Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de dezembro de 2011

O evento mais importante de nossas vidas

A Busca
A religião é um dos diversos métodos pelos quais um indivíduo pode estabelecer contato com um nível mais elevado de consciência. antes, porém, de se abordar esse tema, algumas palavras devem ser ditas a respeito à "consciência", pois até mesmo o significado desse termo é amiúde mal compreendido no Ocidente. A consciência, nas obras ocidentais, tem sido muitas vezes igualada ao "pensamento", mas a consciência não é, de modo algum, o pensamento, assim como não é a emoção, a sensação ou o movimento. Ela não é nenhuma de nossas funções; ela é uma percepção das nossas diversas atividades no exato momento em que estas estão ocorrendo em nós. Uma pequena auto-observação será suficiente para nos demonstrar que, geralmente, pensamos, nos movimentamos e reagimos aos estímulos que atuam sobre nós sem termos uma percepção do que está acontecendo dentro de nós. Em outras palavras, reagimos de um modo absolutamente automático aos diversos estímulos que provocam nossas reações. Muitas vezes nem sequer percebemos essas reações. (...)

Para alcançar as regiões mais silenciosas da consciência, temos de escapar das regiões barulhentas da nossa mente, nas quais desperdiçamos a maior parte de nosso tempo. Isso requer um controle de nossos pensamentos. Poderemos então ser capazes de alcançar aquela região silenciosa que é a moradia do Espírito, pois não conheço melhor definição da palavra Espírito senão a e que ele é a Consciência Pura, desprovida de quaisquer pensamentos e palavras. A aquisição de níveis mais elevados de consciência está intimamente vinculada a certas práticas religiosas e, mais especificamente, às práticas da meditação e contemplação. estas constituem os primeiros passos para a disciplina da mente, o que, no decorrer do tempo, pode conduzir à aquisição de níveis mais elevados de consciência. A meditação também é a entrada para um caminho novo em muito mais direto do conhecimento, um caminho no qual o "conhecido" e a coisa "conhecida" unem-se e tornam-se a mesma coisa. Trata-se de uma estrada difícil de ser trilhada porque nossa atenção está sendo, repetida e novamente, atraída pela incessante tagarelice que ocorre em nossas cabeças. Eventualmente, porém, podemos conseguir, por um pedaço de tempo, alcançar um estado de consciência pura, isenta de pensamentos, um estado no qual a verdade nos é revelada DIRETAMENTE e sem uso de palavras. 

Nesses momentos, vemos, em vez de pensar, e é só mais tarde que começamos a procurar de modo desajeitado as palavras através das quais tentamos expressar o que nos foi revelado. Não há nada "pessoal" ou mesmo individual no conhecimento direto que nos chega num estado Supraconsciente. Nossa consciência individual dissolveu-se numa consciência muito mais ampla, que consideramos Universal. Desse modo, também estivemos cientes da presença, em nosso interior, de algo muito mais elevado do que nós próprios, de algo que, na falta de algum outro termo, fomos forçados a chamar de Deus. 

Os estados supraconscientes podem surgir, mas não necessariamente, como uma recompensa pela autodisciplina da meditação. Embora nunca perdurem por um tempo muito longo, durante esses estados temos a impressão de estarmos habitando num "eterno agora". Em breve, porém,  a intensidade de nossa sensação do "ser" enfraquece, o nível de nossa consciência diminui, nossas personalidades afirmam-se de novo e retornamos, uma vez mais, ao mundo do tempo e das tagarelices interiores. Daquilo que se passou, permanece apenas uma sensação de gratidão pelo que aconteceu. A vida então absorve-nos de novo e desaparecemos. Contudo, é bem provável que jamais nos esqueceremos daquilo que nos aconteceu. Nossa experiência do estado supraconsciente permanece para nós como o evento psíquico mais importante de nossas vidas

John White - O mais elevado estado de consciência

O estado místico e a emotividade


Um outro aspecto do estado místico é a emoção. Francis Younghusband observa, em Modern Mystics, que a experiência mística leva a "emotividade a um grau inacreditável para aqueles que nunca a testemunharam..." Ele, porém, prossegue: "Na verdade, não deveria haver nenhuma objeção à forte emoção em si mesma. (...) Nenhum amor pela beleza ou nenhum amor de uma mãe por seu filho poderia ser sentido com uma intensidade tão profunda. O fato de que o estado místico é um estado altamente emocional deve, portanto, ser aceito".

O estado místico, por conseguinte, está além das palavras e é altamente emocional. Mais do que isso, o princípio unificador que atua na iluminação dissolve as categorias semânticas aprendidas referentes ao "pensamento" versus "sentimento" e à "razão" versus "emoção". No estado místico, o intelecto e a intuição se fundem. Há uma fusão do insight com o instinto, que resulta numa nova condição do ser. Essa condição não é o estado desinteressado e eufórico comumente citado como "estar alto" ou "viajando". Pode-se dizer que essa condição é holística; ela envolve todo o organismo. Para aquele que vivencia a libertação, a compreensão lhe chega através da utilização de todos os canais da sensação e da percepção. 


Um novo modo de autoconhecimento


Esse modo de autoconhecimento pode ocorrer de maneira dramática, como se deu com São Paulo na estrada de Damasco, ou pode manifestar-se sem nenhum sinal exterior visível do drama interior. A experiência resultante, contudo, tem-se revelado semelhante por todo o mundo e através da história. Por intermédio de seus próprios testemunhos, os "iluminados" — indivíduos que vivenciaram o estado supremo de consciência — sentiram uma sensação de profunda paz em relação aos outros e de harmonia com o mundo. Eles compreendem que o Universo, tal como Dante descreveu no final de A Divina Comédia, está se movendo segundo a força do Amor. Eles percebem um plano cósmico, uma ordem moral, em relação ao caos e ao acaso aparentes do gás estelar e da poeira intergaláctica. Eles veem, com Hamlet, "uma divindade que molda nossos propósitos". Tal é o "deus" (ou Buda, Tao, Brahma) de incontáveis religiões e filosofias. Em todos os caos, a percepção auto-envolvente de que "eu" e o "outro" estamos unidos cria homens novos ou renascidos. Ela transforma a noção desolada e desesperançada da vida em uma noção na qual todas as coisas ganham um sentido deleitável. Ela transforma a configuração absurda da existência em uma visão de mundo que dá lugar à exuberância inevitavelmente esperançosa, uma vez que o sujeito descobre o desígnio fundamental onde, anteriormente, havia apenas percepções e experiências desconexas e confusas. 

No mesmo grau de importância do autotestemunho encontram-se as observações de outros indivíduos acerca dos iluminados. Quase sem exceção, têm sido considerados santos, visionários e profetas: Jesus, Buda, Lao Tsé, Jacob Boehme, Ramakrishna, Walt Whitman, Aldous Huxley. Socialmente venerados, revelaram uma coragem, uma amabilidade, uma compaixão, uma integridade e uma santidade excepcionais. Embora tenham conservado as características do ser humano, foi-lhes reservado um lugar particularmente distinto e tornaram-se identificáveis através de uma aura — às vezes literalmente visível sob a forma de uma luz intensa — que exerce uma poderosa influência sobre os outros homens. Além disso, nunca deixaram de recomendar aos demais seres humanos que se preparassem, através da oração, das boas ações, do estudo e da meditação, para receberem a benção suprema da vida. Trata-se de uma benção que não pode ser imposta ou prevista; quando ocorre, ela é sempre uma surpresa. Apesar disso, sustentam que ela deve ser buscada, segundo as palavras do mandamento de Jesus: "Com todo o teu coração e com toda a tua alma e com toda a tua força e com toda a tua mente".

John White - O mais elevado estado da consciência

O Fim do Jogo do Ego

Cena do filme: REVOLVER
O que é o estado supremo da consciência? São Paulo chamou-o de "a paz que está além de todo entendimento" e R.M. Bucke designou-o de "consciência cósmica". No Zen-budismo, emprega-se o termo satori ou kensho; no yoga, samadhi  ou moksha e, no taoísmo, o "Tao Absoluto". Thomas Merton utilizou, para descrevê-lo, a expressão "inconsciente transcendental"; Abraham Maslow criou o termo "experiência máxima"; os sufis falam de "Fana". Gurdjieff qualificou-o de Consciência Objetiva", ao passo que os Quacres chamam-no de "a Luz Interior". Jung referiu-se à "Individuação" e Bubber falava da "conexão Eu-Tu". Quaisquer que sejam, porém, os nomes dados a esse fenômeno antigo e bem conhecido — luz, iluminação, libertação, experiência mística —, todos eles dizem respeito a um estado de percepção radicalmente diferente de nossa compreensão comum, de nossa habitual consciência desperta, de nossa mente diária. 

