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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

28 de junho de 2012

Observar, sem absorver para absolver o Ser que somos


Observar os movimentos da mente, das emoções, dos sentimentos, de forma totalmente neutra, sem escolher, sem rejeitar, sem querer alterar a qualidade daquilo que se observa; apenas observar de forma passiva, sem se identificar, sem correr para alguma forma de reação com base no arquivo de memórias e conhecimentos. Ficar aqui e agora, só na observação daquilo que se passa... Testemunhar o movimento da mente na ponte do tempo, nessa constante e ininterrupta ação julgadora com base no passado, criando imaginações, conjecturas, quase sempre separatistas, num futuro distante. Verificar o modo como o “eu”, o “ego” tenta de toda forma dispersar a vivência direta do aqui e agora, onde se encontra a possibilidade de contato consciente com o ser que somos; esse ser que é totalmente livre de ansiedades, medos, apegos, ressentimentos, melindres, autoenganos, que é totalmente incapaz de fazer como o “ego”, o qual faz uso de outro ser humano apenas para a satisfação de suas exigências autocentradas, descartando as mesmas, de forma inconsequente, após a conquista de sua satisfação insatisfatória.

Observar como a mente faz uso até daquilo que está sendo observado como forma de instalação de conflito por meio da identificação. Quando olhamos para o passado, o qual teve toda sua estruturação alicerçada num modo de ser totalmente dominado pelo governo do pensamento condicionado, logicamente, erros e enganos serão uma observação constante. Uma mente governada por uma rede de condicionamentos é uma mente que não tem espaço para a manifestação de uma consciência amorosa e, portanto, não tem como saber por experiência direta o que seja amor; tudo o que essa mente busca é pelo auto-interesse, pela busca da segurança, do poder, do prestígio, do reconhecimento social e validação de terceiros e pela satisfação dos nossos instintos naturais, totalmente deturpados pela ação do egoísmo, pela ação da rede dos pensamentos condicionados. Esse tem sido o modo de vida da quase totalidade da raça humana. Observar essa constatação de como vivemos até então, inicialmente, tende a se mostrar algo muito doloroso, algo muito conflitante, uma vez que, o pensamento condicionado, ciente de que, por meio dessa observação pode ter seu império ameaçado, apodera-se do conteúdo dessa observação, absorve-o como material necessário para a continuidade de sua espiral de conflitos separatistas, fragmentadores. A partir disso, lança de forma automática — ou seja, sem que solicitemos por isso — uma poderosa e acelerada avalanche de imagens e falas que, se não houver um estado de "alerta presença", tem o poder de causar a identificação, a qual dissimina toda forma de letargia ou de ansiedade, ambos acompanhados de vários sintomas torturantes. O que se pede aqui, novamente, é a consciente prática de observação de todo movimento do conteúdo mental, emocional, psíquico, sem qualquer tipo de identificação reativa, sem qualquer espécie de fuga; apenas ver, apenas observar, mesmo que difícil e doloroso, apenas observar. A mente vai pular, a mente vai gritar, vai exigir por reação; ela precisa disso, é seu alimento, é sua continuidade; ela é sagaz, sutil, enganadora, com um forte poder de enredamento.

Como até então, a maioria de nós, nunca havia desenvolvido essa capacidade de se entregar para o processo de observação, de forma autônoma, ou seja, sem a necessidade de buscar por doações psicológicas de fora — até mesmo na ideia psicológica de um Deus salvador —, é muito natural que neste momento, a mente insista nesse movimento de recorrer ao “achismo”, à “experiência de terceiros”, ao que diz o “livro do outro”, para ajudá-la na compreensão do conflito por ela mesmo criado. No entanto, aqui é preciso perceber que esse é um dos mecanismos da mente pela qual tenta garantir a continuidade de seu domínio, uma vez que, quase sempre, acaba fazendo uso do que é ouvido, de forma limitada, por parte de outro ser humano, para criar ainda mais conflito, ao conflito já anteriormente instalado. Nesse momento, se faz extremamente necessário fazer frente ao adolescente impulso de recorrer ao livro, ao grupo espiritualista da qual se faz parte, ao psicólogo, ao mentor espiritual — seja lá qual for a atual “droga anestesiante” de nossa escolha, para evitar a dor que se instala diante do processo de observação. Aqui se faz necessário a consciência de que, como diz o músico-poeta, “fugir da dor é fugir da própria cura”; é preciso pagar o preço de se abrir para o desconhecido de nós mesmos, reunir forças para fazer frente a esse processo, o qual a mente, para se defender de sua ação, nos apresentará como sendo um processo que aponta tão somente para uma forma insana de masoquismo. Precisamos ter a consciência de que rotular e justificar é uma de suas “insanas proezas”. No entanto, se analisarmos bem, veremos que, o que podemos chamar de masoquismo é se permitir a continuidade dessa identificação limitante com o “eu”, com o “ego”, com essa “voz incessante dentro de nossa mente”, profundamente castradora e separatista, a qual nos impede o descobrimento daquilo que, nos grupos anônimos, convencionou-se chamar de “aquisição da capacidade de amar”, ou, se preferir, de “contato consciente com Deus”.

