Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de julho de 2012

Música: Regras Sociais - Generus


Regras Sociais
Generus

Estou aqui tentando ver a vida como ela é
Cansado de ouvir sermões eu quero é dar no pé
Entre clichês de uma sociedade toda padrão
Cheia de normas e outras regras isso é ilusão!

Saber como me apresentar
Ir bem vestido se for a algum lugar
Falar só momento certo, na hora certa...

Refrão:

Não agüento mais essas regras sociais
Esse condicionamento de atitudes não morais
Eu tenho a minha escolha, o meu livre arbítrio
Então me deixa em paz eu quero muito mais!

Estou aqui tentando ver a vida como ela é
Cansado de ouvir sermões eu quero é dar no pé
Entre clichês de uma sociedade toda padrão
Sigo seus normas, meu destino escrevo com minhas mãos!

Saber como me apresentar
Ir bem vestido se for a algum lugar
Falar só momento certo, na hora certa...

Refrão:

Não agüento mais essas regras sociais
Esse condicionamento de atitudes não morais
Eu tenho a minha escolha, o meu livre arbítrio
Então me deixa em paz eu quero muito mais!


Eles querem que te moldar, te mudar , lapidar te intimidar.
Eles querem te moldar, te mudar, lapidar te padronizar!

Vibrações Rasta - A Hora da Virada


A Hora da Virada
Vibrações Rasta

Assissanaram nossa cultura
Pelo menos é o que pensam
Fizeram nossa vida mais dura
Os invasores são praga, e não bênção
Trouxeram a imposição, condicionamento
A catequização, um mundo de cimento
A imposição, condicionamento
A catequização, e um mundo de cimento

O explorador já deu muita risada
Agora chegou a hora da virada
Subestimaram nossa inteligência
Somos frutos da resistência!

Saia-se das amarras
Não durma, irmão, fique esperto
Siga com paz e garra
Lute se quiser estar liberto

Assissanaram nossa cultura
Pelo menos é o que pensam
Fizeram nossa vida mais dura
Os invasores são praga, e não bênção
Trouxeram a imposição, condicionamento
A catequização, um mundo de cimento
A imposição, condicionamento
A catequização, e um mundo de cimento

O explorador já deu muita risada
Agora chegou a hora da virada
Subestimaram nossa inteligência
Somos frutos da resistência!

Saia-se das amarras
Não durma, irmão, fique esperto
Siga com paz e garra
Lute se quiser estar liberto

Luz interior

"Assim como há um sol do lado de fora, há um sol dentro também. O Sol exterior nasce e se põe, mas o interior está sempre presente. Ele nunca nasce, nunca se põe - é eterno. Se não conhecermos a luz interior e sua fonte, viveremos na escuridão." 

Osho

Pensamento e Consciência

Todas as coisas estavam se recolhendo em si mesmas. As árvores se fechavam em seu próprio ser; os pássaros dobravam suas asas para meditar sobre as divagações do dia; o rio perdera seu fulgor e as águas não mais dançavam, estavam calmas e reservadas. As montanhas estavam distantes e inacessíveis e o homem se recolhera em sua casa. A noite chegara e havia a tranqüilidade do isolamento. Não existia comunhão; cada coisa havia se fechado, isolado. A flor, o som, a conversa – tudo estava abrigado, invulnerável. Havia risos, mas eram isolados e distantes; a conversa era abafada e vinha do interior. Somente as estrelas estavam convidativas, abertas e comunicativas; mas elas estavam muito distantes.

O pensamento é sempre uma reação externa, ele jamais pode reagir profundamente. O pensamento é sempre o externo; o pensamento é sempre um efeito, e pensar é a conciliação dos efeitos. O pensamento é sempre superficial, embora possa se localizar em diferentes níveis. O pensamento jamais pode penetrar o profundo, o implícito. O pensamento não pode ir além de si mesmo, e cada tentativa de fazer isso produz sua própria frustração.

