Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

30 de novembro de 2011

“Filho, tudo o que tenho é teu”

Eis a palavra correta da verdade. Esta afirmação da verdade providencia a base para defrontar qualquer limitação sugestionada.  Conhecê-la intelectualmente não transformará a falta em abundância.

Chegará o dia em que será desnecessário pronunciá-la. Neste dia, nós a sentiremos dentro da gente, tornando-se Lei para nossa experiência. Daí em diante, não mais pensaremos naquilo que vamos comer, ou beber, ou com que recursos nos vestiremos, porque a Lei da herança divina terá sido assimilada. E sem qualquer esquema premeditado, nosso bem nos chega no momento certo.

Devemos dispensar ao nosso trabalho um pensamento sério e consciente; mas, de agora em diante, faremos isto pelo amor ao trabalho e não porque seja um meio de ganhar a vida. O que quer que façamos, nós o fazemos porque é o trabalho que nos é dado para fazer neste momento. Façamos o melhor que nos é possível fazer, mas não com o propósito da remuneração.

Logo descobriremos que, se não estamos no tipo de trabalho satisfatório ao sentido da Alma, seremos removidos daquilo que estamos fazendo para outro trabalho. Entretanto, isto nunca acontecerá enquanto acreditarmos que nosso trabalho é a fonte de nosso suprimento.

Joel S. Goldsmith (em “A Prática da Presença”)

A Letra é Morta

A letra é, realmente, desprovida de todo e qualquer significado quando separada de quem a está lendo. Só não ficará letra morta enquanto estiver vivificada na reflexão meditativa de quem a lê.

Enquanto os dizeres expressos nas letras permanecerem reverberando no íntimo de quem lê – apesar de já encerrada a leitura – lá estará o Espírito daqueles dizeres.

Dentro deste contexto, os dizeres necessários, os dizeres sôfregos por expressividade, sempre encontram mãos, ou vozes, através dos quais desembocam...
...às vezes, feito pororoca em retumbante estrondo;
...outras vezes, como enternecedores véus d’água em cachoeira modesta.

Por isso, os donos das mãos, ou das vozes, quase nunca são donos dos dizeres.

Conforme o zelo em manter a cuia de nossa natureza receptiva à altura do seio misericordioso, sempre haverá abundância de dizeres a verter por mãos, ou vozes; ou, mais poderoso do que tudo, a verter pelo anonimato do silêncio!

LibaN RaaCh

VERDADEIRO

29 de novembro de 2011

Este dia vai chegar...



Chegará o dia em que não mais poderei comer doces.
Mas, até lá, continuarei a dar minhas beliscadinhas.

Chegará o dia em que não mais conseguirei correr, nem pular.
Até lá, continuarei a dar meus pulinhos e minhas corridinhas por aí...

Chegará o dia em que nem mesmo a ‘pilulazinha azul’ dará jeito.
Pretendo, até lá, não fazer uso dela.
Desculpem-me!
Não me enquadro na categoria de touro reprodutor que vive pelo prazer,
Ao invés do prazer pelo viver.

Chegará o dia em que meus amigos me abandonarão.
Ou porque a morte os convidou a cear,
Ou porque a própria vida, em seus tortuosos caminhos certos,
Incumbiu-se de separar.
Compartilharei muitas e muitas ceias com eles até lá.

Chegará o dia em que não mais haverá
Esta regurgitante necessidade em escrever,
Pois o sentido de todos os escritos
Estará encravado em meus poros
Fazendo do meu transpiro, do meu respiro,
O sentido de todos os escritos.

Mas, até lá, continuarei a escrever coisas,
Por vezes, sem sentido.

Chegará o dia em que reencontrarei conhecidos
Que estagiaram em minha vida.
Neste dia, talvez, eu seja tratado como desconhecido.
Ou, talvez, eu dispense este tratamento.

De qualquer forma, ainda assim, a comunhão permanecerá impressa
Nos registros do meu Ser, como tem sido desde que eu me tenho por gente!

Chegará o dia em que minhas pálpebras fechar-se-ão em definitivo.
Contudo, até lá, que no contato com cada criatura humana
Eu consiga contato do mais humano em mim
Com o mais humano em Ti!

LibaN RaaCh 

Mestre das Marionetes


Por favor, caso não aprecie o estilo musical, permita-se apenas tirar o som e
refletir sobre as palavras.E sugiro os seguintes questionamentos:
Quem é o mestre?
Quem são as marionetes?

Engodo Capital


Engodo Capital, upload feito originalmente por NJRO.

Está chegando dezembro, o mês em que a hipocrisia humana alcança seus maiores níveis... Um ano inteiro de desumanas atitudes competitivas, não pode ser mascarado por egocêntricas campanhas a qual muitos ousam dar o nome de "caridade".

28 de novembro de 2011

Sou estéril?


Se somos uma árvore frutífera que, neste momento, está estéril ou não possui frutos, não pediremos para alguém colocar pêssegos, peras ou maçãs em nossa árvore improdutiva.

Nós não vamos esperar que uma árvore supra outra árvore no pomar, ou que um ramo providencie frutos para outro ramo. Cada árvore produz frutos de dentro de si mesma. Para uma pessoa que nunca viu o milagre de uma árvore frutífera, deve parecer estranho que, de dentro da árvore, o fruto se manifeste através dos ramos. A razão ridicularizaria tal possibilidade.

Aqui... um ramo limpo. Acolá... um tronco sem nada; agora, como irão aparecer pêssegos de dentro do tronco e como ficarão pendurados nos ramos?

Isto poderá ser um mistério, mas o fato é que é um fenômeno regular da natureza.

Joel S. Goldsmith (em “A Prática da Presença”) 

Órfãos de Pai e Mãe


Por que há tanto interesse em divulgar o fato de termos conseguido compreender a vida por um ângulo libertador se a quem está do nosso lado... sofrendo... há impedimentos à absorção dos benefícios daquela compreensão?

Impedimentos transponíveis, sim!

Transponíveis pelo mais sacrificial devotamento, pela anulação de toda identidade enquanto personalidades pré-definidas em deliberado papel social.

Só uma Mãe pode isto. Só uma materna devoção. Só um amor de qualidade maternal.



Quantos órfãos de mãe não estão por aí a propagar seus mais altos dotes sacerdotais enquanto parceiros fiéis permanecem à míngua ao seu lado?

LibaN RaaCh

Sobre o pensamento

Esse é apenas um aperitivo!Vale ver o video por inteiro!

O futuro da humanidade

Contagem regressiva para a extinção

Não-Existência

"O novo só pode manifestar-se quando se está libertado do conhecimento. Essa liberdade pode ser constante, o que significa que a mente está vivendo em completo silêncio, num estado de não-existência. Esse estado de não-exitência e de silêncio é vasto e, dentro dele, podemos servir-nos do conhecimento - conhecimento técnico - para fins prátivos. Também, de dentro desse silêncio, pode ser observado o todo da vida - sem o "eu".
 
Krishnamurti

27 de novembro de 2011

Metade



E que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;

Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que eu amo
Seja pra sempre amada, mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida
E a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como uma prece,
Nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimento.

Porque metade de mim é o que eu ouço
Mas a outra metade é o que eu calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que esta tensão que me corrói por dentro
Seja, um dia, recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso
E a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste.
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui
E a outra metade.... eu não sei!

Que seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,

Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a Arte nos aponte uma resposta
Mesmo que Ela não saiba;
E que ninguém a tente complicar,
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada...

Porque metade de mim é amor
E a outra metade...também!

