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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

22 de julho de 2011

Ciúmes

Osho,
Sempre que você fala de nossos defeitos e fraquezas, geralmente menciona a raiva, o sexo, o ciúme. A raiva e o sexo parecem bastante claros e diretos, mas há alguma confusão sobre o que é exatamente o ciúme, e é mais difícil chegar à raiz disso. Poderia nos falar sobre o ciúme?

Sim, falo mais sobre raiva e sexo, e menos sobre o ciúme, pois este não é uma coisa primária. É secundário. O ciúme é uma parte secundária do sexo. Sempre que você tem um desejo sexual em sua mente, uma manifestação sexual em seu ser, ou se sente sexualmente atraído por alguém, o ciúme entra em cena porque você não está amando. Se você ama, o ciúme não aparece.

Tente entender a coisa toda.

Sempre que você está ligado sexualmente, fica com medo, pois, na verdade, o sexo não é um relacionamento, e, sim, uma exploração, uma utilização.

Se você está apegado a uma mulher ou a um homem sexualmente, fica sempre com medo de que essa pessoa possa ir embora com outra. Não há um relacionamento real.

É apenas uma exploração mútua. Vocês estão explorando um ao outro, mas não amam, e vocês sabem disso, por isso têm medo.

Esse medo torna-se ciúme, e você começa a não permitir certas coisas. Começa a vigiar. Toma todas as medidas de segurança para que o homem não possa olhar para outra mulher. Só o olhar já é um sinal de perigo. O homem não deve falar com outra mulher, pois falar... E você sente medo de que ele possa ir embora. Então, você fecha todos os caminhos, todas as possibilidades de o homem ir com outra mulher, ou de a mulher ir com outro homem. Você fecha todos os caminhos, todas as portas.

Mas aí surge um problema.

Quando todas as portas são fechadas, o homem torna- se morto, a mulher torna- se morta, ambos tornam- se prisioneiros, escravos, e não se pode amar algo morto. Você não pode amar alguém que não é livre, pois o amor só é belo quando é dado livremente, voluntariamente, quando não é tomado, pedido, forçado.
Primeiro você toma medidas de segurança. Então a pessoa torna-se morta, como um objeto. Um amado ou amada podem ser pessoas, mas a esposa ou o marido tornam-se objetos para serem vigiados, possuídos, controlados. E quanto mais você controla, mais está aniquilando, pois a liberdade é perdida. E a outra pessoa pode ficar ali por outras razões, mas não por amor, pois como você pode amar alguém que o possui?

Você sente que essa pessoa é um inimigo.

O sexo cria o ciúme, que é secundário. Portanto, a questão não é como eliminar o ciúme. Você não pode eliminá-lo, pois não pode eliminar o sexo. A questão é como transformar o sexo em amor. Então, o ciúme desaparece.

Se você ama uma pessoa, o próprio amor é garantia e segurança suficiente. Se você ama uma pessoa, sabe que ela não pode ir com mais ninguém. E se ela for, foi. Nada pode ser feito. O que você pode fazer? Pode matar a pessoa... mas uma pessoa morta não serve para muita coisa. Quando você ama alguém, confia que ele não vai embora com ninguém. Se ele vai, é porque não há mais amor, e nada pode ser feito. O amor traz essa compreensão. Não há ciúme. Portanto, se há ciúme, saiba que não há amor. Você está fazendo um jogo; está escondendo o sexo atrás do amor. O amor é apenas uma fachada; a realidade é o sexo.

Na Índia, como o amor não é permitido absolutamente, os casamentos são arranjados e existe um tremendo ciúme. O marido e a esposa nunca se amam, estão sempre com medo, e sabem que tudo é um acordo, um arranjo. Eles foram arranjados pelos pais, pelos astrólogos, eles foram arranjados pela sociedade. A esposa e o marido nunca foram consultados. Em muitos casos, eles nem se conhecem, nunca se viram. Então existe medo. A esposa tem medo, o marido tem medo, e ambos ficam se espionando. Qualquer possibilidade de amor é perdida. Como o amor pode crescer no medo? O casal pode viver junto, mas isso não é realmente viver junto. Os dois apenas se toleram juntos, tentam levar a vida juntos, de alguma forma. É algo utilitário.

E, a partir daí, pode-se dar um jeito nas coisas, mas o êxtase não é possível. Você não pode celebrar e festejar. O casamento torna-se um peso a ser carregado. Assim, o marido está morto antes de morrer, e a mulher está morta antes de morrer. São duas pessoas mortas, vingando-se uma da outra, pois cada uma pensa que a outra a matou. Vingança, ódio, ciúme - e tudo torna-se muito feio.

No Ocidente, um tipo diferente de fenômeno está acontecendo, mas que, no fundo, é o mesmo que no Oriente, só que no outro extremo. O casamento arranjado foi eliminado, e isso é bom. Não é uma instituição que valha a pena conservar. Mas ao eliminá-la, o amor não surgiu. Apenas o sexo tornou-se livre. E quando o sexo é livre, você está sempre com medo, pois é um arranjo temporário.

Você está com uma mulher hoje. Amanhã ela pode estar com outra pessoa, e ontem estava com outra, ainda. Apenas esta noite ela está com você. Como esse relacionamento pode ser íntimo e profundo?

Pode ser apenas um encontro de superfícies.

