, carregar como valores verdadeiros, como necessidades verdadeiras e que ocupavam o espaço da única e real necessidade: uma vivência direta do Ser que nos faz ser, um estado de comunhão com essa Presença que a tudo traz o seu real valor. Olho para o retrovisor de minha tumultuada existência e vejo os caminhos tortuosos nos quais tentei evitar tal experiência de esvaziamento, tal experiência de deserto, tal experiência de solidão, tão necessária para o encontro e conhecimento de si mesmo. Quantas relações vazias, quantas rodas de euforia delirante, as quais, erroneamente, nomeava como amizade, e em nome das quais, me permiti um ajustamento servil. Sempre um prisioneiro em meio de prisioneiros, totalmente desconhecidos de si mesmos, analfabetos do Ser. Quão longa e dolorosa foi a caminhada para chegar ao "sagrado momento de saturação"... Aquele momento em que se percebe lucro onde antes só se enxergava prejuízo. Aquele momento em que se percebe a riqueza contida na expressão, "antes só do que mal acompanhado" — e isso não se refere tão somente as vazias relações, se é que assim posso chamá-las. Refiro-me a visão da necessidade de estar só, psicologicamente, sem aquela imperiosa necessidade de buscar pela experiência de terceiros, só para poder não fazer frente ao próprio deserto existencial, causado por anos e anos de afastamento de si mesmo, afastamento este que foi sendo sistematicamente instalado através da cultura, da formatação mental que chamam de educação, da formatação em série que chamam de curso superior, do encalacramento da mente que chamam de religião, do afogamento do ser que chamam de obrigações sociais. Nunca pude compreender com cada célula de meu corpo, a sabedoria contida na expressão que diz "que é no vazio fértil de um bambu que a flauta conhece a impessoalidade do Som que dá seu som". Me desesperava quando lia nas linhas de vários homens e mulheres que "deram certo", que a resposta está dentro de cada um. Olhava, olhava e olhava e nada encontrava, a não ser, mais vazio e inquietude. A cada tentativa de olhar, mais vazio, mais inquietude não assimilada, não compreendida, trazendo mais desespero por não entender a lógica de tais sentimentos e de que não tem como um "eu", por si mesmo ver a resposta. A resposta foi surgindo sem a consciência desse "eu". Ela foi tomando seu devido lugar que foi, por decênios, ocupado por um monte de lixo cultural, por um monte de condicionamento, por uma insana expectativa de acompanhar e responder a infinidade de "você tem que", "você deve", "você precisa", que soavam das surdas bocas que me cercavam. Tudo isso por medo do ostracismo, pela doentia necessidade de aceitação, pelo medo de ser diferente, de pensar e sentir diferente, pela necessidade de reconhecimento e de um senso de pertencer, mesmo que esse senso de pertencer, contraria-se as minhas mais intrínsecas necessidades. Foi através do cansaço dessa frases, desse amontoado de falas vazias, de encontros destituídos de almas, com essas bocas que falam demais por não ter nada de impessoal a dizer, e também do peso das máscaras que usava para com elas poder me relacionar, que instalou-se a corajosa necessidade de solidão, de distanciamento e de auto-enfrentamento. 

Não tem preço perceber que não existe essa tal coisa que antes erroneamente eu chamava de "vazio"; o o que existe é uma profunda e empírica necessidade de auto-esvaziamento, esvaziamento daquilo que se pensa ser, daquilo que se pensa necessário ser, o esvaziamento desse insano vir-a-ser. Um retorno ao modo da infância, onde não havia tempo, preconceitos, memória, só uma entrega capaz de superar o medo de novas experiências, um estado de abertura constante ao novo. Agora me recordo de uma frase que me foi dita por um homem que foi muito importante em certo período de minha vida. Em sua sabedoria, com seu português simplório que fazia os menos sensíveis dele caçoarem quando da sua ausência, um dia disse-me, sentado no banco dianteiro de meu carro, em frente da pensão em que morava: "Deus é exatamente do tamanho de seu vazio. Enquanto você insistir em colocar algo para preencher tal vazio, esse tão necessário encontro nunca ocorrerá." Naquele período, devido a fragilidade emocional em que me encontrava, por acabar de ter saído da minha "depressão iniciática",  a qual hoje brinco nomeando-a de "Deuspressão", não havia a maturidade necessária para a compreensão da magnitude de tais palavras. Sei que neste momento ele deve estar sorrindo junto comigo. É ao menos curioso perceber como que a natureza funciona, perceber o tempo necessário para que uma palavra possa dar os frutos. É o "eu" que quer resultados imediatos, que se acha sabedor do tempo certo. Havia também uma senhora que sempre me dizia: "As coisas não funcionam no seu tempo; tudo ocorre no tempo de Deus e, o relógio de Deus, não tem ponteiros". 

Quero agora compartilhar da alegria que sinto, por ter sido agraciado pela coragem de abrir mão dessas relações que não me impulsionavam para este auto-enfrentamento. Pela coragem que me foi dada para me entregar a solidão, para fazer frente ao ostracismo, fruto dos medos oriundos da falta de compreensão por parte das pessoas, líderes dos grupos pelos quais passei e que cumpriram muito bem sua real função. Aqueles que me fecharam as portas, sem consciência, foram os mestres que a Grande Vida colocou em meu caminho, a fim de me direcionar para a possibilidade de novos encontros muito mais nutritivos, tão necessários para a manifestação deste estado de bem-estar e unidade interna, desta autonomia e autosuficiência psicológica, que traz consigo, liberdade com responsabilidade e quem sabe, amorosidade.

Nelson Jonas R. de Oliveira

A falácia dos rótulos


De que vale ao homem andar com "o" carro do ano, com a moda do momento, o último modelo de celular, ser portador dos mais variados tipos de lançamentos — seja lá de qual área — se em sua mente, de forma 100% inconsciente, ferrenhamente se apega a valores seculares destituídos de real valor? Para que servem esses valores que sustentam como sagrados, se os mesmos limitam sua originalidade, sua autenticidade, sua capacidade de ver a vida por si mesmo, sua capacidade de livre expressão, sempre tolhidas pela doentia necessidade de ajustamento, de conformismo e de uma aparência de respeitabilidade? De que vale ter todo esse aparato tecnológico de ponta, — quase sempre criador de uma escravidão que torna a mente preguiçosa e tacanha — se tais aparatos em nada apontam para a formação de uma "mente de ponta", uma mente livre em si mesma, não condicionada, não ajustada, não limitada por tais arcaicos valores?... De que vale tudo isso? De que vale ao homem se manter preso a uma falsa respeitalibilidade, cuja essência, cuja base se encontra na hipócrita perpetuação das aparências que em nada condizem com a Realidade dos fatos, internos e externos, em que vive e que o faz refém dos peculiares e disfarçados medos de que tal realidade fragmentada, possa ser exposta a luz da Verdade, tanto diante dos outros como de si mesmo? Que referencia real pode existir entre o verdadeiro amor, o verdadeiro respeito e esses desgastados rótulos socialmente praticáveis — Sr., Sra., mamãe, papai e outros tantos? Desde quando a palavra pode substituir o real sentimento? O sentimento real, não necessita de palavras. Só as aparências, precisam das palavras. E quem vive das palavras, quem vive das aparências, na verdade, não vive: só aparentemente, existe!

Nelson Jonas R. de Oliveira


Bendita maldição!

Da vida não espero mais nada!
Apenas o estar vivo.
Viver já me basta!

No caminho constante de um indivíduo em evolução está contida a fase do desvencilhamento de todas as formas de ilusão, entre elas a falsa noção de segurança dada por posição social, ou remuneração mensal, ou qualquer outra sensação de garantia do seu lugar ao sol em território conhecido - por mais legítimo que seja.

O fato óbvio de estarem em território conhecido já derruba por terra estas noções de segurança.

Entretanto, é vago por demais afirmar que a base e o alicerce verdadeiros, o fundamento inabalável e atemporal, o ponto fixo de apoio na alavanca ou na gangorra da natureza humana encontra-se em uma região fora do conhecido.

Tão vago que lá ficamos em estado de divagação, em absoluta entrega!

Ao sabor do vento, como se estivéssemos à deriva em mar aberto... em amar aberto... no mar da vida em si... na vida em si... a vida dentro de mim... A Vida... O Viver!

Quem, em sã consciência, estaria disposto a se sujeitar a tal situação?
Será que tal situação está reservada, apenas, aos rotulados de fronteiriços da sã consciência?

Quanto não existe de mais graça e de mais encantos em estar à deriva? Quantos não são os ventos benfazejos, os zéfiros, capazes de nos levar a um estado genuíno de arrebatamento?

Muitas vezes, nos retiramos deste estado de entrega - que o nosso estreito entendimento vê como um distanciamento definitivo de quem supomos amar - pois este ainda está em terra firme; enquanto nós, por desbravar mares nunca antes navegados (homenageando Camões), fomos acometidos por uma substância desconhecida em nossas entranhas, algo incurável, uma maldição bendita ou uma benção maldita.

Se não consegui me fazer inteligível, lamento. Lamento por não conseguir expressar - por meio da linguagem escrita - este algo do incognoscível, pertencente ao reino da Poesia, ao reino da Arte, da Arte do Viver e do Viver com Arte.

Do Ser...enfim!
Enfim...O Ser!

Liban Raach

Religiosidade

Ser Místico
Religiosidade é um fenômeno absolutamente individual. Ele não é algo relacionado a coletividade, você não vai brigar com alguém... "Assim, estejam unidos." Os muçulmanos têm que estar unidos contra os hindus; os hindus têm que estar unidos contra os cristãos; os cristãos têm que estar unidos contra os judeus. Estas coisas não são religiões. Elas são multidões insanas que querem praticar violência em nome da religião, em nome de Deus.

OSHO – The Osho Upanishad- Disc. 35

30 de julho de 2011

Falamos da vida - e não de ideias

"... Falamos da vida - e não de ideias, de teorias, de práticas ou de técnicas. Falamos para que olhe esta vida total, que é também a sua vida, para que lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem pouquíssimo tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca esse tempo. Olhe a sua vida, dê tudo para a compreender".

J. Krishnamurti

Sobre a neurose

A neurose oferece uma extraordinária impressão de segurança. O homem que crê é neurótico, e neurótico é também o que adora uma imagem. Nestas neuroses encontra-se muita segurança. E a segurança não faz operar-se uma radical revolução em nós mesmos. Para realizá-la, cumpre observar sem escolha, sem nenhuma deformação causada pelo desejo, pelo prazer ou pelo medo. Temos de observar o que realmente somos, sem nenhuma espécie de fuga. E não deis nome ao que vedes: Observai-o, apenas! Tereis então a paixão, a energia necessária ao observar, e nesse observar verifica-se uma extraordinária transformação.

Autor: Krishnamurti - Fora da Violência - Ed. Cultrix

Ramesh Balsekar

Pergunta: Quando você fala sobre como nossas vidas são determinadas, usando os conceitos do robô ou do computador, isso soa muito limitador, não há escolha, não há liberdade. Mas minha experiência é que me sinto repleta de um sentido de liberdade.


Ramesh: Claro, esse é o ponto importante. Então, o que é esse sentido de liberdade que surge? Que tipo de liberdade é esse?

Pergunta: Eu não sou esse robô ou o computador.