Oswaldo Montenegro




A Saga ou a Praga da Meditação


Enquanto crianças – até mesmo na maioria dos adultos – ainda não possuímos o suficiente desenvolvimento psíquico e orgânico para a completa noção, a completa consciência, do que me inclino a chamar de “mônada”, por falta de outra denominação do elemento indestrutível presente em cada individualidade.

O termo “mônada” parece o mais próximo do sentido de unidade e indestrutibilidade deste elemento contido no corpo físico perecível, neste corpo que recebe um nome ao desbravar o ventre materno; contido no substrato de todas as emoções e sentimentos pelos quais passamos nas contingências da trajetória chamada “vida”.

Este substrato, tido por eterno e imperecível; este núcleo, que traz em si o atributo da onisciência e da onipresença; este centro com alto poder magnético facilitador da mais intensa ternura comungada pela compaixão; este pólo para onde converge toda diversidade de expressões humanas e de onde se expande o forte sentimento de filiação originalmente única entre todos os seres viventes; é o que eu chamo de “mônada”.

Menos me importo em obedecer a nomenclaturas – concordante ou discordante em relação a determinadas doutrinas – do que com a lealdade que ora urge por manifestação, pois de há muito vem me intrigando... vem amadurecendo.

Por isso, o conceito considerado aqui de ‘mônada’ pode divergir da exatidão apregoada em outras linhas teóricas.

Pois então...

À mônada nada pode subtrair ou acrescentar.

O simples resvalar na mônada em nossos estados meditativos já é suficiente para demonstrar a completa invalidez em nossas preocupações rotineiras.

Eu, de mim mesmo, afasto a presunção de afirmar que vivi a unidade com a mônada. Contudo, seria mentira de minha parte dizer que não guardo a nítida impressão de ter ousado resvalar nela. Assim como muitos confrades aqui presentes.

E por esta ousadia, paguei o preço de ver os alicerces conceituais que sustem a minha existência de carne e osso ruírem sob meus pés.

Muito além da compreensão racional dos dizeres de Fernando Pessoa, compartilho do mesmo sentimento de que “hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu”.

LibaN RaaCh

26 de novembro de 2011

Mundo: 80% dos profissionais apresentam algum sintoma de depressão

Pressa
SÃO PAULO – Um levantamento realizado pela consultoria Rogen Si revelou que quase 80% dos profissionais apresentam sintomas de depressão. O estudo analisou países da África, Ásia-Pacífico, Europa, Oriente Médio, América do Norte, América do Sul e Reino Unido.

De acordo com o estudo, 23,2% apresentam cinco ou mais sintomas. Já 10,5%, quatro sintomas; 14,8%, três sintomas; 17,9%, dois sintomas; e 13,2%, um sintoma. Apenas 20,44% dos profissionais disseram que nunca apresentaram nenhum sintoma de depressão.

A Organização Mundial da Saúde considera como sintomas de depressão irritação, problemas para dormir, preocupação, perda de interesse, tristeza, dores de cabeça e cansaço constantes, dor muscular, falta de apetite, remorso, náuseas, se sentir desvalorizado, entre outros.

Muita cobrança
A coordenadora de Consultoria da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Veridiana Germano, explica que casos de depressão são comuns em empresas em que os profissionais estão sobre pressão para alcançar metas e objetivos.

“A pessoa tem muitas tarefas ao mesmo tempo. O acúmulo de tarefas e serviços gera estresse”, acrescenta.

Por isso, para a especialista, o líder tem papel fundamental neste processo, já que ele deve avaliar se o funcionário não está sobrecarregado e se consegue desempenhar suas tarefas sem que o estresse afete a sua vida.

O que fazer
No caso de ter alguém com depressão na equipe, Veridiana aconselha que o gestor acompanhe atentamente o profissional e tenha paciência, pois como se trata de um problema de saúde, o profissional terá seu desempenho afetado devido ao desânimo, tristeza, entre outros sintomas.

Já nos casos de depressão mais graves, a coordenadora alerta que, muitas vezes, é necessário que o profissional se afaste do trabalho. “É importante ter confiança neste profissional. A pessoa não é assim, ela está passando por uma fase ruim”, diz.

O líder também deve aconselhar e incentivar que a pessoa deprimida procure tratamento médico. Se for necessário, o colaborador deve passar até mesmo pelo médico do trabalho, que poderá auxiliar melhor quem está com depressão.

Em relação aos colegas, Veridiana aconselha que procurem apoiar e se mostrem disponível para ouvir quem está com depressão. Além disso, as pessoas devem tentar envolver ao máximo o outro nas atividades e até mesmo convidar para eventos externos da empresa.

Por: Karla Santana Mamona

Nau dos Insensatos


Com a impressão de termos percorrido um longo e desgastante caminho, agora chegamos à necessidade de travessia de um largo rio, e ficamos esperando...

Na esperança da balsa que irá nos conduzir para a outra margem, onde haveremos de encontrar aquilo que tanto almejamos por toda uma vida: o termo final dos nossos altos e baixos, das nossas “saídas e entradas do Ser”, o fim da intermitência no fluxo da bem-aventurança, a nossa Natureza Real enfim.

Aflitos permanecemos nesta margem do rio para, a qualquer instante, avistar o barqueiro trazendo a nau com a promessa de bálsamo definitivo às nossas inquietudes.

Porém, nem ao menos um sinal – ainda que longínquo – há do tal barqueiro.

E os dias passam... os meses passam... os anos passam... e o barqueiro não vem. A travessia vai ganhando ares de utopia, de algo irrealizável, à despeito dos relatos de todos aqueles que já a fizeram.

Conforme a pretensão em avistar a balsa vai perdendo a acuidade do sentido visual, devido ao decurso dos tempos, devido ao cansaço de nossas vistas, devido ao natural afrouxamento da agudeza de nossa mente, devido ao esgotamento de nossos ímpetos, devido ao desencanto em nossas miragens... em nossas tantas miragens de efeito inebriante... em nossas tão cândidas miragens de conseqüências amargurantes...

Conforme esta pretensão entra em decrepitude, tem início um movimento... um movimento tão despretensioso quanto surpreendente!

E desta beira do rio passamos a avistar, no espelho das águas, a balsa, o bálsamo e o barqueiro a sussurrar:

— Aqui estive sempre... sempre... à espera desta irrupção!

LibaN RaaCh

Os Quatro Inimigos do Homem: Uma Reflexão Sobre os Ensinamentos de Don Juan


O antropólogo Carlos Castañeda escreveu doze livros contando sua saga e seu aprendizado com o brujo Don Juan no México. O primeiro desses livros, conhecido no Brasil como “A Erva do Diabo”, é o mais conhecido. O título original da obra é ”The Teachings of Don Juan” em inglês e “Las Enseñanzas de Don Juan” em espanhol. Em português seria “Os Ensinamentos de Don Juan” se o título original fosse respeitado e não houvesse uma distorção para fins mercadológicos.

Nesse livro, que marca o início do aprendizado de Castañeda, Don Juan lhe diz que o homem possui quatro inimigos que deve saber enfrentar para tornar-se um guerreiro, um homem de conhecimento. Esses inimigos são: o medo, a clareza, o poder e a velhice. Nesse texto, tentarei apresentar uma interpretação própria desses ensinamentos. Ao mesmo tempo que busco coerência com a obra original, pretendo mostrar o que entendo sobre esses inimigos, tomando a liberdade de apresentar a apropriacão que fiz desses conceitos.

