Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

13 de janeiro de 2012

Sair de todas as prisões é inteligência


Há um interruptor na mente, e o nome desse interruptor é observação, percepção, testemunho. Se você começa a testemunhar a mente, ela começa a parar. Quanto mais cresce esse testemunhar, mais você fica consciente de uma chave secreta: a mente pode ser facilmente interrompida. E, quando você puder desligar a mente por horas, esse momento é de grande libertação. E, quando ela volta, quando você a chama de volta, ela volta rejuvenescida, renovada.

Por isso, os meditadores fatalmente são mais inteligentes do que as outras pessoas. Se eles não forem mais inteligentes, então a meditação deles é falsa, então eles não sabem o que é meditação; eles estão fazendo uma outra coisa em nome da meditação. Uma pessoa meditativa inevitavelmente será mais sensível, mais inteligente, mais criativa, mais amorosa, mais compassiva; essas qualidades crescem por conta própria. E todo o segredo é: aprenda a parar a mente. No momento em que você sabe como parar a mente, você se torna o mestre; então, a mente é um belo mecanismo. Você a usa quando quiser usar, quando ela for necessária, e a desliga quando não for necessária.

O que é meditação? Ela é uma técnica que pode ser praticada? É um esforço que você precisa fazer? É algo que a mente pode alcançar? Ela não é nada disso.

Tudo o que a mente puder fazer não pode ser meditação — meditação é algo além da mente, e aí a mente é absolutamente impotente. A mente não pode penetrar na meditação; onde a mente termina, a meditação começa. Isso precisa ser lembrado, porque, em nossa vida, tudo o que fazemos, fazemos por meio da mente. E, então, quando nos voltamos para dentro de nós mesmos, novamente começamos a pensar em termos de técnicas, de métodos, de fazeres, porque toda a nossa experiência de vida nos mostra que tudo pode ser feito pela mente. Sim, exceto a meditação, tudo pode ser feito pela mente; tudo é feito pela mente, exceto a meditação, porque a meditação não é uma conquista — ela já existe, ela é a sua natureza. Ela não é para ser alcançada, mas apenas reconhecida, apenas lembrada. Ela está ali, esperando por você — basta voltar-se para dentro e esta está disponível. Você sempre a carregou consigo.

A meditação é sua natureza intrínseca — ela é você, é o seu ser e nada tem a ver com o seu fazer. Você não pode tê-la, não pode não tê-la; ela não pode ser possuída, pois não é uma coisa, mas ela é você, o seu ser. 

Uma vez que você entenda o que é meditação, as coisas ficam muito claras. Fora isso, você pode continuar a tatear no escuro.

A meditação é um estado de clareza, e não um estado mental. A mente é confusão; ela nunca está clara, não pode estar. Os pensamentos criam nuvens à sua volta — eles não são sutis. Uma névoa é criada por eles e a clareza é perdida. Quando os penamentos desaparecem, quando não há mais nuvens à sua volta, quando você está em seu simples ser, a clareza acontece. Então você pode ver à distância, até o fim da existência; o seu olhar se torna penetrante — até o âmago do ser.

Meditação é clareza, absoluta clareza de visão. Você não pode pensar sobre ela; você precisa abandonar o pensar. Quando digo: "Você precisa abandonar o pensar", não conclua precipitadamente, pois preciso usar a linguagem. Assim, digo: "abandone o pensar", mas se você começar a abandonar, você se perderá, porque, de novo, a reduzirá a um fazer.

"Abandonar o pensar" significa simplesmente: não faça nada. Sente-se, deixe que os pensamentos se assentem, deixe que a mente se aquiete por si mesma. Você simplesmente se senta olhando uma parede, em um recanto silencioso, sem fazer absolutamente nada. Relaxado, solto, sem esforço, sem ir a lugar nenhum, como se você estivesse caindo em um sono acordado — você está acordado e está relaxando, e todo o corpo está adormecendo. Você permanece alerta por dentro, mas todo o corpo entra em um profundo relaxamento.