Além disso, todos concordam em qualificá-lo como o estado supremo da consciência: uma percepção autotransformadora de nossa união com o Infinito. Está além do tempo e do espaço. Trata-se de uma experiência da infinitude que é a eternidade, da unidade ilimitada com toda a criação. Nossa percepção sensorial do "eu", socialmente condicionada, despedaça-se e destrói-se devido a uma nova definição da pessoa em si, do eu.  Nesta redefinição da pessoa em si, torno-me idêntico a toda humanidade, a toda vida e ao universo. As habituais fronteiras do ego desfazem-se à medida que o ego ultrapassa os limites do corpo e, de súbito, torna-se um com tudo aquilo que existe. O eu torna-se integrado à Alma Superior, tal como Emerson a denominou (e talvez integrado ao que Arthur Clarke, em Childhood's End, chamou de Mente Superior). O Eu torna-se abnegado, o ego surge como uma ilusão e o jogo do ego chega ao fim. O Maitrayana Upanishad expressa-se deste modo: "Após perceber seu próprio eu como o EU, um homem torna-se abnegado. (...) Este é o mistério supremo."

Os Sete Dons do Espírito

“Os escritores místicos nos falam de certas qualidades que são tradicionalmente chamadas de – os sete dons do Espírito -; se estudarmos a natureza especial destes dons veremos que são nomes de marcas ou poderes interligados que trabalham unidos pela edificação e esclarecimento da personalidade toda – como a edificação da natureza humana à novos níveis, uma sublimação do seus instintos primitivos. O primeiro par destas qualidades que devem marcar nossa humanidade espiritual são chamados de Santidade e Temor. Por elas significamos o solene instinto de relação direta com uma ordem eterna, aquela seriedade e encanto que devemos sentir na presença dos mistérios do universo; o temor do Senhor que é o princípio da sabedoria. Destes, crescem os dons chamados Conhecimento, o poder de discernir os verdadeiros dos falsos valores, de escolher um bom caminho pelo mundo confuso e a Força, o forte controle central das diversas energias do ser: este talvez, o dom mais necessário de nossa distraída geração. – Pelo dom da força espiritual, - diz Ruysbroeck, o ser humano transcende todas as coisas de sua condição como criatura, além de possuir-se a si próprio, poderoso e livre. - Este certamente é um poder que devemos desejar para as crianças do futuro e a elas devemos alcançá-lo, se nos for possível.

Vemos que os primeiros quatro dons do Espírito governam o ajuste do ser humano em sua vida terrena: eles incrementam muitíssimo o valor da personalidade na ordem social, esclarecendo a mente e juízo, conferindo nobreza aos objetivos. Os últimos três dons – chamados como Conselho, Inteligência e Sabedoria – governam o relacionamento com a ordem espiritual. Por Conselho, os escritores místicos significam aquela voz interior que, na medida em que a alma amadurece, urge conosco a deixar o transitório e procurar pelo eterno; isto, não como ato de dever, mas como ação de amor. Quando esta voz é obedecida, o resultado será uma Inteligência espiritual; a qual, como diz Ruysbroeck novamente, pode – “ser semelhante ao nascer do sol, que enche o ar com seu brilho claro, iluminando todas as formas, mostrando a distinção de todas as cores”. Este dom espiritual assim, irradia o mundo todo com um novo esplendor e nos mostra segredos sobre os quais jamais antes cogitamos. Dele, os poetas conhecem vislumbres e dele procede seu poder; é que ele capacita os seus possuidores a viver verdadeiramente, a partir a perspectiva de Deus e não da perspectiva humana.”

Evelyn Underhill - Antologia do Amor de Deus

Receita para o Ano Novo não ser velho

Quando a mente põe completamente de lado todo o conhecimento que adquiriu, quando para ela não existem Budas, Cristos, mestres, professores, religiões, citações, quando a mente estiver completamente só, não contaminada - o que significa que o movimento do conhecido cessou - só então haverá a possibilidade de uma tremenda revolução, de uma mudança fundamental. Tal mudança é obviamente necessária; e somente uns poucos, vocês ou eu ou X, que realizamos em nós mesmos esta revolução, somos capazes de criar um mundo novo. Não os idealistas, não os intelectuais, não as pessoas dotadas de grandes conhecimentos ou que estejam fazendo belas obras. Eles não são as pessoas indicadas - eles são todos reformadores. O homem religioso é aquele que não pertence a nenhuma religião, a nenhuma nação, a nenhuma raça, que dentro de si está completamente só, em estado de não-saber. E para ele se concretiza a graça das coisas sagradas.

Krishnamurti - Sobre Deus - Cultrix

30 de dezembro de 2011

Refastelar-se de comer e beber!

Durante os festejos, nas datas festivas, qualquer data festiva (final de Ano, Natal, Páscoa, etc.) se conseguirmos nos abstrair da alegria ruidosa e frenética e momentânea, própria destas datas comemorativas, sem que esta abstração seja forçada ou proposital, ficaremos envoltos em um tênue halo através do qual seremos conduzidos a um estado de ausência... de ausência das afetações típicas destes festejos... ausência de gravetos inflamáveis desta fogueira de vaidades.

Ao exercermos – com a máxima integridade, sem receio de desaprovação – a escolha de nos entregarmos a este estado de ausência, finalmente conseguimos comungar do que existe de mais volátil no rebolado insinuante desta chama comemorativa.

E ao comungar nesta chama da celebração... ao celebrar nesta comunhão, sentimo-nos inteiros, ficamos inteiramente presentes e embevecidos nesta volatilidade festiva inespacial e atemporária.

Qual dia do ano... qual o dia do ano não seria digno de conter esta inebriante festividade?

LibaN ChaaR

Amizades Nutritivas


Sua vontade é, sem sombra de dúvida, inspirada ou enfraquecida pela companhia. Desenvolver a vontade sozinho é extremamente difícil. Você precisa de um exemplo à sua frente. Se quiser ser artista, cerque-se de bons quadros e bons artistas. Se quiser ser um homem divino, rodeie-se de companhias espirituais.
(...)
Aprenda a concentrar seus pensamentos. Por isso é importante dispor de tempo para estar sozinho. Evite a constante companhia de outras pessoas. A maioria delas é como uma esponja; suga tudo de você, mas raramente dá algo em troca. Só vale a pena estar com os outros se forem sinceros e fortes, e se cada um tiver consciência da sinceridade e da força do outro, de modo que possa haver uma troca entre nobres qualidades da alma.

Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem

A Meditação em si não é o Caminho.

A Meditação em si,
Não é o Caminho.
O Caminho é o Contato!
A Meditação apenas serve de meio
Para atingirmos o Silêncio Interior,
Onde o Contato é feito.

Joel S. Goldsmith

Sobre o Ano Novo


Na minha opinião significa somente um parâmetro, uma marcação que usamos para delimitar um período de 365 dias passados. Segundo a definição de Eça de Queirós: “O que sempre alimentou os homens na definição do calendário foi a intenção de tornar o tempo visível e palpável, o calendário daria assim a ilusão de poder reter e ordenar o tempo.” Em 1582, a Igreja impôs uma reforma, a gregoriana, feita pelo papa Gregório XIII onde teve a reforma do calendário, para servir aos interesses da Igreja na marcação temporal dos períodos litúrgicos como páscoa, natal, etc. Será que há motivos para tanta festa, fogos de artifícios, comidas e bebidas em excesso, praias lotadas, consumo desenfreado, etc... somente devido a uma mudança de calendário? Parece que a euforia coletiva é mais uma das fugas da realidade e de si mesmo, onde as pessoas vivem no mundo da “matrix” e fogem do “deserto do real”.