O primeiro dos inimigos é o medo. Toda vez que buscamos um novo caminho de crescimento, ele aparece para nos testar. Há medos de toda ordem e algumas vezes ele chega a se tornar um pavor, um desespero. Um formidável inimigo que pode tornar-se um grande aliado: se não temos medo, nos tornamos pessoas irresponsáveis; se ele paralisa a nossa busca, nos tornamos covardes. Entendo que o medo é constitutivo da vida humana e temos que caminhar, mesmo sentindo medo. Ele pode ser controlado e exige coragem, mas nos transforma em pessoas alertas: guerreiros sempre à espreita.

Muitas pessoas deixam de viver, de lutar pelo que acreditam, de crescer como indivíduos porque o medo as paralisa, não as deixa seguir em frente. Medo do que vai acontecer no futuro, medo de se machucar, medo de se arrepender, medo de sofrer, medo de experimentar, medo de buscar novos horizontes, medo do que os outros vão pensar: medo de viver! E o medo faz elas ficarem na inércia, na repetição, no caminho do comodismo, no conforto do que sempre foi. Mas isso não é crescimento, é estagnação. Para crescermos, temos que ter consciência do medo, saber que ele existe, que ele pode ser vencido, agir com coragem, seguir em frente diante da incerteza e torná-lo um excelente aliado!

Se conseguimos vencer nosso primeiro aliado, chega o segundo: a clareza. Aqueles que foram vitoriosos em sua luta contra o medo, acabam sentindo, vendo, percebendo, pensando e agindo com uma clareza muito maior. A maioria ficou no seu casulo paralisada pelo medo, aqueles que enfrentaram conseguem a clareza: o dom de ver aquilo que a maioria não ve, já que o medo as impediu de sair do lugar comum, do senso comum. Mas a clareza também tem seus perigos e muitos sucumbem.

Não é uma tarefa fácil lidar com a clareza em um mundo de cegos. Ver aquilo que outros não vêem é um desafio a ser enfrentado com serenidade e coragem. A sensação de isolamento é forte, um grande desafio a ser superado.

O que se pode ver com a clareza ninguém quer ver ou não consegue; o que outros vêem como verdade é apenas uma ilusão para quem tem a clareza. Muitos se assustam com o que vêem e outros começam a crer que são seres superiores por ter algo que a maioria não tem. Alguns se perdem em sua vaidade; outros não suportam o que vêem e perdem o equilíbrio mental; outros desistem de enxergar por sua visão parecer insuportável. Se há o dom para ver os Céus, com ele vem a visão das sombras. E muitos preferem não ver mais, são vencidos pela clareza ou pelo medo: os inimigos andam juntos.

Mas a clareza também pode ser utilizada como um poderoso aliado. Com firmeza, determinação e equilíbrio, podemos viver na loucura controlada. Saber que muito do que é considerado verdade é apenas uma loucura, uma construção histórica que em breve irá desabar também. E tentando ajudar nossos semelhantes a ter clareza também: para ter a visão que possibilite manter e ampliar o que é da Vida e lutar contra o que é da morte. Saber que quase tudo é uma loucura, mas manter a serenidade perante essa loucura.

Quando se vence o medo e a clareza, surge o terceiro inimigo: o poder. Com a capacidade de controlar o medo e com a poderosa visão que a clareza proporciona, naturalmente se adquire poder. A capacidade de influenciar outras pessoas, de transformar estruturas, de atingir objetivos com facilidade, de obter percepções extra-sensoriais, de mobilizar e canalizar intensas energias. E o poder é sedutor, um inimigo perigoso, tamanha sua força.

Depois de ter vencido o medo, conseguido a clareza e obtido poder, começam as tentações e testes. E muitos sucumbem. Ao invés do poder ser utilizado para abrir caminhos para a evolução humana e da sociedade, torna-se uma habilidade usada exclusivamente para proveito próprio, para satisfazer o ego. Surge a falsa necessidade de comandar, de ser um líder insubstituível, de ter a certeza sempre, de ter súditos e admiradores, de colocar as pessoas e processos sob controle pessoal. E esse processo nunca cessa: é preciso cada vez mais poder para se manter no poder.

E as pessoas se tornam escravos do poder, se perdem em seu ego e se tornam pessoas frágeis. Pessoas que externamente podem até ser vistas como poderosas, mas são crianças profissionais: brincam com a vida alheia sem responsabilidade, sem ter consciência de que os fantoches são eles. Na primeira decepção ou quando enfrentam um adversário de valor, colocam a culpa no mundo pela sua própria fraqueza: o poder sugou toda sua energia.

Esquecem que cada caminho é apenas um caminho e que cada um deve buscá-lo dentro de si, nos seus corações. Pode-se até auxiliar outras pessoas, mas ninguém tem autoridade para dizer para alguém qual é o melhor caminho a ser seguido. Isso cada um deve descobrir por si. O poder é realmente tentador e muitos sucumbem, talvez na classe política isso seja mais evidente, mas isso acontece em todas esferas da vida humana.

Só que o poder também pode ser utilizado como um aliado. Essa capacidade e esse brilho que o poder traz podem ser canalizados para o Espírito, pode-se agir de acordo com o Coração, pode-se colocar como um instrumento das Forças da Vida. Pode-se utilizar essa capacidade para construir um mundo melhor para todos, para transformar positivamente a vida dos que cruzam nosso caminho, ajudar as pessoas acender o próprio fogo interior, a transformar as estruturas da repetição, a criar a Diferença.

Enfim, pode-se usar o poder para quebrar os processos de reprodução desse descalabro social e ambiental: creio que é esse o desafio para quem adquiriu e está adquirindo poder. Um enorme desafio e que não se resolve de uma vez, é sempre um caminho, mas um caminho ao mesmo tempo individual e coletivo, um caminho com o coração, uma busca pela impecabilidade. É a ânsia pela perfeição, pela justiça, pela verdade. E isso se reflete em atos cotidianos, não apenas em grandes obras!

Por fim, há um inimigo que não pode ser vencido: a velhice. Todos, uma hora ou outra, sentirão suas marcas. Na verdade, podemos interpretar a vida como um processo de envelhecimento constante: de bebês à crianças, de crianças a adolescentes, de adolescentes a jovens adultos, de jovens adultos a jovens de meia-idade, da meia-idade à terceira idade. A velhice é o maior inimigo do homem, vai atingir os que sucumbiram ao medo, mas também aos que não sucumbiram; vai atingir os que se amedrontaram perante a clareza, mas também aos que conseguiram suportar a visão; vai atingir aos que adquiriram poder para o coletivo, mas também aos que se seduziram por suas falsas promessas.

Só que a velhice, que vai aos poucos limitando nosso corpo físico, traz a sabedoria caso seja enfrentada com dignidade. E isso dependerá de toda uma vida: que caminho escolhemos, quem escolhemos para caminhar ao lado, que decisões tomamos, de quem nos afastamos e de quem nos aproximamos, como cuidamos do nosso corpo, do nosso espírito e da nossa mente. É um novo desabrochar e não uma decadência. O que nao podemos é deixar nosso espírito envelhecer: ele é eterno!

Podemos envelhecer com dignidade e acho que o melhor modo de fazer isso é disseminar sementes: para que as futuras gerações e os mais novos possam ter modelos em que se apoiarem, com base em belas palavras e ações que só a experiência ensina. Enfim, construir uma trajetória nesse planeta que não seja apenas sobrevivência e voltada para o próprio umbigo, mas construir uma vida que seja uma verdadeira obra de arte: uma busca por uma conduta impecável, um foco claro em iluminar a escuridão! E para isso não há um caminho pronto nem fórmulas pré-estabelecidas, há tantos caminhos quanto existem corações, cada um deve achar o seu.

