Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

30 de setembro de 2011

O Evangelho Do Maharshi


Leia e baixe duas grandes compilações de ensinamentos de Sri Ramana Maharshi, em espanhol:
  • El Evangelio Del Maharshi (Editado por Maurice Frydman)
  • Sea lo que eres (Editado por David Godman)




Para fazer download deste ebook, clique aqui.

Sobre o Vazio Interior

Caminhante, upload feito originalmente por NJRO.

A natureza tem “horror ao vácuo”. Não é possível realizarmos uma vacuidade de sentimentos e pensamentos, enquanto não tivermos uma plenitude maior que substitua essa vacuidade. A renúncia meramente negativa é impossível. É lei de psicologia que o homem não possa renunciar a um bem enquanto não conseguir outro bem maior. Só na presença de algo maior é que desaparece o menor... Quem se agarra ao pouco não pode possuir o muito.

Autor: Huberto Rohden

29 de setembro de 2011

Nada existe separadamente

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Uma garota contou à amiga que tinha ficado noiva de um vendedor que costumava viajar muito.
"Ele é bonito?", perguntou a amiga.
"Veja, ele jamais se destacaria na multidão."
"Ele tem dinheiro?", continuou a amiga.
"Se ele tem, não costuma gastá-lo."
"E com relação a maus hábitos. Ele tem algum?"
"Bem, ele bebe bastante", disse a futura esposa.
"Eu não entendo você", disse a amiga. "Se você não consegue dizer nada de bom a respeito dele, então por que está se casando com ele?"
"Ele viaja o tempo todo", respondeu ela, "e eu não vou vê-lo nunca."

Essa é a única coisa boa com relação a isso — e essa é a coisa boa sobre o deus dos padres: você nunca vai vê-lo. É por isso que você continua acompanhando o padre.

Para evitar Deus, você segue o padre. Para evitar Deus, você lê a Bíblia. Para evitar Deus, você entoa os Vedas. Para evitar Deus, você se torna um estudioso, um pensador. Para evitar Deus, você está fazendo tudo o que é possível.

Mas por que você quer evitar Deus? Por que, em primeiro lugar, você quer evitar Deus? Existem razões para isso. Basta a ideia de Deus para gerar um medo incrível, porque Deus vai significar a morte para seu ego. Você não vai existir se Deus estiver presente.

O grande místico indiano Kabir disse: "Olhe a ironia disso. Quando eu estou, Deus não está; agora Deus está, e eu não estou. De qualquer modo, o encontro não se deu". Porque para um encontro, são necessárias pelo menos duas pessoas. "Quando eu estava, Deus não estava; agora Deus está, e eu não estou."

O temor é porque você vai ter de perder a si mesmo. Você tem medo da morte; é por isso que você tem medo da morte; é por isso que tem medo de Deus. E é por isso que tem medo do amor, e é por isso que tem medo de tudo o que é grande.

Você está muito ligado a esse falso ego que nunca dá nada a não ser infelicidade e dor, mas ao menos lhe dá o sentimento de que você existe. Preste atenção nisso. Medite sobre isso.

Se você quer existir, então sempre irá cair na armadilha do padre. Na verdade, você não existe. Toda a ideia é uma falsa noção. Como você pode existir? As ondas existem, mas não separadas do oceano. Da mesma forma, nós existimos: não separados do oceano da existência.

É isso que Deus é. As folhas existem, mas não separadas da árvore. Tudo existe, mas nada existe separadamente.

Osho

28 de setembro de 2011

Medley Spirituals



Mara Nascimento, Jamilly Silva e Helô Ramos

Sobre o descontentamento

Quando um indivíduo é jovem, ativo, há grande descontentamento e a vontade de fazer perguntas, mas, infelizmente, esse descontentamento desaparece quando ele se torna mais velho, se estabiliza num emprego, constitui família, assume responsabilidades, se submete ao condicionamento pelo ambiente; gradualmente, o descontentamento, a curiosidade de descobrir, o indagar - tudo desaparece. O indivíduo aceita, desaparece o seu descontentamento, e ele perde o interesse em descobrir por si próprio, realmente, se existe alguma forma de segurança.

Autor: Krishnamurti - A Essência da Maturidade

27 de setembro de 2011

Pego no flagra!

Assumir, irremediavelmente, nossa real natureza coloca-nos em percurso desconhecido. Como se, a toda hora, fossemos pegos desprevenidos.

O que viesse ao nosso encontro, encontraria-nos desprevenidos. Assim, a contrariedade cairia no vazio; a polêmica ficaria sem lenha para abrasá-la; a necessidade de defesa de um ponto-de-vista fulguraria notoriamente inadequada.

E então, na mais absoluta imprevidência, o inesperado se manifestaria. O inesperado da realidade vivificante e verdadeira. A inesperada verdade, oculta para a nossa razão, mostrar-se-ia reluzente; pois a nossa sensibilidade adquiriria a obediência dos nossos sentidos todos ao flagrante influxo do entendimento incondicional.

Liban Raach

26 de setembro de 2011

Sensibilidade da mente e coração

Na frieza da Calçada
Vocês têm que ter este extraordinário sentimento, esta sensibilidade a tudo – ao animal, ao gato que caminha pelo muro, à falta de asseio, à sujeira, à imundície dos seres humanos na pobreza, em desespero. Vocês têm que ser sensíveis – o que é sentir intensamente, não em uma direção particular, que não é uma emoção que vem e vai, mas que é ser sensível com seus nervos, com seus olhos, com seu corpo, seus ouvidos, com sua voz. Vocês devem ser completamente sensíveis todo o tempo. A menos que você seja assim completamente sensível, não há inteligência. A inteligência vem com sensibilidade e observação.

A sensibilidade não vem com informações e conhecimentos infinitos. Vocês podem conhecer todos os livros do mundo, podem tê-los lido, tê-los devorado; vocês podem ser familiares a todo autor, podem saber todas as coisas que foram ditas, mas isso não traz inteligência. O que traz inteligência é essa sensibilidade, uma total sensibilidade de sua mente, tanto consciente quanto inconsciente, e do seu coração com suas extraordinárias capacidades de afeto, simpatia, generosidade. E com isso vem esse intenso sentimento, sentimento pela folha que cai de uma árvore com todas as suas cores mortiças e a sujeira de uma rua imunda – vocês têm que ser sensíveis a ambos; vocês não podem ser sensíveis a um e insensíveis ao outro. Vocês são sensíveis – não meramente a um ou a outro.

Krishnamurti

Sendo uma luz para si mesmo.

Digo que não há nenhuma fonte permanente que possa dar entendimento a alguém. Para mim, a glória do homem é que ninguém o possa salvar, exceto ele mesmo. Por favor, se observardes o homem, por todo o mundo, vereis que ele sempre recorreu a outrem para ser ajudado. Em todo o mundo o homem volta-se para alguém que o eleve da sua ignorância. Digo que ninguém vos pode elevar da vossa ignorância. Vós a criastes pelo medo, pela imitação, pela busca da segurança, e por isso estabelecestes autoridades. Vós mesmos a criastes, esta ignorância que prende cada um de vós, e ninguém pode libertar-vos exceto vós mesmos por meio do próprio entendimento. Os outros podem libertar-vos momentaneamente, mas enquanto a causa da raiz da ignorância permanece, meramente criais outra série de ilusões... A mente só pode libertar-se desta ignorância quando defrontar a vida totalmente, quando experimentar completamente, sem preconceito, sem idéias preconcebidas, quando já não estiver mutilada por uma crença ou idéia. É uma das ilusões que acalentamos, que alguém nos pode salvar, que não podemos por nós mesmos ascender deste lodo de sofrimento. Durante séculos esperamos auxílio do exterior, e estamos ainda agarrados a esta crença.

Autor: Krishnamurti - Krishnamurti - Itália e Noruega

24 de setembro de 2011

Sobre a natureza exata de nossos conflitos

Bom dia a todos! Gostaria de estar compartilhando com vocês umas percepções de ontem a tarde, depois que eu fui fazer uma visita ao escritório de um grupo de auto-ajuda, um grupo de uma Irmandade Anônima, a qual eu devo muito, tenho uma profunda gratidão,  porque, se não fosse ela, com certeza não estaria agora aqui conversando com os amigos. Já faz oito anos que me afastei dos grupos anônimos, onde durante vários e vários anos fui um membro bastante participativo, bastante ativo, por medo de voltar a ter aquela depressão terrível, que foi a minha depressão iniciática, da qual hoje eu sou profundamente grato também, porque se não fosse ela eu não teria a mínima condição de estar descobrindo esse estado de ser no qual me vejo agora. 

Eu pensei que quando chegasse naquele escritório ia encontrar velhos conhecidos com quem a gente teve bastante troca, uma ajuda muito legal,  que foi um grande suporte naquele momento profundamente difícil, profundamente confuso, naquele momento de muito medo, muita incerteza, muitas idéias obsessivas compulsivas, uma total bagunça interna e, quando cheguei lá, não tinha nenhum desses conhecidos, eles não estavam por lá, porque eles todos tinham ido, por coincidência, tinham ido para um encontro nacional que está sendo realizado este final de semana em Santa Catarina, e o tema desse encontro é "Pode haver recuperação sem a prestação de serviços?" Pois eu vou tentar, vou falar um pouquinho sobre isso que é uma das percepções que eu tive durante essa quase uma hora que fiquei lá conversando com uma senhora, que frequentava o mesmo grupo que eu frequentei, e que não me identificou, não me reconheceu quando eu cheguei lá. Perguntou se era a primeira vez que eu estava indo naquele grupo. Eu disse: 

Não, você não lembra de mim? Eu sou, eu era conhecido por "Nelsinho...
Ela olhou para mim assim e falou:
Não pode ser!...
Por que que não pode ser?... Cresceu uma barba, tem uns fios brancos ai, uns bigodes brancos, perdi cabelo, mas estou tão diferente assim?...
— Não, você está diferente... O Nelsinho que eu conheço é aquele Nelsinho bravo, que falava alto com todo mundo... Você está diferente!...
— Que bom que eu estou diferente!
— Você está frequentando que grupo?
— Não eu não frequento mais os grupos, já faz oito anos que me afastei.