Ramesh: Exatamente. Esse é o ponto. Portanto, liberdade de que? Liberdade daquilo que anteriormente identificava-se com o computador. Significa liberdade do próprio computador, liberdade da identificação com o computador. O sentimento que você tem agora Ashika, é que antes você pensava que "você" era o computador e agora sabe que você não é o computador. Esse computador está sendo usado pela Fonte, ou Deus, para trazer certas ações que necessitam acontecer através deste organismo corpo-mente. Não é isso?

Pergunta: Eu pensava que liberdade era liberdade de escolha, era fazer o que eu queria.

Ramesh: Livre arbítrio.

Pergunta: Sim. Isso tudo parece ter morrido.

Ramesh: Então não há livre arbítrio e isso não traz um senso de constrição.

Pergunta: Há uma liberdade totalmente diferente, liberdade de não estar de modo algum identificada.

Ramesh: Sim. Liberdade do envolvimento. Sua experiência foi que o envolvimento é que causa a infelicidade; se não há envolvimento não há infelicidade. Então, o que você realmente está dizendo é que a liberdade é da tristeza porque é liberdade do envolvimento. E "quem" se envolve? O ego fica envolvido. A liberdade é a liberdade do ego. E o ego é o sentido pessoal de autoria das ações. Portanto, liberdade, em última instância, é liberdade do sentido de autoria pessoal das ações – tanto deste organismo corpo-mente, como dos outros organismos. É notável que isso tenha ocorrido com você, os outros talvez não aceitem isso, mas quanto a você a liberdade se estende a todos. Ninguém tem livre arbítrio. Tudo o que acontece é que ações acontecem através dos bilhões de computadores corpo-mente. Então não há razão para Ashika sentir-se culpada, sentir orgulho ou ódio de ninguém. Isso é aceitável?

Pergunta: Sim.

Ramesh: Essa é a liberdade que está refletida na sua compreensão – liberdade da culpa, do orgulho, do ódio e da inveja – que significa o que? Liberdade do envolvimento. É o envolvimento que causa infelicidade – um pouco de felicidade e um monte de infelicidade. Portanto, aceitar o que acontece como sendo algo que você não pode se envolver e sobre o qual você não tem nenhum controle – essa é a liberdade pelo fato que o que quer que esteja acontecendo está além do controle de qualquer pessoa. Desse modo, o que quer que esteja acontecendo é simplesmente aceito como algo que deveria acontecer – e não por causa da vontade de algum indivíduo.

Pergunta: Eu estava sentindo-me confusa pois havia esse enorme sentimento de liberdade mas não era liberdade para fazer ou deixar de fazer. Era simplesmente uma liberdade para ser.

Ramesh: Você vê, liberdade do envolvimento é liberdade da limitação do ego. O ego é restrito. Então o ego que pensava anteriormente que "ele" era livre para fazer o que "ele" quisesse agora descobriu que não existe "Ashika" para fazer coisa alguma. Isso é liberdade da responsabilidade, do sentido de autoria pessoal das ações e liberdade do orgulho. Pelo ego essa liberdade é traduzida como uma perda de "seu" livre arbítrio pessoal. Então essa liberdade é em si estar livre do ego, mas o ego não pode sentir essa liberdade. O ego sente que "ele" perdeu o livre arbítrio de fazer o que ele quer fazer – que "ele" pensava que possuía. Essa foi a confusão que você sentiu, a liberdade que surgiu da perda do sentido de autoria das ações significa a perda de liberdade do ego. Isso faz sentido?

Pergunta: Sim.

Ramesh: Eu repito: liberdade do sentido de autoria pessoal significa a perda da liberdade do ego. E essa é a confusão, pois ainda há essa identificação do ego com este organismo corpo-mente chamado Ashika. O ego ainda permanece e sente-se terrivelmente restringido.

Esta é a sua vida


"Essa é sua vida.
Faça o que você ama, e faça sempre.
Se você não gosta de alguma coisa, mude-a.
Se não gosta do seu trabalho, saia.
Se não tem tempo o suficiente, pare de assistir TV.
Se você está procurando o amor da sua vida, pare.
Eles estarão esperando por você quando você começar a fazer coisas que você ama.
Não fique analisando demais, a vida é simples.
Todas as emoções são belas.
Quando for comer, aprecie até a última mordida.
Abra sua mente, braços, e coração à novas coisas e pessoas, nós estamos unidos pelas nossas diferenças.
Pergunte à próxima pessoa que você vir qual é a paixão dela, e compartilhe o seu sonho inspirador com ela.
Viaje muito. Se perder ajuda a se encontrar.
Algumas oportunidades só aparecem uma vez, aproveite-as.
O que importa na vida é as pessoas que encontramos, e as coisas que criamos com elas, portanto saia e comece a criar.
A vida é curta. Viva o seu sonho e vista a sua paixão."

Fonte: http://www.bizrevolution.com.br/

Sobre o não ter filhos


Perguntaram-me nesta semana, se eu não sentia o desejo de ter um filho. Pude constatar o espanto do  meu interlocutor, ao ouvir a segurança da minha negativa quanto a esse desejo. Ele, com enfase me respondeu que isso era uma pena, visto que muito se aprende com o trabalho de se dedicar ao outro. Fiquei em silêncio, uma vez que, não há como transmitir ao outro o que é ter sido fecundado pela Grande Vida, no ventre que somos, a possibilidade de fazer-se crescer como obediente filho do Ser que nos faz ser, sendo. Mal pode ele imaginar, o quanto trabalhosa e responsável se faz tal paternidade, de muitos desconhecida.

Nelson Jonas R. de Oliveira 

Sobre as relações disfuncionais


Quando se tem a coragem de abrir mão das relações disfuncionais — relações que não nos impulsionam para a revelação da realidade que somos — as funcionais aparecem e, sem grandes alardes, cumprem sua benfazeja função de "disfuncionalizar" tudo aquilo que por sôfregos decênios se teve como funcional. 

Nelson Jonas R. de Oliveira

A utopia das palavras do não-lugar


Nesta semana, dizia um amigo meu — e com toda razão — que vivo num estado de utopia. Tentando me alertar, trouxe-me um dvd sobre esse assunto e disse-me ainda sobre o significado da palavra utopia: "não-lugar". Deixou clara a sua preocupação comigo por achar que não vivo dentro daquilo a qual ele tem por real. Pois bem, na realidade, faço parte desta minoria abençoada por essa necessidade de transcendência de si mesmo. Vivo a grande utopia de fazer ascender a realidade de uma chama num coração que pensa e de um cérebro que sente o qual, através da limitação das palavras tenta expressar aos outros a beleza manifesta por esse coração em chamas, quando em momentos de profunda presença em solidão. Essa é a grande utopia capaz de estabelecer a comunhão do encontro de todos os caminhos no não-lugar, onde não mais existem caminhos nem buscas; encontro esse, só acessível aqueles que se permitiram a demolição de tudo aquilo que tinham por realidade.

Nelson Jonas R. de Oliveira

Constatações numa noite de Satsang

O lavador de cérebros
O mecanismo tem
sempre um mecanismo
para justificar um mecanismo
para não pulverizar o mecanismo.

Um Satsang é uma arma de destruição de massa cinzenta condicionada.

29 de julho de 2011

Sem os códigos as crenças e as imagens.

Relaxem neste estado de presença seja ele qual for, abençoado ou doloroso, divertido ou tedioso, se há pensamento ou não, se é um momento, significativo ou não, grande ou pequeno inclua tudo dentro desta ilimitada Consciência, desta realidade que somos além desta pessoal e particular identidade, como? Observando sem divisão, interpretação, escolhas o que estiver ai, geralmente não é assim que nos portamos, estamos sempre com o nosso fundo, com a nossa programação já escrita, estamos a maioria armados dentro de nós mesmos, apegados aos nossos códigos, crenças e imagens, assim como pode haver felicidade? Sem a simplicidade de nossa naturalidade? Nos falta esta aproximação do nosso estado real do nosso estado natural desta Consciência real, ela nos mostrará a todos a verdade da felicidade procurada, sem nome sem forma, além das crenças mundanas e religiosas, aquilo que todos sentimos que precisamos encontrar, aqui não há mais sofrimento, os códigos, as crenças, as imagens mentais perdem toda importância, mas é uma constatação ou descoberta sua e não do "outro". Mas vejam o quanto é importante para cada um nós essa questão de dar aos nossos códigos, crenças e imagens vida, transformar tudo isso em imagens vivas, imagens reais, que depois nos assombram..

Vivemos presos nestas imagens, naquilo que o pensamento tem imaginado, nossa mente tem esta característica de criar essas imagens e se agarrar a elas, vivemos de imagens, não estamos diante da realidade por que o pensamento esta sempre sobrepondo àquilo que é, algo que ele deseja, procura, busca, ou teme, e assim temos vivido eu um mundo virtual de conceitos mentais, de crenças de idéias de padrões de pensamentos, podemos nos livrar disso tudo, se descobrirmos a ilusão disso, abandonando, esse que tem sido o modelo de vida mental de todos a nossa volta. Uma vida centrada na mente, no sentido separatista, sou uma pessoa, sou alguém, ele diz sou alguém, importante, e não mereço, ser tratado assim, me tratam, sem reconhecerem meu valor, isto é um código, uma crença, isto é uma imagem que produz auto-piedade ou então, não tenho valor nenhum, sou um inútil, não consigo fazer nada certo, sou isso ou aquilo. E assim vejo o mundo a minha volta, através dessas imagens.

Tudo o que estamos dizendo é com o propósito de descobrirmos esta simplicidade de nossa real natureza, que é a Consciência, algo não conceitual, não explicável, o que chamo de não-conceitual Consciência  sem as  imagens, os códigos as crenças sem qualquer conteúdo, sou isso, somos isso, nada há fora disso, isso que temos vivido é apenas uma miragem mental, foi colocada ali, e se tornou importante, tomando o lugar do real, mas se há uma liberação disso e isto é possível agora, ser apreendido agora, porque é o que esta presença é, porque é isso que sou, isto é possível se há aquele silencio que acontece naturalmente, nascido da auto-investigação isto é meditação é entrega, é sobre isso que estamos falando. Uma nova maneira de viver, requer a libertação de todos os nossos condicionamentos, a liberação, o descarte de tudo isso, para assim termos, uma constatação de nossa própria realidade, do nosso próprio experimentar, nesta vivacidade do que sou ou de quem realmente somos.