Antonio Carlos Vieira de Paula

Sobre a insatisfação


Por que nunca estão satisfeitos os entes humanos? Não é porque estão em busca da felicidade e porque pensam que, pela constante variação, serão felizes? Passam de um emprego para outro, de um estado de relação para outro, de uma religião ou ideologia para outra, pensando que, com esse constante movimento de mudança, encontrarão a felicidade; ou ainda, procuram um canto isolado da vida, e aí se deixam estagnar. Ora, por certo, o contentamento é coisa muito diferente. Só se torna existente quando vêdes a vós mesmo, tal como sois, sem nenhum desejo de mudança, nenhuma condenação ou comparação - que não significa aceitar simplesmente o que se vê e deitar-se a dormir. Mas, quando a mente já não está comparando, julgando, avaliando e é, portanto, capaz de ver o que é, de instante em instante, sem desejar alterá-lo - nesse próprio percebimento se encontra o Eterno.

Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano

Ser criador é ser parte de Deus

A vida somente é vida quando o amor arde dentro de você, quando a chama do amor é tão brilhante que começa irradiar a sua volta, a se espalhar para os outros, a ser sentida pelas pessoas - seu amor se torna quase tão tangível que as pessoas poderiam tocá-lo.

Assim, ele não é uma benção só para você, mas também para todas as outras pessoas.

Um homem verdadeiro é sempre um enriquecimento para o mundo, para a existência; ele contribui muito. Se você não pode contribuir com alguma coisa, nunca será bem-aventurado.

É por meio da contribuição com algo para a existência que você participa da obra do criador, pois você mesmo se torna um criador. Ser criador é ser parte de Deus - não há outro jeito.

Osho, em "Meditações Para o Dia"

29 de dezembro de 2011

Advertência quanto a prática da meditação

Fechado para balanço
Advertência! Quando a debilidade moral e o desequilíbrio emocional se unem às práticas meditativas, o resultado será a regressão da mente ao estado de mediunidade e jamais a elevação da mente até a espiritualidade. A prática da meditação não acompanhada do cultivo dos princípios éticos e intelectuais, pode levar a um engano sobre si mesmo, ao aumento do egoísmo, à alucinação e finalmente à loucura.

Recomenda-se portanto ao aspirante não buscar o caminho rápido e fácil para chegar às experiências ditas ocultas, mas sim um cuidadoso enobrecimento do caráter, a firmeza de atacar pela raiz seus erros e um harmonioso equilíbrio entre a intuição, a emoção, o pensamento e a ação.

Paul Brunton - O Caminho Secreto

Constatações

Por detrás das personas que aparentam sucesso e segurança, existe oculto, um espírito solitário e medroso. Enquanto são inconscientes disso, no mais fundo de seu ser, o homem-Deus, dorme.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

28 de dezembro de 2011

Vem!

Vem, vem, seja você quem for,
Não importa se você é um infiel, um idólatra,
Ou um adorador do fogo,
Vem, nossa irmandade não é um lugar desespero,
Vem, mesmo tendo violado seu juramento cem vezes,
Vem assim mesmo.

Jalaluddin Rumi

Adeus!


Adeus, mundo ingrato, vou-me embora!
Amigo meu não és, nem teu sou.
Muito tempo entre a turba vaguei,
Qual barca perdida no oceano;
Mero joguete muito tempo fui;
Mas agora, mundo ingrato, vou-me!

Adeus digo à vil bajulação;
À ríspida e fútil soberbia;
À vã arrogância da fortuna;
À toda sorte de servilismo;
Aos salões, às cortes e às ruas;
Aos empedernidos e apressados;
Aos que de cá e de lá correm.
Adeus, mundo ingrato, vou-me embora!

Vou-me de volta à minha morada,
Em verdes colinas isolada, —
Canto secreto em país ameno
Cujos bosques fadas planejaram,
Onde sorri a vida sem cessar
Ao canto alegre da passarada,
E pés profanos jamais pisaram,
Recanto sagrado a Deus e ao mundo.

Posto a salvo em seu refúgio
Espezinharei o antigo orgulho,
E estirado sob os pinheirais,
Onde brilha a vespertina estrela,
Rir-me-ei das humanas histórias,
Dos escolásticos e letrados,
Que eles nada são em sua altivez,
Pois nas matas se pode achar Deus.

Ralph Waldo Emerson

O Graal que não é santo





Gosto de me sentir abrigado. De estar em lugar que tenha quietude e privacidade. De ter um lugar para ficar sem ser incomodado. Um lugar para ficar tranquilo, sem ninguém a me dizer o que devo, ou não, fazer.

Sei o que devo fazer. Conheço os afazeres prioritários. São eles o estar de bem comigo mesmo e de bem com o Supremo, com a Suprema Inteligência Amorosa.

Todos os demais afazeres, no fundo, buscam este resultado. Se já tenho este resultado, por que me preocupar com outros afazeres?

Ao estar em paz comigo, a perturbação existente no outro o deixa inconformado com isto. Interpreta como passividade, como acomodação; e se pergunta:

— Como é possível a uma pessoa como ele (eu, no caso) viver em um estado de tranquilidade e acomodação, sem nenhuma garantia de um futuro promissor, sem nenhuma dedicação em busca de um futuro promissor, sem dedicação a futuro algum; enquanto eu (ele, no caso, o perturbado) vivo tendo mil e uma coisas para fazer, para serem feitas ainda, até que tenha condições suficientemente seguras para conseguir me acomodar em uma realidade repleta de animosidades?

É inadmissível ao nascido e criado sob um contexto beligerante a existência de alguém capaz de estar tranquilo sob o mesmo contexto. A insurgência de uma necessidade entranhada de aniquilamento desta tranquilidade é quase inevitável. De fato, a coexistência de alguém aquietado é uma ameaça ao modo de vida agitado, inquieto e cheio de incertezas, ao modo de vida voltado a aquisições que buscam suprir os sentidos físicos, que buscam saciar os sentidos orgânicos através dos próprios esforços.

Conforme há a recompensa no processo deste modo de vida – pois é típico do mundo material recompensar esforços voltados a adquirir as coisas dele – ocorre o fechamento do ciclo, do ciclo antropofágico, no qual tendemos a permanecer indefinidamente...

Até sermos impactados!

Na maioria das vezes, a ação impactante procede de um acontecimento adverso, violento, traumático e profundamente doloroso. De outra forma, não serviria ao seu propósito.

O cálice onde nos é ofertada esta bebida amarga, pode ser quintessenciado em Graal para o despertar de nossa divindade!

Felizes os traumatizados; estão a centenas de passos à frente dos considerados sãos pela conquista de um porto inabalavelmente seguro.

LibaN RaaCh

Sexo e dinheiro tem seu devido lugar

Um pouco mais de paciência


A verdade é que aquilo que você procura está com você o tempo todo, mais próximo que as mãos ou os pés. A qualquer momento você poderá ser elevado acima da matéria e da limitação pessoal. Espere pacientemente por Ele.

Autor: Sister Gyanamata

Liberte-se do eu

Liberte-se do eu, ego, pensamento-tempo psicológico, persona, psique, etc, etc, etc

Série: Um mundo de Paz - 3º Palestra 3 de Setembro de 1983 - Broekwood Park Liberte-se do Eu
- É o movimento de "o que é" para "o que deveria ser", o processo pscicológico do tempo, uma das causas do medo?
- Percebendo essa possibilidade, ainda que itelectualmente, é possívelpor fim ao medo?
- Sofrimento é parte da continuidade da memória.
- Pode a memória, não apenas do meu sofrimento, mas do sofrimento da humanidade, terminar?
- Podemos nós, enquanto vivemos sem qualquer causa ou futuro, terminar qualquer coisa?
- Se você for além do tempo, há alguma coisa para experimentar?
- Pode o eu, o 'mim', o ego, toda a atividade egocêntrica que é o movimento da memória, findar?

27 de dezembro de 2011

Quem banca ficar sozinho?

Auto-conhecimento ou Ego-conhecimento? - Parte 2


O constante desfoque de atenção é sem dúvida alguma um dos maiores mecanismos de auto-proteção do ego. A dispersão do agora na imaginária ponte passado/futuro é uma constante. Estamos viciados nesse dispersão, a qual se tornou um forte condicionamento que cria a ilusão de que somos o conteúdo de nosso movimento mental acelerado e desconexo.