Claro que o que se pede aqui não é de forma alguma, uma prática serena; por isso que afirmo ser este momento, o grande estado de prontificação que separa os adultos dos adolescentes psicológicos. Quando nos abrimos para esse estado de prontificação para a observação de todo material do conteúdo mental, emocional, psíquico, começamos a perceber que, por mais dolorido, por mais difícil que seja fazer frente a esse “processo curativo”  — de forma autônoma  —, a dor sentida nesse processo de observação, “também passa” e, quando da passagem da mesma, uma energia até então nunca experimentada, uma presença nunca antes vivenciada, a qual traz consigo um sentimento de maturidade, em nosso interior, bem no centro de nosso plexo cardíaco, — algo parecido com uma chama quente  — se manifesta de forma amorosa e pacificadora, trazendo consigo, o material necessário para a compreensão de nós mesmos e, assim, a possibilidade de "absolvição de nossa real natureza". Para isto, é preciso estar farto de tanto correr, é preciso estar farto de tanto reagir, é preciso estar farto de tanto mendigar por atenção de terceiros; é preciso ter caminhado muito, mesmo que de modo trôpego, pelo imenso deserto do real, para se perceber pronto para a consciência de que, aqui e agora, a atenção precisa ser nossa. Seja lá o que se apresentar, com atenção, observar...

Nessa observação sem escolhas é que, de forma milagrosa, sem o esforço de uma ação externa de nossa parte, vamos aos poucos percebendo a manifestação de um estado de ser, dotado de certa autonomia e autosuficiência psicológica nunca antes imaginada; uma nova capacidade de confiar em nosso poder de percepção, em nossa capacidade de fazer frente a cada desafiante situação. Um "estado de presença" começa a tomar conta do ser que somos; uma nova visão de nós mesmos e do mundo que nos cerca, agora nos brinda com um profundo sentimento de responsabilidade pela manutenção da integridade recentemente agraciada, o que acaba nos dando a capacidade de não mais opinar em questões alheias e de não mais entrar  —  como fazíamos de forma automática e reativa —, num compulsivo e separatista ciclo de controvérsias públicas. Começamos a perceber, sem esforço, o momento emocional, psíquico, daqueles que nos cercam; começamos a perceber como nunca antes, as dores de um mundo totalmente dominado pela separatista e fragmentadora rede de condicionamentos, da qual também por décadas, nos vimos prisioneiros. Uma sensibilidade compassiva  — que nenhuma relação tem com nossa antiga emotividade neurótica  — toma conta de nosso olhar e coração, chamando-nos então, para a responsabilidade de nossa participação através de alguma forma de trabalho evolutivo, onde cada momento — ao contrário da rotina de outrora —, mostra-se como uma enorme possibilidade de gratificante aventura. O sentimento de inveja é substituído pelo sentimento de alegria diante das conquistas de novas "moradas de consciência" por parte de nossos confrades fraternos caminhantes. Deixa de operar em nós, o antigo processo formador de imagens, o qual nos impedia o desfrute de uma verdadeira intimidade, tanto com nós mesmos, com o nosso próximo, como com a natureza na qual somos parte integrante.

Em vista disso, caro confrade desperto, é que lhe lançamos o convite para a ousadia gratificante:

"Observar, sem absorver, para absolver, a realidade do Ser que somos"...

Bem haja excelência no agora que é você!

Um fraterbraço e um chute em suas canelas!
Outsider44 

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