A ordem não vem com encontros mágicos

"Os grandes antigos quando queriam revelar e propagar altas virtudes, punham seus Estados em ordem. Antes de porem seus Estados em ordem, punham em ordem suas famílias. Antes de porem em ordem suas famílias, punham em ordem a si próprios. E antes de porem em ordem a si próprios, aperfeiçoavam suas almas, procurando ser sinceros consigo mesmos e ampliavam ao máximo seus conhecimentos. A ampliação dos conhecimentos decorre da investigação das coisas, ou de vê-las como são. Quando as coisas são assim investigadas, o conhecimento se torna completo. Quando os pensamentos são sinceros, a alma se torna perfeita. Quando a alma se torna perfeita, o homem está em ordem. Quando o homem está em ordem, sua família fica em ordem. Quando sua família está em ordem, o Estado que ele dirige também pode alcançar a ordem. E quando todos os Estados alcançam a ordem, o mundo inteiro goza de paz e felicidade."

Confúcio

Eu Sou


Vídeo produzido por: http://flaviosiqueira.com

Redire ad cor - volta ao teu coração.


Quando fores te engajar em um caminho, pergunta a ti mesmo se esse caminho possui um coração”, disse Dom Juan, o iniciador de Carlos Castañeda.

Não se trata do coração físico, sequer do coração afetivo e emocional, mas do coração como centro de integração de todas as faculdades da pessoa; o coração como “centro” do homem – praticamente todas as grandes tradições da humanidade dão testemunho disso.

Um dos dramas do homem contemporâneo é ter perdido o seu coração. Não existe nada entre o cérebro e o sexo; às vezes apenas uma imensa saudade... mas frequentemente passamos das mais frias análises aos excessos pulsantes mais levianos. Dessa maneira, o homem torna-se cada vez mais esquizofrênico, tendo perdido o seu centro de integração, de “personalização” do seu ser: o coração.

Uma inteligência sem coração não é realmente humana. Quando os bancos de memória de um computador são decuplicados, ele torna-se mais “inteligente” do que o homem. A inteligência sem o coração, “a ciência sem consciência”, ilumina nossas sociedades com uma luz fria onde o homem “se gela”, se analisa e se entedia...

Uma sexualidade sem coração não é uma sexualidade realmente humana, qualquer que seja a quantidade das nossas intensidades pulsantes, é apenas em uma relação de pessoa a pessoa que o prazer efêmero pode se transformar em felicidade permanente. “No verdadeiro amor”, dizia Nietzsche, “é a alma que envolve o corpo.”

É o coração que dá um sentido aos nossos enlaces, assim como é o coração que pode orientar as descobertas da inteligência (cf. a física nuclear) em um sentido positivo à vida da humanidade.

Vivemos na época das luzes néon e dos cobertores elétricos, das luzes frias e dos calores opacos. Não é possível se aquecer junto a uma luz néon, não nos iluminamos junto a um cobertor elétrico. Perdemos a chama que é ao mesmo tempo luz e calor. “Redire ad cor” – “volta ao teu coração”: as palavras do profeta são mais atuais do que nunca.

Jean-Yves Leloup - Uma Arte da Atenção

25 de novembro de 2011

O homem é simplesmente Deus

Ser Místico
O homem parece finito, muito pequeno, como uma gota de orvalho. Mas ele contém em si todos os oceanos, todos os céus. Se você olhar de fora, ele é muito pequeno, minúsculo: só poeira, nada mais - poeira sobre poeira. Mas, se você olhar a partir de dentro, de seu centro, ele é todo o universo.

Esta é a diferença entre ciência e religião: a ciência vê o homem de fora e não encontra nada espiritual, nada divino, apenas fisiologia, química, biologia - outro tipo de animal.

Por isso os cientistas estudam os animais para compreender o homem. Os animais são mais simples, mais fáceis de manipular; assim os cientistas insistem em pesquisar os ratos.

E não importa o que concluam, eles continuam insistindo que é o mesmo caso da raça humana. Esta é um pouco mais complexa, claro, mas basicamente igual. A ciência reduziu os homens aos ratos. E o homem só pode ser compreendido agora com o estudo dos ratos ou dos cães.

Mas, na verdade, o homem só pode ser compreendido se forem compreendidos os Budas, os Cristos, os Krishnas. Lembre-se sempre de que isto é fundamental: você não pode compreender o superior estudando o inferior, mas pode compreender o inferior estudando o superior. O superior contém o inferior, mas o inferior não contém o superior.

O único modo de compreender o homem não é externo, não é pela observação, mas pela meditação. É preciso entrar em sua interioridade, em sua subjetividade. Posicionando-se lá, você conhece a maior das maravilhas e o maior dos deslumbramentos: o homem é simplesmente Deus.

Osho, em "Meditações Para a Noite"

Constatações


A revolução industrial já passou. Estamos agora, aprisionados na imensa e dispendiosa torre da revolução tecnológica, onde, de sua janela, almas Pollyannas, através do Facebook, insistem com seus posts, a narcotizar a realidade, com ilusórias receitinhas sobre a alegria de viver.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Sobre tédio, descontentamento e insatisfação

Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
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A coisa real é o descontentamento do homem, o descontentamento inevitável. Ele é algo precioso, uma jóia de grande valor. Mas o homem tem medo do descontentamento, ele o dissipa, o usa ou o deixa ser usado para produzir certos resultados. O homem está amedrontado com seu descontentamento, mas este é uma jóia preciosa, de valor inestimável. Viva com ele, observe-o dia após dia, sem interferir com os seus movimentos, então é como uma chama consumindo toda a impureza, deixando o que não tem morada nem medida. Leia tudo isso com sabedoria.
Krishnamurti – Cartas a uma jovem amiga – Editora Terra Sem Caminho
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A mente individual é uma mente revoltada e, por conseguinte, não busca segurança. Mente revolucionária não é o mesmo que mente revoltada. A mente revolucionária visa alterar as coisas de acordo com um certo padrão, e essa mente não é uma mente revoltada, não é uma mente que esteja insatisfeita consigo mesma.