A difícil e negligenciada arte de escutar


Como é difícil manter a comunicação com as pessoas quando estas tomam como pessoal tudo aquilo que ouvem. Quase sempre, diante de tal postura, o que é dito é tomado como uma imposição, afronta, ofensa pessoal. Qualquer idéia expressa que não esteja  em conformidade com o script social pelo qual é regido o estilo de vida da pessoa, logo é tomada como uma imposição ou então, numa rebeldia destituída de inteligencia. Não há como ocorrer uma real comunicação, um entendimento quando não existe o filtro que impede o "eu" com todo seu pacote de ideias, memórias, preconceitos, achismos, pontos de vista, condicionamentos, crenças e tudo mais que o compõem. Não há como se ver nada — a não ser o julgamento — se o que está sendo dito bate ou não com aquilo que já está estabelecido como verdade e que, na maioria das vezes, sustenta uma zona pessoal de conforto, onde não é requerido nenhum tipo de aprofundamento pessoal. Quando isso ocorre, se ambas as partes não estiverem atentas (ou pelo menos uma), corre-se o risco de um confronto pessoal e não o compartilhar de idéias, o que quase sempre acaba levando para o isolamento mental e até físico. É imperativo que em tais situações, — onde o "eu" está presente — que nos escudemos em velhos rótulos que justificam e impedem a reflexão. Não ocorre o escutar que vai muito além do que o "debatente" ouvir. Quando a comunicação — se é que podemos chamar isso de comunicação — ocorre desse modo, não há como transcorrer sem que seja truncada, não há como haver espontaneidade e naturalidade, uma vez que precisa passar pelo desgastado filtro do intelecto. E o que é visto — se é que algo é visto a não ser os próprios preconceitos — é visto como julgamento ou afronta do qual é preciso se defender. Nessas situações, ocorrem toda forma de distorção. Todo "A" será inevitavelmente interpretado como qualquer letra que não seja o "A". O resultado dessas comunicações é um profundo desgaste, devido o fato de não ocorrer um verdadeiro encontro. Quando a comunicação ocorre no nível das palavras, não há como ocorrer uma real comunicação, só mero ajustamento ou confronto de idéias e é preciso muita maturidade para que não se instale a ferrugem do melindre, da autopiedade, e do vitimismo retaliador. A personalidade, o "eu" que é todo o conjunto das experiências, memórias, condicionamentos, não deixa que ocorra tal encontro. Quando este "eu" está presente, o que pode ocorrer é apenas superficiais contatos sempre embasados na respeitabilidade esperada pelo script social, o que não passa de um modo político de se relacionar. Portanto, é sinal de inteligência, se manter calado quando se percebe qualquer forma de resistência que impessa o escutar distituído de julgamentos, escolhas e ajustamentos, uma vez que nosso intelecto é facilmente "arranhável". Este, quando arranhado, pode se mostrar profundamente separatista; é dele que brotam todas as formas de retaliações, inimizades e, não raro, trágicas situações. Portanto, há uma grande sabedoria no dito popular: "falar é prata, escutar é ouro". Investir na capacidade da escuta, talvez seja um dos maiores patrimônios, senão, a mais importante arte a ser experienciada nesta truncada existência humana.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Mundo

Não viemos ao mundo para fazer o que os outros fazem.
Não viemos para fazer um pouco melhor o que os outros fazem.
Viemos para fazer o que só nós podemos fazer.

Trigueirinho

Adivinhem quem são os ratos...

O “eu” se esconde sob cada pedra

O “eu” se esconde de muitos modos, debaixo de cada pedra. O “eu” pode se esconder na compaixão, indo à Índia e cuidando de gente pobre, porque o “eu” está apegado a alguma ideia, alguma fé, conclusão, crença, que me torna misericordioso porque amo Jesus ou Krishna, e vou para o céu. O “eu” tem muitas máscaras: a máscara da meditação, a máscara de alcançar o nível mais alto, de ser iluminado, de “eu sei o que estou dizendo”. Toda essa preocupação com a humanidade é outra máscara. Portanto, é preciso ter um cérebro extraordinário, sutil, rápido, para ver onde ele está escondido. Isso exige muita atenção, vigilância, vigilância, vigilância.

Krishnamurti

A verdade não precisa ser conquistada

A verdadeira vida de um homem é o caminho no qual ele se desfaz das mentiras que lhe foram impostas pelos outros. Desprovido das roupas, nu, ao natural, ele é aquilo que é. Trata-se aqui de ser, e não de vir a ser.

A mentira não pode transformar-se na verdade, a personalidade não pode transformar-se na sua alma. Não existe maneira de transformar o não-essencial em essencial. O não-essencial permanece não-essencial, e o essencial permanece essencial — eles não são conversíveis.

Esforçar-se pela verdade só vai criar mais confusão. A verdade não precisa ser conquistada. Ela não pode ser conquistada, pois já está aí. Apenas a mentira é que precisa ser descartada.

Todos os anseios, propósitos, ideais e metas, todas as ideologias, religiões e sistemas de aperfeiçoamento, de melhoramento, são mentiras. Cuidado com tudo isso. Reconheça o fato de que do jeito como você é agora, você é uma mentira, resultado de manipulação, produzido pelos outros.

A busca da verdade é de fato uma distração e um adiamento. É a fórmula encontrada pela mentira para disfarçar-se. Olhe a mentira de frente, examine a fundo a falsidade que é a sua personalidade. Pois encarar a mentira é parar de mentir. Deixar de mentir é desistir de buscar alguma verdade — não há necessidade disso.

No momento em que desaparece a mentira, ali está a verdade em toda a sua beleza e esplendor. Encarando-se a mentira ela desaparece, e o que fica é a verdade.

Osho

Transição - Rama Ruana

O que acontece quando você perde uma pessoa por morte?


O que acontece quando você perde uma pessoa por morte? A reação imediata é um sentimento de paralisia, e quando se sai desse estado de choque, existe aquilo que chamamos sofrimento. Agora, o que significa essa palavra? Sua companhia, as palavras confortantes, os passeios, as muitas coisas boas que você fez e esperava ainda fazer, juntos – tudo que isto lhe é tirado em segundos, e você é deixado vazio, nu, e solitário. É isso que incomoda, e contra isso é o que a mente se rebela: ser repentinamente abandonada, totalmente sozinha, deixada sem qualquer apoio. Agora, o que importa é viver com esse vazio, justamente isso, viver com ele sem nenhuma reação, sem racionalizar, sem fugir por meios de médiuns, por teorias de reencarnação e toda essa bobagem estúpida, e viver isso com todo seu ser. E se você for passo a passo, notará que existe um fim no sofrimento – um final real, não só um final verbal, não, o final superficial que vem por fuga, por identificação com um conceito, ou compromisso com uma idéia. Então você notará que nada existe onde se proteger, porque a mente está completamente vazia, já não está reagindo, no sentido de tentar preencher esse vazio, então, todo sofrimento terá chegado ao fim, e terá início outra viagem – uma viagem que não tem fim e nem começo. Existe uma imensidão que está além de toda medida, mas você não pode entrar neste mundo sem a eliminação total do sofrimento.

Krishnamurti – O Livro da Vida

28 de julho de 2011

Revolução interior

Uma revolução em toda a psique do homem não é realizável por meio da vontade, que é desejo, determinação, por meio de um plano de vida conducente à paz. Ela só é possível quando o cérebro pode estar quieto e ao mesmo tempo ativo, para observar sem criar imagens de acordo com sua experiência, conhecimentos e prazer. A paz é essencial, porque só na paz pode o indivíduo florescer em bondade e beleza. Essa possibilidade só existe quando somos capazes de escutar o todo da existência, com todas as suas agitações, aflições, confusão e angústias - escutá-lo, simplesmente, sem nenhum desejo de alterá-lo. O próprio ato de escutar é a ação que operará a revolução.

Krishnamurti - Encontro com o eterno - ICK

Diálogos com Estudantes - II



Nesta série de diálogos, muitas perguntas e comentários dos estudantes são revigorososamente diretas e francas. Há um tremendo sentimento de afeição enquanto Krishnamurti explora suas perguntas de maneira relacionada com as próprias vidas das crianças.

Eles falam sobre inteligência, segurança, meditação e concentração, o valor da educação e aprendizado, e até sobre Deus. Embora negando ser o professor, Krishnamurti mostra a qualidade do verdadeiro ensinar -- o relacionamento entre o educador e o estudante. Freqüentemente, ao final da discussão, ele convida os estudantes a sentar-se com ele, em silêncio, por alguns minutos.

Conhecimento e Transformação


Série - Um modo totalmente diferente de viver .
Video 1 - Conhecimento e Transformação
J.Krishnamurti -- Primeira Conversa com Dr. Allen W. Anderson em San Diego, California 18 de Fevereiro de 1974.

Não importa se você morrer por isso



" Não importa se você morrer por isso "

Nesta série de diálogos, muitas perguntas e comentários dos estudantes são revigorososamente diretas e francas. Há um tremendo sentimento de afeição enquanto Krishnamurti explora suas perguntas de maneira relacionada com as próprias vidas das crianças.

Eles falam sobre inteligência, segurança, meditação e concentração, o valor da educação e aprendizado, e até sobre Deus. Embora negando ser o professor, Krishnamurti mostra a qualidade do verdadeiro ensinar -- o relacionamento entre o educador e o estudante. Freqüentemente, ao final da discussão, ele convida os estudantes a sentar-se com ele, em silêncio, por alguns minutos.

Você não é nada


Por que será que guardamos lisonja e insulto, mágoa e afeição? Sem esse acúmulo de experiências e suas reações, não somos nada; nada somos se não tivermos nome, apego, crença. É o medo de não ser nada que nos compele a acumular; e é esse mesmo medo, consciente ou inconsciente, que, a despeito das nossas atividades acumulativas, engendra a nossa desintegração e destruição. Se pudermos perceber a verdade desse medo, então ela será a verdade que nos liberta do medo, e não a nossa determinação resoluta de ser livres.

Você nada é. Você pode ter seu nome e título, sua propriedade e conta bancária, pode ter poder e ser famoso; mas, a despeito de todas essas salvaguardas, você não é nada. Você pode estar totalmente inconsciente desse vazio, desse nada, ou pode simplesmente não querer saber disso; mas isso está aí, faça você o que fizer para evitá-lo. Você pode tentar fugir disso com astúcia, por meio de violência pessoal ou coletiva, por meio de adoração individual ou coletiva, por meio de conhecimento e diversão; mas, esteja você dormindo ou acordado, o vazio está sempre aí.

Krishnamurti

Imaturas crianças assustadas

Máscara

É triste ouvir o relato das crenças disfuncionais das pessoas... Muitas acreditam ser necessário para viver, fazer uso de várias máscaras. Usam-nas por tanto tempo, que sem que se percebam, acabam se identificando como sendo as mesmas. Elas não vivem; representam. Elas não comungam; consomem. Elas não tem amigos; apenas convenientes, priorizados e superficiais contatos momentâneos. Elas não desfrutam dos sonhos; se assombram em pesadelos, os quais tentam amenizar com a dependência de drogas químicas, sagazmente tidas como lícitas. São adeptos da indústria da moda que amolda, mesmeriza e adultera seus corpos; pagando caro para desconhecer autenticidade e naturalidade. Trocam o silencioso caminhar pelos bosques, pelas esteiras eletrônicas nas barulhentas academias. Desconhecem os poderosos filtros internos capazes de fazer frente a massiva e perfurante propaganda — diabolicamente propagada por todos os lados —, que os impulsiona freneticamente em direção contrária de seu próprio interior, causando uma angustiante ansiedade por necessidades desnecessárias. Por serem dependentes do crédito alheio, são fáceis vitimas dos conglomerados de crédito e seus juros abusivos, aos quais inconscientemente sustentam. Elas falam em amor, quando na realidade é apego. Confundem felicidade com euforia. Elas não sabem o que é liberdade; são escravas dos infinitos medos — que de si e dos outros — inutilmente tentam disfarçar. E o pior de tudo, com sorrisos químicos e cirúrgicos, justificam tamanha anormalidade auto-imposta. Entopem seus poros com propriedades da ciência cosmética, para tentar disfarçar a falta de Consciência ética a qual produz, por si, Real Propriedade. Acumulam diplomas em áreas especificas, mas permanecem analfabetas crônicas de sua própria realidade. Em busca de ilusória segurança, colecionam carnês e apólices de seguros. Adquirem transitórios bens de consumo — em nome dos quais se consomem — abrindo mão do intemporal "Bem" que toda transitoriedade consome. Olham para o modo de vida pautado na simplicidade voluntária como uma utopia ou — aos olhos dos outros — um possível atestado de irresponsabilidade e incompetência pessoal. Por causa do seu irrefletido acúmulo de conhecimento, só vêem prejuízo, onde na verdade, um lucro de outra qualidade, se faz incessante. São imaturas crianças assustadas, brincando de ser responsáveis adultos seguros, deixando de herança ao mundo que estão ajudando a destruir, outras crianças assustadas repetindo da mesma cartilha, agora tecnologizada num mundo de vazias relações virtuais.


Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Total Vida

Além do véu - Chandra Lacombe

27 de julho de 2011

Diálogos com Mooji

SOBRE O DESPERTAR
O que significa estar desperto? É simplesmente estar desperto para a nossa natureza eterna, o nosso ser eterno, compreender que não somos nossos condicionamentos, não entender isto somente intelectualmente ou mentalmente, senão realmente ser um com esta compreensão dentro de nosso coração.

Logo, o que se pode dizer a respeito do despertar é que você não é quem acredita ser, ou quem foi condicionado a acreditar que era, que é: uma determinada pessoa, homem ou mulher, que tem certa educação, certos pais, que acredita em certas coisas, ou tem uma determinada religião, que tem sonhos, que tem recordações e que tem um forte sentido de sua identidade baseada na memória. Todas essas coisas nos dão um certo sentido de quem somos, nosso lugar particular no mundo.

Há algo mais profundo que a personalidade, por trás do ‘eu mental’, que não é nosso ser pensante. A mente é como nosso aspecto pensante ou ser pensante. Mas devido a que somos conscientes de nossos pensamentos deve haver algo mais profundo que a mente pensante. Alguém que está desperto é totalmente um com esta Consciência, que é independente da mente pensante, é um estado puro de ‘Ser’, não é um estado de ‘fazer’, senão um estado de completa consciência. 

A Consciência não pode realmente ser descrita porque todas as descrições, as diferenças e a percepção tem lugar na Consciência. Então, a Consciência não é um objeto, não é uma coisa, não pode ser estudada, porque todo o resto ocorre na Consciência e passa através da Consciência. De fato, seria como pedir a uma nuvem que interprete o céu ou mesmo que muitas nuvens se reúnam para transmitir uma compreensão ou expressar a realidade do céu infinito. Não é possível, porque o céu é permanente e as nuvens não são, vem e vão. Então, se temos um pensamento ou idéias a respeito de quem somos, são como nuvens, não são permanentes, estão mudando constantemente. E há uma verdade dentro de nós que não muda, que não necessita mudar, que está além do que muda ou não muda. É um espaço de equilíbrio perfeito — e não quero usar palavras para nomeá-lo porque não há palavras ali —, é o Ser Perfeito e todos os seres humanos, todos os seres vivos provém deste lugar – da Fonte.

Então despertar significa estar completamente consciente e desperto para essa Verdade. Não como um pensamento, não como uma filosofia, não como uma crença, senão como uma experiência direta. É isso o que se chama Despertar. 

A oportunidade e o desafio para os seres humanos é ir além da identidade condicionada: ‘eu sou o corpo’ e dar-se conta de que: ‘Eu Sou o Ser’. Quando damos este passo e nos damos conta de que: ‘Eu Sou o Ser, Eu Sou o Espírito, eu não sou a forma’, então uma imensa alegria e paz voltam para nós e há uma alegria natural interior e abertura para compartilhar esta compreensão com outros seres.


Eu entendo sua pergunta. Se somos Seres Divinos porque temos que sofrer? Esquecê-Lo por completo? Alguns seres humanos parecem tê-Lo esquecido tão completamente que não tem nenhum interesse, em absoluto. Eu mesmo, em um tempo, não estava interessado em despertar, não me interessavam estes tipos de coisas, tinha outros interesses, porém não nisto. Então, de onde veio este interesse? Então da mesma maneira em que surgiu dentro do meu coração e de alguma forma chegou ao lugar em que se encontra agora que há paz dentro de mim, em meu coração, paz em minha mente, — não é a paz gerada por algo, nem sequer tem uma razão, é simplesmente Paz, alegria, silêncio e espaço. Como isso chegou a alguém tão comum como eu? Por isso vejo que deve ser possível para todos, porque não me sinto mais especial que ninguém.

Alguém pode parecer completamente desinteressado, até mentalmente escuro e sua vida pode mudar, pode chegar a uma plena compreensão ou a um completo despertar dentro de si mesmo. Este é o Milagre, de fato. É uma transformação orgânica, ou um giro, em U, não posso dizer qual é a causa, mas não é que algumas pessoas têm sorte e outras não. Aqueles que sentem que chegou o momento de começar a descobrir, começam a sentir-se diferentes, se sentem atraídos começam a olhar para os livros espirituais já não querem mais livros românticos, querem saber sobre Buda. Se você quer dar-lhe um livro de viagem, não o querem, o que desejam é saber o que disse Buda sobre estas coisas. O que o leva a pensar desta maneira? Não o sabemos, simplesmente esta atração floresce dentro de seu coração e você começa a pensar diferente.

No sonho da vida tem que existir estes opostos: como esquecer e lembrar. Se nunca tivesse sentido ódio ou tristeza, não saberia o que é o amor ou a felicidade. Aprendemos através dos opostos, de alguma maneira.


Então, se estivéssemos, como você disse: "todos despertos e divinos", não saberíamos o que é despertar, não saberíamos o que é a Divindade, não saberíamos absolutamente nada. De fato, no estado Original não sabemos absolutamente nada, porque não há nada mais que saber. Compreende isto? Quando você está completo em sua harmonia natural, você não sabe absolutamente nada, o que há para saber? Qual é a razão para saber algo? Você está em completa alegria. Quando você está feliz não quer saber nada, simplesmente está feliz, não é? Porém, quando você está triste quer saber muitas coisas. Quando estamos num estado de sofrimento e dor, ou algo assim, então surge esta pergunta: Porque devemos sofrer desta maneira? Quando estamos nos divertindo, não nos fazemos esta pergunta, estamos suficientemente contentes para continuar nos divertindo. Porém, quando você sofre, sente dor ou perda, ou tem uma profunda ferida emocional, então surgem estas perguntas: "do que se trata esta vida"’?, "porque estamos aqui’?

Este gosto pela experiência é parte do que poderíamos chamar “a Obra Divina”, porque amamos experimentar, amamos o contraste, amamos também a incerteza da experiência, amamos os altos e os baixos da experiência, amamos tudo isso.

É parte do Jogo e da Obra: o gosto por experimentar.



MUDANÇA GLOBAL
Ao longo da história dos seres humanos, diferentes lugares, diferentes países, diferentes civilizações tem chego ao final de seus mundos. Foram grandes reinos no passado e agora se encontram debaixo da terra, algumas pessoas os estão encontrando, estão agora em museus. Então, esse foi o final de suas civilizações. Porém, às vezes, olhamos e dizemos "meu Deus", não é somente o Oeste, o Leste também está tendo problemas, o Norte está tendo seus problemas, o Oeste está tendo seus problemas, parece ser algo global. E observamos coisas como a mudança climática, que nos vai afetar a todos, você não pode dizer: "O gelo está derretendo na Antártica, porém não importa, nós estamos na Índia". Não, porque todos vamos nos ver afetados, todos estamos sendo afetados.

Os seres humanos, não são os únicos responsáveis por isto. O ser humano não é mais que outra forma de Consciência. É a Consciência quem está fazendo tudo isto, atuando como humanidade, não é a humanidade que está atuando como Consciência. Então, em última instância, a Consciência é responsável por isto. E se move através de ondas, com altos e baixos. Algumas mudanças vão se produzir e é difícil dizer quando e como, estão sendo produzindo agora mesmo. O que esperamos é que devido a esta mudança haverá muitos seres humanos cujas consciências mudaram, que terão que ir mais fundo, e descobrir uma nova forma de vida, uma nova maneira de pensar e de ser. É parte do sonho humano e de sua história esperar uma grande mudança que o ser humano possa realizar por vontade própria, porém não muda por vontade própria, as vezes mudamos devido a calamidade, a crise e a dor, as vezes isto é o que traz mudança e crescimento. Tudo o que podemos fazer é continuar evitando que a consciência humana dirija-se para este lado, porque está orientada para aquele lado, está toda para fora, quer objetos, quer fazer isto, tudo na realidade está deste lado dos olhos. Ninguém olha para este lado, é como se neste lado não houvesse nada e de certa forma é verdade, não há nada, daquele lado, todo. Então, durante um tempo, a viagem e a atração para a consciência humana é ir para fora, e o verdadeiro descobrimento espiritual é ir para dentro. A oportunidade para nós é elevar o nível de nossa consciência, parece ser que a consciência atua desta forma. Porém, não quero criar nenhum tipo de ideia romântica sobre isto. Não espere o 2012 ou o 2014 para mudar, sua mudança é agora, você deve despertar agora.

Nossa verdadeira natureza não é começar na terra e terminar na terra, algo começa na terra e termina na terra, porém, não é o que sou. Somos só turistas aqui, simplesmente de passagem, é uma etapa que nós como Espírito devemos provar, esta parte nos corresponde, provar esta história humana e não esquecer nosso Ser. Este é o grande desafio: provar toda esta diversidade e despertar ela, vendo-a como um sonho. Porém, você deve experimentar isto, não acreditar, deve chegar a saber de verdade, e logo poderá começar a experimentar e desfrutar deste mundo com os olhos de Deus. 


UMA SIMPLES MEDITAÇÃO
Quero introduzir uma forma, uma forma simples para que todos os seres humanos possam, outra vez, começar a sentir seu verdadeiro Ser, isto é possível. Eu estou aqui também para convidar as pessoas a viver esta descoberta, para que possam experimentar o que aprendera, para que possam experimentá-Lo diretamente dentro de si mesmos.

O ser humano pode começar encontrando aquele simples sentido de existência. O sentimento “Eu” ou “Eu Sou” é um grande começo. Simplesmente sentindo este sentido natural, de existência dentro de si mesmo; Permaneça unicamente com esse sentido natural de Ser, aquele que dentro de ti não está fazendo nenhum esforço, simplesmente “Eu Sou”, “Tu És”. 

Permaneça com esta sensação e não se conecte a nenhum outro pensamento, com nenhuma lembrança, nenhuma crença, nenhuma intenção e nenhum desejo. Eles virão, mas você será consciente deles, não se prenda a eles. Não faça nada, não pense: que deveria estar fazendo? Deveria estar repetindo um mantra, deveria estar rezando? Não, não reze, não repita nenhum mantra, não tente fazer ou chegar a lugar algum.

Talvez no começo venham muitos pensamentos ou muito ruído na mente, tudo bem, não significa que esteja mal, permita o ruído estar ali, porém você permanece unicamente na presença, permanece unicamente na sua Presença. E logo, esse sentido de presença será mais forte e seus pensamentos, perguntas e todas essas coisas se afastarão de você e você sentirá unicamente presença. Você não será capaz de descrevê-lo, mas se sentirá como paz, e um sentimento natural de bem-estar; talvez até Alegria, haverá um espaço dentro de você, permaneça nele. E logo, de sete a dez minutos, você pode abrir seus olhos, respirar fundo e continuar sua vida. Faça isso. Pela noite, se você puder, faça-o novamente, durante sete ou dez minutos. Faça disto um hábito. Isto não é uma nova religião, não é uma nova crença, é uma simples meditação.