Quando falei isso, percebei como ela ficou assustada com essa colocação minha de não fazer mais parte dos grupos. E ela virou para mim e falou assim:

 Mas escuta: você está frequentando alguma terapia? Está frequentando psicólogo? Está frequentando alguma reunião?... Porque não dá para a gente ficar bem sem estar frequentando alguma coisa!...


Eu falei:

— Não, é lógico que dá! Dá sim! São oito anos ai que eu estou sozinho, que eu estou na caminhada sozinho! No início não foi nada fácil, porque formou-se durante todos esses anos uma profunda dependência psicológica entre o grupo, entre as literaturas do grupo e entre as pessoas com quem eu me relacionava nos grupos. Ali havia uma forte rede de segurança emocional. Mas, como a palavra "rede" indica, a rede é algo que nos prende a algo, que não deixa você livre. E, para poder estar dentro desse grupo eu tinha que me ajustar, me amoldar as tradições, aos padrões comportamentais que esse grupo, que a consciência coletiva desse grupo estipula como sendo um padrão de comportamento viável para que você participe desse grupo. Apesar de dizer que você tem toda liberdade, não, existe sim por parte das pessoas, dos membros, uma cobrança de que você se ajuste, se conforme com o padrão de pensamento, o padrão comportamental... Que a sua fala seja encima dos "chavões", dos "temas", dos "lemas", dos "jargões" que são passados de membro para membro durante suas reuniões.

É muito interessante essa questão dela, o modo como ela me colocou, o olhar dela de medo...

— Mas como é que pode você ficar sem reunião? Você não vai transmitir para as pessoas?...


E eu virei para ela e falei assim:

 Escuta: essa programação, se você levar ela a sério, devidamente, se você se aprofundar, se você não ficar na superfície das letrinhas, se você for fundo, isso propicia para você um estado de "Unidade Interna", em que você adquire uma "auto-suficiência psicológica" em que você não precisa mais ficar correndo atrás de "doações de terceiros"... Dá para você começar a caminhar por você! E tem mais: eu descobri nessa caminhada que o mundo é uma "grande sala de reunião"... Está cheio de pessoas ai, atrás dessa mensagem... Cada um está buscando essa mensagem em algum lugar... É um telefone que toca, como falei ontem... 


É bem interessante isso, como as pessoas parece que, para você poder dividir um pouco de você, tem que quer num determinado lugar, tem que estar preso num determinado horários, numa determinada prática durante a semana, quer dizer, isso ai não pode ser feito em todas as nossas atividades?... Então, eu descobri isso que "o mundo é uma grande sala de reunião, o mundo é uma grande sala de pessoas conflitadas e que você pode estar passando, do seu modo, com sua originalidade, com sua autenticidade, do modo que você sente que lhe é melhor, mais folgado,... passar essa experiência. E eu pude perceber, no ato, a resistência dela diante dessa minha postura, diante dessa minha visão... E isso é muito natural, porque dentro de qualquer instituição, você é incentivado, é condicionado que você "tem que" estar ali,  participar, dar continuidade... A maioria dos lugares parece que nem a família, eles não criam você para o mundo, para soltar você para o mundo... Querem você ali, você tem que estar ali para dar continuidade aquele grupo, aquele limitado grupo... Você não pode sair do grupo!

Foi muito interessante, que quando, no início dessa depressão, houve uma identificação iniciática, que através do fundo de poço... É muito interessante, a pessoa que tem o problema do alcoolismo, que tem o problema de jogo, que tem problema da compulsão sexual, da dependência psicológica de relacionamentos, ou do comer compulsivo, quando ela chega no fundo de poço dela, o que está causando a dor é aquele determinado comportamento. Então, é natural que a identificação iniciática seja encima de um padrão comportamental. Então, a gente vai se reunir dentro de um grupo que trabalhe esse padrão comportamental, que seja um fator determinante... Então, no meu caso ali foi a depressão, eram as minhas emoções descontroladas que estavam me causando todo aquele conflito. Então, quando cheguei nesse grupo e eu vi pessoas falando sobre o padrão comportamental que estava acontecendo comigo, houve uma identificação natural: "Pô! Achei a minha turma!... Esse é o problema e a natureza exata dos meus conflitos são as minhas emoções!"... E isso é importantíssimo!... Isso é importantíssimo!...

Sem essa identificação iniciática com um padrão comportamental de sofrimento, que causa o sofrimento, Não tem como a pessoa começar a ter uma percepção, não tem como a pessoa começar a desenvolver o auto-conhecimento, o processo de meditação sobre si mesmo... Não há como! E, hoje fica muito claro para mim que se a pessoa for "séria", em qualquer instituição que ela entrar, ela vai encontrar as ferramentas iniciais, básicas, para o início desse processo de auto-conhecimento. E, se ela for "séria", com essas mesmas ferramentas, ela vai perceber a limitação dessas ferramentas e ela vai precisar buscar por "novas ferramentas". Não vai dar para ficar ali parado... Como num processo de educação, você começa lá no pré-primário, vai para o primeiro aninho, depois vai para o ginasial, — nem sei agora como são as classificações na escola, — até chegar a um "Ensino Superior"... Onde você se sente pronto para ir para o mundo e dividir aquilo que já tem dentro de você e que foi ajudado por todas essas ferramentas.

Então, se a pessoa for "realmente séria", seja lá no grupo em que ela fizer parte, estiver fazendo parte, ela vai perceber, ela vai começar a desenvolver, aquilo que alguns homens já colocaram como o "observador". Todo início de conflito é por causa da ausência total, da ausência desse observador!... Você está tão identificado com a mente, com seus pensamentos, com suas emoções, com seus sentimentos, com suas compulsões, com seus medos, que você "age no automático", num estado quase que de sonambulismo... Você vai fazendo tudo conforme, você vai reagindo, reagindo, reagindo emocionalmente... Não há esse estado de observador. E, nessas reações, é lógico que só pode se instalar conflito atrás de conflito, conflito atrás de conflito... Um círculo vicioso de conflitos e que, para esses conflitos, você vai precisar de algum padrão de comportamento compulsivo, obsessivo, para aplacar a dor causada por esse constante conflito se instalando.

Já com a "instalação" desse observador, a coisa começa a amenizar... Esse observador começa a, pela observação, a não se identificar com várias das coisas que vão se manifestando, já começa a perceber o falso... Já começa a instalar, com esse observador, a prática de um inventariar relâmpago do que está ocorrendo dentro de você... E, esse inventariar já começa a dar condições de você não se identificar, não criar conflitos, não criar tanta resistência... Aqui já é um grande passo no processo — como nessas irmandades falam, todas elas, no A.A., nos Neuróticos Anônimos, Narcóticos Anônimos, Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Jogadores Compulsivos Anônimos — todos eles vão colocar isso, a palavra que é muito utilizada, a "recuperação"... Que, aparentemente, de início, é esse recuperar de, não mais, de se "manter limpo", como é falado nessas irmandades, limpo desse padrão de comportamento compulsivo. Mas, isso é muito primário, isso é muito primário! Isso não tem nada a ver com "cura"... Isso ai é só o parar para começar a perceber o que é a realidade interna sem ser anestesiada. "Recuperação" é muito mais do que isso! Porque tem um monte de gente ai detendo seus padrões e, como no A.A. eles falam, o cara para de beber e vira um "bêbado seco", emocionalmente bêbado... Não tem o químico mas é emocionalmente bêbado. Isso é em qualquer das irmandades. Isso é um fato! O parar com seu padrão de comportamento compulsivo não é recuperação. É interessante perguntar: recuperar o que?... Hoje eu tenho essa consciência dessa resposta, já está dentro de mim... Muito bem marcada, muito bem vivida! Eu vou falar um pouquinho mais diante disso.

Mas, o interessante desse processo de desenvolvimento, de auto-conhecimento interno, você percebe num determinado instante a limitação do próprio observador... Que aonde tem observador e a coisa observada, ainda há fragmentação, ainda há espaço, ainda há tempo, ainda há conflito, ainda há um querer "vir-a-ser" algo, que cria ansiedade, que cria angústia, que cria inveja, que cria todos aqueles sentimentos... E aqui é um momento muito difícil da caminhada, pelo seguinte: quando se chega aqui, se você ainda está preso a uma entidade, a alguma organização, a alguma instituição, pelo conhecimento adquirido, diante dos demais membros você começa a ter a formação de uma "personalidade, de uma respeitabilidade". As pessoas começam a te respeitar como um "veterano", como alguém que tem "bastante conhecimento", que "já andou bastante". E, essa respeitabilidade, muitas vezes, limita que a pessoa fale a realidade de seus sentimentos internos. Então, esse observador ai faz com que a pessoa perceba, mas ela não coloca de modo aberto, como os membros que vão chegando pela primeira vez, a realidade interna de seus conflitos. Então, a pessoa passa a viver um estado de isolamento emocional por causa da respeitabilidade adquirida nesses grupos. Ela não tem a liberdade de falar abertamente, como chega o novo, por isso que nesses grupos eles falam que "o novo é a pessoa mais importante". Por que é a pessoa mais importante? Mais importante porque ela vem original, ela vem sem os condicionamentos, mesmo com uma originalidade adoentada pelos seus padrões de comportamento"... Ela chega ali e fala tudo! Ela fala exatamente o conflito dela, o que ela está vivenciando, ela não tem a preocupação em adequar o comportamento dela aos jargões, aos padrões, aos lemas, que aquela irmandade, que aquele grupo, que aquela instituição coloca como sendo o comportamento de uma "pessoa espiritualizada", de uma "pessoa equilibrada", de uma "pessoa iluminada", ou sei lá o nome que for... uma "pessoa realizada".