Não sei se vocês já observaram que coisa extraordinária é a insatisfação. Vocês conhecem muitos jovens insatisfeitos. Eles não sabem o que fazer; sentem-se miseráveis, infelizes, revoltados, buscando isto, tentando aquilo, fazendo perguntas intermináveis. Mas quando crescem, arrumam um emprego, casam e esse é o fim de tudo. Sua insatisfação fundamental é canalizada e, depois, a infelicidade assume o comando. Quando jovens, seus pais, seus mestres, a sociedade, todos lhe dizem que não se sintam insatisfeitos, que descubram o que querem fazer e o façam — tudo, porém, dentro dos padrões. Esse tipo de mente não é revoltada e você precisa de uma mente realmente revoltada para encontrar a verdade — não de uma mente conformada. Revolta significa paixão.
Krishnamurti - Sobre Deus - Cultrix
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O descontentamento é a chama que consome a escória da satisfação, mas a maioria de nós procura dissipá-la de vários modos... Quando entendemos a natureza do verdadeiro descontentamento, vemos que a atenção faz parte dessa chama ardente que consome a mesquinhez e deixa a mente livre das limitações das buscas e satisfações egoístas.
Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Cultrix
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Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano
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Ficaremos satisfeitos com as coisas necessárias, no seu sentido exato - que é estar livre do desejo de poder - quando tivermos encontrado o imperecível tesouro interior a que chamamos Deus, a verdade, ou como quiserdes. Se puderdes encontrar essas riquezas imperecíveis dentro de vós, vos sentireis satisfeitos com poucas coisas, e essas poucas coisas podem ser fornecidas.
Krishnamurti - Novo acesso à Vida
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É a indagação constante, a autêntica insatisfação que faz nascer a inteligência criadora; mas é extremamente difícil manter acesos a investigação e o descontentamento; a maioria dos pais não quer que os filhos tenham essa espécie de inteligência, porque é muito desagradável morar com alguém que está sempre pondo em dúvida os valores convencionais.
Krishnamurti - A Educação e o Significado da Vida
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Em primeiro lugar, para descobrir qualquer coisa, tem que haver um grande descontentamento, um grande questionamento, infelicidade; e muito poucas pessoas no mundo, quando estão descontentes, desejam acentuar esse descontentamento, desejam passar por ele para descobrir. Geralmente as pessoas querem o oposto. Se estão descontentes, querem felicidade, ao passo que, por mim – se me permitem ser pessoal – eu não queria o oposto, eu queria descobrir; e assim gradualmente através de vários questionamentos e através de um atrito contínuo, cheguei a compreender isso a que se chama a verdade ou Deus. Espero ter respondido à pergunta.
Krishnamurti - Auckland, Nova Zelândia 6 de abril, 1934
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Quando se sentem incompletos, sentem-se vazios, e desse sentimento de vazio surge o sofrimento; devido a essa incompletude vocês criam padrões, ideias, para sustentá-los no vosso vazio, e estabelecem esses padrões e ideais como sendo a vossa autoridade externa. Qual é a causa interior da autoridade externa que criam para si mesmos? Primeiro, sentem-se incompletos e sofrem por causa dessa incompletude. Enquanto não compreenderem a causa da autoridade, não passarão de uma máquina imitativa, e onde existe imitação não pode existir a preciosa realização da vida. Para compreender a causa da autoridade deverão acompanhar o processo mental e emocional que a cria. Em primeiro lugar sentem-se vazios e para se livrarem desse sentimento fazem um esforço; ao fazer esse esforço estão somente a criar opostos; criam uma dualidade que apenas aumenta a incompletude e o vazio. Vocês são responsáveis por autoridades externas tais como religião, política, moralidade, por autoridades tais como padrões económicos e sociais. Devido ao vosso vazio, à vossa incompletude, criaram estes padrões externos dos quais tentam agora libertar-se. Evolucionando, desenvolvendo, crescendo longe deles, querem criar uma lei interna para vocês próprios. À medida que vão compreendendo os padrões externos, querem libertar-se deles e desenvolver o vosso próprio padrão interno. Este padrão interno, a que vocês chamam de “realidade espiritual”, vocês identificam-no como uma lei cósmica, o que significa que não criaram senão outra divisão, outra dualidade.
Krishnamurti -Alpino, Itália - 1ª palestra 1 de julho, 1933
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Acho que é importante compreender-se o problema do descontentamento. Talvez encontremos a solução correta de nossos enormes problemas se pudermos investigar o significado profundo do descontentamento. Quase todos nós estamos insatisfeitos com nós mesmos, nosso ambiente, nossas idéias, nossas relações. Desejamos efetuar uma modificação. Há descontentamento geral, do simples aldeão ao homem mais letrado — se não está subordinado ao seu poder, se não é escravo da sua ciência. Alastra-se por toda a parte uma insatisfação que nos leva a executar toda sorte de ações, e queremos encontrar um caminho que nos conduza à satisfação. Se estais insatisfeito, desejais encontrar um caminho para a felicidade. Se estais batalhando dentro em vós mesmo, aspirais a encontrar o caminho da paz. Estando insatisfeito, descontente, desejais uma solução que seja satisfatória. Por conseguinte, a mente está sempre a tatear, sempre a sondar, em busca da Verdade — em busca da solução verdadeira para o seu descontentamento. Uns encontram a solução na satisfação própria, num alvo, num objetivo na vida, por eles estabelecido; e tendo descoberto um meio por onde encaminhar o seu desejo, pensam ter encontrado o contentamento." Krishnamurti - 25 de fevereiro de 1953
Krishnamurti -Autoconhecimento - Base da Sabedoria
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Procuramos felicidade através das coisas, pelas relações, por meio de pensamentos e idéias. Assim as coisas, as relações e idéias tornam-se todas importantes, e não a Felicidade. Quando se procura felicidade através de alguma coisa, então, a coisa torna-se de valor superior a própria felicidade. Quando apresentado desta forma o problema parece simples e é simples. Procuramos felicidade na propriedade, na família, no nome e então, a propriedade, a família, a idéia torna-se todas importantíssimas, mas sendo a felicidade procurada por um algum meio, o meio destrói o fim. A felicidade pode ser achada por algum meio qualquer, através de qualquer coisa feita pela mão ou pela mente? As coisas, as relações e idéias são claramente não-permanentes, estamos sempre insatisfeitos com elas. As coisas são impermanentes, se acabam e são perdidas; o relacionamento é um constante atrito e a morte é o fim; idéias e convicções não têm nenhuma estabilidade, não são permanentes. Procuramos felicidade nisso e ainda não percebemos sua impermanencia. Portanto, o sofrimento se torna nossa constante companheira superando nosso problema. Para descobrir o verdadeiro sentido da felicidade, temos de explorar o rioa do autoconhecimento. Autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe a fonte deste rio? Cada gota de água do seu início até o fim é que faz o rio. Imaginar que acharemos felicidade na fonte é um equivoco. Ela se encontra onde você está no rio do autoconhecimento.
Krishnamurti - O Livro da Vida
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Viver é amar e morrer

Morrer faz parte do viver. Não se pode amar sem morrer; morrer para tudo o que não é amor, para todos os ideais, que são projeções de nossos próprios desejos; morrer para todo o passado, para a experiência - afim de podermos saber o que significa o amor e, por conseguinte, o que significa o viver.
Assim, viver, amar e morrer são a mesma coisa, a qual consiste em viver integralmente, completamente, agora. Há então ação que não é contraditória, produtiva de dor e sofrimento; há viver, amar e morrer - ação. Essa ação é ordem. E se vivermos dessa maneira - como devemos, não em ocasiões fortuitas, mas todos os dias, todos os minutos, teremos a ordem social, haverá a unidade humana, e os governos serão exercidos na base dos computadores e não pelos críticos, com suas ambições e condicionamentos pessoais. Assim, viver é amar e morrer.

Krishnamurti - O vôo da águia

24 de novembro de 2011

Disciplina

"Assim, que significa "disciplina"? Conforme o dicionário, a palavra "disciplina" significa aprender - e não, forçarmos a mente a ajustar-se a um certo padrão de ação baseado em alguma ideologia ou crença. A mente capaz de aprender é todo diferente daquela que só é capaz de ajustar-se. A mente que está aprendendo, observando, vendo realmente o que é, não está interpretando o que é conformidade com seus desejos, seu condicionamento, seus particulares prazeres. Disciplina não significa reprimir e controlar, nem tampouco ajustamento a um padrão ou a uma ideologia; significa que a mente vê o que é e aprende de o que é. A mente é então sobremodo desperta, vigilante."
Krishnamurti

Constatações

joao-e-maria
No quarto escuro de nossas mentes, somos assustados adultos crianças. Se ousássemos sair debaixo da fria cama forrada com a grossa colcha de nossos condicionamentos herdados, se escancarássemos o antigo baú de nossas crenças e ideais, quem sabe, maravilhados ficaríamos diante da revelação de que, o bicho papão do tempo, não existe.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

A Real Natureza está no total desapego

Enquanto o homem tiver alguém ou alguma coisa em que possa se apegar, não encontrará sua real natureza. Qualquer coisa que o homem conheça ou possa vir a conhecer por meio de sua mentalidade humana - seja coisa ou pensamento -, isso não é a sua natureza real.