“O que você quer dizer com pensamento?”
O pensamento é a resposta a qualquer desafio; o pensamento não é ação, execução. O pensamento é uma conseqüência, o resultado de um resultado; é o resultado da memória. Memória é pensamento e pensamento é a verbalização da memória. A memória é experiência. O processo do pensamento é o processo consciente, o oculto assim como o aberto. Todo esse processo de pensamento é a consciência; o desperto e o adormecido, os níveis mais superficiais e os mais profundos são, todos, parte da memória, da experiência. O pensamento não é independente. Não existe pensamento independente; “pensamento independente” é uma contradição em termos. O pensamento, sendo um resultado, opõe-se ou concorda, compara ou se ajusta, censura ou justifica, e portanto ele nunca pode ser livre. Um resultado jamais pode ser livre, ele pode deturpar, manipular, divagar, ir até certa distância, mas não pode se libertar de seu próprio ancoradouro. O pensamento está ancorado na memória e jamais pode ser livre para descobrir a verdade de qualquer problema.

“Você quer dizer que o pensamento não tem valor algum?”
Ele tem valor na conciliação dos efeitos, mas não tem valor em si mesmo como um meio para a ação. Ação é revolução, não conciliação de efeitos. A ação livre de pensamentos, idéias e crenças jamais está dentro de um padrão. Pode haver atividade dentro do padrão e essa atividade pode ser violenta, sangrenta ou o oposto; mas não é ação. O oposto não é ação, é uma continuação modificada da atividade. O oposto ainda está dentro do campo do resultado, e na busca do oposto o pensamento é apanhado na rede de suas próprias reações. A ação não é o resultado do pensamento, ela não tem relação com o pensamento. O pensamento, o resultado, jamais pode criar o novo; o novo é de momento a momento, e o pensamento é sempre o antigo, o passado, o condicionado. Ele tem valor mas não liberdade. Todo valor é limitação, ele tolhe. O pensamento é restringente, pois é valorizado.

“Qual é a relação entre consciência e pensamento?”
Eles não são iguais? Existe alguma diferença entre pensar e estar consciente? O pensamento é uma resposta; e estar consciente não é também uma resposta? Quando a pessoa está consciente daquela cadeira, é uma resposta a um estímulo; e a reação da memória a um desafio não é pensamento? É essa reação que chamamos de experiência. Experienciar é desafio e resposta; e esse experienciar, junto com a nomeação ou registro disso, esse processo total, em níveis diferentes, é consciência, não é? A experiência é o resultado, a conseqüência da experienciação. O resultado recebe um termo; o próprio termo é conclusão, uma das muitas conclusões que constituem a memória. Esse processo de conclusão é consciência. A conclusão, o resultado, é a consciência de si mesmo. O Eu é memória, as muitas conclusões; e o pensamento é a reação da memória. O pensamento é sempre uma conclusão; pensar é concluir, e, portanto, nunca pode ser livre.

O pensamento é sempre o superficial, a conclusão. A consciência é o registro do superficial. O superficial se separa como o externo e o interno, mas essa separação não torna o pensamento menos superficial.

“Mas não existe algo além do pensamento, além do tempo, algo que não seja criado pela mente?”
Ou lhe contaram sobre esse estado, você leu sobre ele ou existe a experienciação dele. A experienciação dele nunca pode ser uma experiência, um resultado; ele não pode ser conjeturado – e se for, será uma lembrança, não uma experienciação. Você pode repetir o que leu ou ouviu, mas a palavra não é a coisa; e a palavra, a própria repetição, impede o estado de experienciação. Aquele estado de experienciação não poderá existir enquanto houver pensamento; o pensamento, o resultado e o efeito jamais podem conhecer o estado de experienciação.

“Então, como o pensamento pode acabar?”
Perceba a verdade que o pensamento, o resultado do conhecido, jamais pode existir no estado de experienciação. A experienciação é sempre o novo; pensar pertence sempre ao velho. Veja a verdade disso e ela lhe trará a libertação – libertação do pensamento. Do resultado. Então haverá aquilo que está além da consciência, que não é dormir nem acordar, que é sem nome: aquilo é.

