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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

16 de outubro de 2011

Iluminado bafo de boca

O BudaNet
Cômico e infantil. Não há palavras melhores para definir o sentimento diante da imaginativa postura humana com relação a realização do despertar do estado de sonambulismo, sonambulismo este proveniente da ilusão de sua identificação com seus sempre defendidos limitantes conteúdos mentais. É interessante ver como se comporta o ser humano diante dessa questão da "realização da verdade", da "iluminação", do "nirvana", da "vinda do espírito santo", do "despertar espiritual", ou seja lá o nome que lhe pareça mais conveniente. Seja qual for a palavra, seja qual for a linguagem usada para comunicar esse comportamento, não é difícil constatar seu cômico comportamento infantil, seu cômico comportamento imaturo. 

Uma flor, enquanto não desabrocha, enquanto fechada em seu processo de desenvolvimento, não faz alarde das propriedades do aroma, da fragrância, seja de outra flor, seja de si mesma. Ela está ali, totalmente dedicada em seu estado de ser, em seu estado de desenvolvimento. Quando ocorre o seu rebento, quando seu botão se abre ao mundo trazendo sua beleza original, ela simplesmente se dá ao mundo, partilha de seu aroma e beleza sem qualquer tipo de preocupação, sem qualquer tipo de resistência, sem qualquer tipo de proteção ou escolha. Ela simplesmente é, simplesmente é doação. Ela não está preocupada se outras flores estão ou não se desenvolvendo, se estão ou não jogando ao ar, de forma correta, de forma assertiva, seu aroma e sua beleza. Ela não está preocupada se "falsas flores" estão iludindo ou não outros seres com suas folhas de plástico. Não existe essa preocupação com o vir-a-ser, uma vez que ela é. Ela não se preocupa em convencer outras flores a qualquer tipo de exigência descabida. Ela é simplesmente doação. Ela não impõe o "modo certo" de como outros seres devam apreciar seu aroma ou sua beleza. Ela não impõe qualquer tipo de conceito, qualquer tipo de achismo, qualquer tipo de racionalização. Ela simplesmente permanece num silencioso estado de disponibilidade, num silencioso estado de doação de sua essência realizada. 

Em outras palavras, diante do assunto "iluminação" nos comportamos feito crianças, crianças trancadas num aposento qualquer, em sua sexual curiosidade infantil, ansiosamente folheando revistas e livros, obtendo o prazer solitário da masturbação, prazer este que é fruto da imaginação, fruto da observação de imagens, mas que não trazem em si o estado de êxtase, felicidade e liberdade que se dá quando do real encontro entre dois seres humanos num momento de encontro sexual. E como crianças, com a mente carregada de imagens, saímos discutindo com outras crianças o que é a realidade de algo que ainda não vivenciamos de forma direta, fazendo isso, com base na limitada quantidade de imagens sexuais de nosso conhecimento, imagens que extraímos de páginas e páginas, de filmes e filmes. Com base nessas imagens, tecemos conceitos sobre o que é ou não esse desconhecido momento de gozo, de felicidade e liberdade. Contamos histórias e mais histórias, histórias dotadas de eloquência e requinte, mas que, infelizmente, em nosso interior, sabemos que são apenas histórias. E, por saber que são apenas histórias, nos tornamos viciados em colecionar imagens, histórias e filmes feitos por terceiros, sempre defendendo que nossas imagens são as melhores, são as mais autênticas, são as mais originais. No entanto, são apenas imagens... Do ato em si, por si mesmos, nada sabemos. No entanto, em nossa infantilidade, insistimos em ver inteligência em alimentar intermináveis discussões sobre tal assunto... 

Num outro exemplo, agimos como prisioneiros, dentro de nossas apertadas celas, discutindo o que seja ou não um homem livre, o que seja ou não o estado de liberdade de ir e vir. Passamos anos e anos dentro da limitação de nossas celas mentais discutindo conceitos de liberdade, ao invés de nos darmos ao trabalho de vivenciar a própria liberdade... Por causa de nossos inconscientes medos, não ousamos sair da crença infantil, para a experiência adulta e assim, nos mantemos num estado irreal, baforando sobre a realidade. 

Como é infantil tudo isto! Como é infantil viver nessa constante masturbação mental imaginativa... Como é infantil não poder desfrutar do aroma da flor por estar tão ocupado com conceitos sobre aromas e fragrâncias... Como é infantil tudo isso!   

Em vista disso, pergunto: 

Crianças, quanto tempo mais ainda vamos precisar para termos a "iluminação" de que bafo de boca não cozinha ovo? Sobre o assunto "iluminação", que tal, como um botão de uma flor qualquer, um pouco de recolhimento e silêncio?... Se assim for, quem sabe, você também, relaxe e goze!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira
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