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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

26 de junho de 2012

krishnamurti - O que entendemos por transformação?

A transformação não está no futuro, não pode estar no futuro. Ela só pode realizar-se agora, momento por momento. Assim sendo, que entendemos por transformação? Ora, é muito simples: é ver o falso como falso, e o verdadeiro como verdadeiro. Ver a verdade no falso, e ver o falso naquilo que foi aceito como verdade. Ver o falso como falso e o verdadeiro como verdadeiro, é transformação, porque quando se vê uma coisa como verdadeiro, é transformação, porque quando se vê uma coisa claramente, como verdade, esta verdade liberta. Quando se vê que uma coisa é falsa, esta coisa falsa se extingue. Quando se vê que as cerimônias são vãs repetições, quando se percebe a verdade a respeito desta coisa e não se justifica a coisa, há transformação, não há? — porque é mais um grilhão que se desfaz. Quando se vê que a distinção de classes é falsa, gera conflitos, cria miséria, divisão entre os homens, se se percebe a verdade a esse respeito, essa própria verdade liberta. O próprio percebimento dessa verdade é transformação, vocês não acham? Se, rodeados que estamos de tantas coisas falsas, percebemos sua falsidade, momento por momento, haverá transformação. A verdade não é cumulativa. Ela se apresenta momento a momento. O que é cumulativo, o que se acumula, é a memória, e através da memória nunca se achará a verdade, porque a memória acontece ao tempo, ao passado, ao presente e ao futuro. O tempo, que é continuidade, nunca achará aquilo que é eterno. A eternidade não é continuidade. O que tem duração não é eterno. A eternidade se acha no momento. A eternidade está no agora. O Agora não é reflexo do passado, nem continuação do passado através do presente, para o futuro.

A mente desejosa de transformação futura, ou que vê a transformação como um alvo final, nunca achará a verdade, porque a verdade é uma coisa que tem de vir de momento a momento, que tem de ser descoberta sempre de novo; não pode haver descobrimento pela acumulação. Como se pode descobrir o novo, levando-se a carga do velho? Só com o desaparecimento dessa carga, de descobre o novo. Para descobrir o novo, o eterno, no presente, momento por momento, é necessário ter a mente extraordinariamente vigilante, que a mente não esteja em busca de resultado algum, nem ocupada em vir a ser. A mente que está empenhada em vir a ser, jamais conhecerá a felicidade completa do contentamento; não o contentamento da complacência, não o contentamento por um resultado alcançado, mas o contentamento que vem quando a mente percebe a verdade em o que é, e a falsidade em o que é. A percepção dessa verdade é de cada momento, e essa percepção é retardada pela verbalização do momento. 

A transformação não é um fim, um resultado. A transformação não é um resultado. Resultado implica resíduo, uma causa e um efeito. Onde há causalidade, tem de haver efeito, necessariamente. O efeito é simplesmente o resultado do vosso desejo de transformação. Quando vocês desejam serem transformados, estão ainda pensando em termos de vir a ser; quem está empenhado em vir a ser não pode saber o que é ser. A verdade é ser, de momento a momento; e a felicidade que continua, não é felicidade. A felicidade é aquele estado de ser que é atemporal. O estado atemporal só pode vir quando há descontentamento tremendo — não o descontentamento que se canalizou em certa via, por onde se evade, mas o descontentamento que não tem saída, que não tem qualquer via de fuga, que não está em busca de preenchimento. Só então, nesse estado de supremo descontentamento, pode a realidade manifestar-se. Esta realidade não pode ser comprada, ou vendida, ou repetida. Não pode ser colhida nos livros. Ela tem de ser encontrada a cada momento, no sorriso, na lágrima, debaixo da folha morta, nos pensamentos erradios, na plenitude do amor. 

O amor não é diferente da verdade. O amor é aquele estado em que o processo de pensamento, como tempo, se imobilizou completamente. Onde há amor, há transformação. Sem amor, nada significa a revolução, porque a revolução, nesse caso, é simples destruição, decomposição, miséria crescente. Onde há amor, há revolução, porque o amor é transformação, momento por momento.

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