Krishnamurti - Comentários sobre o viver

30 de julho de 2012

Do respeito à tradição ao amor pela Verdade

Autodefesa

Ele era um homem bem conhecido e estava em posição de prejudicar outros, o que não hesitava em fazer. Era astutamente superficial, desprovido de generosidade, e trabalhava e  benefício próprio. Disse que não gostava muito de discutir os assuntos, mas as circunstâncias o tinham forçado a fazê-lo, e aqui estava ele. Por tudo que disse e deixou de dizer, ficou bastante claro que era muito ambicioso e moldava as pessoas a seu redor; ele era cruel quando valia a pena e amável quando queria algo. Tinha consideração pelos que estavam acima dele, tratava seus iguais com tolerância condescendente e ignorava completamente aqueles que estavam abaixo dele. Não fez mais do que olhar de relance para o motorista que o trouxera. Seu dinheiro o tornara desconfiado e ele tinha poucos amigos. Falava de seus filhos como se fossem brinquedos para diverti-lo, e não suportava ficar sozinho, disse. Alguém o prejudicara e ele não pode retaliar porque a pessoa estava além de seu alcance; dessa forma, estava descontando naqueles que ele podia alcançar. Era incapaz de entender porque estava sendo desnecessariamente brutal porque queria prejudicar aqueles que dizia amar. Enquanto falava, lentamente começou a se descontrair e a se tornar quase simpático. Era a simpatia do momento, cujo calor seria cortado instantaneamente se fosse frustrado ou se algo lhe fosse exigido. Como nada estava sendo pedido, estava livre e temporariamente afetuoso.

O desejo de ferir, de prejudicar os outros, seja por uma palavra, por um gesto ou mais profundamente, é forte na maioria de nós; é comum e assustadoramente prazeroso. O próprio desejo de não ser ferido dá origem ao ferir os outros; prejudicar os outros é uma maneira de se defender. Essa autodefesa adota formas peculiares, dependendo das circunstâncias e tendências. Como é fácil ferir o outro, e quanta bondade é necessária para não ferir! Ferimos outros porque nós mesmos estamos feridos, estamos muito machucados por nossos próprios conflitos e sofrimentos. Quanto mais somos interiormente torturados, maior o impulso de sermos exteriormente violentos. A agitação interior nos impele a buscar proteção externa; e quanto mais a pessoa se defende, maior o ataque sobre os outros.
O que é que defendemos, que protegemos tão cuidadosamente? Certamente, é a idéia de nós mesmos, em qualquer que seja o nível. Se não protegêssemos a idéia, o centro de acumulação,  não haveria o “eu” e o “meu”. Estaríamos assim totalmente sensíveis e vulneráveis aos mecanismos de nosso próprio ser, tanto o consciente quanto o oculto; mas como a maioria não deseja descobrir o processo do “eu”, resistimos a qualquer interferência na idéia de nós mesmos. Esta é inteiramente superficial; mas como a maioria vive na superfície, satisfazemo-nos com  ilusões.

O desejo de fazer mal a outro é um instinto profundo. Nós acumulamos ressentimento, o que proporciona uma vitalidade estranha, um sentimento de ação e vida; o que é acumulado deve ser gasto através de raiva, insulto, depreciação, obstinação e seus opostos. É essa acumulação de ressentimento que necessita de perdão – o que se torna desnecessário se não houver armazenamento da mágoa.

Por que armazenamos lisonjas e insultos, ofensas e carinhos? Sem esse acúmulo de experiências e suas reações nós não somos;  nós somos nada se não temos um nome, um apego, uma crença. É o medo de ser nada que nos compele a acumular; e é esse mesmo medo consciente ou inconsciente que, apesar de nossas atividades acumuladoras, produz nossa desintegração e destruição. Se conseguirmos estar atentos à verdade desse  medo,  então essa verdade é que nos libertará dele, e não nossa determinação intencional de ser livres.

Você é nada. Você pode ter seu nome e título, sua propriedade e conta bancária, ter poder e ser famoso; mas, apesar de todas essas garantias, você é como nada. Você pode estar totalmente inconsciente desse vazio, desse nada, ou pode simplesmente não querer estar cônscio dele; mas ele existe, faça você o que quiser para evitá-lo. Você pode tentar escapar dele de maneiras tortuosas: por meio de violência pessoal ou coletiva, de adoração individual ou coletiva, de conhecimento ou diversão, mas quer você esteja adormecido ou acordado, ele está sempre lá. Você só pode enfrentar sua relação com esse nada e seu medo estando atento às fugas de uma forma desprovida de escolha. Você não está relacionado a ele como uma entidade separada, individual; você não é o observador assistindo a isso; sem você, o pensador, o observador, isso não existe. Você e o nada estão unidos; você e o nada são um fenômeno conjunto, não dois processos separados. Se você, o pensador, estiver com medo disso e for abordá-lo como algo oposto e contra você, então qualquer ação que puder realizar deverá, inevitavelmente, levar à ilusão e a mais conflito e sofrimento. Quando existe a descoberta, a experienciação daquele nada sendo você, aí o medo – que existe apenas quando o pensador está separado de seus pensamentos e assim tenta estabelecer uma relação com eles – afasta-se inteiramente. Somente então é possível que a mente silencie; nessa tranqüilidade, a verdade toma forma.