O ego busca por notoriedade, reconhecimento, prestígio, ama o aplauso, o tapinha nas costas, anseia pelo estrelato ou, caso contrário, se esconde feito caramujo, como avestruz ou como criança assustada, embaixo da cama. Nunca consegue ser um dentre os demais, precisa estar no topo do Himalaia, ou escondido num canto escuro da planície. No entanto, em qualquer uma das posições em que se encontre, prestígio ou anonimato, é profundamente avesso a uma real intimidade pois teme que através desta, não consiga bancar o necessário para a sustentação de sua falsidade. Nunca consegue um modo de se relacionar de forma assertiva e amorosa; evita qualquer tipo  de contato que possa desmascarar seu script no jogo que todos jogam, quase sempre sem a menor consciência de que jogam. O ego está sempre excessivamente preocupado como a imagem que os outros possam fazer de si mas, não se preocupa com a imagem que faz dos outros; a formação de imagens é outro de de seus mecanismos de defesa. Esse processo contínuo de formação de imagens , mantém o ego sempre numa postura de negociável ajustamento, ajustamento esse que impede a presença de um estado de autenticidade e originalidade.  

O ego esquece facilmente os danos que causa aos outros, em contrapartida, além de não esquecer e perdoar os danos sofrido pelo atrito causado pelo choque de instintos com outros egos, tem a tendência de ampliá-los de forma irreal, sempre com requintes de dados e crueldade. Mantém para si réguas com medidas diferenciadas. 

Outro de seus mecanismos de defesa, está no fato de manter uma postura totalmente antagônica a simples idéia de que algo possa ser superior a si, a seu entendimento e a sua compreensão. Quando isso ocorre, opta ou pela hostilização, ou pela irrefletida e compulsória deificação. Para o ego, torna-se impossível a manifestação de uma relação harmônica com algo ou alguém que se mostre superior aos seus limites. 

O ego vive num constante estado de exigências, sejam elas referentes aos outros ou a si mesmo, exigências estas que são a fonte de intermináveis conflitos, ansiedades, frustrações, ressentimentos e retaliações. O ego quer ter sempre suas necessidades atendidas de pronto, por isso, defronta-se com a realidade do que é, com as mais variadas formas de birra que, em últimos estágios, pode levar à insanidade de atos homicidas e até mesmo suicidas. Através dele, encontra-se a essência de toda corrupção e de toda contraversão. 

Para a transcendência do estado ilusório de identificação com o ego, se faz necessário algo maior que o processo de análise, algo que podemos expressar aqui, como uma experiência direta, intransferível de nossa natureza real, experiência esta que não pode ser facultada, facilitada por terceiros e que também não opera nos limites da vontade e do desejo, os quais, são manifestações do próprio ego. Mas, fazendo uso do constante estado de dispersão inconsciente, o ego mantém sua linha de ação, impedindo assim, a manifestação de um estado de presença e paixão tão necessários para que algo de real sentido, valor e poder criativo se apresente. Nos limites do domínio do ego, de real, existe apenas a sua irrealidade. 

Há uma frase muito conhecida, cuja essência não se faz conhecida quando vivemos nos apertados limites do ego: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Em geral, apontamos esta frase para situações que concernem apenas para as situações resultantes do conflito entre egos. Proponho aqui, uma observação mais apurada do teor desta afirmação, uma vez que não pode haver liberdade em meio do que é limitado. Para tanto, deixo aqui a questão: a Verdade a que esta afirmação se refere, não seria a Verdade da existência de uma natureza livre do ego e a liberdade no que diz respeito a nossa identificação ilusória com a atual natureza egocentrada? Verdade e Liberdade não seria o resultado do  conhecimento da realidade de um modo de ser não egocentrado por meio de uma experiência direta e não transferível, a qual não pode ser nomeada por não estar nos limites do tempo e espaço? Diante destas questões, o ego pode usar como mecanismo de defesa, rotular que tudo isso não passa de loucura, que a existência de um estado de ser livre de qualquer manifestação do ego não passa de uma "grande viagem", algo irreal. Quem já não ouviu a voz do próprio ego, gritando no interior da mente, quando exposto a momentos de meditação, meditação essa que aponte para o que não está condicionado, convencionado, frases parecidas com: "Não ouse olhar para isso! Você vai acabar enlouquecendo, vai acabar surtando! É melhor ficar pianinho e largar isso já"...? 

Outra de suas falácias está em projetar e imputar suas próprias dificuldades e mazelas — muitas vezes inconscientes de si mesmo — aos outros egos ao seu redor. Isso é muito, mas muito comum. O ego nos mantém dormindo na idéia do que não somos, não permitindo que despertemos para a realidade daquilo que somos. Ele é profundamente barulhento e, por ser barulhento, é adepto do barulho, o qual espalha sem a miníma preocupação com o direito alheio ao silêncio. Para ele, quanto mais barulho, melhor, a não ser, quando ele — o ego — sente a necessidade de silêncio. Quando isso ocorre, o encontro entre um ego barulhento e um ego em busca de silêncio, um barulhento conflito se estabelece, uma vez que, ceder, é um verbo que não se encontra na cartilha do ego.

Finalizando, uma vida pauta, regida pela ilusória identificação com o ego, por maiores que sejam as conquistas no terreno material, por maiores que sejam as suas atividades, sempre terão como resultado o dissabor do vazio, do tédio, da insatisfação e da solidão. O ego é a estrada que aponta para a perdição do gênero humano.  

Nelson Jonas R. de Oliveira

Constatações sobre o planeta dos macacos

A humanidade que se encontra em constante estado de conflito, vive em busca do gênio da lampada, cujo upgrade, forneça muito mais que três pedidos. O pior, é que  hoje em dia, o que não falta são idealistas falidos, portadores de "Guruzite Crônica" ou "Iluminose Sobérbica", se auto-intitulando o tal gênio da lampada. Em seus encontros, não passam de um complexado grupo de macacos discutindo o modo certo de como comer bananas, sem possuírem a mínima consciência de que ainda nem se quer se tornaram humanos.

Nelson Jonas R. de Oliveira

Medite com o medo

Dê vazão ao medo, não brigue com ele. Observe o que está acontecendo. Continue observando.

Quando a sua observação se tornar mais penetrante e intensa, o corpo tremerá, a mente se agitará, mas lá no fundo você será consciência, que é apenas uma testemunha, que só observa. Ela permanece intacta, como uma flor de lótus na água. Só quando você atinge esse ponto pode chegar ao destemor.

Mas esse destemor não deixa de ter medo, esse destemor não é valentia. Esse destemor é uma constatação de que você é dois: uma parte de você morre e uma parte de você é eterna.

Essa parte que vai morrer sempre vai ter medo, e a parte que não vai morrer, que é imortal, não tem por que ter medo. Então surge uma profunda harmonia.

Você pode usar o medo para meditar. Usar tudo que você tem para meditar, de modo que vá além.

Osho, em "Saúde Emocional: Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa"

Precisamos de paciência


Quando aramos o solo para o cultivo, precisamos de paciência para arrancar todas as ervas daninhas imprestáveis e esperar, mesmo que o solo pareça estéril, até que as boas sementes escondidas possam germinar e se transformar em plantas. Precisamos de mais paciência ainda para limpar o campo de nossa consciência, coberto com as ervas daninhas dos apegos inúteis aos prazeres sensoriais, que são muito difíceis de serem erradicados. Porém, quando o campo da consciência estiver limpo e semeado com as sementes das boas qualidades, as plantas das nobres atividades brotarão, produzindo abundantemente os frutos da verdadeira felicidade. Acima de tudo, tenha paciência para buscar a comunhão com Deus através da meditação profunda e tornar-se consciente da sua alma indestrutível, escondida no seu perecível corpo físico.

Autor: Paramahansa Yogananda

26 de dezembro de 2011

Luzes da Ribalta




Amanheceu.
Ergueram-se as cortinas: as pálpebras se abriram. O show vai começar.

Tem início mais um dia...

Mais um dia onde deixarei estes meus ossos revestidos de carne, estes sustentáculos de uma aparência humana, expostos a outros ossos, a ossos inanimados, aos ossos do ofício.

As disputas por reconhecimento em troca de remuneração causam, no princípio, orifícios imperceptíveis em cada osso exposto. Orifícios do ofício. Os primeiros ossos perfurados localizam-se no tórax, na altura do peito, minando improváveis emanações de afeição e ternura.

E, assim, vão sendo quebradas cada uma das costelas na caixa torácica aonde o coração e os pulmões se abrigam, aonde o bombeamento da vitalidade e o purificador de nosso ar vão sendo desvitalizados.