Se todos no mundo, — não estou esperando, nem sequer desejando — porém se todas as pessoas ou metades das pessoas, ou um quarto das pessoas, ou inclusive se cem pessoas no mundo, fizessem isto, uma grande beleza chegaria a este mundo. 

Satsang: Eu Sou


SATSANG EU SOU 
Gravado dia 01/07/2011 Paltalk

Diálogos com Estudantes

Nesta série de diálogos, muitas perguntas e comentários dos estudantes são revigorososamente diretas e francas. Há um tremendo sentimento de afeição enquanto Krishnamurti explora suas perguntas de maneira relacionada com as próprias vidas das crianças.

Eles falam sobre inteligência, segurança, meditação e concentração, o valor da educação e aprendizado, e até sobre Deus. Embora negando ser o professor, Krishnamurti mostra a qualidade do verdadeiro ensinar -- o relacionamento entre o educador e o estudante. Freqüentemente, ao final da discussão, ele convida os estudantes a sentar-se com ele, em silêncio, por alguns minutos.

Singularidade

"Se você deixar cair os modelos fictícios do homem santo e sagrado, você é deixado com o arranjo biológico natural. A estrutura separativa do pensamento, que foi introduzida na consciência do homem há muito tempo, criou um mundo violento, e provavelmente irá empurrar o homem e o resto da vida neste planeta à beira da extinção. Mas biologicamente cada célula tem a sabedoria para evitar modelos e promessas, e simplesmente, por motivos de sobrevivência pura, coopera com a célula ao lado dela. Pelo terror da aniquilação, o homem, como as células do seu corpo, vai aprender a cooperar, mas não por amor ou compaixão."
Uppaluri Gopala Krishnamuti

26 de julho de 2011

Satsang Encontro com Deus e o espelho

..........Será possível uma mente condicionada por tantos anos de vida, totalmente alienada de seus condicionamentos, presa do intelecto, ter a capacidade de se sentar em silêncio para se aventurar a uma experiência da prática da presença do Ser que nos faz ser?
..........Será possível para esta mente, presa constante das artimanhas do intelecto, se sentar em silêncio, totalmente livre dos problemas criados por ela mesma?
..........Será possível se dedicar a essa prática sem olhá-la através de seus próprios condicionamentos?
..........Será possível uma mente totalmente identificada como sendo o próprio intelecto, os próprios pensamentos, para se aventurar na busca da realidade da Consciência que somos, nossa real natureza?
..........Será possível abrir mão por completo com essa identificação falsa de si mesmo?
..........Será possível para esta mente condicionada se abster da identificação com seus pensamentos, suas crenças, idéias, conceitos, julgamentos, teorias e opiniões e partir em busca da própria consciência em si, a consciência de Presença que trazemos?
..........Será possível para uma mente carregada de problemas criados por ela mesma, ter o estado de abertura necessário para experienciar alguma realidade totalmente diferente do que aquela em que se encontra inserida?
..........Será possível para esta mente abrir mão de tudo aquilo que acredita ser para se abrir em direção àquilo que realmente é, livre de qualquer idéia do que isso represente?
..........Será possível, mesmo que por poucos instantes, deixar de lado esse mecanismo mental que compara, julga, retalha tudo aquilo que não se assemelha aos seus próprios conteúdos a fim de poder experimentar algo totalmente novo?...














25 de julho de 2011

Não Deus, mas religiosidade

Os deuses do passado estão mortos, e não podem ser ressuscitados. Eles se tornaram irrelevantes para a consciência humana; foram criados por uma mente muito imatura.

O homem atingiu a maioridade. Ele precisa de uma visão diferente dos deuses, precisa de um tipo diferente de religião. Ele precisa ser libertado do ontem, porque só então o amanhã se tornará possível. O velho deve morrer para o novo vir a ser.

É bom que os deuses velhos tenham sido mortos – mas é difícil para a humanidade dizer-lhes adeus. A humanidade se tornou muito familiarizada com eles. Foram de grande consolo, conforto e conveniência; foram um tipo de segurança. Ao derrubá-los, uma pessoa se sente amedrontada, assustada.

A mente deseja permanecer com o conhecido porque o conhecido é o familiar, o caminho já trilhado. A mente sempre teme entrar no desconhecido. O desconhecido, por um lado, desafia, atrai; por outro, dá medo. Ele é imprevisível, a pessoa não sabe qual será a consequência de antemão.

E a mente sempre é ortodoxa, convencional. A mente é uma convenção, a mente é tradicional, a mente é tradição. Assim, o problema sempre se coloca neste ponto: a mente se agarra ao passado e a vida quer entrar no futuro, e há uma luta suprema constante entre a mente e a vida.

Os que escolhem a mente permanecem mortos. Aqueles que escolhem a vida contra a mente são o sal da terra.

Não se trata apenas de que os deuses de ontem estão mortos, o próprio conceito de um Deus pessoal não tem mais nenhum significado. No futuro não haverá deuses, nem haverá um Deus, pode haver apenas religiosidade.

Tentem entender isto. Deus não pode ter uma forma no futuro, e se você insistir na forma não haverá nenhuma religião. Só o sem forma pode ser concebido – uma qualidade, não uma pessoa; uma energia, não um ser. Não Deus, mas religiosidade. Nem qualquer religião particular – cristianismo, hinduísmo, islamismo –, mas só religiosidade.

Aqueles capazes de perceber isso podem sofrer uma grande transformação em suas vidas. Os que podem ver que Deus tem de ser derrubado em favor da religiosidade e que as religiões devem desaparecer em favor da religiosidade, estas são as pessoas do futuro.

E eu só estou falando com as pessoas que pertencem ao futuro. Não estou interessado nos que estão mortos, não estou interessado nos cemitérios. E os cemitérios podem ser belos... mas, mesmo nesses casos, ainda são cemitérios.

Osho, em "A Revolução: Conversas Sobre Kabir"

Este ente impessoal e transferível chamado Criatividade

Na contramão das leis do mercado financeiro e seus adeptos (pessoal e intransferível) está a criatividade.

Ela é a Usina, o manancial que, análogo a uma rede elétrica, percorre enormes distâncias até chegar à morada do indivíduo por meio de cabos. Quanto mais desimpedidas estiverem as linhas de transmissão, mais livre de impurezas se manifesta a criatividade, resultando em um modo de expressão claro, conciso e, acima de tudo, originalmente enternecedor.

A criatividade não tem hora nem lugar para se manifestar: ela permeia todas as horas e todos os lugares no aguardo de quem se guarda contra a invasão abusada e abusiva das impurezas permanentemente sugestionadas por vagalhões, por tsunamis, propagandísticos, despejando volumes exacerbados de informações – de deformações.

Tais vagalhões de desinformação começam inofensivos no ventre do oceano – tal qual a gama de instabilidades fóbicas que sujeitam a criança no ventre materno – recebendo, de forma involuntária e gradativa, em sua trajetória até a margem, acréscimo em seu potencial destruidor das predisposições amorosas.

Nascemos e crescemos sofrendo circuncisões contínuas a cada despontar de transmissão criativa. Aos poucos, as linhas de transmissão que nos conectam com a Usina da Criatividade vão sendo maculadas com centenas de fios de pipa e pares de calçados arremessados por convivas diretos (pais, irmãos, vizinhos, colegas de escola, professores e demais inseridos neste sistema).

Este crescente volume de água ao chegar em terra firme, ao querer concretizar seus planos feito o adulto em busca de realização profissional, deixa um rastro de destruição, de desafetos; pois as circuncisões do despontar criativo hostilizam as linhas de transmissão ao ponto de interromperem o fluxo com o manancial, com a Vida em sua acepção mais afetuosa: O Amor.

Então, testemunhamos as trágicas decorrências da ruptura e do esfrangalhamento da personalidade. Temos exemplos aos montes entre pessoas célebres sem lastro pscicoemocional para suportar as cobranças da notoriedade vindas com a fama. A mais recente foi a Amy Winehouse. Infelizmente não será a última.
O que aconteceu com a Amy no tocante à sensação de desconforto frente ao mundo – frente ao estado de desumanidade que vigora no mundo de hoje – está acontecendo a milhares de jovens e adultos.

Sim, o adulto civilizado, o adulto que internalizou os processos civilizatórios da sociedade ( que cresceu em instituições educacionais reconhecidas, que entrou no mercado de trabalho, que constituiu família...) é um ser que teve sua faculdade de amar paulatinamente extinta. No mínimo a teve deformada para convencê-lo a amar, ou odiar, conforme as regras.

Na origem da extinção de tantas espécies no planeta reside a mais cruel das extinções: a da nossa afabilidade natural. Portanto, ato criativo é algo em desuso. O que vemos por aí de criativo é mera aplicação diferente de uma mesma ideia, e não a manifestação original de uma ideia diferente.

Não me atrevo a dizer que o ato criativo esteja extinto, pois seria o mesmo que prever a extinção do ser humano enquanto ser creado e creador em nome da amorosidade.

Liban Raach

Rebeldia e a fragrância da liberdade

Um rebelde é uma pessoa que não vive como um robô, condicionado pelo passado. A religião, a sociedade, a cultura... nada que pertença ao passado interfere de forma alguma em seu modo de vida, em seu estilo de vida.

Ele vive individualmente — não como uma engrenagem no sistema, mas sim como uma unidade orgânica. Sua vida não é decidida por mais ninguém, somente por sua própria inteligência.

A fragrância da sua vida é a da liberdade — não só por viver em liberdade, mas por permitir que todas as pessoas sejam livres. Não permite que ninguém interfira em sua vida; assim como não interfere na vida de ninguém.

Para ele, a vida é tão sagrada — e a liberdade é o valor máximo — que ele é capaz de sacrificar tudo em nome dela: a respeitabilidade, o status, até mesmo a vida em si.

Liberdade, para ele, é o que Deus costumava ser para as pessoas religiosas no passado.

A liberdade é o Deus dele.

Osho

Simão do deserto

Direção: Luis Buñuel
Ano: 1965
País: México
Gênero: Drama
Duração: 45 min.
Sistema de cor: p&b
Título Original: Simón del Desierto
Título em inglês:Simon of the Desert

Sinopse: O diabo tenta, a todo custo, fazer com que um homem muito religioso desça de uma coluna na qual subiu para ficar mais próximo de Deus. Porém, a toda tentativa, Simon reconhece os disfarces do diabo. Até que o ele resolve levar Simon para uma boate da Nova York dos anos 60.



Preciosa constatação


Quando um prisioneiro do sistema encontra amigos de fé e de força de caráter maiores que as suas, sua vida se torna mais suportável. A simples associação com outros confrades o auxilia a enfrentar melhor as horrorosas pressões do exterior. A aceitação recíproca e a percepção partilhada podem ter o mesmo poder estimulante. O medo que o persegue, ao estabelecer contato nutritivo, se transforma em confiança, em, quando menos, uma outra pessoa. E quando isto se converte em certa identidade com uma confraria ativa e operosa, desaparece a perda temporária de energia íntima. Se ele não encontrar uma confraria assim, se não alimentar com paixão o contato com a mesma, ou pelo menos com uma personalidade com quem se identificar de forma nutritiva, o sistema com toda sua hipnótica filosofia exótica pode levar a melhor.  

