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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

11 de abril de 2012

Conhecimento

O conhecimento é um clarão de luz entre duas escuridões; mas o conhecimento não pode ir acima e além daquela escuridão. O conhecimento é essencial para a técnica, como o carvão o é para a locomotiva; mas não pode alcançar o desconhecido. O desconhecido não pode ser apanhado na rede do conhecido. O conhecimento deve ser deixado de lado para que o desconhecido seja; mas como isso é difícil!

Nós temos nossa existência no passado, onde nosso pensamento é baseado. O passado é o conhecido e a resposta do passado está sempre obscurecendo o presente. O futuro é apenas o passado abrindo seu caminho através do presente incerto. Esse vão, esse intervalo, fica cheio da  luz intermitente do conhecimento, cobrindo o vazio do presente; mas esse vazio contém o milagre da vida.

O vício do saber é como qualquer outro vício; ele oferece uma fuga do medo do vazio, da solidão, da frustração, do medo de ser nada. A luz do conhecimento é uma capa delicada sob a qual existe uma escuridão em que a mente não consegue penetrar. A mente tem medo desse desconhecido e assim ela foge para o conhecimento, para as teorias, as esperanças, a imaginação; e esse mesmo conhecimento é um empecilho ao entendimento do desconhecido. Pôr de lado o conhecimento é convidar o medo; rejeitar a mente, que é o único instrumento de percepção que o indivíduo possui, é estar vulnerável ao sofrimento, à alegria. Mas não é fácil pôr de lado o conhecimento. Ser ignorante não é estar livre do conhecimento. A ignorância é a falta de autopercepção; e conhecimento é ignorância quando não há entendimento dos mecanismos do Eu. O entendimento do Eu é a libertação do conhecimento.

Só pode existir libertação do conhecimento quando o processo de coletar, o motivo da acumulação, é entendido. O desejo de armazenar é o desejo de estar seguro, de ter certeza. Esse desejo de certeza pela identificação, pela condenação e pela justificação é a causa do medo, que destrói toda a comunhão. Quando há comunhão, não há necessidade de acumulação. A acumulação é uma resistência autolimitante, e o conhecimento fortalece essa resistência. A veneração do conhecimento é uma forma de idolatria, e isso não dissolve o conflito e o sofrimento em nossas vidas. O disfarce do conhecimento esconde mas não pode nunca nos libertar de nossa confusão e nossa dor, cada vez maiores. Os mecanismos da mente não levam à verdade e à felicidade. Saber é rejeitar o desconhecido.

Krishnamurti
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