Ao término do dia, quando as cortinas se fecham, quando cerro os olhos, verifico – alquebrado – quão cansativo foi empreender meus esforços mais honestos em defesa do ganha-pão.

E, ao final, convencido de haver dedicado as melhores luzes aos anos da ribalta em minha vida, quem sabe poderei me retirar ao descanso merecido...

Quem sabe...?

LibaN RaaCh

Lançando a semente

24 de dezembro de 2011

A Iluminação é só o começo



Quando as coisas ordinárias se tornam extraordinárias 
e as coisas extraordinárias se tornam ordinárias, 
então, vislumbrou-se a iluminação.
Lee Lozowick

"Depois de ter subido os cem metros de altura você tem que saltar. Esse é o próximo passo". Afirma Roshi Jakusho Kwong, na terminologia zen clássica. A iluminação, considerada pináculo de toda vida espiritual, bem poderia ser só seu começo. Obviamente que a iluminação, seja ou não a última expressão da vida espiritual, depende completamente de como a iluminação seja definida. Na antiguidade, haviam mestres cuja compreensão da iluminação era tão ampla que incluía uma madura expressão desta iluminação nos detalhes mais pequenos da vida e uma plena abertura para expandir e aprofundar constantemente sua iluminação; porém, quase que sem exceção, na época contemporânea, se considera que a iluminação ocorre quando se transcende a percepção dualista e se acessa uma percepção não-dual, a um estado sem-ego. 

Reggie Ray conta a história de alguém que perguntou a Trungpa Rinpoche:

— O que ocorre quando você se converte em um buda totalmente iluminado? 

— Isso é só o começo — contestou Trungpa Rinpoche.

— O começo de que? 

— O começo da viagem espiritual. 

"As pessoas possuem grandes egos — comenta Roshi Jakusho Kwong — inclusive, acreditam que vislumbrar a vacuidade ou sua primeira realização é o final do caminho. E as pessoas se penduram nessas coisas e acreditam que estão preparados para ensinar. Porém, apenas sabem que não é mais que o começo. Eles tem se convencido de que estão preparados e de que não há nada mais que precisam aprender."

Muitos mestres altamente respeitados, incluindo a Trungpa Rinpoche, Jakusho Kwong e Lee Lozowick, concordam em que o indivíduo nem sequer começa a fazer o trabalho espiritual até que tenha tido uma mudança profunda no contexto e uma realização profunda e permanente da perspectiva não dualista. Ainda que muitas escolas espirituais definam a iluminação como o rompimento da ilusão de dualidade, Lozowick diz que ele não diria que tais indivíduos são iluminados: "Eu diria que eles tocaram o início da iluminação. A menos que a iluminação seja madura, eu não a consideraria iluminação". 

A iluminação é comparada com o jardim da infância do verdadeiro trabalho espiritual. Gilles Farcet faz uma reflexão sobre este princípio revisando o processo de sua própria formação: 

"Quando terminei o secundário e fui aprovado no exame, foi todo um acontecimento! Porém passou rapidamente. Havia sido aprovado. Assim que fui para a universidade e lá estando, pensava: "Seria o máximo ter uma licenciatura". Olhava para os que estavam no terceiro ano e pensava: "Oh! Que emocionante!". Porém, logo obtive minha licenciatura e acabou como algo passado. Assim que decidi obter um mestrado e logo um doutorado, e enquanto estive me doutorando, este se tornou em algo já passado. Teria que seguir com minha carreira. Não podia estacionar os seguintes trinta anos de minha carreira dizendo: "Tenho o doutorado, tenho o doutorado! Sou Gilles, Doutor Gilles Farcet. Por favor, me chame de "doutor". Não, teria que seguir com minha carreira, encontrar um trabalho.

Você não pode permanecer toda vida dizendo: "Oh! Consegui esta mudança de contexto!", ou dizendo de maneira mais sofisticada: "Se o consegui, o eu desapareceu". Há que seguir vivendo e ensinando, e há que demonstrar que produziu-se uma transformação e as consequências na vida diária, na maneira de se relacionar consigo mesmo e com os demais.

Segundo Bernadette Roberts, as primeiras etapas da iluminação se caracterizam por uma grande compreensão e uma grande experiência extática, e proporcionam emoção e grandeza àqueles aspectos do ego  que permanecem se integrar, assim como aos entusiastas seguidores. Sem dúvida, o aprofundamento dessa inicial iluminação no que ela chama "estado unitivo", não pode se expressar dessa maneira sedutora e impressionante. Sugere que é importante distinguir entre a série de experiências e intuições que surgem com a experiência inicial de iluminação, ou "estágio de casulo", e as experiências que surgem como o aspecto da vida de uma mariposa madura. Disse também que se necessita escutar coisas sobre as experiências vitais da mariposa madura, sobre o que ocorre depois de sair do casulo.

Se enquanto saímos nos colocamos a escrever sobre as experiências que nos tem transformado, as publicamos e fazemos circular as boas notícias, a única coisa que fazemos é gerar uma expectativa prematura baseada na novidade do estado... No lugar disso, escutemos a quem tem vivido vinte ou cincoenta anos nesse estado e quem sabe, ouçamos uma história distinta; haverá de dizer algo a respeito do que ocorreu depois. Necessitamos escutar coisas a respeito da vida ordinária de uma mariposa madura.

Pouco depois, escreve: "Até que — e a menos que — a mariposa viva este estado no mundo ordinário, o único que pode nos dizer é como se converteu em mariposa, não pode nos contar a vida de uma mariposa. De fato, até que morra, todos os dados de uma vida de uma mariposa estão incompletos". Alguns caminhos terminam com o emergir da mariposa da mariposa, enquanto que outros caminhos insistem em que este final é só um sinal que marca o começo do caminho.

SEM FINAL

"Este trabalho é constante, de larga duração, interminável — disse Sensei Danan Henry —. Se diz que o Buda se está só no meio do caminho. O Buda está ali em cima no céu tashida, praticando". Não só a iluminação é o começo, senão que não há fim, nunca, em nenhuma parte, para a evolução, o crescimento, a iluminação. Isso oferece uma sóbria contemplação, que pode chegar a ser desencorajadora, para o buscador espiritual médio.

"Oh!, porém, depois da iluminação cada vez é melhor, a medida em que você se expanda até o infinito", disse o aspirante ingenuo e esperançoso. Talvez seja assim, porém, quem tem viajado mais além de onde a maioria tem chego, dizem que o trabalho é cada vez mais exigente, mais desafiante, mais duro. Se bem que é certo que o indivíduo se acha mais preparado para manejar esses grandes desafios, o trabalho aumenta na proporção de sua capacidade de manejá-los.

Sem dúvida alguma, há uma mudança de contexto ou uma "iluminação" inicial, que transforma de maneira irrevogável a perspectiva do indivíduo. O erro está em confundir essa mudança com o final do próprio caminho. Dogen dizia: "Não há começo para a prática nem final na iluminação; não há começo da iluminação, nem final na prática". É impossível encontrar um final da iluminação, pois a purificação segue eterna e simplesmente, assim são as coisas.

Roshi Kwong explica o processo da iluminação  como um círculo que se acha em constante ampliação, porém, sempre voltando a si mesmo.

A iluminação é como um círculo: iluminação, logo desengano, logo de novo iluminação e outra vez desengano. Nos iluminamos mediante o desengano e logo nos desenganamos de nossa iluminação. Então, de novo nos iluminamos por nosso desengano. Não há princípio nem fim. Assim, pois, o adepto, o verdadeiro buscador, sempre continua.


O mestre sufi  Bhai Sahib, falando de Brahma-vidya, o conhecimento de Brahma, dizia: "Milhares e milhares de anos não são suficientes, pois se trata de um processo contínuo... Isto é algo que gosto da vida espiritual: sempre se está começando. Nunca se pode dizer: "Cheguei" e se sentar. Em lugar disso, você vê como o horizonte se expande cada vez mais, como a consciência se expande cada vez mais".


Para alguns, o caráter interminável do caminho é demasiadamente apavorante, demasiadamente difícil. Sem dúvida, para outros, é uma boa notícia, como sugere Robert Ennis. Se bem que "sem final" significa que não há descanso para o viajante fatigado, também quer dizer que não há limitações, nunca, nem se quer a limitação da iluminação.