Os pensamentos se acomodam por si mesmos; você não precisa saltar sobre eles, não precisa tentar consertá-los. É como um riacho que ficou lamacento... O que você faz? Você salta nele e começa a ajudar o riacho a ficar límpido? Assim você o tornará mais lamacento. Você simplesmente se senta na margem do riacho e espera; não há o que fazer, pois tudo o que você fizer deixará o riacho mais lamacento. Se alguém atravessou um riacho e as folhas mortas vieram à superfície e a lama surgiu, só é preciso paciência. Você simplesmente se senta na margem e observa de maneira indiferente. E, à medida que o riacho flui, as folhas mortas serão levadas embora e a lama começará a se assentar, pois ela não pode ficar suspensa na água para sempre.

Depois de um tempo, de repente você perceberá — o riacho está de novo cristalino.

Sempre que um desejo passa pela sua mente, o riacho fica lamacento. Então, apenas se sente; não tente fazer coisa nenhuma. No Japão, esse "apenas ficar sentado" é chamado de zazen; apenas ficar sentado sem nada fazer, e, um dia, a meditação acontece. Não que você a traga para você; ela vem a você. E, quando ela vem, imediatamente você a reconhece; ela sempre esteve presente, mas você não estava olhando na direção certa. O tesouro estava com você, mas você estava ocupado em algum outro lugar: envolto em pensamentos, em desejos, em mil e uma coisa. Você só não estava interessado em uma coisa: em seu próprio ser.

Lembre-se: a medicação lhe trará cada vez mais inteligência, infinita inteligência, uma irradiante inteligência. A meditação o tornará mais vivo e sensível; sua vida ficará mais rica.

Você pode entrar em meditação apenas ao ficar sentado, mas, então, apenas fique sentado, sem fazer mais nada. Se você puder ficar apenas sentado, isso se torna meditação. Esteja completamente no sentar; o não-movimento deveria ser seu único movimento. Na verdade, a palavra zen vem da palavra zazen, que significa apenas ficar sentado, sem nada fazer. Se você puder apenas ficar sentado sem nada fazer com o seu corpo e com a sua mente, isso se torna meditação; mas isso é difícil.

Você pode ficar sentado muito facilmente quando está fazendo alguma coisa, mas no momento em que está apenas sentado sem nada fazer, isso se torna um problema. Cada fibra de seu corpo começa a se mexer por dentro, cada veia, cada músculo, começa a se mexer. Você começará a sentir um tremor sutil e ficará consciente de muitos pontos no corpo que nunca percebeu antes. E quanto mais você tentar apenas ficar sentado, mais movimentos sentirá dentro de você. Assim, o sentar pode ser usado apenas se você tiver feito outras coisas primeiro.

Você pode apenas caminhar; isso é mais fácil. Você pode apenas dançar, isso é ainda mais fácil. E depois de fazer outras coisas mais fáceis, então você pode se sentar. Sentar-se na postura de um buda é a última coisa a ser feita realmente; ela nunca deveria ser feita no começo. Somente depois de você começar a se sentir totalmente identificado com o movimento é que poderá começar a se sentir totalmente identificado com o não-movimento.

Portanto, nunca digo às pessoas para começarem com o sentar. Comece com o que for mais fácil, senão começará desnecessariamente a sentir muitas coisas — coisas que não estão ali.

Se você começar com o sentar, sentirá muitas perturbações por dentro. Quanto mais você tentar apenas ficar sentado, mais perturbações serão sentidas e ficará consciente apenas de sua mente insana, e nada mais. Isso causará depressão e você se sentirá frustrado. Você não se sentirá em estado de graça; pelo contrário, começará a sentir que você é insano. E, algumas vezes, poderá realmente ficar insano.