Inspirado nos dizeres de Joost A.M. Merloo 

Iluminado ego espiritualista

Entre o bem e o mal

Acho no minimo, cômico, a fala de pessoas que afirmam terem alcançado a "iluminação", o "despertar", o "estado búdico" — ou seja lá qual for o nome de sua preferência, — de que livros, escolas, instituições e até mesmo o tempo, em nada possam ajudar na realização desse momento único, especial e intransferível.  Já ouvi isso muitas vezes. Penso que esse tipo de informação revela um infeliz momento de desinteligência. Tento me explicar. Para mim, isso é o mesmo que afirmar que um garoto no primeiro ano escolar, não precise seguir seu curso acadêmico para obter o diploma de um especifico curso superior. Essas pessoas parecem se esquecer que, foi graças a somatória da participação nos vários lugares em que buscaram respostas para seus sofrimentos e também, através do contato com grandes "homens e mulheres que deram certo", os quais, infelizmente, só é possível por livros, que deu-se o enorme trabalho paulatino de descondicionamento mental, sem o qual não é possível a manifestação de novos níveis de consciência, com suas libertadoras percepções. Estas pessoas iluminadas esquecem que o estado de abertura mental, que o estado de receptividade a novos estados de consciência, que a compreensão e a assimilação a que chegaram, não se fez da noite para o dia. É muito fácil, depois de anos e anos de dedicada paixão — e por vezes dolorosa —  busca dessa "superação de si mesmo", afirmar que tudo está contido no agora e de que não é necessário nenhum tempo, muito menos esforço para se "fazer achável pela Verdade" (imagine só um professor dizendo isso ao seu aluno da primeira série: nada de esforço! Sua formação acadêmica encontra-se aqui e agora! Basta silenciar e buscar num espaço sem palavras!)... No mínimo estranho, não é? 

Não creio ser possível abandonar os desastrosos efeitos de anos e anos de consistente exposição a um sistema profundamente condicionante, cuja base está alicerçada em várias manifestações de medo — medo do desamparo, do ostracismo, do não pertencer, da solidão, de não reconhecimento, entre outros milhares — medos estes que embotam por completo a mente e a percepção — sem que este abandono necessite do "tempo de maturação", a qual facilita a percepção do falso e do verdadeiro. Em outras palavras, aquele que quebrou a perna, precisa fazer uso das muletas que facilitem seu caminhar, pelo tempo necessário, até que se sinta o suficientemente forte, para largá-las, sem retrocessos e, mesmo com andar inicialmente vacilante, seguir caminho, agora, bem mais atento aos perigos de tropeços e dolorosas quedas. 

Tenho visto também, por parte de afoitos buscadores da Verdade, o perigo da identificação com esta ideia que descarta o tempo de maturação necessária,  o perigo de se agarrar — sem a mínima reflexão — na experiência destes "seres iluminados", e através dela, sair por aí, justificando toda forma de comportamento insano destituído de uma real inteligência. Estes afoitos buscadores justificam através do manto da espiritualidade manifesta através de frases como  "só o agora é que importa", toda forma de insanidade e, através destas justificativas e desse manto da espiritualidade, escondem de si mesmos a experiência da Verdade. E o pior de tudo, sem que se deem conta, passam a tagarelar um discurso que, apesar de bonito, não outorga verdadeira transformação do espírito humano. Nada mais triste do que presenciar pessoas completamente fora de si recitando palavras de conteúdo espiritual ou religiosa... As casas de saúde mental estão repletas de "Jesus Cristos, Marias e Maomés"... Pior ainda, são aqueles que, ao abrirem mão de suas bases de sustentação — ainda que doentias — por ainda não estarem aptos para a recepção de estados de consciência de tamanha carga, ficam com sua psique aos frangalhos, chegando mesmo a estados de profunda loucura, a ponto de atentarem contra a própria existência sem vida. 

Não acredito nessa história de que esse encontro com a Verdade ocorre no "Agora" e que livros e lugares não tenham validade alguma para que essa Verdade se manifeste. Creio que essa experiência benfazeja é o resultado de toda dedicação, de toda paixão a esta Verdade, em cada "agora" da caminhada pessoal. Tudo na natureza é um processo, tudo tem seu próprio tempo cronológico de maturação. Se existem saltos quânticos, precisou-se de tempo hábil para a construção do "trampolim" pelo qual tais saltos possam ocorrer.

Penso que os "senhores iluminados" precisam ter em mente, a consciência de que o ser humano, como uma lampada, não pode suportar mais do que a sua própria amperagem. Precisam ter em mente que se relacionam com pessoas ainda presas de fortes condicionamentos, entre eles, o entendimento da palavra. Se a palavra do outro, em direção a Verdade, deixada em forma de livros e instituições não tem nenhuma serventia, — se o tempo não tem nenhuma serventia, — então, oras bolas!... Com todo respeito: que estes atuais seres iluminados deixem de dirigir aos buscadores da Verdade, suas próprias palavras, seus próprios vídeos, seus livros e textos, seus satsangs e workshops, suas receitas de felicidade e de bem viver. Não permitam que outros percam seu "desprecioso tempo" com suas palavras, afinal, palavra por palavra, qual a diferença? Ou por acaso, teriam as palavras dos atuais iluminados, mais influência em direção a Verdade, do que as palavras de outros transmissores de relatos de experiências pessoais quanto a busca da iluminação? 

Sinceramente, não sinto muita inteligência nisso, muito menos amorosidade. O que sinto diante de tais afirmações é um profundo desrespeito e falta de sensibilidade pelo momento alheio. Se esse tipo de comunicação for resultado da iluminação, então, que eu permaneça em silêncio em minha escuridão.  

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

24 de julho de 2011

The Sunset Limited

Realizador: Tommy Lee Jones
Argumento: Cormac McCarthy
Intérpretes: Samuel L. Jackson, Tommy Lee Jones

O telefilme “The Sunset Limited” produzido pela HBO conta a história de dois homens que, fechados num apartamento e com um passado completamente diferente, se vêm envolvidos num intenso debate sobre o valor das suas existências. O papel desses dois homens são interpretados, nem mais nem menos do que os conceituados e premiados actores Samuel L. Jackson e Tommy Lee Jones. Na trama, o evangélico ex-condenado Black (Jackson) salva o professor ateu White (Jones), que ia se jogar na frente de um trem do metrô do Harlem, o Sunset Limited. Começa então a peça de fato, com os dois no apartamento de Black - que se recusa a deixar White sair - discutindo religião, vida e morte. Sensacional e imperdível!

PSICOLOGIA DO PÂNICO - Capítulo I


PSICOLOGIA DO PÂNICO
JOOST A. M. MERLOO

Título do original em Inglês
PATTERNS OF PANIC


P R Ó L O G O

..........Este livro foi escrito para todos aqueles que estão interessados no estado de pânico do nosso mundo moderno, mas especialmente dedicado a todos aqueles, assistentes sociais, soldados, pessoal da Cruz Vermelha e aqueles que são mobilizados em caso de catástrofes.
..........Está escrito a partir de um ponto de vista descritivo, tratando de omitir no possível, as implicações teóricas enquadradas neste problema. Espero dedicar outro trabalho às pautas especiais do medo e a angústia em relação à estrutura individual do homem.
..........Se formos capazes de diferenciar distintos estados de pânico, começaremos a compreender e tenderemos a possibilidade de curar. Muitos indivíduos ainda não se dão conta de que maneira afeta a sanidade de nossas decisões os temores ocultos.
..........Temos a esperança de que este livro permita um maior reconhecimento das ocultas pautas de pânico.
Dr. Joost A.M. Merloo


Capítulo I
O QUE É O PÂNICO?
A "terça-feira louca", 5 de setembro de 1944

..........Este é o modo como pode acontecer.
..........Quando os vitoriosos Aliados irromperam ao longo da costa Belga e liberaram Bruxelas e Amberes, umas poucas tropas avançadas cruzaram a fronteira e penetrara na Holanda. Por causa dos confusos informativos das rádios de Londres, circulavam todo tipo de descabelados rumores. Os vizinhos se falavam mutuamente sobre a liberação de Dordrecht e Rotterdam. Os aliados se acercavam. Despregavam-se as bandeiras nacionais, as crianças dançavam nas ruas; vestiam sua cor nacional (laranja) e novamente cantavam os hinos nacionais. (13)
..........Os ocupantes nazistas obstruíram todas as comunicações telefônicas -- haviam sido afetados pelos rumores -- e no mesmo dia, as tropas alemãs iniciaram em pânico a retirada em direção a fronteira alemã. Os negócios vendiam todo tipo de faixas alusivas à libertação. Durante um dia, na Holanda não houve inimigos. Seguiu-se uma aterrorizada fuga dos traidores e colaboradores, e se tomou contra eles todo tipo de represálias. Entretanto, pára-quedistas aliados se preparavam para uma aterrizagem, mas nosso comando não sabia que este era o momento auspicioso para efetuá-lo.
..........Mas, a retirada alemã foi violentamente detida por seu próprio exército na Alemanha. Depois de dois dias os foragidos voltaram. Não houve libertação. Os S.S. começaram a tomar medidas de retribuição contra todos os civis que haviam se declarado de forma demasiadamente aberta. Negócios que haviam vendido faixas de cor laranja foram incendiados com granadas de mão. Seguiram novas represálias contra o povo reprimido e novos assassinatos.
..........Porém, os traidores e colaboradores nunca se atreveram a regressar aos seus lugares; seu pânico perdurou durante anos.
..........Três semanas mais tarde, os pára-quedistas aliados saltaram próximo de Arnhem em meio de tropas inimigas informadas e em acesso, totalmente recuperadas de sua confusão.
..........Teve início uma das mais sangrentas batalhas da segunda guerra mundial.
..........A segunda guerra mundial tem proporcionado muitos exemplos novos da influência do medo e o terror sobre os acontecimentos sociais. Suscitando o temor, a guerra psicológica moderna fez uso das armas de pânico e terror. Podemos dizer que nessa estratégia se abusa do animal não cultivado que há em nós para destruir nossa confiança na civilização.
..........Hitler, especialmente, utilizou as suas quinta colunistas para provocar esta total confusão nos civis dos países inimigos que projetava conquistar.


A concepção de pânico

..........A palavra "pânico" deriva do temor e terror contagiosos causados pelos Deus Pan. Gradualmente tem chegado a expressar diversos graus de temor, alarmes e a perplexidade. Nos idiomas europeus continentais (alemão, holandês, francês) tem um sentido mais forte que nos inglês. Na Europa, é usada principalmente para expressar fortes emoções coletivas de terror, perplexidade e horror. Na Inglaterra é usada com a mesma freqüência para expressar reações individuais entre o perigo, o pavor, o temor reverencial, o pesadelo, e ainda, ansiedades mais sutis, como o "blue funk", o sobressalto, e outras.
..........Por outro lado, se emprega a palavra para indicar temores sociais contagiosos e ansiedade coletiva, como o pânico financeiro durante uma depressão econômica e o "salve-se quem puder" de um exército; por outro lado indica ansiedade individual, perturbação, pavor e sentimento de inquietude.
..........Este livro dedica maior atenção as amplas implicações sociais da palavra, as pessoas presas do pânico e aos traficantes do pânico, aos estampidos que se produzem entre os seres humanos.
..........O conceito psicológico social de pânico se amplia também nestes dois sentidos diferentes. Significa não somente reações individuais de temor, senão também, explosões coletivas; não só medo e dúvida, mas também, fúria, tumulto e desenfreada agressão. Fala-se de pânico quando um acontecimento perigoso causa uma reação espontânea e desorganizadora no indivíduo ou na comunidade. Seja que isso ocorra no indivíduo nervoso ou no grupo inseguro, o resultado é que ambos "perdem a cabeça". O fator socialmente importante é a reação súbita, o efeito de descompostura, a desintegração da formação social ou da individualidade que se produz. Na terminologia cotidiana não se distingue claramente entre os estados mentais do indivíduo e os da coletividade, entre o pânico individual e o colapso coletivo.

