Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

11 de dezembro de 2011

Saneamento Básico

Fui fazer uma caminhada para movimentar o esqueleto.
Impressionante como uma caminhada ao acaso consegue desanuviar o coração da gente. Deve ser por causa das endorfinas e dopaminas liberadas pelo movimento.

Água que permanece muito tempo parada torna-se insalubre. Fazendo analogia aos fundamentos (valores e crenças) de uma existência, podemos imaginar quanta insalubridade não fica depositada nestes fundamentos há tanto tempo parados, encravados nos mais profundos poços (melhor, ‘fossas’) da nossa alma.

A menos que nos prontifiquemos à realização de um trabalho de saneamento destas fossas – este, sim, um verdadeiro trabalho de saneamento básico – continuaremos a cultuar o distanciamento de um ser humano para com outro ser humano.

Toda crença ou valor, toda postura ou atitude cujo fundamento – implícito nas entrelinhas – sugere distanciar um ser humano de outro é passível de saneamento.

O automóvel tem sido usado como um dos principais veículos deste distanciamento, através do culto ao status.

Quanto mais caro o carro, mais raso o contato.

O carro tem sido cultuado como objeto de demonstração do poder aquisitivo que, traduzido em linguagem do povo, significa poder repulsivo. Poder de repelir a proximidade de um membro do povo, poder para manter distante de si qualquer representante do povão. (Por favor, excluam-me de qualquer doutrina sócio-econômica).

Basta ficar atento às entrelinhas das mensagens publicitárias sobre carros.

As mensagens tendem a nos transportar a lugares distantes... longe de toda aglomeração... longe da massa informe... da massa deformada... longe da mais vaga noção de que somos ‘Um’ com essa massa. Apregoam a noção de que somos ‘Um’ destacados desta massa, separados (Graças a Deus!) da loucura desta massa.

Pai perdoe-os! Eles precisam de um transporte que traga a ideia, ainda que falsa, de segurança; pois desconhecem suas capacidades inatas de se transportarem a instâncias verdadeiramente seguras.


Já que estamos falando em veículos, por que não dar uma olhadinha nas coisas que estão sendo veiculadas também?

Vejamos as notícias veiculadas diariamente - outro estimulante do distanciamento. Nenhuma contém substância nutritiva, porque em nenhuma forma de divulgação de notícias existe a preocupação em nutrir. Raras são ditadas por pessoas que, por trás de seus encargos profissionais jornalísticos, deixam transparecer uma sincera e honesta compaixão nutritiva.

Por isso, mesmo sem assistir ou ler jornais e revistas é possível manter-se atualizado com o que há de mais crucial. Jornais e revistas tratam apenas de fatos. O mais crucial ultrapassa a barreira dos fatos, a barreira da colocação imparcial e impessoal dos fatos, pois o mais crucial é que os fatos foram realizados por gente, por gente como a gente, por gente da massa, por gente desta mesma massa que compõe o povo, que compõe o povão, desta massa da qual somos constantemente estimulados a manter distância.

Os fatos foram realizados por gente e estão sendo relatados por gente. Pronto. Esta é a notícia mais crucial. Gente como eu e como você.

Enquanto os fatos forem tratados como ocorrências pertencentes a um universo distante, alheio e alhures, a minha atualização dos fatos ficará nivelada por baixo. Será rasinha, rasinha...

À sucessão interminável de fatos precede uma sucessão de movimentos internos em cada causador daqueles fatos. O ente causador daqueles fatos é – adivinhem! – uma pessoa, um ser humano, é gente como eu e, como eu, sujeita aos mesmos movimentos de energias intrínsecas.

Se eu estou atento às energias intrínsecas em mim, estarei sempre atualizado. Arrisco-me a dizer que, além disto, estarei ciente do que pode vir a acontecer e posso me antecipar ao fato, habilitando-me aos “furos de reportagem” ao invés das “reportagens furadas” por meio das quais se perde a seiva nutritiva da aproximação e fica, apenas, a faceta interruptiva do distanciamento.

LibaN RaaCh

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