Então, esse é um momento muito difícil porque todo esse conhecimento adquirido, na busca da solução dos conflitos internos, faz com que a pessoa"não seja autentica, não seja original", para defender essa personalidade "espiritualista" que foi criada dentro desses grupos. Então, essas pessoas, esses "líderes" ele vão ter que ficar sempre fazendo "reuniõenzinhas" fechadas, falando num cantinho qualquer, com um ou outro, para que não fira aquela imagem que foi criada, até para não "assustar" os mais novos... "Fulano de tal teve uma recaída emocional? Mas como? Com tantos anos ai?"... "Fulano de tal recaiu no álcool, recaiu na droga, recaiu no padrão de comportamento, mas como?"... Esse é um momento bastante difícil, bastante limitado, e que acontece muito e que muitas vezes, o que acontece?... Essa respeitabilidade faz com que a pessoa se afaste de vez daquela ambiente que ela frequentava, porque o orgulho, não deixa a pessoa voltar e dizer: "Gente: eu preciso de ajuda!... Estou limitado nesta área"... Esse é um momento bastante difícil, inclusive, existem recaídas que acabam, dependendo do padrão comportamental, acabam sendo recaídas fatais, que acabam levando a pessoa à loucura ou à morte prematura. 

Então, aqui, é uma outra identificação muito interessante: que é a impotência diante do observador, que o observador não tem condições de levar a gente além daquele estado do próprio observador. O observador , em si mesmo, é limitado ao seu poder de observação. Há a necessidade da instalação de "algo" maior, de algo" que não pode ser traduzido pela limitação das palavras. Sem essa instalação desse algo, e a instalação desse "algo" só vem com a rendição total, com esse fundo de poço diante desse observador, sem isso, sem isso, sem esse abaixar as mãos, sem a percepção direta da limitação do conhecimento, de tudo que foi adquirido em todos esses anos de busca para tentar solucionar aquele padrão comportamental inicial, sem isso, a pessoa não consegue adentra num outro "estágio", num outro "portal", um portal de cura. Em todos esses lugares, isso ficou claro para mim, nenhum deles prepara você para a liberdade do espírito humano. Eles te querem ali, preso, eles não querem você: "Olha, vá ao mundo e transmita sua mensagem, a sua experiência, isso que você vivenciou... Vá!... Não se prenda a nós, não! Vá!... Vá e faça esse trabalho! Vá lá e seja VOCÊ MESMO e passe para o "outro" o que você descobriu!... Não! Não fique preso aqui!"

Somos ente humanos felizes?

Olhares, upload feito originalmente por NJRO.

Não somos entes felizes. Vede por quanta tensão e agitação temos de passar. Vivemos a lutar, a batalhar, sem nunca encontrar um momento de felicidade profunda, no qual possamos dizer “somos felizes”. Conheceis momentos assim? Vivemos numa batalha constante com nós mesmos e com nossos semelhantes. Estamos aprisionados e atados, e toda a nossa existência é luta; e sendo, como é, um esforço constante, uma batalha perene, qual a sua finalidade? E, por não conhecermos a felicidade, a não ser em raros intervalos, já de todo a esquecemos. Há, sem dúvida, uns raros momentos em que nos sentimos felizes, em que por um instante se interrompem as nossas lutas, as nossas batalhas de cada dia, as vicissitudes de nossa existência, mas não sabemos reter esses momentos. E parece-me que, enquanto o não soubermos, será a nossa vida destituída de significação.

Krishnamurti - Uma Nova Maneira de Viver

22 de setembro de 2011

Desejando o Inacessível.


Deseje apenas o que está dentro de você

Parece absurdo, paradoxal, ilógico: Deseje apenas o que está dentro de você. Desejamos, basicamente, aquilo que não está em nós. Desejar significa querer algo que não está em nós. Se já estivesse em nós, qual seria então a necessidade de desejá-lo?

Nós nunca nos desejamos tal como somos. Sempre desejamos algo mais. Ninguém deseja a si mesmo; não há necessidade. Você já é isso; não está faltando nada. Você deseja aquilo que está faltando.

O sutra diz: Deseje apenas o que está dentro de você - por muitas razões. Em primeiro lugar, se você desejar algo que não está dentro de você, poderá obtê-lo, mas ele nunca será seu. Não pode ser. Na verdade, você nunca poderá ser o senhor dele; tornar-se-á apenas um escravo. O possuidor é sempre possuído por suas posses. Quanto maior a quantidade de coisas possuídas, maior a escravidão criada.

Você é possuído por suas posses e deseja ser o senhor. A frustração se inicia porque toda a sua esperança foi frustrada. Você chega a um ponto no qual as coisas que desejava estão presentes, tudo o que você desejou aconteceu, mas você se tornou o escravo. Agora, o reino parece ter se tornado uma prisão, e tudo o que você possui, ou pensa possuir, não é realmente possuído, pois lhe pode ser tomado a qualquer momento. Mesmo se ninguém o tomar, a morte certamente o tomará.

Na terminologia religiosa, aquilo que pode ser tomado pela morte não lhe pertence. A morte é o critério. Há apenas um critério para julgar se você realmente possui alguma coisa. Julgue levando em consideração a morte, e veja se você ainda possuirá aquela coisa após a morte. Se a morte a tomar de você, você nunca a possuiu. Era apenas uma ilusão.

Há algo que a morte não lhe pode tirar? Se não há nada, então a religião é inútil, sem sentido. Mas algo que a morte não pode tomar, e esse algo está oculto dentro de você. Você já o possui. Se a possuísse, ela poderia ser tomada.

Você é ela; ela é o seu próprio ser. É a sua própria base, sua existência. É isso que é chamado de atman. Atman significa aquilo que você já é. Ninguém pode tomá-lo de você; nem mesmo a morte pode destruí-lo. O sutra diz: Deseje apenas o que está dentro de você. Deseje o atman, deseje seu eu mais profundo, deseje o centro que você já possui, mas do qual se esqueceu completamente.

Por que o homem se esquece? Isso é uma necessidade. Para sobreviver, precisa-se prestar atenção ao mundo exterior. Para sobreviver, existir, permanecer vivo, você precisa continuar prestar atenção às coisas: comer, abrigar-se. O corpo necessita de atenção. Ele fica doente, está propenso a sofrer. O corpo está continuamente se esforçando para sobreviver, porque, para o corpo, há morte. O corpo está em constante luta com a morte; portanto, uma atenção permanente deve ser dada a ele.

O corpo sempre se encontra em estado de emergência, porque a morte pode ocorrer a qualquer momento. Você precisa estar ininterruptamente atendo e consciente acerca dessa luta contra a morte; portanto, toda a sua atenção se move para o exterior. Não sobra nenhuma energia para se mover para dentro. Trata-se de uma necessidade de sobrevivência. Por esse motivo, continuamos a esquecer que existe dentro de nós um centro imortal, um centro eterno, um centro de bem-aventurança absoluta.

A dor atrai a atenção; o sofrimento atrai a atenção. Se você está com dor de cabeça, sua atenção se dirige para a cabeça; você se torna consciente de que possui uma cabeça. Se não há dor, você se esquece de sua cabeça. Torna-se sem cabeça - como se você não tivesse cabeça.

O corpo é sentido apenas quando está doente. Se seu corpo está absolutamente saudável, você não o sente. Você fica leve. Na verdade, você se torna incorpóreo. Esse é o único critério da autêntica saúde: o corpo não é absolutamente sentido. Sempre que o corpo é sentido, significa que há alguma doença, algum distúrbio. Sua atenção é reclamada.

Há tantos problemas oriundos do exterior que sua atenção está constantemente ocupada com ele. Por isso, você se esquece de que alguma coisa existe exatamente no centro do seu ser, alguma coisa imortal, divina, bem-aventurada. O sutra diz:

Deseje apenas o que está dentro de você.
...Pois dentro de você está a luz do mundo 
- a única luz que pode iluminar o Caminho. 
Se você é incapaz de percebê-la em seu interior, 
é inútil procurá-la em outra parte.

O sutra seguinte:

Deseje apenas o que está além de você.

Deseje apenas o que está além de você. Deseje sempre o impossível, porque só através desse desejo você cresce. E o que é impossível? Escalar o Monte Everest não é impossível; tampouco ir à Lua. Ambos tornaram-se possíveis. Alguém já escalou o Everest. Mesmo se ninguém o tivesse escalado, isso não seria impossível. Difícil, mas não impossível. Está ao alcance da capacidade humana escalá-lo. Ir à Lua também está dentro de nossa capacidade e, em breve, o homem alcançará igualmente outros planetas. Isso não é impossível, apenas difícil. Algum dia tornar-se-á possível. Somente uma coisa é impossível, está além de você: seu eu mais profundo.

Por quê? Afirmo que a Lua não é tão difícil de se alcançar, embora esteja tão distante; e afirmo que seu eu mais profundo é mais impossível de se alcançar, embora esteja exatamente dentro de você. Por que então é tão difícil alcançá-lo? Porque está dentro de você, justamente por isso. Você sabe apenas alcançar o que está fora. Suas mãos podem alcançar o que está fora, seus olhos podem ver o que está fora. Seus sentidos abrem-se para o exterior; você não possui sentidos que possam ajuda-lo a olhar para dentro. Sua mente se move para fora; não pode se mover para dentro. É por isso que a mente precisa ser abandonada. Somente então você pode entrar em meditação.

A mente é basicamente um movimento para fora. Você pode observar isso muito facilmente. Sempre que você pensa, está pensando em algo que está fora de você. Seja qual for o seu pensamento, ele é sempre a respeito de algo que está fora. Você já pensou sobre alguma coisa que está dentro de você? Não há necessidade de pensar sobre algo interior, pois você pode experimentá-lo. Não há necessidade de pensar a seu respeito; o pensamento é um substituto. Você pode perceber o que está dentro de você. Está bem próximo. Basta mudar sua atitude, mudar sua direção. De fora, você se volta para dentro, e pode experimentá-lo. Qual a necessidade de pensar sobre ele?

Porém, estamos sempre pensando sobre o de dentro. Pensamos sobre o que é atman. Pensamos: “O que é o eu?” - Criamos filosofias e sistemas. Criamos teorias de que o eu significa “isto”, de que a definição é “esta” e de que ninguém tenta senti-lo. Ele está tão perto de você - qual a necessidade de teorias?