Ninguém pode ir ao encontro de sua natureza real enquanto tiver onde se apoiar, tiver o que segurar ou algo em que possa pensar. E, apesar de parecer estarrecedor e incrível, é verdade.

Joel S. Goldsmith

No amor não há espera de troca

Se nosso relacionamento for puro, não desejaremos nada de quem quer que seja, a não ser a chance de trabalhar, partilhar, de alguma maneira, ser instrumento de benção para o outro nosso Ser. Nada pediremos em troca. A oportunidade de repartir, de amar e cooperar será o suficiente, pois tudo que o Pai tem é nosso; e o Pai tem os meios de nos suprir sem que o desejamos ou o peçamos. Um tal estado de consciência da nossa verdadeira identidade cria uma ligação espiritual entre todos aqueles que estão nesse mesmo caminho. Nessa ligação, ninguém pensa em tirar vantagem de qualquer outro; ninguém pensa no benefício próprio, em auto-engrandecimento ou qualquer forma egoísta, mas sim em partilhar o "EU".

Joel S. Goldsmith - O trovejar do silêncio

Garimpo do Real

Imagem: http://gestaoambiental09.wordpress.com
Ontem a noite, assistimos ao filme "Caninos Brancos", baseado no livro de Jack London, um filme que, além de sua belíssima história, traz também um maravilhoso cenário pelo  enquadramento de suas fotografias. Foi logo aos cinco minutos de filme, que recebi a mensagem que realmente tocou ao coração, vinda do personagem Alex Larson:

"Todo mundo encontra um pouco de pó de ouro... É o que te faz continuar cavando... Mas você tem que encontrar a mina."

Um pouco mais a frente, o mesmo personagem diz ao amigo, quando ambos se deparam com algumas pepitas:

"Ainda não fique tão feliz, pois é preciso confirmar sua pureza".

Isso me fez lembrar de várias citações, entre elas, uma de Joaquim Nabuco e outra de Sri-Aurobindo, são elas:

"O ouro substitui ou consegue tudo, mas apenas exteriormente. Interiormente, nada pode. Para a sociedade, parece ser tudo, mas para o coração é nada."

"Se os homens só vislumbrassem quão infinitas as alegrias, quão perfeitas as forças, quão luminosos os alcances de conhecimento espontâneo, quão amplas as quietudes de nosso ser repousando à nossa espera nas extensões que nossa evolução animal ainda não conquistou, eles deixariam tudo e jamais descansariam até terem obtido esses tesouros. Porém, o caminho é estreito, as portas difíceis de serem forçadas, e medo, desconfiança e ceticismo aí estão, tentáculos da Natureza, para impedir o desvio de nossos passos de pastagens menores, comuns."


É preciso estar atento às influências que se apresentam, avaliando-as bem com ajuda da peneira da razão e a água do coração, afim de ter a certeza de que as mesmas não direcionam nossos esforços na direção de pastagens menores, comuns, e ao ouro de baixíssima pureza, que é o ouro dos insensatos, ou como dizia o finado poeta Raulzito, ao Ouro de tolo.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Aviso aos mercadores da Graça

Nos bastidores da crença organizada
"Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração. Porém, vós a tendes transformado em covil de ladrões"
Mateus, XXI; 12 e 13).

"Hipócritas! Devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo"
Mateus, XXIII; 1 a 22

‎"Deus não vende os benefícios que concede...não subordina a uma soma de dinheiro um ato de clemência, de bondade, de justiça de sua misericórdia. Se achamos imoral pagarmos para termos a proteção de um poderoso da Terra, seria correto pagarmos pela ajuda do Criador do Universo?"
Allan Kardec, E.S.E., XXVI; 4.

"Ai de vós, condutores de cegos, pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, ou pela oferta, este faz certo. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, o ouro, ou o templo de Deus?"
Mateus, XXIII; 16.

Descarga de consciência

O lavador de cérebros

Escrever mais o quê?
Falar mais o quê?
Ouvir mais o quê?
Ler mais o quê?

Chega de blá blá blá...
Aperte a descarga...
A hora agora é de viver.

Quem muito pensa e fala, pouco vive.
Quem muito vive, pouco se importa em provar.

Mas o que seria viver pleno?
Se extasiar na vida? Ter prazeres mil? Entretenimentos mil? Aventuras mil? Fazeres mil? Riquezas mil? Amantes mil? Amigos mil? Ser amado e aclamado pelo mundo mil?

Mil desculpas...
Mas ser feliz é viver com alma e lucidez tudo o que há: a alegria e a tristeza, a riqueza e a pobreza, a saúde e a doença, o doce e o amargo, o dia e a noite, a pétala e o espinho, a brisa e o vendaval, o entusiasmo e o tédio, a festa e o luto, a paz e a guerra...
Ser feliz é acolher a dualidade e andar na corda bamba. Se pender só de um lado cai.
Podemos escolher ser eternos fugitivos do presídio Vida... ou ser prisioneiros livres da normose humana Fuga. Mas chega de blá blá blá!

Sou Deus me experienciando Yin & Yang...
Sou Deus cansado de blá blá blás...
Cansou do meu? Aleluia!
Aperte a descarga agora e viva!

Posted by Daniela Jinno
Fonte: http://despertadordavida.blogspot.com

O ego é um fenômeno falso

Máscara

O ego é o único problema, porém ele cria mais mil e um problemas. Ele cria ganância, cria raiva, cria luxúria, cria ciúme, e assim por diante.

E as pessoas vivem brigando, cheias de ganância, de raiva, de luxúria, mas é tudo fútil. Se a raiz não for cortada, novos galhos continuarão a nascer.

Você pode podar os galhos e as folhas, mas isso não basta. Na verdade, com a poda a árvore fica cada vez mais grossa. A folhagem fica cada vez mais espessa. A árvore fica mais forte.

Minha insistência é: não lute contra os sintomas, vá até a raiz do problema, que é só uma - o ego.

Se você aprender a ficar sem o ego, a viver como se você não existisse, a ser ninguém, um nada, então chegará ao supremo. Não há meta mais alta. E ela pode ser facilmente alcançada, porque o ego é um fenômeno falso, portanto pode ser abandonado.

Ele não é uma coisa real - é imaginário, é uma sombra. Se você continuar acreditando nele, ele vai existir. Mas, se olhar fundo, perceberá que ele não pode ser encontrado.

Meditar significa simplesmente olhar no fundo do ser procurando o ego, examinando cada cantinho do ser para encontrá-lo. Mas ele não estará em lugar algum. E, no momento em que você não o encontra em lugar algum, o ego acaba e você renasce.

Osho, em "Meditações Para a Noite"
Fonte: http://www.palavrasdeosho.com

23 de novembro de 2011

Que lugar tem o conhecimento no relacionamento?


Q: Que lugar tem o conhecimento no relacionamento?

Deve-se estar livre do conhecido caso contrário o conhecido é meramente a repetição do passado, a tradição, a imagem. O observador é tradição, o passado, a mente condicionada que olha as coisas em si mesma, no mundo. Quando o observador observa ele o faz, portanto, com memórias, experiência, mágoas, desesperos, esperanças com todo o fundo do conhecimento. Sempre que ele opera com esse conhecimento nas relações humanas há divisão e, portanto, conflito.

Inimigos da razão









Ego impasse crucial

A história do homem

Constatações sobre dinheiro



Na corrida pelo dinheiro alguns homens podem chegar primeiro, mas o Homem chega por último.