Se você fizer um esforço sincero de "apenas ficar sentado", poderá realmente ficar insano. A insanidade não acontece mais freqüentemente somente porque as pessoas não tentam realmente com sinceridade. Com uma postura sentada você começa a se dar conta de tanta loucura dentro de si que, se você for sincero e persistir, poderá realmente ficar insano. Isso aconteceu muitas vezes antes; dessa maneira, nunca sugiro algo que possa criar frustração, depressão e tristeza — nada que permita que você fique demasiadamente consciente de sua insanidade. Você pode não estar pronto para estar consciente de toda a insanidade que está dentro de você; você deve ter permissão de conhecer gradualmente certas coisas. O conhecimento nem sempre é bom; ele deve se revelar lentamente, à medida que cresce sua capacidade de absorvê-lo.

Eu começo com sua insanidade, não com a postura sentada; permito sua insanidade. Se você dançar de maneira louca, o oposto acontecerá dentro de você. Com uma dança louca, você começa a ficar consciente de um ponto silencioso dentro de você; com o sentar silencioso, começa a ficar consciente de sua loucura. O oposto sempre é o ponto de consciência. Com o seu dançar louco, caótico, com o choro, com a respiração caótica, permito a sua loucura. Então você começa a ficar consciente de um ponto sutil, de um ponto profundo dentro de você que é silencioso e imóvel, em contraste com a loucura da periferia. Você se sentirá bem-aventurado; em seu centro, há um silêncio interior. Mas, se você estiver apenas sentado, então o interior é a loucura; você está em silêncio por fora, mas louco por dentro.

Se você começar com algo ativo — algo positivo, vivo, com movimento —, isso será melhor. Então começará a sentir uma serenidade interior crescendo. Quanto mais ela crescer, mais será possível para você usar uma postura sentada ou deitada — será mais possível uma meditação silenciosa. Mas então as coisas serão diferentes, totalmente diferentes.

Uma técnica de meditação que começa com movimento, com ação, ajuda-o também de outras maneiras. Ela se torna uma catarse. Quando você está apenas sentado, você fica frustrado, sua mente quer se mover e você esta apenas sentado... Cada músculo se contorce, cada nervo se contorce. Você está tentando forçar algo sobre si mesmo que não lhe é natural; então, você se dividiu em um que está forçando e em outro que está sendo forçado. E, realmente, a parte que está sendo forçada e reprimida é a mais autêntica, é a parte majoritária de sua mente com relação à parte que está reprimindo, e a parte majoritária fatalmente vencerá.

Na verdade, o que você está reprimindo deve ser jogado fora, e não reprimido. Aquilo se tornou um acúmulo dentro de você, pois você constantemente o reprimiu. Toda a criação, a educação, a civilização é repressiva. Você reprimiu muita coisa que poderia ter sido muito facilmente jogada fora com uma educação diferente, com uma educação mais consciente, com pais mais conscientes. Com uma percepção melhor do mecanismo interior da mente, a cultura poderia ter permitido que você jogasse fora muitas coisas.

Por exemplo, quando uma criança está com raiva, dizemos a ela: "Não fique com raiva." Ela começa a reprimir a raiva, e, aos poucos, o que era um acontecimento momentâneo se torna permanente. Agora ela não agirá com raiva, mas permanecerá raivosa. Nós acumulamos muita raiva a partir de algo que era apenas emoções momentâneas; ninguém pode ficar com raiva continuamente, a menos que a raiva tenha sido reprimida. A raiva é uma emoção momentânea que vem e vai; se ela for expressa, você não ficará mais com raiva. Portanto, comigo, eu permitiria que a criança ficasse com raiva mais autenticamente. Fique com raiva, mas mergulhe nela; não a reprima.

É claro, haverá problemas. Se dissermos: "Fique com raiva", você terá raiva de alguém. Mas uma criança pode ser moldada; alguém pode lhe dar uma almofada e lhe dizer: "Fique com raiva da almofada, seja violenta com a almofada". Desde o início a criança pode ser educada de tal maneira que a raiva seja desviada; algum objeto pode ser dado a ela e ela pode bater nele até que a raiva passe. Dentro de minutos, de segundos, a raiva será dissipada e não haverá acúmulo dela.