Teorias são necessárias para o que está distante, pois você não pode alcançá-lo neste exato momento. Precisa criar uma ponte. Precisa-se de teorias para se alcançar a Lua, mas elas não são necessárias para alcançar o seu centro interior, pois não há nenhuma distância. Não há nada para se transpor; você já está ali. É necessário apenas uma mudança de atitude, e você pode perceber esse centro. Não há necessidade de teorizar, de filosofar. Mas continuamos a criar filosofias. Criamos milhares e milhares de filosofias, e os filósofos continuam desperdiçando suas vidas a pensar sobre aquilo que já se encontra dentro deles. Eles poderiam saltar para dentro a qualquer momento.

Mas isso está além. Além dos sentidos, pois os sentidos não podem se abrir para aquilo que está dentro; eles se abrem na direção oposta. E também está além da mente, pois a mente não pode conduzi-lo até ali; ela sempre o conduz a outro lugar. A mente é um instrumento para o mundo; é um mecanismo que permite o movimento para fora, para longe de você. Ela serve para isso. Por essa razão, enfatiza-se tanto que em samadhi não há mente. Samadhi é um estado de não-mente; a mente cessa.

Nas técnicas de meditação que estamos fazendo, todo o esforço consiste em se deixar de ser uma mente, em abandonar a mente, em parar de pensar, em atingir um instante onde não exista nenhum pensamento, onde apenas a atenção, apenas a consciência existe. “Não pensar” significa que não há nenhuma nuvem no céu; apenas o céu está ali. “Não pensar” significa que não há nuvens na mente, apenas a consciência. Nessa consciência, você está dentro.

Quando você está na mente, está fora; quando você está na não-mente, está dentro. Nessa transferência, da mente para a não-mente, consiste toda a jornada. Se você puder acrescentar “não” à sua mente, você alcançou o conhecimento. Por isso é denominado além.

Deseje apenas o que está além de você - além de seus sentidos, além da sua mente, além de seu ego. “Você” não estará ali. Seu centro mais profundo não é você; você é apenas a periferia. A periferia não pode estar no centro. Quando você se move em direção ao centro, abandona a periferia. A periferia não pode existir no centro. Ela pertence ao centro, mas existe fora do centro, ao seu redor.

Tudo quanto você conhece a seu respeito é apenas a periferia: seu nome, sua identidade, sua imagem. Você é hindu ou maometano ou cristão; você é negro ou branco; você é isto ou aquilo. Seu país, raça, cultura - tudo isso pertence apenas à periferia; todos os seus condicionamentos estão apenas na periferia.

O mundo não pode penetrar em seu centro. Ele só pode cultivar a periferia, só pode atingir você em sua superfície. Apenas a sua superfície pode ser hindu, apenas a sua superfície pode ser cristã, apenas a sua superfície pode ser jaina. “Você” não é; você não pode ser. Somente sua superfície pertence à Índia, ou ao Paquistão, ou à América. Você não pode pertencer a nenhuma nação, a nenhuma raça. Você pertence à própria existência. No centro, todas as divisões são falsas; elas só dão significantes na periferia.

Tudo quanto você conhece a respeito de si mesmo refere-se ao seu ego. “Ego” é apenas uma palavra utilitária. Toda a sua periferia significa “você”. Mas esse “você” desaparecerá quando você começar a ir para dentro; esse “você” se desvanecerá aos poucos; esse “você” desaparecerá; esse “você” se evaporará. Então, surgirá um momento em que você será, autenticamente, você mesmo; seu velho eu não estará mais presente. Por isso é que se diz: Deseje apenas o que está além de você... Está além de você, pois quando você o alcança, você se perde.

Deseje apenas o que é inacessível. O que é inacessível? Olhe ao redor - todas as coisas são acessíveis. Pode ser que você não as tenha conseguido, mas elas são acessíveis. Se você fizer o esforço necessário, poderá obtê-las. Potencialmente, elas são acessíveis.

Alexandre construiu um grande império. Pode ser que você não tenha construído um, mas o que Alexandre pôde fazer, você também pode. Não é impossível; não é inacessível. Pode ser que você não tenha acumulado tanta riqueza quanto Rockefeller ou algum outro, mas o que Rockefeller pôde fazer, você também pode. Isso é humano; está ao alcance da sua capacidade. Você pode fracassar, pode não ser capaz de obter essa riqueza, mas ela é alcançável. Seu fracasso é o seu próprio fracasso; potencialmente você poderia ter sido um sucesso; portanto, um objeto não pode ser considerado inacessível.

Assim sendo, o que é inacessível? Aquilo que não pode ser atingido? Se esse é o significado, então qual a finalidade de se desejá-lo? Se algo não pode ser alcançado, então o desejo é fútil. Por que desejar o que é inacessível? O que isso significa?

O significado é muito profundo, muito esotérico. O significado é que seu eu mais profundo é inacessível porque ele já foi alcançado. Você não pode alcançá-lo porque você é ele. Não pode tornar isso uma conquista. Não se trata de algo a ser alcançado. Ele já está aí, você nunca esteve longe dele. Nunca o perdeu; ele é a sua própria natureza. Ele é você, o seu ser mais profundo. Você não pode alcançá-lo; pode apenas descobri-lo. Não pode chegar até ele; pode apenas reconhecê-lo.

Não é possível inventá-lo; ele já está aí. Não é para ser adquirido; já está aí. Não é para ser adquirido; já está aí. Você precisa apenas lhe dar a sua atenção. Precisa focar sua consciência nele e, subitamente, aquilo que nunca foi perdido é encontrado.

Quando Buda alcançou a iluminação, alguém lhe perguntou: “O que você alcançou?”

Buda disse: “Nada, porque qualquer coisa que eu tenha alcançado, sei agora que sempre esteve presente. Nunca foi perdida. Simplesmente, eu a descobri. Tomei conhecimento de um tesouro que sempre esteve dentro de mim.”

...É inacessível porque reflui continuamente. Você penetrará a luz, mas nunca tocará a chama.

É também inacessível num outro sentido. Você nunca será capaz de dizer: “Eu o alcancei (o conhecimento)” - pois quem dirá que o alcançou? Aquele “eu” que pode reivindicar não existe mais. Aquele ego - a periferia - não existe mais. Para alcançar o conhecimento, para descobri-lo, ele precisa ser perdido. O ego precisa ser jogado fora, abandonado. Você só pode alcançar o conhecimento quando se tornou sem ego. Não pode alcançar o conhecimento com o ego, porque o próprio ego é a barreira.

Dessa forma, quem estará ali para reivindicar? Diz-se nos Upanishads que se alguém afirma que alcançou o conhecimento, não tenha dúvidas, ele não o alcançou, pois a própria afirmação é egoística. Se alguém diz: “Conheci Deus” - não tenha dúvidas, ele não conheceu Deus; pois quando Deus é conhecido, quem está ali para afirmar? O conhecedor se perde no próprio fenômeno do conhecimento. O conhecimento só ocorre quando o conhecedor não está presente. Quando o conhecedor está ausente, o conhecimento ocorre - assim, quem lhe afirmará?

Havia um monge zen, Nan-in. Alguém lhe perguntou: “Você conhece a verdade?”

Ele riu, mas continuou em silêncio. O homem disse: “Não posso compreender esse riso misterioso. Tampouco posso compreender seu misterioso silêncio. Use palavras. Diga-me. E seja claro. Diga-me sim ou não. Você conhece a verdade, o divino?”

Nan-in disse: “Você está tornando as coisas difíceis para mim. Se eu disser sim, as escrituras dizem: ‘Aquele que diz, ‘Eu conheço, não conhece. Portanto, se eu disser sim, significará não. E se eu disser não, isso não será verdadeiro. Assim, o que devo fazer? Não me obrigue a usar palavras. Tornarei a rir e a manter silêncio. Se você puder compreender, ótimo. Se não puder compreender, ótimo também. Mas não usarei palavras. Não me obrigue a isso, porque se eu disser sim, significará que não conheço, e se eu disser não, isso não será verdade.”

Você alcançará o conhecimento, mas em sua pureza. Nessa pureza, seu ego não estará presente. O ego é o elemento impuro, estranho, dentro de você - apenas a poeira acumulada ao seu redor. Ele não é você. Nu, você alcançará o conhecimento. Seu ego é exatamente como suas roupas. Ele não estará presente.

Deseje apenas o que é inacessível.

Bhagwan Shree Rajneesh
A Nova Alquimia - Cultrix/Pensamento

Volte a ser criança

Crianças na praia, upload feito originalmente por NJRO.
Enfatizo que você deveria ser como as crianças. Volte a ser criança. Esqueça sua civilização, sua cultura, seus modos, suas posturas, sua personalidade, suas faces. Tudo isso é uma fachada. Jogue-a fora! Torne-se como as criancinhas.

Parecerá loucura. Abandonar sua mente e retornar à sua infância, parecerá loucura. Pois, seja louco! Seja qual for o preço, seja novamente como as crianças. Jesus diz que somente aqueles que são como crianças entrarão no reino do meu Deus. Eu também digo o mesmo. Retorne ao ponto onde a civilização começou a corrompê-lo, ao ponto onde a educação começou a corrompê-lo, ao ponto onde a sociedade penetrou em você. Volte ao ponto onde você era não-social, ou pré-social, onde não havia sociedade coagindo você. Até esse ponto você era inocente e puro e, a menos que retorne novamente até esse ponto, as barreiras permanecerão. 

Torne-se criança novamente. Durante esse processo, você sentirá que enlouqueceu, pois estará jogando fora todos os seus valores de adulto: educação, cultura, religião, escrituras, comportamentos. Estará jogando tudo fora. Estará retornando ao ponto onde você era você mesmo, onde ainda nenhuma sociedade o havia corrompido.

O processo parecerá loucura, mas não é. É uma catarse. E se você puder atravessá-la, sairá mais são, menos louco. A loucura será jogada fora. Você se tornará mais puro, mais são.