Como disse Roshi Kwong: "Enquanto tenhamos uma mente e um corpo, a iluminação contínua. Não há lugar para o descanso". A vida segue, e o mesmo acontece com o trabalho do iluminado. Não há final da iluminação, pois o potencial de aprofundamento e de entrega a Deus ou a Realidade é verdadeiramente infinito.

Mariana Caplan - A Metade do Caminho - A Falácia da Iluminação Prematura - Editora Kairós

Rompendo a Hipnose Coletiva

http://benettblog.zip.net/
Já é tempo que apareçam ao menos alguns pioneiros corajosos, que saiam dessa hipnose coletiva da humanidade! É uma verdadeira hipnose, uma alucinação coletiva que domina toda a humanidade, sobretudo a humanidade cristã do ocidente. Alguém deve ter a coragem de dizer: Eu não acompanho este movimento! Eu quero voltar à cristicidade do Mestre e não aceito o cristianismo dominante, embora seja justificado por todos os teólogos do mundo!

Autor: Huberto Rohden

23 de dezembro de 2011

O dia de Natal e a Respiração


O que determina o primeiro instante de vida física é a primeira inspiração. O que determinará o fim da vida física, e início da grande iniciação, ou seja, a morte física, é a última expiração. A própria ciência ratifica o fato de que é a respiração que sustenta nosso equipamento físico durante a encarnação. Podemos ficar dias sem comer ou dormir, horas sem beber água, em estado de consciência ou inconsciência, mas não é possível ficar mais do que alguns minutos sem respirar. Quantos já refletiram a respeito da importância desse ato? Quantos pararam suas atividades rotineiras, por um instante que seja, e prestaram a atenção em seus próprios movimentos respiratórios? Através do controle consciente da respiração podemos modificar muitas coisas, inclusive nosso estado emocional. A literatura oriental, passando por diversas filosofias e vertentes religiosas, como o hinduísmo e o budismo, até mesmo a medicina chinesa e a tibetana, estão repletas de ensinamentos teóricos e práticos sobre a respiração. O elo comum entre todos estes sistemas está justamente em reconhecer a importância do ato de respirar e a maneira correta de faze-lo. Jorge Antonio Oro é nosso entrevistado.

PROGRAMA VIDA INTELIGENTE
com Eustáquio Patounas
Quinta-Feira, 8 às 9 da noite, AO VIVO
TV Floripa Canal 4 da NET
www.vidainteligente.tv.br

O nada e o amor à sombra da figueira

Nisargadatta Maharaj disse: “Sabedoria me diz que eu sou nada”. Sabedoria é quando você olha e vê, é quando você sabe quem você é. E todos que olham, concordam, vêem o mesmo. Diante de tal concordância, revela-se o indescritível. A Consciência que nós somos não tem forma, nem tamanho – isso é o que a sabedoria nos revela.

Nisargadatta está nos dizendo que saber quem somos é saber-nos nada. Agora, encontre isso! Investigue e veja o que habita por trás de todos os véus de conceitos gerados pela mente. De repente, Atenção brota, vinda de lugar nenhum, e não há uma só criatura nesse universo que não seja Isso.

Cada vez que você atende ao convite do Silêncio, cada vez que você olha para esse “lugar nenhum”, apenas uma coisa fica evidente: tudo some. Até mesmo o seu corpo desaparece, quanto mais a ideia de “eu” e do mundo.

Nisargadatta continua: “Sabedoria me diz que sou nada, Amor me diz que sou tudo – entre os dois, a minha vida flui”. O Amor revela que não há nada nem ninguém que não seja eu mesmo, que não deva ser respeitado e honrado como eu mesmo. Não existe o outro, só tem um. Somente na mente "eu sou eu" e "você é você", isso é o que aparece aos nossos olhos, na periferia, e provoca todo o engano.


O Amor, o reconhecimento de quem você é, é o que apazigua todas as relações. Quando você olha e vê que tudo é você, não existe mais conflito e medo.

Essa é a Verdade, o poço está aberto, transbordando... você bebe ou não bebe. Nada pode ser feito por você, nem mesmo posso te dar esse Amor – o poço não vai sair correndo atrás de você, oferecendo um copo d’água.

O Amor é como uma árvore, uma figueira enorme nos Pampas, num dia de calor. Quem quiser sombra, se acomoda embaixo dela, quem não quer, fica no sol tostando a nuca.

Feliz Natal? ou Feliz Dia da Hipocrisia Consumista

"O amor fere" e outros mal-entendidos (parte final)

Lembre-se, o medo e o amor nunca existem juntos; não podem. Não é possível a coexistência. O medo é justamente o oposto do amor.

As pessoas costumam achar que o ódio é o oposto do amor. Isso é um equívoco, um total equívoco. O medo é o oposto do amor. O ódio é o amor ao contrário. É o contrário, mas não é o oposto.

A pessoa que odeia simplesmente mostra que, de algum modo, ela ainda ama. O amor se tornou amargo, mas ainda existe. O medo é o verdadeiro oposto, pois ele significa que toda a energia do amor desapareceu.

O amor é se aproximar do outro sem medo, com uma enorme confiança de que será recebido - e ele sempre é. O medo se encolhe dentro de você, fecha o seu ser, fecha todas as portas, todas as janelas para que o sol, o vento, a chuva não possam atingi-lo, tamanho o seu pavor. Você está se enterrando vivo.

O medo é uma sepultura, o amor é um templo. No amor, a vida chega ao seu apogeu. No medo, a vida resvala para o nível da morte. O medo fede, o amor é perfumado. Por que você deveria ter receio?

Tenha receio do seu ego, tenha receio da sua luxúria, tenha receio da sua ganância, tenha receio da sua possessividade, tenha receio do seu ciúme - mas não há por que ter receio do amor. O amor é divino! É como a luz. Quando existe luz, não existe escuridão. Quando existe amor, não existe medo.

O amor pode fazer da sua vida uma grande celebração, mas só o amor pode fazer isso - não a luxúria, não o ego, não a possessividade, não o ciúme, não a dependência.

Osho, em "A Essência do Amor: Como Amar com Consciência e se Relacionar Sem Medo"

22 de dezembro de 2011

A Cura

Ioga é um método para restringir a turbulência natural dos pensamentos. Estes, se não forem dominados, impedem todos os homens, imparcialmente, em todas as terras, de vislumbrarem sua verdadeira natureza, que é Espírito. Semelhante à luz curativa do sol, a ioga é benéfica tanto para os homens do Oriente como do Ocidente. Os pensamentos da maioria das pessoas são inquietos e caprichosos; é patente a necessidade da ioga: a ciência do controle da mente.

PARAMAHANSA YOGANANDA

Auto-conhecimento ou Ego-conhecimento? - Parte 1

Auto-realização
O ego vive projetando situações de sofrimento, caos, constrangimento, ou então, situações de vanglória e reconhecimento pessoal. Baseia-se sempre no conteúdo das experiências passadas contidas na memória. Essas projeções quando não percebidas de modo instantâneo, produzem ondas de ansiedade, medo, pulsões, todas com suas respectivas somatizações físicas, entre elas, algumas como a letargia, a falta de apetite, o desânimo, a insônia ou a fuga pelo sono. 

Quando o ego se agita através de qualquer influência externa, é quase que impossível a prática da meditação contemplativa daquilo que ocorre em nosso interior. Nesses momentos de profunda agitação interna, o ego clama por alívio imediato que, em via de regra, tem uma forte tendência de vir a se tornar uma forma a mais de dependência, na longa lista do ego.

O ego, sempre movido pelo medo, impede a discussão aberta dos sentimentos, da qualidade daquilo que ocorre em nosso interior. Ele cria o medo do abandono, o medo da rejeição, o medo da retaliação, sempre através das projeções mentais. Com isso, o ego se fecha numa espiral de desgastante sofrimento. 

O Ego cria o medo da incompreensão e projeta situações de ostracismo. O medo de ser exposto, sugere pela morte ao invés da auto-exposição. Finge buscar por ajuda, quando na realidade, o que quer é manutenção de suas vontades. Ele morre de medo de ser exposto, de ser ajuizado de forma negativa por outros egos, no entanto, ele julga a tudo e a todos com requintes de sutileza e crueldade. No entanto, é totalmente contrário a qualquer tipo de critica em sua direção, o que quase sempre se torna motivo de indignação, ressentimento, profundo rancor e sentimento de vingança.