Pânico e Terror

..........Quando o Deus Pan, filho de Zeus, se entregava ao seu descanso divino nos bosques e os pobres mortais se atreviam a perturbar seu sono, aquele explodia numa terrível fúria e espantava as ousadas criaturas com sua aparência horrorosa e com todos os elementos que estavam ao seu serviço. Nesse momento nascia o "Terror Pânico" no audaz indivíduo humano. Até os deuses compartilhavam do temor produzido por Pan; quando este soprava seu chifre podia espantar aos Titãs, e até sua mãe Calisto, ninfa dos bosques, sentia pânico diante de seu aspecto terrível e sua conduta brutal. Porém, para seus adoradores, Pan não era somente um motivo de temor, lhes oferecia também excitação sexual e algo da elevação do temor.
..........Para dar uma descrição mais moderna do pânico, temos que revelar o súbito estalido dos temores e impulsos oníricos no homem e na coletividade. Devemos revelar a tempestade de instintos e impulsos elementares que acodem ao primeiro plano, especialmente em circunstâncias ameaçadoras. O pânico é o despertar do irracional animal de manada que existe em nós. Num instante, toda civilidade desaparece e o animal desnudo toma seu lugar.
..........A manada aterrorizada é governada somente por suas emoções; a motivação inteligente se perde. O homem e o animal se lançam numa fuga desenfreada, arrastando tudo o que encontram pela frente.
..........O homem está despido e desvalido.
O homem é especialmente sensível ao pânico porque carece dos meios naturais de defesa que possuem os outros animais. É um animal infantil e indefeso. O pânico individual é sua repentina consciência do desvalidar biológico diante do perigo, de ser um animal sem garras nem presas.
..........Esse temor pode ser um resíduo instintivo da reação diante do perigo dos dias pré-históricos. A retirada, o retrocesso frente ao perigo, a fuga para salvar a vida, foram às melhores armas do homem contra os animais selvagens. O homem primitivo vivia um pânico crônico, numa crônica vigilância, numa crônica mobilização para a fuga. Esta reação diante do perigo, originalmente útil, do home pré-histórico, se converteu depois num reflexo automático do homem civilizado, que conduz freqüentemente a sua destruição. Um animal está adaptado ao seu ambiente. O homem não está e só pode viver graças aos seus hábitos civilizados. O homem não se liberou do temor, tanto que sua inteligência o induziu a armar-se. Aprendeu a fabricar armas e instrumentos. Mas eles suscitaram um novo temor, o temor das próprias armas. Porém, essa é outra história.
..........Quando o homem civilizado forma parte de uma massa, se contagia facilmente com sentimentos de pânico, do mesmo modo, o indivíduo isolado por ser levado a ações insensatas pela influência do temor. Porém, a massa, que reage muito mais emotivamente, se entrega ao pânico com maior facilidade. Até uma massa de ouvintes de rádio, ligados pela mágica união de ondas de rádio, pode ser presa do pânico como ocorreu após a audição de Oscar Wells, em 1938, quando este anunciou um ataque de monstruosos habitantes de Marte contra a Terra (10). Mediante essa fantástica sugestão se desperta parte de nosso arcaico instinto de temor, como se os monstros de nosso passado pré-histórico tivessem regressado a Terra.
..........Um pânico radial semelhante se produziu em Quito, Equador, quando se dramatizou novamente a invasão de marcianos segundo o argumento de Wells de 1938. O resultado foi a destruição do edifício do principal Jornal do Equador pela multidão. Também neste caso lançaram pânico ao público com informações realistas sobre a invasão de monstruosos guerreiros marcianos que, com armas misteriosas, teriam chego próximo de Cotocallao.
..........“Os habitantes, muitos deles só com roupas de baixo, se lançaram às ruas numa louca dispersão de terror, e quando souberam que se tratava de um trote, a ira os enfureceu na mesma medida” (The New York Times – 14-02-1949). As arcaicas reações diante do perigo não puderam ser detidas imediatamente; havia uma inquietude incipiente devido às crônicas dificuldades políticas. O programa de rádio afetou uma população já em estado de latente temor.
..........Depois de um pânico como esse observamos durante algum tempo os efeitos psicossomáticos da reação coletiva do medo. Todo organismo foi agudamente mobilizado; repentinamente se descarrega no sangue, em serviço da defesa corporal, demasiada carga de adrenalina. Em algumas pessoas podemos ver a palidez e a tensão vários dias depois.

O acesso do pânico

..........Presenciei em certa ocasião um acesso de pânico que foi detido no momento preciso, mas que teve suas conseqüências. Foi num grande teatro, e as pessoas começaram a sentir que algo pegava fogo. No cenário apareceu um pouco de fumaça. A encenação continuou, porém, as pessoas ficaram inquietas. Uma pessoa se deteve, e de repente, todos se deteram. Nesse momento, o primeiro ator se aproximou das luzes e explicou serenamente que um pouco de fumaça proveniente de um pequeno incêndio numa rua próxima havia penetrado pelas portas traseiras do teatro. Solicitou permissão para encerrar a encenação. Houve um grande aplauso e as pessoas se sentaram. Nem todos o fizeram, sem dúvida. Muitos se retiraram; alguns vomitaram e tiveram que ir embora. Quando se acenderam as luzes do intervalo pudemos nos ver. A maior parte do público estava pálida, e depois do intervalo, só a metade se sentou. Os efeitos físicos do pânico e do medo haviam sido demasiadamente fortes para eles.

Pânico condicionado

..........Em seu estudo sobre os animais, Pavlov demonstrou como se pode suscitar artificialmente o temor e o pânico. Condicionando-os para certos estímulos esperados, se precipitava os animais a um estado de ansiedade.
..........Esta súbita frustração da expectativa também desperta temor e ansiedade nos homens e nas multidões, e com tanta força que talvez se prefira os perigos ao invés da expectativa frustrada.
..........E no mês de novembro de 1939, se alertou ao exército holandês por haver-se recebido informações de que os alemães estavam por começar seu ataque. Eu me encontrava num destacamento fronteiriço e, como em duas oportunidades anteriores, se esperou a invasão de um estado de ânimo de preparada equanimidade.
..........Doze horas depois se cancelou a ordem de alerta. Devido às condições climáticas desfavoráveis, Hitler havia postergado seu ataque até maio de 1940.
..........Nessa mesma tarde se produziram todo tipo de reações de pânico. Pessoas que poderiam ter enfrentado o ataque muito calmamente, se mostraram irritadas e desassossegadas devido ao repentino vazio. Entre os oficiais e os soldados se viu reações histéricas como resultado do temor reprimido, que agora podia vir à luz sem nenhuma restrição.


..........Todas as semanas Hitler fazia uso em sua estratégia de temor condicionado para manter aos países ocupados sob um terror contínuo. As pessoas podiam esperar novas medidas de terror, porém, sempre algo distinto e inesperado. Não era possível se acostumar nunca a determinados temores e perigos; toda população permanecia num estado de constante insegurança.

O estado de espanto

..........O pânico, tanto individual como coletivo, representa uma reação arcaica diante o temor e o terror. Ainda que haja algumas diferenças, há muito pontos semelhantes entre o frenesi individual de movimentos e uma fúria coletiva. Pode-se ver esse arrebatar não coordenado de movimentos na reação de espanto de um bebê.
..........Segundo Darwin o estado de espanto é uma espécie de aguda movimentação dos sentidos na previsão de uma eventual reação diante do perigo, é uma forma de atenção incrementada. “O temor é muitas vezes, precedido pelo assombro, e está tão aparentado com o que ambos induzem uma excitação instantânea dos sentidos da visão e da audição”. Landis e Hunt distinguem entre a pauta de espanto infantil (caracterizado por extensão e logo flexão), que se estabelece entre o terceiro e o sexto mês de vida, a fase adulta (flexão, logo extensão).
..........A reação de surpresa precede a reação de perigo (fuga ou ataque); é um exagero de atenção e uma preparação muscular para a defesa. É esta movimentação geral da atividade investigada por Cannon, e a que Rosset (citado por Bull) explica como uma “conversão de todo o organismo numa sólida base rígida através da qual se pode exercer em qualquer direção um medido impulso. Este é o estado de rigidez tônica geral a qual se precipita o organismo no momento em que se vê exposto à ação de um estímulo cuja natureza, nesse instante é indeterminada”. Depois do reconhecimento do perigo começa a operar a outra reação diante do perigo (reação de temor).
..........Podemos comparar o pânico latente nos homens com esta fase de mobilização geral prévia ao temor. O sobressalto como tal pode dar-se sem medo, se bem que depende de outras formas de ansiedade anterior. Sem dúvida, quanto mais incerteza existe a respeito dos estímulos previstos, mais se convertem as reações de sobressalto em reação a temor. Um soldado que conhece os perigos do campo de batalha pode dominar seus temores, porém, o recém chegado está em fase de incerta antecipação, sobre coagido.
..........Para muitas pessoas esta incerta antecipação e contínua mobilização da atenção se mostram mais difíceis de suportar que o verdadeiro perigo. Entregam-se ao medo para se livrar de sua incerteza (entrega passiva ao temor). Isto pode conduzir a todo tipo de implicações perigosas na esfera social, como será descrito na última parte deste livro.
..........No lugar de deixar flutuar tranquilamente, a pessoa que se afoga, afunda devido o excesso de movimentos, uma defesa motriz demasiadamente grade. Depois de um adestramento transforma suas reações, porém, em muitas outras relações o homem segue sendo um ser indefeso, que se bate contra o destino e atua de uma maneira desorganizada nas horas de perigo. Especialmente em situações de massa, quando as reações individuais são mais facilmente influenciadas pela sugestão, se produzem essas perigosas explosões. É mais fácil escapar da solidão e da sensação de desamparo em meio à massa, porém nela, o homem se converte novamente no animal primitivo junto a horda. Se a massa é presa do temor — especialmente quando não tenha havido um enfrentamento e uma preparação psicológica — se iniciam súbitas reações de fuga sem nenhuma motivação racional. Nada é mais contagioso do que a reação de fuga. É um comportamento inconsciente e automático que atua profundamente, combinado com muitas reações psicossomáticas. È como se fossem reativados arcaicos sistemas de defesa do organismo.