Bhagwan Shree Rajneesh
A nova Alquimia Cultrix/Pensamento

Atendendo o telefonema do Ser



Bom dia a todos! Gostaria de compartilhar um pouco da experiência de hoje de manhã. Acordei por volta das quinze para cinco da manhã, com o toque do telefone aqui de casa e era o alarme da empresa do meu irmão, que está viajando, que está no exterior. E, fiquei pensando, como que é interessante, tem sempre alguém, tem sempre algo que está ali, tentando nos "despertar" cedo, nos trazer pra essa consciência, pra esse estado de sonambulismo, que durante tantos e tantos anos muitos de nós acabamos levando uma vida, uma existência sem vida.  Tem sempre alguém tocando um telefone pra gente, tem sempre alguém dando um toque pra ver se a gente desperta, mas, tem sempre aquela preguiça de sair da "zona de conforto", de sair daquilo que a gente está acostumado, daquele leito das nossas certezas, dos nossos conhecimentos, dos nossos achismos, daquela guerra de intelectualismo que não consegue por fim ao estado de inquietude constante, que não consegue colocar fim aquela falta, daquele sentimento de que está sempre faltando alguma coisa... Eu costumo a brincar que nós somos que nem aquela bolachinha "Mabel",  aquela rosquinha, super gostosa mas sempre com aquele buraquinho no meio... Sempre faltando um pedacinho, sempre faltando alguma coisa... E tem sempre alguma coisa se apresentando, dando um toque, dando um chamado, pra despertar que algo de nós está sendo roubado... Que o melhor de nós está sendo roubado e é justamente o conhecimento de uma nova maneira de estar e de viver na vida de relação, — uma vida totalmente livre da necessidade de controle, livre da necessidade tão conhecida de todos de ficar colocando resistência a tudo que se apresenta, de ficar num estado de julgamento constante, de repulsa. 

Muita gente tem tentado dar esse toque... Vídeos, filmes, poemas, sistemas de crenças organizadas — que erroneamente a grande maioria chama de religião — textos, blogs... Mas nós nunca conseguimos olhar para tudo isso de uma forma clara, aberta, sem defesa nenhuma, sem resistência nenhuma, sem confronto. Não! Está sempre ali o intelecto, está sempre ali aquele acervo de conhecimento livresco, aquele acervo de conhecimento adquirido nas várias instituições que nós passamos durante todos esses anos de busca... Sempre colhendo frases prontas, bonitinhas, para serem aplicadas em momento de impacto... Mas, todos nós sabemos muito bem o que é ir deitar a noite e botar a cabeça no travesseiro... E não estar tranquilo! Não estar em paz! Não se sentir livre! Todos sabem o que é acordar, abrir os olhos, e ainda deitado na cama sentir aquele "friozinho" no estomago, aquela coisa que não dá aquele impulso, aquele "tesão" de sair da cama... Aquela certeza ainda somos o mesmo do dia anterior, que carregamos os mesmos conflitos, as mesmas inseguranças, as mesmas incertezas, os mesmos medos, os mesmos conflitos, as mesmas angústias, os mesmos ressentimentos... Aquela dorzinha crônica e bastante disfarçada da inveja, do ciúmes, dos sentimentos de inferioridade e de superioridade... Aquela distância entre a gente e o mundo e os acontecimentos, que vários escritores, vários pensadores tem colocado como sendo o sentimento de separatividade... Todos nós sabemos o que é isso! E o engraçado é que, parece que a grande maioria — parece que não é só uma experiência minha —, sempre tem uma má vontade incrível de levantar e atender esse chamado, atender esse telefonema aí, esse telefone que toca tentando trazer ai o toque de que a existência está passando, e está passando sem vida, que a existência está sendo roubada, que a qualidade de vida está sendo roubada. Não está sendo roubada por ninguém, está sendo roubada por nós mesmos, justamente por acreditar, por aceitar, o padrão de comportamento, por aceitar a identificação de "eu", uma "irreal identidade", identidade essa que foi criada ai desde o primeiro sopro, através da cultura herdada de família, de tradição... Essa cultura nefasta aí que só tem criado separação, criado conflito, criado divisões... Minha família, sua família, meu irmão, seu irmão, meu país, seu país... As mais variadas formas de conflito ai de separatividade. 

E sempre tem alguém dando esse toque e a gente está sempre "chegando lá" e querendo derrubar, dizer que esse toque não é um toque verdadeiro, que a pessoa não está digna, e sei lá!... E é tão interessante quando ocorre essa abertura, quando ocorre essa entrega, quando essa resistência toda cai pro chão, assim... E "algo" se manifesta, "algo" se instala e transforma totalmente seu modo de estar na vida de relação, de estar ai vendo as pessoas, vendo as pessoas pela primeira vez, destituído daquele monte de julgamentos, de imagens adquiridas durante o tempo, imagens essas ai que sempre foram uma forma de "auto-defesa", e é engraçado que, mesmo nessa auto-defesa, aparentemente ganhando, continuava carregando aquelas situações por dois, três, quatro, cinco, um ano, sempre achando que não tinha ganho "como deveria" ter ganho... Não havia falado "o que deveria" ter falado... É muito interessante notar tudo isso! 

E, para mim, fica muito claro que só dá para "ouvir" esse toque desse telefone, só dá para sair cedo da cama quando se tem esse cansaço... Quando tem... Quando percebe que não tem mais espaço para brigar, que essa coisa de disputar não leva a nada, não levou a nada... Não liberta de jeito nenhum dos conflitos, de todo acervo, de toda cultura, de todo conhecimento... A única coisa que fez foi deixar um "cabeção" bem esclarecido, mas um "coração adoecido", um "coração adormecido"... Uma mente que pensa e um coração que não sente... Quando chega esse momento de perceber que tudo isso não leva a nada, que essa disputa não leva a nada, ai... Eu não gosto muito dessa palavra, mas vou usar ela, agora, aqui... Um "milagre" acaba acontecendo, um clique, um insite, alguma "coisa" acontece, quando acontece, você percebe que já não existe mais aquele "você", não existe mais aquele antigo "estado de ser"... Cheio de resistência, cheio de defesas, cheio de achismos... Tudo isso some!... Some automaticamente, sem esforço, sem a participação direta desse "eu", controlador, desse "eu" que gosta das escolhas... Só pode ter escolha onde tem resistência!... Se não tem resistência não tem escolha... Há uma "percepção direta", há um "intuir direto" que leva a "ação que não é reação", porque não está baseada nesse acervo de memória, de imagens, de conceitos, de achismos, de conhecimentos livrescos... Não há nada, é uma percepção direta, essa percepção direta ela passa a acontecer toda vez que essa resistência cai para o chão... E essa resistência, só cai pro chão quando há a total entrega, que é uma entrega que vem num estado de rendição, de total rendição... Quando há a percepção direta de que todo movimento, todo acervo de cultura, de conhecimento não é capaz de colocar fim aquele estado de constante sofrimento interno, silencioso, que tentamos disfarçar de todos, e que nos impedem de ter uma vida de relação com qualidade. Sem que esse estado de rendição ocorra, nossa vida não tem qualidade, nossos relacionamentos não tem qualidade... Vivemos uma vida totalmente estressada, limitada, apertada, corrida, cheia de conflitos, cheia de máscaras, cheia daquele "Tá tudo bem!", mas que lá dentro "não tá tudo bem!"... Eu vivo falando: a gente vive colecionando "Tudo bem!" que não tem nada de "Bem"... Não existe "Bem" nenhum quando a gente está vivendo "dentro da cabeça", sem um "coração que sente"...

O interessante dessa rendição é que ela faz com que ocorra um milagre... É muito intereesante: é uma mente que começa a sentir e um coração que pensa... E há uma unidade desses dois... Dessa mente e coração... Há um estado interno de unidade que, eu brinco que parece que coloca uma "calça mais folgada" na vida da gente, fica tudo mais folgado, um chinelo mais folgado... Há uma base sólida sob os pés, há um pisar diferente, há um falar diferente, há um olhar diferente, há um tom diferente... Tudo passa a ser diferente! Totalmente diferente daquele modo de vida tenso, limitado, em que não conseguimos estar 100% por inteiro, holisticamente, em cada situação que se apresenta, porque tem sempre uma parte nossa que fica na defensiva, que fica no resguardo, sempre precavida, sempre analisando, sempre julgando, sempre retaliando, sempre procurando a melhor palavra... Ou seja, um modo de vida que tem espaço e tempo em tudo que vai acontecendo... Não há uma interação direta, solta, livre, leve, justamente por causa desse "eu" ai, com suas defesas, com suas resistências...

Então, o que eu gostaria agora era de lhe convidar, para que você também possa se permitir essa experiência de fazer essa pergunta para si mesmo: "O que é que eu estou conseguindo com esse modo de vida de resistir a tudo que se apresenta? A esse modo de resistir a esse "telefone que toca", de madrugada,  na hora que você menos espera, com uma voz que você "não conhece", "nunca viu", não está "vendo o rosto", que vira para você e diz: "Olha!... Acorda!... Estão tentando entrar na sua mente... Estão tentando fechar a porta do seu coração... Estão tentando fazer com que você não experimente a Vida com toda a sua propriedade, com toda sua qualidade, com toda sua plenitude... E aí fica a pergunta: "O que você ainda prefere fazer? Ficar nas suas resistências, só para poder ficar um pouquinho mais ai deitado na sua zona de conforto, com "dor nas costas"... Será que vale a pena isso?... Ainda não está cansado disso?"...

Eu posso garantir para você que... Ou melhor, eu quero provocar você para isso... "Ousar, atender esse telefone... Ouvir esse toque... Deixar as resistências... Deixar esse "milagre" acontecer!" Esse milagre acontece quando a gente, "baixou a mão" e escuta, pela primeira vez, lê pela primeira vez, ouve pela primeira vez, sem esses filtros desgastados do nosso intelecto, da nossa mente condicionada por toda essa forma de cultura, por todos esses conhecimentos, conhecimentos que nós corremos atrás para tentar amenizar o estrago feito por essa cultura nefasta herdade pela tradição local, pela tradição parental. Interessante colocar aqui que "ninguém tem culpa, ninguém pode ser responsabilizado... Somos vítimas de vítimas, vitimizando, se não despertar, se não atender esse telefone, vamos continuar sendo instrumentos vitimizadores de todas as pessoas que entram em contato conosco. E o interessante, é que quando você desperta, quando você atende esse telefone que toca de madrugada te avisando que a vida está sendo roubada... Você passa a ser um instrumento de cura também!

