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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

22 de outubro de 2011

Sobre a profunda e incessante investigação "Quem sou eu?"

S.P.: Swami, quem sou eu? E como poderei obter a salvação? 

B.H.: Através de uma profunda e incessante investigação "Quem sou eu?", conhecerás a ti mesmo e, consequentemente, conseguirás a salvação.

S.P.: Quem sou eu?

B.H.: O verdadeiro Eu ou Si não é o corpo, ou nenhum dos cinco sentidos, nem qualquer dos órgãos de ação, nem a respiração, nem a mente, nem meso o estado de profunda sonolência em que não se tem consciência de tais coisas.

S.P.: Se não sou nada disso, que mais serei eu?

B.H.: Após chegar a cada um destes itens  e dizer "isto eu não sou", aquilo que restar é o Eu, e isso é Consciência.

S.P.: Qual é a natureza dessa Consciência?

B.H.: É Ser Consciência-Bem-aventurança em que não existe o mais leve indício do pensamento-Eu. Chama-se também Silêncio ou Si. Isto é a única coisa que existe. Se a trindade mundo, ego e Deus for considerada como entidades separadas, tudo será mera ilusão como o aparecimento da prata na madrepérola. Deus, ego e mundo são na realidade a forma do Espírito.

S.P.: Como poderemos nós compreender esse Real?

B.H.: Quando as coisas vistas desaparecem, a verdadeira natureza daquele que vê, ou sujeito, aparece. 

S.P.: Não será possível compreender isso ao mesmo tempo em que ainda se vêem as coisas externas?

B.H.: Não, porque aquele que vê e a coisa vista são como a corda e a aparência de serpente nela contida. Até que a gente se tenha livrado da aparência da serpente não poderá ver que aquilo que existe é apenas a corda.

S.P.: Quando desaparecerão os objetos externos?

B.H.: Se a mente, que é a causa de todos os pensamentos e atividades, desaparece, os objetos externos desaparecerão também. 

S.P: Qual é a natureza da mente? 

B.H.: A mente é apenas pensamentos. É uma forma de energia. Manifesta-se como mundo. Quando a mente mergulha no Si, então o Si é compreendido; quando a mente faz uma sortida o mundo aparece e o Si não é compreendido.

S.P.: Como irá a mente desaparecer?

B.H.: Apenas através da investigação  "Quem Sou Eu?". Embora tal investigação também seja uma operação mental, ela destrói todas as operações mentais, incluindo-se a si mesma, assim como o pau com que se remexe a pira funerária resulta ele próprio reduzido a cinzas depois que a pira e os cadáveres arderam. Só então vem a compreensão do Si. O pensamento do Eu é destruído, a respiração e os demais indícios de vitalidade diminuem. O ego e a respiração ou força vital, tem uma fonte comum. Faça aquilo que fizer, faça-o sem egoísmo, isto é, sem o sentimento de "estou fazendo isto". Quando um homem chega a tal estado até mesmo sua mulher lhe parecerá como a Mãe Universal. A verdadeira devoção é a rendição do ego ao Eu.

S.P.: Não há outros meios de destruir a mente?

B.H.: Não há outro método adequado senão a Auto-investigação. Se a mente for sopitada por outros meios ficará quieta durante algum tempo e depois ressurgirá, reassumindo sua antiga atividade.

S.P.: as quando serão todos os instintos e tendências, como o de conservação, esmagados?

B.H.: Quanto mais a gente se recolhe dentro de Si tanto mais tais tendências murcham, até finalmente desaparecerem.

S.P.: Será mesmo possível eliminar essas tendências que encharcam nossas mentes através de tantas gerações sucessivas? 

B.H.: Jamais concedas lugar em tua mente a tais dúvidas, mas mergulha no Si com firme resolução. Se a mente for constantemente orientada no sentido do Si por essa investigação, ela será eventualmente dissolvida e transformada no Si. Ao sentires alguma dúvida não busque elucidá-la mas antes procura saber quem é aquela pessoa a quem a dúvida ocorre.

S.P.: Durante quanto tempo se deve proceder a essa investigação?

B.H.: Enquanto houver em tua mente o mais leve traço capaz de provocar pensamentos. Enquanto o inimigo estiver ocupando a cidadela não cessará de fazer sortidas. se matares cada um que se apresentar, a cidadela por fim cairá em tuas mãos. Analogamente, cada vez que um pensamento erguer a cabeça esmaga-o com a investigação. Esmagar todos os pensamentos no nascedouro chama-se desapego. Assim, Auto-investigação continua sendo necessária até que o Si seja compreendido. O que se requer é uma contínua e ininterrupta lembrança do Eu. 

S.P.: Não é este mundo e o que ali acontece o resultado da vontade de Deus? Se é assim porque haveria Deus de desejar assim?

B.H.: Deus não tem propósitos. Ele não está preso a qualquer ação. As atividades mundanas não podem afetá-lo. Toma por exemplo a analogia do sol. o sol se ergue sem desejo, propósito ou esforço, mas, tão logo se ergue, numerosas atividades tem lugar na terra; a lente colocada sob seus raios produz fogo, os botões de loto se abrem, a água evapora e toda criatura viva entra em atividade, conserva-a e por fim a abandona. Mas o sol não se deixa afetar por tais atividades, pois simplesmente atua segundo a sua própria natureza, de acordo com leis fixas, sem qualquer finalidade e não passa de uma testemunha. Assim também acontece com Deus. Deus não tem qualquer desejo ou propósito em seus atos de criação, manutenção, destruição, retirada e salvação a que os seres estão sujeitos. À medida que os seres colhem os frutos de suas ações em obediência às Suas leis, a responsabilidade é deles e não de Deus. 

Conversa entre Sirvaprakasam Pillai e Ramana Maharshi, extraída do livro de Arthur Osborne, intitulado: RAMANA MAHARSHI e o caminho do autoconhecimento, editora pensamento
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