Contágio do pânico

..........O pânico é um reflexo de fuga contagioso. Qualquer pessoa, por mais controlada que seja, pode sucumbir ao contágio do pânico. Mesmo quando voltam a se estabelecer imediatamente atitudes mentais reacionais, seguem operando as reações físicas de defesa contra o temor. Em tais circunstancias ninguém escapa das reações psicossomáticas do temor.
..........Freqüentemente comprovamos as mesmas reações contagiosas do pânico nos animais e nos homens. Um estampido produz arcaicas reações de pânico no homem, e muitos cavalos bem adestrados são arrastados se uma manada começa a correr. Os cavalos que se lançam à fuga contagiam os outros. Também os macacos são afetados pelas reações de fuga em pânico do homem.
..........O medo causado pelo pânico é contagioso até quando não há uma razão objetiva para ele, quando não existe nenhum perigo. A expressão de pânico de um indivíduo é interpretada pela massa como um sinal de um perigo ameaçador. Como disse no início deste livro, a pessoa que é presa do pânico causa mais temor que o perigo mesmo.
..........Ao longo de toda história encontramos descrições dessas contagiosas reações de pânico, quando as massas foram presas de emoções especiais, alguma vezes ante o iminente perigo da morte, outras pela desenfreada explosão de paixões rebeldes. Culminaram numa demoníaca descarga de paixões, uma epidemia de ações reprimidas, quase que incríveis para a mente civilizada. Tais foram os afogamentos em massa — “noyades” — da revolução francesa, os “assassinatos na câmera de gás” pela fúria alemã, os linchamentos norte-americanos. E mesmo o caso da guerra é como um enorme pânico das nações; não a linha reta da inteligência, senão o temor e a ameaça são utilizados para resolver os problemas. Os mais pacíficos seres humanos são repetidamente transformados nos patriotas mais agressivos pelos sentimentos de pânico ocasionados pela guerra. São contagiados pelo estado de ânimo geral; os temores e perigos reprimidos começam a atuar novamente neles. Só em massa e debaixo do contágio do pânico pode o homem moderno entusiasmar-se realmente com a guerra. Hitler reiteradamente sugeriu aos seus compatriotas que a Alemanha estava sendo ameaçada, porém, o povo alemão iniciou a guerra de 1939 sem entusiasmo; o medo havia se difundido em demasia. Em 1914 os alemães se conduziram de modo distinto; a guerra, então, parecia com uma ocasião festiva, e os soldados levavam flores em seus rifles.
..........O pânico é uma enfermidade contagiosa. Pode-se injetar o pânico numa massa, e efeitos de massa nas multidões. Por exemplo, tanto o medo como a coragem são contagiosos. Todo líder pode inspirar valores aos temerosos e fazer deles heróis momentâneos. Pode estimular a moral de uma formação social, converter em ousados ou covardes. Mediante uma intenção sugestão se pode eletrizar a uma massa momentaneamente, induzindo-a a atos que superam sua capacidade normal. Mas, também se pode paralisá-la e convertê-la numa massa que foge em pânico. Só é necessário uma palavra, poucos líderes, para iniciar o contágio mental.
..........Quanto mais jovem e romanticamente inclinada é uma formação social, tanto mais vulnerável é a desintegração e o pânico. É bem sabido que as mulheres e as crianças, devido a sua mais intensa comunicação mutua, são mais suscetíveis ao pânico. Provam isto muitos exemplos de catástrofes em teatros infantis.

O pânico em crianças

..........As crianças que estão passando por sua própria luta pessoal contra a agressão interior e exterior, reagem com enorme ansiedade num mundo tão distinto de seus pacíficos modelos originais. O perigo exterior toma para eles a forma de figuras paternas hostis e punitivas. Algumas crianças assimilam as reações de temor de seus pais. O pânico latente dos adultos fortalece o próprio sentimento de culpa. Por isso é que o “choque” e o pânico nas crianças depende em alto grau do comportamento mais ou menos adequado dos adultos. Durante a guerra, a separação de seus pais foi para a maioria das crianças um trauma maior que as reais experiências bélicas destrutivas. O estado frenético dos pais, a conduta ilógica dos adultos, os afetaram mais que as explosões e os combates em si mesmos. A maioria das crianças, em circunstancias catastróficas, regressa a estados mais infantis; o mutismo, a incontinência urinária, o chupar o dedo reaparecem.
..........Entre as crianças em que se manifestaram as reações de pânico, estas surgiram principalmente, não como reação diante do perigo externo, senão devido a um acréscimo da irritabilidade. Não lhes assustavam as bombas, mas sim, a destruição de um brinquedo ou a perca de uma boneca. Esta emoção pessoal se transmitia rapidamente para outras crianças. Perigos simbólicos os afetavam muito mais do que os perigos reais. De modo que o pânico se apresentava em momentos inesperados. Nos acampamentos infantis nos víamos obrigados a lutar constantemente contra estas pautas de pânico e agressão.
..........Um acampamento na Inglaterra, onde se hospedava as crianças do continente para melhorar seus estado físicos, foi certa vezo cenário de uma agressiva rebelião desse tipo. Ainda que teoricamente houvesse sido possível que caíssem bombas, e eram audíveis as detonações da artilharia anti-aérea, não houve uma manifestação de terror. As crianças estavam habituadas a isto. Porém, numa tarde chegaram alguns funcionários — ministros do gabinete — para inspecionar o acampamento, em grandes automóveis oficiais. Em poucos momentos as crianças de mais idade haviam cercado os carros e atiravam suas forças destrutivas sobre os pneus e as carrocerias. A multidão infantil aumentou e circulou o rumor de que haviam chegado alguns homens de Hitler (os “cucos”), que sempre viajavam nesses enormes automóveis. A rebelião se acalmou prontamente, porém as reações de temor prosseguiram durante longo tempo. Os pneus acabaram irremediavelmente destruídos.
..........Todavia, me persegue um aterrorizante sonho infantil da época da primeira guerra mundial, a imagem de tiros e explosões, de estar perdido num terrível vazio, de viver num mundo sem amor e cheio de angústia. Desde então, o mundo se voltou a envenenar os sonhos infantis.

O medo, a invasão da própria agressão

..........Em algumas reações individuais de pânico podemos observar como a pessoa teme e deseja ao mesmo tempo que se manifestem seus escondidos impulsos. Observei este tipo de medo e repentino arrebatamento de pânico individual, especialmente em soldados em adestramento. Vários dos homens tiveram um temor inicial de usar o rifle. Tremeram, não se atreveram a atirar e manifestaram reações infantis e ansiedade. No dia em que lhes deram balas carregadas, vários soldados se suicidaram. Por detrás de seu temor se ocultava o inconsciente desejo de disparar contra todos os que lhes rodeavam e matá-los. Usar um rifle era para eles um ricos, o risco de deixar solta a sua agressão. Seu medo e sua depressão foram causados pela luta moral interior diante a raiz de seu próprio desejo de matar. Estes soldados já não podia se entender; alguns se negaram aprestar o serviço militar. Minha experiência com opositores de consciência me demonstrou que muitos deles se recusavam a exercer o serviço militar devido a este temor de suas próprias destrutividades reprimidas. É o mesmo terror pânico à agressão que encontramos em tantas neuroses; por exemplo, o medo ao ver uma faca. A faca se transforma num símbolo da luta interior devida a hostilidade. “Quero ser agressivo; podia ser muito agressivo com esta faca; meu sentimento de culpa me proíbe de ser agressivo e olhar a faca”.

Pânico latente

..........Muitos cientistas pensam que só a mentalidade primitiva é suscetível ao contágio psíquico. Sem dúvida, na emocionalmente instável Idade Média, encontramos muitos exemplos de explosões de massa. Pense-se nas Cruzadas cristãs e em epidemias de massa tais como a Grande Coréia, a festa de São Vito e outras formas de histeria coletiva. A vida psíquica da Idade Média está repleta desses delírios coletivos e pânicos contagiosos.
..........Sem dúvida, a civilização moderna não protege o homem contra o contágio psíquico e as reações de pânico. Pelo contrário, muitas técnicas modernas de comunicação aumentam a sensibilidade para eles (cinema, televisão, rádio)
..........Quando o homem reprime momentaneamente as valorizações morais tradicionais, perde seu freio e se torna ao mesmo tempo mais suscetível as sugestões exteriores. O pânico latente resultante é comparável a uma hipertrofia e exaltação emotiva que já não pode limitar-se. Perseguições, motins, linchamentos, todas essas coisas podem ser expressões de temor na multidão que já não tem consciência dos valores morais inibidores. Essa expressão sádica e destruidora da regressão coletiva só é possível, em geral, quando existe um temor latente, um pânico latente.
..........Muitas vezes um pânico latente é criado pela ameaça de um regime de terror e tirania. Primeiro o homem está indefeso, e tolera em silencio o terror e a injustiça. Está paralisado. Em seu desespero só tem a esperança de que o perigo e a dor maiores não o alcançariam, de que outros — estranhos e vizinhos — serão golpeados em seu lugar. Reprime-se a compaixão humana, reprime-se todo sentimento social para a vitima e o perseguido. Os mais temerosos se convertem em covardes oportunistas. Isto aconteceu, por exemplo, durante os primeiros meses da ocupação alemã: um pânico silencioso e uma paralisia mental cobriram a Europa.
..........Nesse pânico latente as pessoas não confessam que estão cheias de temor; querem a ilusão de estar interiormente livre. Elabora-se todo tipo de justificativas e explicações para ocultar o temor e a auto-censura de covardia. As auto-censuras são intoleráveis. Porém, gradualmente chega o momento em que as defesas mentais são suficientemente fortes para enfrentar o perigo com adequada resistência. Gradualmente, também se levanta a resistência exterior contra o inimigo e começam a organizar-se exércitos clandestinos de libertação.

Pânico antecipatório

..........A tensão causada por um perigo misterioso é, todavia mais insuportável que o perigo mesmo. As pessoas odeiam o vazio de uma situação desconhecida. Querem segurança. Até preferem a guerra de que a expectativa insegura de uma guerra, com sua ameaça de ataque surpresa. Esta vaga expectativa temerosa atua na fantasia. Antecipa-se todo tipo de misteriosos perigos; se começa a provocá-los. É a evocação do temor e o perigo para escapar da tensão da insegurança. Freqüentemente a observamos em participantes da Resistência antinazista durante a ocupação. Tornavam-se cada vez mais temerosos em suas estratégias, como se desejando ser capturados. Era como um auto-castigo.
..........Freqüentemente as pessoas preferem uma realidade terrível a uma fantasia de mesma ordem. Não podem suportar a estratégia oculta de um inimigo obscuro. As ousadas façanhas dos resistentes não se deviam sempre a coragem, senão ao desejo perigoso de terminar numa tensão insegura.
..........Comprovamos o mesmo estado de ânimo depois de uma catástrofe, durante a fase de readaptação. Depois do primeiro “choque” há um período de confusão e o desejo de prevenir toda catástrofe subseqüente. Uma despersonalização traumática (confusão e perplexidade com perdas de sentimento de identidade) se estabelece junto com perigosos desejos de iniciar uma luta real contra o destino, não para vencer senão só para desafogar o temor acumulado.
..........Em épocas de tensão, devemos nos acautelar do primeiro disparo!
..........A este pânico antecipatório correspondem toda sorte de hábitos humanos a serviço de uma mobilização precoce das defesas mentais. Há um aumento geral de todo tipo de tabus. Regressa-se a ações mágicas há muito esquecidas, se utiliza animais de estimação, ou se retrocede atrás de estranhas crenças místicas. Durante a continua antecipação do perigo se manifestam toda classe de perturbações psicossomáticas. Surge a busca de mais e mais segurança, por exemplo, tratados e mais tratados de segurança. Aumentam os artigos e discursos sobre a condenação do mundo. No decorrer deste livro espero oferecer vários exemplos do perigo desta contínua mobilização mental.
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