Então, fica ai o convite, esse convite para que você atenda esse telefone, para que você escute esse "toque", de coração e de mente aberta, e eu posso garantir para você, que se você fizer isso, que se você se abrir, se você permitir que essa resistência vá ao chão, você está condenado a saber o que é felicidade, o que é uma vida de qualidade, e o que significa a verdadeira liberdade do espírito humano.

Então era isso que eu queria falar! Um fraterabraço e um beijo no seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

Por que tudo que tocamos torna-se um problema?



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Da argila ao pote


"Sofremos da síndrome do potinho. Se, ao invés de humanos, nascêssemos como potes de argila dotados de mente, pensaríamos mais ou menos assim: "sou um ínfimo potinho, vulnerável, esquecido numa prateleira qualquer da cozinha, muito inferior aos outros potes que existem na casa".

O que não sabemos é que os demais potes, por maiores e enfeitados que sejam, também se sentem muitas vezes inferiores a outros potes. Também se acham mofados e esquecidos no porão daquela casa onde os donos vivem viajando.

Pensamos que somos um pobre potinho e queremos ser o outro, maior, mais decorado e atraente. Queremos ter a forma do outro, a função do outro, o design do outro. Morremos de medo de cair da prateleira e quebrar. Ou pior, de sermos esquecidos ou jogados fora...

Vivemos com medo porque não sabemos que antes de sermos pote, somos argila. Apenas estamos, transitoriamente, na forma de pote. Como potes, nos sentimos limitados. Mas, se quebrarmos, continuaremos a ser argila. Portanto, não há nada a temer.

O pote está para a argila assim como o corpomente está para o Ser. Por conta da ignorância existencial, confundimos o corpomente, com todas as suas limitações e dificuldades, com o Ser que somos, e acabamos por atribuir ao Ser, que é intrinsecamente ilimitado e pleno, as limitações inerentes ao corpomente.

E não devemos querer ser mais do que argila porque a argila é perfeita em si mesma. Ela é o Todo! Nós já somos as pessoas que queremos ser, perfeitas dentro das nossas imperfeições. Porque o nascimento em si já é um big bang. Já é uma forma perfeita nesta ordem chamada Universo.

Cada dia de nossa vida é um milagre. Cada pensamento, cada palavra, cada gesto, faz parte desta ordem. Faz parte deste Ser. Nossa realidade é agir, disto não podemos fugir,   é compreender aquilo que é correto fazer na vida, a cada momento.

Mas que seja por escolha e nunca por falta de opção, porque somos importantes demais para vivermos de forma mecânica e sem sentido. É preciso achar o sentido das coisas. Mesmo daquelas que, aparentemente, sejam simples e sem importância.

Não estamos sozinhos nunca porque fazemos parte desta ordem. Nascemos por uma complexa combinação de méritos e desméritos. Existe uma razão. Portanto, não precisamos desperdiçar as nossas vidas, ou descartá-las como se elas não tivessem valor.

Elas fazem todo o sentido do mundo. E como somos interligados, como as ondas que fazem parte do mesmo mar, cada gesto importa, e muito. Cada palavra, cada pensamento faz toda a diferença. Tudo o que eu fizer, e ainda o que deixar de fazer, reflete-se na ordem. Portanto, ao invés de lamentar pelo que não temos, devemos nos centrar em apreciar aquilo que temos.

Neste momento, agora, ser feliz agora, sabendo que o que tenho é aquilo que me cabe naquele determinado momento e não precisa ser diferente, já que a ordem é justa e adequada, sempre.

Devemos tirar as amarras, as cordas que fazem com que sejamos como o elefante que pensa que a frágil corda que o segura desde pequeno é capaz de detê-lo quando grande. Ou como a águia que foi criada como galinha e ignorava que sua realidade era voar.

Algo que une os humanos é a procura pela felicidade, pela libertação dos condicionamentos. Por nos livrar desse complexos de potinho, desse sentimento de insignificância, dessa ideia de sermos limitados. De nos livrar de nossas amarras e viver, finalmente, cada dia como uma obra de arte, dando pequenas pinceladas, errando e tentando de novo, descobrindo novos acordes, surfando ondas diferentes, sendo pessoas melhores.

Sendo melhores amigos, pais, filhos, irmãos. Sendo, de fato, um reflexo desta ordem maravilhosa na qual fazemos parte. Somos tão perfeitos como as ondas do mar. Somos completos e plenos como a Natureza. Somos livres como os pássaros e auto-efulgentes como o Sol, que brilha com luz própria. Apenas estávamos esquecidos disso.

Tirando a plenitude da plenitude
Resta apenas plenitude...

Tereza Freire

Mergulhe fundo no desconhecido

Tirolesa , upload feito originalmente por NJRO.

Chameio-os aqui. E vocês ouviram o meu chamado. E vieram. Mas essa vinda, essa vinda exterior, não basta. Agora, vou chamá-los novamente para uma jornada diferente, para uma jornada interior. E se vocês cooperarem, se estiverem dispostos a se moverem para dentro, isso ajudará. 

A coisa mais importante a ser lembrada é que a jornada interior requer profunda coragem. É uma aventura no desconhecido, e o mar ainda não foi explorado. É necessário coragem para dar o mergulho, o que é essa coragem?

A coragem consiste em abandonar seu passado e dar o salto. Se você não é corajoso, continua prolongando seu passado. Continua sempre repetindo o passado. Você se move numa roda, num círculo. Toda sua vida torna-se apenas uma repetição. Coragem significa a coragem de sair desse círculo vicioso, de romper essa continuidade — de ser descontínuo em relação ao passado, de ser novo, de renascer.

Esse campo de meditação será a ocasião para um renascimento. Haverá muita dor, muito sofrimento, pois todo nascimento é fenômeno doloroso. Mas se você estiver disposto, então até mesmo essa dor tornar-se-á felicidade. Quando a madrugada tornar-se mais escura, quando a noite tornar-se mais sombria, o nascer do Sol está bem próximo. Quando seu sofrimento atinge o ápice, você está próximo do limite de onde se inicia a dimensão da felicidade e da bem-aventurança. Você precisa passar pelo sofrimento; portanto, esteja pronto para ele; a menos que você passe através dele, nunca irá além dele. Não suprima o sofrimento. Ao contrário, mova-se através dele

As experiência de meditação que serão feitas aqui trarão seu sofrimento à superfície. Essas experiências trarão seu sofrimento do inconsciente para o consciente; e quando o sofrimento torna-se consciente, ele pode evaporar-se.

Nada jamais se evapora do inconsciente. Você continua a recalcar sua dor, sua raiva, sua angústia, sua violência. Tudo que existe dentro de você é empurrado para o inconsciente. Seu inconsciente tornou-se uma ferida; transformou-se num inferno. Esse inferno precisa ser trazido para fora. Se você quer realmente entrar na dimensão celeste, precisará atravessar o inferno. Será necessário coragem: coragem para passar pelo inferno, coragem para renascer.

Quando digo renascer, é isso mesmo que quero dizer. Você passará por uma morte e então renascerá. A meditação é uma morte: morrer para o passado, morrer completamente enquanto ego. O que fazer? Como morrer para que uma nova vida nasça em você? Como morrer para que você possa ressuscitar novamente?

Jesus diz que a menos que uma semente morra, não poderá tornar uma árvore, não poderá germinar. Vocês são semelhantes a sementes, sementes da flor divina e, a menos que morram enquanto sementes, o florescimento jamais será possível. Vocês tem carregado suas sementes por muitas vidas, por milhões e milhões de anos. Cada momento é o momento certo, se você está pronto. A semente pode morrer e uma nova vida pode ressurgir, uma nova vida pode nascer. 

Se você veio, se ouviu meu chamado, agora, seja corajoso. Não se detenha! Não importa o que eu diga: entre nisso tão totalmente quanto possível. Se você está disposto a ser corajoso, posso fazer muito. Muita coisa é possível se você cooperar comigo. Basta que coopere e torne-se aberto; então posso entrar em você. Posso mudá-lo; posso fazer ajustamentos, uma sintonização. 

E, uma vez, sintonizado, toda existência torna-se diferente, pois agora você pode ouvir a harmonia cósmica, a música cósmica. Uma vez sintonizado com o infinito, você nunca será novamente o mesmo. Se entrar em sintonia, mesmo que seja por um único momento, você nunca será novamente o mesmo

Através das experiências de meditação que estaremos fazendo aqui, meu esforço consistirá em sintonizá-lo. Mas será necessário sua cooperação. Você pode criar barreiras, pode criar obstáculos, pode se opor a mim. Se você resistir, nada acontecerá. Então você dirá que nada aconteceu, mas a responsabilidade é sua. Se nada acontecer, você será o responsável, pois isso significa que você não permitiu, não se entregou, não deixou acontecer. Lembre-se desta expressão durante todo o campo: deixe acontecer. Mas não apenas se lembre dela, sinta-a. Permaneça numa atitude de entrega, disponível a qualquer coisa que aconteça, a qualquer coisa que eu faça. Permita, seja vulnerável, aberto. Mesmo que a morte ocorra, esteja pronto. Somente então a vida acontecerá em você.

Se você puder confiar em mim, então algo será possível. Confiar significa, fundamentalmente, que você está deixando tudo em minhas mãos. Mesmo se a morte ocorrer, você não se queixará. E se puder chegar a este ponto, se estiver preparado para confiar em mim a esse ponto, então você não será a mesma pessoa quando retornar do campo. E quando você teve um vislumbre do infinito, o mundo todo torna-se novo

Durante todo o campo, sinta uma profunda entrega. A primeira coisa a ser lembrada é: deixe acontecer, entregue-se

A segunda coisa a ser lembrada continuamente é a palavra agora. A-G-O-R-A (agora). Não se mova para o passado, não se mova para o futuro. Permaneça com o momento. Sempre que você sentir que sua mente está retrocedendo — pensando no passado, vivendo de memórias — traga-a outra vez de volta para o agora. Ou, se sentir que sua mente está se projetando em direção ao futuro, traga-a de volta para o agora. Se estiver comendo, então coma — não faça outra coisa. Se estiver ouvindo, então ouça — não faça mais nada. Se estiver meditando, então medite — nada mais. Permaneça com o momento, aqui e agora.