Não se pode penetrar um no outro, pois isso requer amadurecimento, requer tempo. Requer profundidade, intimidade, um viver junto, um estar junto. Um longo tempo é necessário. Então as profundezas de cada um se abrem, e podem dialogar... Mas o que acontece normalmente é apenas um conhecimento superficial. No Ocidente, você pode encontrar uma mulher no trem, fazer amor, e deixá-la em qualquer estação. Ela não se importa, pode não vê-lo nunca mais, pode nem saber o seu nome.

Se o sexo torna-se uma coisa tão trivial, apenas um assunto do corpo, onde superfícies se encontram e se separam, sua profundeza permanece intocada. E você está perdendo algo - algo importante e muito misterioso - pois você toma consciência de sua própria profundeza apenas quando alguém a toca.

Somente através do outro você se torna consciente do seu ser interior. Apenas num relacionamento profundo o amor de alguém ressoa em você, e dá vida à sua profundeza. Somente através do outro você descobre a si mesmo. Existem dois meios de se descobrir: um é a meditação - sem ninguém, você busca suas profundezas. O outro é o amor - com alguém, você busca suas profundezas. A outra pessoa se torna a raiz, a causa para você penetrar em si mesmo. O outro cria um círculo. E os dois amantes ajudam um ao outro. Quanto mais profundo o amor, mais os amantes se sentem profundos. Seus seres interiores se revelam. Desse modo não há ciúmes. O amor não pode ser ciumento. É impossível. O amor é sempre confiante. E se algo acontece que vem quebrar sua confiança, você tem de aceitar.

Nada pode ser feito a esse respeito, pois qualquer coisa que você faça irá destruir o outro. E alguém que realmente ama o outro, é incapaz de destruí-lo. A confiança não pode ser forçada. O ciúme tenta forçá-la. O ciúme tenta obrigar você a fazer todo o esforço para que a confiança seja mantida. Mas a confiança não é algo para ser mantido. Ela existe ou não existe. E eu digo que nada pode ser feito a esse respeito. Se existe, você pode ir adiante; se não existe, é melhor separar-se da outra pessoa. Não lute, pois estará perdendo o seu tempo, a sua vida. Se você ama alguém, e há um encontro profundo dos dois seres, isso é bom e belo. Mas se esse encontro não está acontecendo, separem- se. E não crie nenhum conflito ou luta por causa disso, pois nada será conseguido através de luta, e seu tempo será perdido, e sua capacidade de amar prejudicada. Você poderá repetir tudo de novo com outra pessoa. Se não há confiança, separem-se. E quanto mais cedo, melhor. Para que você não se destrua, não se prejudique. E sua capacidade de amar permaneça viva e fresca, e você possa amar outra pessoa.

Se esse não é o momento, se esse homem ou essa mulher não serve para você, separem-se, mas não se destruam mutuamente. A vida é muito curta e as possibilidades são muito precárias. Podem ser destruídas. E, uma vez danificadas, não há como repará-las. No que diz respeito ao amor, tanto ainda tem de ser feito por todos e tão pouco tempo resta para fazê-lo. Não desperdice sua energia com lutas, ciúmes, conflitos. Separe-se, e faça isso de uma forma amigável. Procure em outro lugar, procure uma pessoa que irá amar você. Não fique preso à pessoa errada, que não lhe serve. Não fique com raiva. Isso não adianta nada. E não tente forçar uma confiança.

Ninguém pode forçá-la; isso nunca acontece. Você perderá tempo e energia e talvez acorde quando nada mais puder ser feito. Separe-se. Ou confie, ou vá embora. O amor sempre confia. E se ele acha que a confiança não é mais possível, ele simplesmente vai embora de uma forma amigável. Não há conflito nem luta. O sexo cria o ciúme. Encontre, descubra o amor. Não faça do sexo a coisa básica. Ele não é a coisa básica. A Índia perdeu muito com os casamentos arranjados.

O Ocidente está perdendo com o amor livre. A Índia perdeu o amor, porque os pais eram muito calculistas e interesseiros. Não permitiam que seus filhos se apaixonassem. Isso é perigoso; ninguém sabe aonde pode levar.... Eles eram muito astutos e, por causa da astúcia, a Índia perdeu toda a possibilidade de amor. No Ocidente, eles são muito rebeldes, muito jovens; não são astutos e, sim, infantis. Fizeram do sexo algo gratuito, disponível em qualquer lugar: Não há necessidade de ir fundo para descobrir o amor; goze o sexo e fique por aí mesmo. Por causa do sexo, o Ocidente está perdendo. Por causa do casamento interesseiro, o Oriente perdeu. Mas, se você está alerta, não precisa ser oriental, nem ocidental. O amor não é oriental, nem ocidental.

Tente descobrir o amor dentro de você.O amor é um estado de ser. Seja amoroso. Torne-se amoroso. E se você amar, mais cedo ou mais tarde aparecerá uma pessoa para você, pois um coração amoroso acaba encontrando outro coração amoroso. Isso sempre acontece. Você encontrará a pessoa certa. Mas se você for ciumento, não encontrará; se você só quer sexo, não encontrará; se quer apenas segurança, não encontrará. O tornar-se amoroso é um caminho perigoso... e só os que têm preparo e coragem podem trilhá-lo. E eu digo o mesmo para o caminho da meditação - ele é só para os corajosos. E há apenas dois caminhos para se chegar ao Divino: meditação e amor. Descubra qual é o seu caminho, qual pode ser o seu destino.

Osho,
Roots and Wings
Raízes e Asas

Texto enviado pelo Confrade Sergio Pedrosa
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