O ego se sente o centro de tudo, a base de tudo, o responsável por tudo. Ele vive da mentira, das máscaras, das posturas, dos padrões comportamentais estabelecidos pelo ego social. Está sempre em busca de conveniências, privilégios, as quais impedem o livre comungar, o livre compartilhar; ao contrário, vive da exploração, do consumo inconsequente e do descarte leviano. Morre de medo do isolamento, mas não titubeia um segundo sequer para levar o outro a situações de isolamento. Vive de representações embasadas na hipocrisia do idealismo do ego social. 

Quando acometido por seus fortes ataques, nos vemos dominados, incapacitados de responder de forma contrária às suas insanas exigências, as quais, o ego sempre faz a si mesmo e também aos demais. Quando cedemos a essas insanas exigências feitas pelo ego, mais o alimentamos com o resultante conflito gerado pela raiva, o medo, a culpa e a vergonha. Ele vive em busca de inimigos externos, busca essa que serve de alimentação para sua continuidade, através da exposição do outro e não de si mesmo. Se alimenta também de negociatas e do fluxo constante de pensamentos desconexos. 

O ego é controle, posse, manipulação, desconfiança e retalhação. Ele impede  o desfrute do agora, do presente momento, em toda sua plenitude, através desse constante fluxo de pensamento desconexos que se apresentam na ponte do tempo psicológico passado/futuro. Sua movimentação rápida na linha do tempo psicológico é um de seus principais mecanismos de defesa contra o processo de observação, pelo qual, as automáticas e inconscientes respostas reativas, fonte de incontáveis novos conflitos que retroalimentam o ego, podem ser detidas. Nesse processo de retroalimentação, não se dá a possibilidade curativa da percepção daquilo que realmente somos quando identificados com o ego, seja pessoal ou coletivo. Com suas projeções alicerçadas nas lembranças do que viu, ouviu ou viveu, o ego gera identificações que nos paralisam sobre a ação do medo. O grande fato de inconsciência é que combatemos o medo e não a natureza real do medo: o ego. Isso faz com que fiquemos numa situação parecida com o constante movimento de secar o chão, ao invés de procurar pela fonte de escoamento da água e, pelo conhecimento dela, estancar seu vazamento. 

O ego tem profundo terror ao vazio e, por causa disso, nos empurra nas mais variadas formas de compulsão, sejam socialmente aceitas ou não. Busca sempre alivio em situações externas e possui um forte poder para a dispersão que impede o olhar interno. Ele é como um cachorro, em círculos, correndo atrás do próprio rabo. Nesse andar em círculos, desestabiliza todos os instintos naturais. Entre suas incontáveis manifestações, destacam-se a frieza, a covardia, o interesse, a ganância, a cobiça, a vingança, o preconceito, a desconfiança, o rancor e a maledicência. Quando somos tomados por ele, nos vemos numa reação em cadeia, as cegas. Ao final, quando temos lampejos de consciência, ele entra pela porta dos fundos nos jogando na culpa ou no brejo da autopiedade.  

Existem correntes espiritualistas que prometem pela libertação de toda forma de conflito causado pelo ego, através somente de um movimento de quietude que promete pelo conhecimento de uma natureza, que seria nossa real natureza destituída da ação do ego. Elas afirmam que, uma vez mantido contato com essa Natureza Real, toda identificação ilusória com o eu, cessa de imediato, sem a necessidade de um longo processo de análise. Em meu atual estado de "ego textualmente esclarecido", fico me questionando quanto a realidade e praticidade diante de tal postura, se a mesma não seria tão somente uma forma de escapismo do constante estado de tensão em que a grande maioria se encontra de forma semi-consciente. Segundo essas linhas espiritualistas, o simples contato com alguém, por algumas horas, que tenha conseguido a façanha do equilíbrio interno através da libertação da tensão, do medo, do ego, poderia nos proporcionar esse mesmo "estado de graça", livre da desgraça que é uma vida gerenciada pelos domínios do ego. O simples contato silencioso, levaria a uma libertação do ego, sem a necessidade do ego-conhecimento, partindo direto para o "auto-conhecimento", que seria o conhecimento da natureza real que somos sem a presença do ego. Seria isto realidade ou mero idealismo? Já não fizemos isso com padres, pastores, psicólogos e psiquiatras, todos prometendo pela libertação, pela salvação dessa desgraçada forma de viver identificado com o ego? O que conseguimos com isso? 

Voltando a questão do ego, este vive no tempo, vive no reino do imaginário, hora na recordação, hora na projeção, as quais se apresentam de forma totalmente livre de nossa vontade e controle e, devido ao nosso viciado estado de desatenção, quase sempre alimentamos esse movimento no tempo, essa irreal viagem mental. Parece-me ser um fato a nossa impotência diante o constante e acelerado movimento reativo do ego. Tudo para ele serve de impulso, de alimento para a ativação de seu pacote de memórias que, por sua vez, impulsionam a busca de um prazer imediato que aplaque o constante estado de vazio, insatisfação, descontentamento, solidão e falta de sentido. O problema é que essa constante busca por preenchimento ocasionado pelo ego, é um verdadeiro saco sem fundo, o qual não é capaz de nos brindar com um estado de real leveza, liberdade, felicidade e amorosidade. O ego corporifica-se, alimenta-se e aprisiona pelas formas, formas essas que tem gerado nos últimos tempos, de forma absurdamente acelerada uma monstruosa rede industrial a serviço do ego.

A grande dificuldade me parece ser o fato de que, devida a nossa excessiva exposição de anos e mais anos a essa ilusória identificação de nós mesmos como sendo esse ego, tendo em vista que estamos rodeados desde a mais tenra idade, de outros que também compactuam da mesma ilusão, nos tornamos viciados nessa identificação, a qual é sistematicamente influenciada e alimentada pela poderosa rede do ego coletivo. Em outras palavras, somos adulterados adultos adulterantes. Ouso dizer que, quando não agimos 100% pelo ego, agimos na limitada esfera da razão, da lógica e da moral, que por sua vez, sofrem influência do ego social local. Sei que isso que acabei de afirmar, soa estranho totalmente estranho ao ego, a lógica, a razão e a moral que desconhecem fora de seus limites, qualquer dimensão ilimitada. 

A meu ver, nenhum tipo de relacionamento pode ser verdadeiro quando o ego, nele se encontra instalado. É preciso observar com muitíssima atenção, atenção esta, sem escolha, de forma incondicionada, a esse constante e astuto movimento de desfoque que ocorre na ponte do tempo psicológico passado/futuro, o qual nos mantém prisioneiros nos dolorosos domínios do ego, o qual não tolera o silêncio e a inação. O ego clama por reação, por atitudes que tem por base o conhecido, o convencionado e, nessa linha de conveniência, encontra-se seu maior combustível, que é o medo com toda sua carga sintomática. No entanto, questiono: sem o silêncio, sem a observação em momentos de inação, sem o conhecimento do falso, como conseguir um estado livre do conflito resultante de nossas ações, escolhas, impulsionadas pela constante reação do ego? Sem o ruir dessa estrutura egóica, como algo novo pode se manifestar? Sem a morte para essa falsa estrutura psicológica causadora de conflitos, a qual pensamos ser, como viver num estado de ser livre de toda forma de ilusão?

(continua)

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

"O amor fere" e outros mal-entendidos (parte 4)


O amor é um fenômeno espiritual; a luxúria é física. O ego é psicológico; o amor é espiritual. Você terá de aprender o próprio bê-a-bá do amor. Terá que começar do comecinho, da estaca zero; do contrário, só se machucará. E lembre-se, só você pode se ajudar; ninguém é responsável.

Como alguém pode ajudar você? Ninguém pode destruir o seu ego. Se você se agarra a ele, ninguém pode destruí-lo; se você investe nele, ninguém pode destruí-lo. Eu só posso dividir com você o que sei. Os iluminados só podem mostrar o caminho; depois você tem que ir, tem que segui-lo. Ninguém pode levá-lo, segurar na sua mão.

É isso o que você gostaria de fazer: fazer de conta que é dependente. E lembre-se, a pessoa que faz de conta que é dependente um dia se vingará. Logo ela vai querer que o outro dependa dela. Se a esposa depende financeiramente do marido, então ela tentará que o marido dependa dela para outras coisas.

Trata-se de um arranjo mútuo. Ambos estão mutilados, ambos estão paralisados; um não pode viver sem o outro. Até a ideia de que o marido era feliz sem a esposa, de que ele ria no clube com os amigos a machuca. Ela não está interessada na felicidade dele; na verdade ela não acredita: "Como ele ousava ser feliz sem mim? Ele tem que depender de mim!"