Isso deverá ser seu esforço constante. No começo você o sentirá como algo extenuante, devido aos seus velhos hábitos; mas quando você entrar profundamente nisso, o esforço desaparecerá. Pela primeira vez, você se sentirá totalmente não-tenso, pois no agora nenhuma tensão é possível. Assim, a segunda coisa a ser lembrada é permanecer no agora. Não vá para cá e para lá; permaneça no momento presente. É difícil mas, desde que você o sinta uma vez, torna-se muito fácil, simples, natural. 

A terceira coisa: coloque toda sua energia nas técnicas de meditação. Esforços pela metade não adiantarão. Você estará simplesmente desperdiçando tempo e energia. Um certo pico — um máximo — é necessário. Só então você pode ser transformado numa outra dimensão.   

Assim, coloque toda a sua energia em cada técnica que praticaremos aqui. Só então um determinado nível é alcançado e você deixa de ser a antiga pessoa. O antigo desaparece, evapora, e um novo fenômeno passa a existir. Assim, não se retraia, não se divida. Entre totalmente em cada técnica. Coloque nela toda a sua mente e corpo; não deixe nada para trás. 

E então eu lhe prometo que você não sairá daqui como chegou. Você estará novo, ressuscitado. O desconhecido terá acontecido a você. Isso é certo, é científico — mas você precisa cumprir as condições.

Bhagwan Shree Rajneesh  
Fonte: A NOVA ALQUIMIA - Cultrix/Pensamento

Não confie na sua mente para se libertar

Grades, upload feito originalmente por NJRO.

Nunca tendo saído de casa, você pergunta sobre como voltar. Livre-se das idéias erradas, isso é tudo. Coletar idéias corretas também não o levará a lugar algum. Apenas cesse de imaginar. Não tente entender! Já é suficiente se você não entender errado. Não confie na sua mente para se libertar. É a mente que o aprisionou. Ao invés disso, vá além dela.

Nisargadatta Maharaj

21 de setembro de 2011

Como estar no mundo sem ser do mundo

Páscoa na praia

Disseram a Osho: A questão para o meditador costumava ser: "Como estar no mundo e não ser do mundo?" Desde que voltei ao mundo, depois de ter saído da comunidade por algum tempo, sinto-me um alienígena, diferente, não sendo do mundo. A questão parece ser "Como estar no mundo?"


Não. A questão ainda é estar no mundo e não ser do mundo. Estar no mundo não muda a primeira posição.

A primeira posição permite a você estar no mundo, mas não mundanamente. Está perfeitamente bem se você se sentir alienígena, não há nada de errado nisso.

Você deveria se sentir assim, porque este mundo no qual você tem de estar não é o mundo no qual você pode estabelecer uma sincronia com as pessoas, com suas ideias, com suas condutas.

Este mundo não é um mundo correto — quero dizer, um mundo humano. E você quer estar nele, quer fazer parte dele? Então você tem de ser cristão em uma sociedade cristã. Então, tem de ir à igreja, tem de acreditar na Bíblia Sagrada.

É dessa maneira que você quer estar no mundo? Então tudo o que você fez antes foi pura perda de tempo.

Estar no mundo significa apenas que você estará fazendo um trabalho, que estará ganhando o seu pão, que estará vivendo com pessoas que não têm a mesma mente que você, que estará vivendo entre estrangeiros e naturalmente se sentirá um alienígena. Mas isso é algo por que se alegrar.

Eu não o mandei ao mundo para se perder. Eu o mandei ao mundo para permanecer você mesmo, apesar do mundo.

E esse foi o significado da afirmação original: estar no mundo, mas não ser do mundo. Isso permanece inalterado. É tão fundamental que permanecerá inalterado.

Osho, em "Dinheiro, Trabalho, Espiritualidade"

A liberdade não está no fim, está no começo


Aparentemente parece que você não é capaz de ficar sozinho: essa palavra “sozinho” significa “inteiramente só”. Quando você está realmente só, não contaminado, quando você está realmente livre, você é a entidade humana integral, você é o mundo humano. Mas nós temos medo de ficar sozinhos; nós queremos sempre estar com alguém, ou com uma idéia, ou uma imagem. Estar só não é solidão; a solidão tem a sua beleza: caminhar sozinho pela floresta, sozinho ao longo de um rio — não de mãos dadas com uma pessoa ou outra — mas sozinho na solidão, o que é diferente de isolamento. Se você está caminhando sozinho, você está observando o céu, as árvores, os pássaros, as flores e toda a beleza da terra, e também, talvez, você esteja observando a si próprio — não dialogando com você mesmo, não carregando os seus fardos às costas; você os deixou para trás. A solidão revela o seu isolamento, a sua vaidade, o seu sentimento de depressão. Quando você terminou com a solidão há o outro, o isolamento, que não é uma conclusão ou uma crença — que não é uma propaganda que lhe diz o que significa olhar. O isolamento não o empurra para nenhum rumo; quando você é dirigido ou quando é guiado, você se torna um escravo e, portanto, perde a liberdade, totalmente, desde o início. A liberdade não está no fim, está no começo.

krishnamurti - Perguntas e Respostas - Cultrix

Tudo mais é vaidade


Acredite em mim, você não necessita nada exceto ser o que é. Você imagina que aumentará seu valor pela aquisição. É como o ouro imaginando que uma adição de cobre o melhorará. A eliminação e a purificação, a renúncia de tudo o que é estranho à sua natureza é o bastante. Tudo mais é vaidade.

Nisargadatta Maharaj

20 de setembro de 2011

Medo da vida (parte 1)

O pensador
Você pode tornar tudo positivo somente se você tornar-se positivo em relação à vida. Mas nós não somos positivos em relação à vida. Por quê? Por que nós não somos positivos em relação à vida? Por que nós somos negativos? Por que essa luta constante? Por que nós não podemos ter uma entrega total à vida? Qual é o medo?

Você pode não ter observado: você tem medo da vida – muito medo da vida. Pode soar estranho dizer que você tem medo da vida, porque comumente você sente que tem medo da morte, não da vida. Essa é a observação usual, que todo mundo tem medo da morte. Mas eu lhe digo: você tem medo da morte somente porque tem medo da vida. Aquele que não tem medo da vida não terá medo da morte.

Por que nós temos medo da vida? Três razões. Primeira: seu ego só pode existir se ele for contra a corrente. Flutuando corrente abaixo, seu ego não pode existir. Seu ego só pode existir quando ele luta, quando ele diz "não". Se ele disser "sim", sempre "sim", ele não poderá existir. O ego é a causa básica de dizer "não" a tudo.

Olhe os seus modos, como você se comporta e reage. Olhe como o "não" vem imediatamente à mente, e como o "sim" é muito, muito difícil – porque com o "não" você existe como um ego. Com o "sim", a sua identidade fica perdida, você se torna uma gota no oceano. Não há nenhum ego no "sim"; eis por que é tão difícil dizer sim – muito difícil.

Você está me entendendo? Se você está indo contra a corrente, você sente que você existe. Se você simplesmente se entrega e começa a flutuar com a corrente aonde quer que ela o conduza, você não sente que você existe. Então, você se tornou parte do rio. Esse ego, esse pensar-se isolado como um "eu", cria a negatividade à sua volta. Esse ego cria as ondulações de negatividade.

Osho, em "O Livro dos Segredos"

Realidade ou sonho?

A realidade é apenas para aqueles que não podem suportar o sonho.” (Jacques Lacan) Esta é uma idéia interessante. Parece até coisa de poeta, mas não é. Para quem não sabe, J. Lacan não é um poeta, mas um dos estudiosos mais importantes da Psicanálise em todos os tempos. E é uma grande verdade. É do hábito refugiarmos na realidade coletiva para fugirmos de nós mesmos. Isso nos transmite segurança e nos desobriga de maiores responsabilidades. A fuga, portanto, ao contrário do que acreditamos, está na realidade, não no sonho. Faz parte do costumeiro nossa adaptação à comodidade, ao lugar-comum, às coisas seguras, que já foram mastigadas e digeridas pela coletividade. A essência de cada indivíduo é insuportavelmente única. E nada nos incomoda tanto quanto a unicidade. Por isso criamos coisas como o tal do bom senso. O bom senso nivela e estabelece o padrão. Através dele, o máximo que conseguimos é fazer o que todos fazem ou já fizeram. Isso não é evolução. Evolução requer ousadia e capacidade de criação, inovação e quebra de paradigmas. Bom senso não é condizente com criatividade. Pessoas que só se deixam guiar pelo bom senso são sempre insossas, triviais, ordeiras e uniformes. Mulheres de bom senso são amantes ruins, nem quentes nem frias, apenas enfadonhas. Claro que precisamos saber diferenciar a ousadia da burrice, mas isso depende de inteligência, não de bom senso. A Filosofia Cartesiana diz que a virtude mora no meio. Mas o meio é relativo, subjetivo, e só pode ser encontrado e mantido pelo uso permanente da razão. E diante da luz da razão, bom senso é só mais um argumento que utilizamos na tentativa de justificarmos nossa apatia mental.