Você acumulou raiva, sexo, violência, ambição, tudo! Agora esse acúmulo é uma loucura dentro de você. Ele está ali, dentro de você. Se você começar com qualquer meditação repressora — por exemplo, ficando apenas sentado —, estará reprimindo tudo isso e não deixará que nada seja liberado. Portanto, começo com uma catarse. Primeiro, deixe que as repressões sejam jogadas no ar e, quando você puder jogar a raiva no ar, você se tornará maduro.

Se não posso ser amoroso sozinho, se posso ser amoroso somente com alguém a quem eu ame, então, realmente, não sou ainda maduro. Dependo de alguém até mesmo para ser amoroso; alguém tem de estar presente, então posso ser amoroso. Esse amor só pode ser algo muito superficial; ele não é a minha natureza. Se eu estiver sozinho no quarto, não estou amando; portanto, a qualidade amorosa não foi fundo... ela não se tornou parte do meu ser.

Você fica cada vez mais maduro quando fica cada vez menos dependente. Se você puder ficar com raiva sozinho, será mais maduro. Você não precisa de nenhum objeto para ser raivoso. Dessa maneira, torno a catarse uma necessidade no começo, você deve jogar tudo para o céu, para o espaço aberto, sem estar consciente de nenhum objeto.

Seja raivoso sem a pessoa com a qual você gostaria de expressar sua raiva; chore sem encontrar nenhuma causa; ria, apenas ria, sem nada do que rir. Então você pode jogar fora tudo o que foi acumulado — você pode simplesmente jogar tudo fora. E, quando souber a maneira, você se descarregará de todo o passado.

Em poucos momentos você pode se descarregar de toda a sua vida — até mesmo de vidas. Se você estiver disposto a jogar tudo fora, se puder deixar que a sua loucura saia, em poucos momentos haverá uma profunda limpeza. Agora você está limpo, fresco, inocente — de novo uma criança. Agora, em sua inocência, a meditação sentada pode ser feita — apenas ficar sentado, apenas ficar deitado ou qualquer coisa assim — porque agora não há um louco por dentro para perturbar o seu sentar.

O cristianismo pode ser uma prisão um pouco melhor do que o islamismo, mas uma prisão é uma prisão. E, na verdade, uma prisão melhor é muito mais perigosa, pois você poderá começar a se apegar a ela, poderá não querer sair dela, poderá começar a amá-la como se ela fosse o seu lar. Mas essas são todas prisões.

E às vezes as pessoas ficam saturadas de uma prisão e mudam de prisão. O hindu se torna cristão, o cristão se torna hindu... Há agora muitos cristãos tolos que se tornaram Hare Krishna — a mesma burrice, porém mascarada com uma forma nova. Há muitos hindus que se tornaram cristãos, mas persistem as mesmas superstições; não há diferença. Vi hindus que se tornaram cristãos — nenhuma mudança. Vi cristãos que se tornaram hindus — nenhuma mudança. Eles apenas mudaram de prisão.

Sair de todas as prisões é inteligência — e nunca entrar novamente em outra. A inteligência pode ser descoberta por meio da meditação, pois todas essas prisões existem em sua mente. Elas não podem atingir o seu ser, felizmente. Elas não podem poluir o seu ser, mas apenas a sua mente — elas podem somente cobrir a sua mente. Se você puder sair da mente, sairá do cristianismo, do hinduísmo, do jainismo, do budismo, e todos os tipos de lixo terão um fim. Você poderá parar com tudo isso.

E, quando você está fora da mente, observando-a, estando consciente dela, sendo apenas uma testemunha, você é inteligente. Sua inteligência é descoberta; você desfez o que a sociedade lhe fez: destruiu o mal, destruiu a conspiração dos sacerdotes e dos políticos. Você saiu disso e está livre. Na verdade, pela primeira vez você é um ser humano de verdade, um ser humano autêntico. Agora todo o céu é seu.

Osho
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Que bom que você chegou! Junte-se à nós!