Autor: Marya Mannes, jornalista

Verdade: um produto para poucos


Vivemos um momento histórico de globalização mas ao mesmo tempo de nivelamento (para baixo) de todos os valores culturais, éticos e estéticos. Por exemplo, os anos 70 trouxeram os movimentos hippie, de vanguarda e rebelião cultural e da busca de um significado, de um sentido - tinha muito louco por aí, mas eram loucos vivos!! - hoje vemos as modas durarem, quando muito, o tempo de uma estação. As igrejas de salvação tomaram contas das maravilhosas salas de cinema e proliferam a vontade. A salvação fica mais "barata" e simples puxando alguns R$ do bolso e colocando no saquinho desses ricos ministros da fé. A Verdade parece ser um produto para poucos....

Swa Swarupa - Orkut

É possível libertar-se do eu?

A medida que se vive, observa-se que esse centro, esse "EU" , é a essência de todos os problemas. Observa-se, também, que ele é a essência de todo prazer, medo, e tristeza.

"Como escapar desse centro para ser realmente livre - de forma absoluta e não relativa?"

"É possível livrar-se totalmente desse centro?"

Tentando impor algo a si mesmo, o "EU" , que se identifica com esse esforço, é capturado por ele e diz: "Eu consegui" , mas esse "EU" ainda é o centro.

"Se você não deve se esforçar porque acredita que, quanto maior o esforço feito, maior será a resistência do centro, então, o que fazer?"

"Há um verdadeiro "EU" , separado do "EU" criado pelo pensamento através de suas imagens?"

"É possível libertar-se do "EU" ?"

"Sem tornar-se distraído, de certo modo louco?"

Em outras palavras: é possível ser totalmente livre de apegos?, o que é um dos atributos, uma das qualidades do "EU". As pessoas são apegadas à própria reputação, ao próprio nome, às próprias experiências. São apegadas ao que dizem. Se você quer realmente libertar-se do "EU", isso significa ausência de laços; o que não que dizer que você se torne desinteressado, indiferente, insensível, que se feche em si próprio, pois tudo isso é uma outra atividade do eu. Antes, ele estava apegado; agora, ele diz: "Eu não me apegarei". Esse é ainda um movimento do "EU". Quando você está realmente desapegado, mas sem esforço, de uma forma profunda, básica, então, desse profundo senso de desapego nasce a responsabilidade, o profundo senso de responsabilidade.

Você está disposto a isso? Esta é a questão. Podemos discutir eternamente, usar palavras diferentes, mas quando chega a hora de pôr isso em prática, de agir, parece que não queremos fazê-lo; preferimos continuar como somos, com o status quo ligeiramente modificado, mas levando adiante nossos conflitos.

Libertar-se da própria experiência, do próprio conhecimento, da própria percepção acumulada - isso é possível se você se empenhar energicamente. E não toma tempo. Essa é uma de nossas desculpas: precisamos ter tempo para sermos livres. Quando você percebe que um dos maiores fatores do "EU" é o apego, e observa o que ele faz ao mundo e ao seu relacionamento com os outros - desavenças, separação, toda a fealdade de um relacionamento - se você percebe a verdade sobre o apego, então você estará livre dele. Sua própria percepção o libertará. Você está disposto a isso?

Krishnamurti - Perguntas e respostas - Ed. Cultrix
Autor - Jiddu Krishnamurti

Uma mente sossegada

A Dualidade da Mente
A diferença entre uma mente vazia e uma mente calma é esta: quando a mente está vazia não há nela pensamentos, nem concepções, nem ação mental de nenhum tipo, salvo uma percepção essencial das coisas sem formação de idéias; no entanto, quando a mente tenha conseguido a calma, a mesma substância de ser mental é a que permanece tranqüila, tanto que nada a perturba. E si se produzem pensamentos ou atividades, em nenhum caso surgem da mente, senão que vêem de fora e cruzam a mente como um vôo de pássaros cruza o firmamento quando o ar está imóvel. Passam sem alterar nada, sem deixar nenhum traço. Uma mente que tenha alcançado esta calma pode começar a atuar, inclusa, intensa e poderosamente, porém conservará seu sossego fundamental, sem produzir nada de si mesma, porém dando forma mental ao que recebe do Alto sem somar nada seu, com calma e imparcialidade e, sem dúvida com o gozo da Verdade e o poder e a luz feliz de sua transmissão.

Autor: SRI-AUROBINDO

22 de novembro de 2011

Liberdade Interior

http://www.youtube.com/watch?v=qNhw1zdX4Vw&feature=related

Enquanto...

"Enquanto o indivíduo é escravo da sociedade , enquanto é ávido, invejoso, ambicioso, sequioso de prazer, de prestígio, de posição funcional - enquanto não está livre de tudo isso, não pode haver renovação, frescor, rejuvenescimento, silêncio, liberdade e, deste modo, não pode haver espaço para a criação."
 
Krishnamurti

Você conhece a paz?

pombos
Há alguns dias, numa comunidade do Facebook criada para o compartilhar de textos de Jiddu Krishnamurti, postei um de seus textos que versava sobre a paz, cujo conteúdo publico abaixo:

"...E cada um de nós necessita de paz. Isto é, necessitamos paz, no sentido de termos imenso espaço interior, espaço sem limites. Paz significa espaço no qual nenhum centro existe para criar limites. Isso é muito difícil de investigar e de compreender. A paz é um estado de espírito que não dá fronteiras ao espaço. E, para compreendermos a paz, teremos de compreender o que é o prazer, porquanto é o prazer que cria a imagem, o centro que projeta um espaço limitado e traduz os valores de cada ato. Peço-voz observeis a vós mesmos, para verdes vossas próprias maneiras de pensar e de sentir, conscientes e inconscientes, os valores pro vós mesmos criados." Krishnamurti - (extraído da Net fonte não citada)

Sete horas após a postagem deste, recebo um comentário com a seguinte questão:

‎Nelson Jonas, Você conhece isto que Krishnamurti está falando ?


Com base nas diversas experiências que tenho referentes a participação em comunidades criadas nas redes sociais, senti o receio de que, talvez, este poderia ser mais um daqueles comentários cujo espírito que o move se baseia na egocêntrica competição de conhecimento intelectual/espiritual, ou em testes de "iluminômetro", tão comuns, seja na "sociedade  presencial" ou nestas redes sociais on-line. Isso é muito natural de ocorrer, pois, se na vida real isto sempre ocorre, que dirá onde podemos proteger nossa personalidade repleta de mazelas ocultas atrás desta tela de cristal liquido comprada em suaves prestações? Bem, não vem ao caso aqui, se quem publicou tal questionamento se enquadra ou não neste tipo de postura imatura, postura esta da qual já fiz parte ferrenha e que, se não me observo sou tentado a nela recair. O que vem ao caso, foi o que essa pergunta causou em meu interior...

Olhando com bastante seriedade, a resposta a que chego é: "Sim" e "Não". Apesar da profunda dificuldade de expor isso através da limitação das palavras, começarei postulando a respeito do bem-aventurado "Sim", tendo como base o fato de que, a grande maioria dos seres humanos, em determinado momento de sua existência já saborearam aquilo que convencionei chamar de "pequena amostra grátis de Deus"...