Autor: Afonso - Guaxupé - MG

19 de setembro de 2011

Contato: uma nova forma de vida


Algo no mais fundo de nós, desde a mais tenra idade nos impulsiona em direção ao contato consciente com nossa real natureza. Por muitas vezes nos deparamos com esse impulso, com esse sentimento, com essa sensação de que não estamos sós, de que não estamos num mundo sem sentido. Todos nós vivemos estas experiências, alguns em maior grau, outros em menor grau. Mas com certeza, todos sabemos o que esses momentos de vislumbre representam. Nessas experiências, por mais curtas que sejam, sentimos a forte sensação de que nada precisamos temer, que tudo está certo, que tudo está em seu devido lugar, em sua divina ordem. Quando elas ocorrem, sabemos que “algo” está ali, que uma "presença" está ali, que não estamos sós. São instantes que nos roubam a noção de tempo e espaço. Não sabemos de onde esse “algo” vem, de que modo mantém contato, mas sabemos, por experiência direta, que esse “algo” existe. Para aqueles que vivem esta divina e sagrada experiência, nada mais deste mundo das formas consegue ter mais sentido. Toda paixão, todo desejo transfere-se para esse inusitado estado de ser. Aos olhos dos demais, aquele que vive esta experiência, passa a não ser levado muito a sério, assim como este, também não passa a levar os demais e a tudo mais que eles estressadamente buscam, a sério. Saber como reencontrar esse "algo”, essa “presença”, saber como retomar o contato, passa a ser o motivo de suas buscas, toda sua energia se direciona para isso. Essa experiência, esse inusitado contato causa uma profunda mudança de sentido na vida destes bem-aventurados.
Ouvir isso, ser tocado por isso, acariciado por isso, embalado por isso, é a única coisa que passa a ter real valor, o demais, é sempre secundário. Para quem vive está sagrada experiência, este sagrado instante de contato consciente com "aquilo que é", de nada importa saber se há ou não vida em outros planetas, o que realmente importa é como existir sem essa presença de vida, sem essa presença que nos outorga um estado de ser que é totalmente "extra-terrestre", extra terrestre no sentido de como todos estão acostumados a este modo de vida destituído de vida em abundância.
Quando se vive tal experiência, sabe-se de forma visceral, de forma holística que, viver sem esse estado de presença, viver sem esse contato, de forma comum, de forma natural, seria como um tremendo desperdício de espaço, um grande desperdício de vida. É graças a estas experiências vivificadoras que nos tornamos “antenados”, antenados numa direção contrária a direção comum, que passamos a ter uma visão maior, uma visão que transpassa em muito a trivialidade da visão geral exteriorizada. Essa experiência muda nosso rumo, altera nossas coordenadas, nos faz ouvir e ver aquilo que a grande maioria, por causa de sua insensibilidade, insensibilidade esta criada pela identificação ilusória com este doentio padrão externado, não consegue captar. Quando se vive esses "breves contatos conscientes", contatos esses que surgem de uma escuta atenta, escuta essa que não é maculada pelos filtros do intelecto, literalmente vive-se em outra "faixa", em outro "canal", sem dúvida, muito, mais muito mais sutis. Há uma mudança total em nosso eixo, mudança essa que causa uma profunda mutação na escala de valores de um ser humano. Graças a esses contatos, dá-se um "novo pulsar", dá-se uma nova frequência. Esses contatos causam uma espécie de "flutuação" e essa flutuação traz consigo, uma nova capacidade de escuta, capacidade esta que é totalmente desconhecida pela grande maioria que ainda não se abriu para esse contato. E o mais maravilhoso de tudo, é que esse contato torna tudo mais real. 
Para quem vive esse contato, o script social, com todas suas exigências descabidas, — me desculpem  a expressão — é um "tremendo pé-no-saco"... Essa obsessão aquisitiva deixa de ser uma realidade na vida de quem vive essa "amostra grátis" do que é viver num estado de contato consciente com esta Ilimitada Consciência. Enquanto quase todos se vem obcecados por esse padrão aquisitivo consumista, para aqueles que se viram tocados por esta "coisa", nem se quer se importam com um possível "suicídio profissional"... Carreira, nome, posses, posições, sistemas de seguro, nada disso para estas pessoas é levado em conta, o que conta para elas, é a estabilização desse contato consciente com esta Ilimitada Consciência. Para elas, o mais importante é realizar isso, realizar esse contato, com toda intensidade de seu ser. Viver sem esta presença, ver-se distanciado desta bem-aventurada presença, para elas é como um enorme "buraco-negro", um enorme buraco-negro que faz com que elas dediquem anos e mais anos de suas vidas, procurando, procurando, procurando. Para estas pessoas, a experiência desse breve contato, torna suas vidas uma verdadeira "viagem", viagem esta, que se dependesse apenas do intelecto, da lógica e da razão, a ela nunca teriam se quer considerado. E, em nome desta "viagem cósmica", todos que vivenciaram esses bem-aventurados momentos, passam a fazer ajustes em suas vidas, a torná-las o mais simples possível, simplicidade esta que tem como base, ter o maior tempo possível para se dedicarem na busca daquilo que para elas passa a ser realmente essencial. Por conta própria e de bom grado, ajustam seu orçamento em prol de tal realização. E isso, para aqueles que se encontram nos limites do intelecto, não passa de abstrações fantásticas, não passa de um modo de vida destituído de praticidade, destituído de valores palpáveis e mesuráveis, algo que realmente não vale empregar seus limitados esforços. Quando se está preso nos limites do intelecto, da lógica e da razão, não há se quer a mínima abertura para esse estado de "pesquisa pura", para quem se encontra nesse limitado espaço, não há nisso nada de prático, não é algo que se possa mostrar "lucrativo" e, por não se mostrar lucrativo, não lhe traz o menor interesse, a menor atração. Para aqueles que se encontram nos limites do intelecto, da lógica e da razão, tudo isso é visto como algo místico, destituído de sentido prático. Para estes, a busca da verdade é um objetivo totalmente desprezível. Para eles não há nada de interessante nesse modo de vida, principalmente se nesse modo de vida, se apresenta uma simplicidade voluntária, simplicidade esta que não se vê impulsionada por essa acelerada corrida tecnológica aquisitiva. Para quem foi abençoado por este contato consciente com esta Consciência Ilimitada, não faz o menor sentido essa frenética busca tecnológica aquisitiva em detrimento da descoberta da real natureza humana. Estas pessoas, apesar de não mais encontrarem espaço em qualquer sistema de crença organizada, encontram em seu interior, um devido espaço, espaço este que se torna sua verdadeira religião, e essa religião, encontrada dentro de si, para elas, é uma "Super-Nova", uma verdadeira constelação de infinitas possibilidades.
Graças a esse bem-aventurado momentos de contato com esta Ilimitada Presença, contato este que traz consigo um novo e desconhecido sentir, um sentir que as palavras não conseguem mensurar, é que passamos a saber por experiência direta de que "não estamos sozinhos", de que não precisamos temer nada. Graças a este bem-aventurado momento de contato consciente com esta Ilimitada Consciência, que até a idéia de "morte", encontra sua morte, o que traz a vida um novo estado de liberdade. Quando isto ocorre, a pergunta "Deus existe?" ou "Quem é Deus?", deixa de fazer parte de nosso interior. Com certeza, para todo aquele que ainda está preso nos limites do conhecimento livresco, nos limites da lógica, da razão e do intelecto, não há como ver nisto, o menor sinal de inteligência, o menor sinal de sanidade; para elas, tudo isso é birutice, é loucura, não passa de pura ficção. Para elas, falta um pouquinho mais de visão, uma mudança de visão capaz de trazer uma nova percepção das coisas. Para estes que se vem emaranhados na rede do pensamento condicionado, tudo isso não passa de puro misticismo, de pura irracionalidade, irracionalidade esta que deve por eles ser combatida. Estas pessoas não podem ser responsabilizadas por este modo de encarar os fatos, uma vez que, estas experiências provenientes desses momentos de contato consciente com esta Ilimitada Consciência, não podem ser captadas pela limitação da análise mental, por um modo cartesiano de ver a a vida. Para estas pessoas que sofrem deste vício mental de querer ter controle sobre tudo, isto do que falamos, para estas pessoas, causa um profundo pânico. Não é raro, numa forma insana de quererem defender seus "direitos de controle", estas pessoas passarem a hostilizar o comportamento dos que se dedicam a busca da verdade, alegando que tudo isto não passa de pura bobagem, algo que não merece ser levado a sério. Desdenham aquilo que, com certeza, é a essência da maior descoberta humana. Elas alimentam em si a ilusão do controle, a ilusão da escolha, ilusão esta que é sempre apoiada em em agressivas frases como: "a vida é minha, faço dela o que eu quiser". 
É bastante interessante notar que, sem que a pessoa experimente a morte da fé em tudo aquilo que durante anos e anos se viu atraída, sem que sua vida se torne um turbilhão emocional, não se dá o início desta busca por este contato consciente com outro modo de estar na vida de relação. Sem que a pessoa se dê conta do tamanho da infelicidade a que está acometida como resultado de sua anterior busca por felicidade, este bem aventurado processo de busca, não tem seu início. Não há a menor possibilidade de que comece a fazer a si mesma, perguntas que se mostrem fundamentais, perguntas fundamentais para que seu modo de vida superficial possa abrir espaço para um modo de vida dotado de real sentido e significado. Sem que estes momentos de infelicidade se apresentem, não há como deixar de se apresentar um modo de vida pautado na repetição, na rotina, no tédio e na insatisfação desorientada. 
É através da rendição total ao estado de insatisfação, de declinação, que um contato consciente pode se manifestar, contato este que traz consigo uma "ascensão direta", que traz consigo uma "confirmação", um estado de ser "antenado", estado de ser este que passa a diagnosticar com clareza a insanidade de todo sistema com seus repetidos sinais, com seus repetidos sinais que insistem num modo de vida que busca sempre por certezas. Sem dúvida, este estado de "ascensão direta", não é um fenômeno comum, mas sim, um fenômeno que é natural a todos, desde que, conectados a fonte dessa Suprema Inteligência. É graças a este contato que a vida passa a ser harmônica, sem os antigos e tão conhecidos ruídos emocionais. Graças a essa harmonização, todos os sentidos passam a exercer suas qualidades comuns, só que agora, devidamente ampliados. Nossa percepção do que é, torna-se instantânea, sem a antiga necessidade de uma base falsa, de um limitado ponto e essa percepção instantânea, traz consigo descobertas maravilhosas, descobertas essas que se encontram numa base real, que é a base de nosso estado natural, de nossa real natureza.  


Nelson Jonas R. de Oliveira


Para baixar este áudio:
http://www.4shared.com/audio/9-lvnWG3/Nelson_Jonas_-_Contato_-_uma_n.html

O que o intelecto, a lógica e a razão não consegue alcançar, dúvida, satiriza, hostiliza, ou então, mistifica...
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