O marido não gosta quando vê a esposa rindo com outra pessoa, feliz, alegre. Ele quer que toda a alegria dela lhe pertença; seja propriedade dele. A pessoa dependente fará de você uma pessoa dependente também.

O medo nunca é amor e o amor nunca é medo. Você não perde nada por amar. Por que ter medo do amor? O amor apenas dá. Ele não é uma transação comercial, por isso não é uma questão de perder ou ganhar. O amor gosta de dar, assim como as flores gostam de exalar perfume. Por que elas deveriam ter medo? Por que você deveria ter medo?

Osho, em "A Essência do Amor: Como Amar com Consciência e se Relacionar Sem Medo"

21 de dezembro de 2011

Raciocinar, crer e saber.


Crer é algo penúltimo – saber é último.
É necessário crer, mas é insuficiente crer.
Ninguém pode saber sem que primeiro creia. Ninguém pode dar o último passo sem passar pelo penúltimo.
Se for difícil para o homem inteligente crer – dificílimo é para o homem crente saber.

O simples entender ou inteligir mental é a vida ideal do ego; é nessa zona da ciência intelectual que o homem profano vive e se diverte habitualmente, e nessa zona pode a personalidade luciférica celebrar os seus maiores triunfos, pode chegar mesmo ao mais intenso satanismo anti-espiritual, se quiser.

Esse simples inteligir mental é perfeitamente compatível com o não crer e, quando unilateral, leva mesmo à descrença total.

Com o despontar da crença, do crer volitivo, começa uma espécie de agonia para o orgulhoso inteligir mental, porque este se vê obrigado a aceitar algo que ele não pode analisar cientificamente, o que é humilhante para o intelecto.

Mas essa agonia não termina em morte total do ego. Essa morte total só se dá com a transição do ‘crer’ para o ‘saber’.

O ‘sapiente’ morreu tanto para a inteligência como para a crença. Deixou de ser um inteligente e deixou de ser um crente. A sua sapiência experiencial da Suprema Realidade devorou todas as irrealidades e semi-realidades inferiores, do plano ‘inteligir’ e do ‘crer’.

Esse homem é um grande ‘liberto’, um verdadeiro ‘redento’, redimido da velha escravidão do mundo dos objetos em que se movem os inteligentes e os crentes. Esse homem deixou de ser ‘profano’, e se tornou ‘iniciado’, o que não quer dizer que seja um homem plenamente ‘realizado’. Iniciado é aquele que fez um início, isto é, que abandonou os seus ziguezagues oscilantes e incertos e pôs o pé no princípio de uma linha reta que o levará rumo ao seu destino final.

Muitos são os profanos.
Poucos os iniciados.
Pouquíssimos os realizados.

Por que é tão difícil passar do ‘inteligir’ para o ‘crer’ e do ‘crer’ para o ‘saber’?

Porque o ‘inteligir’, ou entender mental, é terreno batido, conhecido e firme – ao passo que o ‘crer’ é terreno misterioso, incerto – e o ‘saber’ é um mundo totalmente ignoto para a maior parte dos homens, mesmo os crentes. Ora, a lei da conservação exige que pisemos terreno conhecido e garantido; do contrário, corremos perigo de deixarmos de existir. Não sacrificar o certo pelo incerto – é imperativo categórico da biologia em todos os setores da vida.

Se não houvesse, nas profundezas da natureza humana, algo que nos garantisse a existência para além das fronteiras do inteligir, não cruzaria o homem essa perigosa fronteira mental.

O profano não é ainda concebido.
O crente é concebido, porém não nascido; apenas nascituro.
O sapiente é nascido, um pleninato.

A fé, o crer, é uma ponte misteriosa entre um mundo conhecido e um mundo desconhecido; é uma visão longínqua da Suprema e Única Realidade; é a voz da nossa origem, o eco do Infinito dentro do nosso finito.

Sendo o homem essencialmente divino – embora a consciência da sua divindade se ache, por ora, em estado potencial de latência – pode a voz do  Supremo acordar nele o eco ou a reminiscência da sua origem divina. Quando o homem escuta em si essa voz de Deus, que é a voz do seu verdadeiro Eu, então ele crê, tem fé. E esse crer é o primeiro passo para o saber.

Que falta ao crer para culminar em saber?

Falta o mais apertado de todos os caminhos, falta a mais estreita de todas as portas – falta que o homem passe pelo “fundo da agulha”, despojando-se de tudo que ele ‘tem’ e ficando só com aquilo que ele ‘é’.

Esse desnudo SER, livre de todas as impurezas do TER, é que é o passo mortífero que leva à vida eterna.

Todo homem que passa por essa morte mística entra na vida eterna.
Todo homem que se recusa a passar por essa morte mística, cai vítima da morte eterna...

Huberto Rohden, “O Sermão da Montanha” (do capítulo “Estreita é a porta e apertado o caminho que conduzem à vida eterna”)



Receita da Vovó

O sofrimento que parece interminável é fruto de um desejo de sofrer sozinho. Quando nos abrimos para o sofrimento alheio, a proporção maior do sofrimento no outro torna nosso sofrimento menor.

Mas, por que deveria eu me abrir ao sofrimento alheio quando mal consigo conviver com o meu próprio sofrimento?

Enquanto ainda permanecermos neste paradigma, o melhor mesmo é ficar ‘curtindo’ o próprio sofrimento.

‘Curtindo’... como se faz ao depurar um molho de tomates.

Deixa-se o molho em fogo baixo para que a ação contínua e lenta e suave do fogo elimine os excessos que deixariam o molho aguado. Como a abrasante mágoa faz emergir lágrimas embargadas na garganta. Como as lágrimas escorridas eliminam os nós na garganta e depuram as intragáveis mágoas que nos queimam por dentro.

Neste Natal, junte à sua solidão a solidão do outro e viva o milagre da comunhão.

A pitadinha de açúcar para quebrar a acidez do tomate – segredo da boa cozinha, segredo da receita da vovó – é dada na partilha honesta de nossa mais profunda e solitária dor com alguém de escuta verdadeiramente solidária e isenta de julgamentos.

LibaN RaaCh

Cuidado!

Anseios exteriores nos expulsam do Éden interior;

oferecem prazeres falsos que apenas arremedam a ventura da alma.
 

Sri Yuktéswar

nem amanhã, nem ontem

Osho diz:

"De uma coisa eu sei: A existência não tem nenhuma meta. E, como parte da existência, não posso ter meta alguma. No momento em que você tem uma meta, você se separa da existência. Então, uma pequena gota de orvalho está tentando lutar contra o oceano. O problema é desnecessário. A luta é sem significado. Eu jamais penso nos 'ontens' e jamais penso nos 'amanhãs'. Isso me deixa apenas um pequeno momento, um momento presente, solto, leve, livre e limpo".

Você poderia afirmar que também não pensa no ontem e no amanhã?

Participante – A mente pensa.

Exatamente. A mente pensa no ontem e no amanhã. E, aqui, se você se identifica com a mente, inicia um conflito – o conflito da gota contra o Oceano, do tempo contra o Agora, da mente contra a Observação. A mente gera a ideia de que não devemos pensar no ontem e no amanhã. Porém, a real revolução está em compreender que o amanhã e o ontem são um reflexo na Consciência, agora.

Contemple essa possibilidade e veja se isso é pertinente em você, se isso faz parte da sua natureza. Investigue até que isso seja real para você.

Estamos aqui para fazer um câmbio, para trocar a sua identidade de pensador para observador. Se é para você ter alguma identidade – porque você não existe sem identidade –, não seria melhor identificar-se com o observador? Então, considere isso! Temporariamente, até que você realize que nem mesmo o observador, senão a pura observação é a sua verdadeira natureza.

Osho diz: "Eu jamais penso nos 'ontens' e jamais penso nos 'amanhãs'. Isso me deixa apenas um pequeno momento, um momento presente, solto, leve, livre e limpo". O que você precisa fazer para chegar nesse ponto de "solto, leve, livre e limpo"? Dando-se conta de que a mente tem te oferecido uma identidade pautada nas memórias, no passado, no tempo, nos reflexos; enquanto que o agora, oferece, incondicionalmente, um "você" solto, leve, livre e limpo.

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