Todos nós já vivenciamos aquele estado de ser que não pode ser captado pela palavra, pelo pensamento, aquele estado de ser que apesar de ficar registrado em cada uma de nossas células, somos incapazes de reproduzi-lo através de nossa limitada vontade. Todos sabemos o que representa aquele estado de ausência de movimento mental, aquele estado onde nenhuma forma de conflito se faz presente, onde um profundo sentimento de integridade e integração amorosa, de doação incondicionada e de silêncio, se faz presente. Aquele estado em que não existe mais um "você" e a natureza, um "você" e o "outro", onde todo sentimento de  separatividade, sem a ação de nossa vontade, de forma incausada, deixa de existir. Creio que todo aquele que já vivenciou esta bem-aventurança, através destas poucas palavras, sentirá aquilo que com elas tentei verbalizar. Todos que vivemos esta "boa-aventura" sabemos que, a partir dela, nunca mais somos os mesmos... Ela se vai mas, algo fica: uma nova consciência de um estado de Consciência infinitamente superior, nunca antes vivenciado. Nessa experiência, todo nosso acumulo de experiências passadas, toda nossa visão de mundo, toda nossa visão da vida de relação é literalmente jogado fora e nos vemos instantaneamente arremessados num novo paradigma, num paradigma que traz consigo o que podemos chamar de "ponto zero", ponto este que torna nossos antigos valores uma nulidade. Todos sabemos bem o que significa o ingresso nesse ponto zero... Confusão. Tudo que antes tinha graça, agora, depois do experimento da verdadeira Graça, passa a ser visto como algo sem graça, o que, na visão de muitos ao nosso redor, é tido como uma espécie de desgraça. As antigas autoridades, convenções e escala de valores passam a ser vistos como condicionamentos enclausurantes, que servem tão somente para nos privar da liberdade de movimento e expressão e para nos impelir à conformação, à formatação da domesticação servil. Esta bem-aventurança, esta "amostra gratuita da paz de Deus", aos olhos dos outros que se encontram devidamente ajustados ao sistema criado pela astuciosa rede do pensamento, faz de nós membros rotulados como rebeldes, entre outros tantos rótulos, isso quando não nos torna pessoas "não gratas", pessoas de idéias perigosas das quais seus filhos e mentes devem ser mantidos afastados. Todos sabemos que este ponto zero, que este portal, que este paradigma que se apresenta mediante a manifestação desse incausado estado de profunda paz, faz de nós "passageiros", "estrangeiros numa terra estranha",  aquilo que Colin Wilson retratou de forma brilhante em seu livro cujo título é "Outsider - O Drama Moderno da Alienação e da Criação". Como este texto não tem por fim a idealização de um tratado, creio que a sustentação da resposta "Sim", já foi devidamente explanada.

Agora, caminhemos em direção a resposta "Não", com relação ao conhecimento do estado de paz profunda na qual se refere Jiddu Krishnamurti em seu texto... Apesar de sabermos bem o significado desta profunda mutação em nosso estado de ser, produto direto da ação desta "bem-aventurança", todos sabemos o que significa a profunda frustração mediante a total impotência de reproduzi-la mediante a nossa limitada vontade. Todos sabemos, como nas palavras de nosso  amigo Nabil Chaar, em seu blog http://abordagemassimetrica.blogspot.com, o que significam essas "entradas e saídas do Ser" que somos. Todos sabemos o que significa a nossa impotência diante da estabilização desse estado de paz na qual desaparecem todas as formas de "controvérsias públicas", onde desaparecem todas as necessidades de doações psicológicas de fora, onde desaparece toda forma de fragmentação, toda forma de visão dual por nossa parte. Creio que todos nós sabemos muito bem o que significa essa falta de unicidade, caso contrário, por que dedicaríamos tanto tempo e energia em comunidades que colecionam artigos cujo maior esforço e experiência se traduzem no simples e acelerado apertar das teclas Ctrl A, Ctrl C e Ctrl V? Por que dedicaríamos tanto tempo ao estudo das obras deixadas por homens e mulheres que em seus escritos nos levantam a suspeita de que alcançaram o sucesso por nós, outsiders, tão almejado? (Por favor não se prenda na palavra outsiders)... Bem, acho que, no tocante a negativa do conhecimento de um estado estabilizado de paz, podemos encerrar por aqui.

Para uma pergunta com tal conteúdo, não caberia de forma alguma, uma resposta levianamente reacionária. Não sei se o questionador foi motivado por um amoroso espírito convidativo para a reflexão. Se o fez, com certeza, ao término da leitura desta resposta, saberá que foi feliz em seu intento. Espero que, do mesmo modo, minha reflexão seja tão nutritiva, como para mim o foi seu questionamento. E em meio disso, em silêncio, aqui ficamos, como nos dizeres mecanicamente repetidos por alguns cristãos: aguardando a vinda do "Cristo" Salvador, a vinda da paz que transcende todo entendimento...

Um fraterabraço,

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

21 de novembro de 2011

"Saidinhas do Ser" e suas Benesses

Antes de mais nada é importante esclarecer o significado, para mim, de “saidinhas do Ser”. Quando “estamos no Ser” ficamos tomados por um estado psicoemocional da mais absoluta irmandade com todos os seres viventes; portanto, destituídos de qualquer intento egocêntrico.

E desde que o principal componente para a integridade em nossa natureza humana é o ego, quando a ele somos lançados por força das circunstâncias ocorre o levante de nossas energias instintivas em defesa da preservação desta mesma integridade, ainda que ao preço do aparente descontrole.

Naqueles momentos onde os assuntos sobejam às instâncias circunscritas ao ego, eu “saio do Ser”.


Exemplo: no trânsito, apesar de dirigir calmamente, ao tomar uma fechada tenho o impulso de emitir - de boca cheia e saboreando cada letrinha - um xingamento sem a menor cerimônia. A isto chamo de “uma saidinha do Ser”. Pronto. Passados alguns minutinhos, volto ao estado calmo e sigo viagem.


Neste caso, ninguém se feriu e todos ficamos livres, leves e soltos:
1) livres de um acidente iminente que a adrenalina descarregada impediu, suscitando o reflexo salvador;
2) leves em relação ao peso que ficaria se o rancor não tivesse encontrado sua mais completa expressão através do impropério esgoelado sem a menor cerimônia e;
3) soltos por conseguirmos evitar ferimentos físicos e morais.

Esta espécie de benesse também pode ser aplicada ao dilema que enfrentamos pela dedicação a uma atividade remunerada diária em algo que poderia ser prejudicial, por não estar alinhado com os princípios de solidariedade, de contribuição honesta, à geração do bem-estar autêntico, genuíno e legítimo a nós mesmos e ao outro.

Veja o caso de Nisargadatta Maharaj: um dos maiores expoentes da filosofia não-dualista,  tinha lojas onde vendia cigarros enrolados em folhas. De dia ele trabalhava vendendo seus cigarrinhos e, de noite, ficava discorrendo, em conversas bastante instrutivas, com grande conhecimento de causa, sobre as virtudes, encruzilhadas e armadilhas da natureza humana. Notem que ele vendia um produto que alimentava o vício do outro, um vício que, comprovadamente, levaria ao sofrimento e à morte por doença cancerígena. Nem por isso, deixou de continuar conectado ao manancial provedor de toda suficiência ao indivíduo humano.


Ora, por que eu, em minhas modestas atividades, em minhas mazelas, deveria carregar peso na consciência por estar contra conceitos culturalmente formatados no referente ao modelo de homem que diz ter atingido compreensão e união com a Suprema Inteligência Amorosa, com Deus, com Cristo, com Brahman, com Babagi, ou outra qualquer denominação dada a este Algo Inominável?

Permitam que eu seja absolutamente franco?

Nenhuma culpa vale o peso da dor imortalizada em detrimento à leveza passível de ser vivenciada por cada um de nós no contato direto com o nosso Ser Imortal.

LibaN RaaCh
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