Krishnamurti – Comentários sobre o viver

27 de julho de 2012

Os maiores crimes contra a humanidade são cometidos por pessoas carreiristas

Os maiores crimes da história humana só são possíveis pelos seres humanos mais comuns. Eles são os carreiristas. Os burocratas. Os cínicos. Eles fazem as tarefas pequenas que fazem dos vastos e complicados sistemas de exploração e morte uma realidade. Eles coletam e leem os dados pessoais coletados por dezenas de milhões de nós pela segurança e estado de vigilância. Eles mantêm as contas da ExxonMobil, BP e Goldman Sachs. Eles constroem ou drones aéreos que nos policiam. Eles trabalham em publicidade corporativa e relações públicas. Eles emitem os formulários. Eles processam os papéis.

Eles negam o vale-refeição para alguns, e os subsídios de desemprego ou assistência médica para os outros. Eles aplicam as leis e os regulamentos. E eles não fazem perguntas. Bom ou Ruim, estas palavras não significam nada para eles. Eles estão além de moralidade. Eles estão lá para fazer a função de sistemas corporativos. Se as companhias de seguros abandonam dezenas de milhões de doentes para sofrer e morrer, que assim seja. Se os bancos e os departamentos de polícia lançam famílias para fora de suas casas, que assim seja. Se as empresas financeiras roubam os cidadãos de suas poupanças, que assim seja. Se o governo fecha escolas e bibliotecas, que assim seja.

Se as crianças são assassinadas por militares no Paquistão ou no Afeganistão, que assim seja. Se os especuladores de commodities elevam o custo de arroz e milho e trigo, para que eles sejem inacessíveis para centenas de milhões de pobres em todo o planeta, que assim seja. Se o Congresso e os tribunais retiram as liberdades civis básicas dos cidadãos, que assim seja. Se a indústria de combustíveis fósseis transforma a terra em um inferno pelos gases de efeito estufa que nos condena a todos, que assim seja. Eles servem ao sistema. O deus do lucro e exploração. A força mais perigosa do mundo industrializado não vem daqueles que exercem credos radicais, seja o radicalismo islâmico ou o fundamentalismo cristão, mas de uma legião de burocratas sem rosto que seguem seu caminho até as camadas corporativas e governamentais.

Eles servem qualquer sistema que atenda a sua quota patética de necessidades. Estes gerentes de sistemas não acreditar em nada. Eles não têm lealdade. Eles são sem raiz. Eles não pensam para além dos seus papéis minúsculos, insignificantes. Eles são cegos e surdos. Eles são, pelo menos quanto as grandes idéias e padrões de civilização humana e da história, totalmente analfabetos. E são cuspidos para fora das universidades aos montes. Advogados. Tecnocratas. Gerentes de Negócios. Gestores financeiros. Especialistas em TI. Consultores. Engenheiros de petróleo. "Os psicólogos positivos." Gestores das comunicações. Cadetes. Representantes de vendas. Os programadores de computador. Homens e mulheres que não conhecem a história, não conhecem idéias. Vivem e pensam em um vácuo intelectual, um mundo de estupidificante minúcia.

Eles são o que TS Eliot chamava de "Os homens ocos", "os homens de pelúcia." "Forma sem forma, sombra sem cor", o poeta escreveu. "Paralisados, sem gesto e movimento." Era dos carreiristas que tornaram possíveis os genocídios, a partir do extermínio dos índios americanos para o abate turco dos armênios ao Holocausto nazista a liquidações adicionais de Stalin. Eles foram os únicos que mantiveram os trens funcionando. Eles preencheram os formulários e presidiram os confiscos de propriedades. Eles racionaram a comida, enquanto as crianças morriam de fome. Eles fabricaram as armas. Eles faziam funcionar as prisões. Eles aplicavam proibições de viagens, confiscavam passaportes, contas bancárias e segregação. Eles cumprem a lei. Eles fizeram seu trabalho. Eles são os “idiotas úteis” que servem ao monstro da ganância  composto pelos banqueiros, industriais e políticos [...]

Carreiristas políticos e militares, apoiados por aproveitadores da guerra, levaram-nos em guerras inúteis, incluindo a Primeira Guerra Mundial, Vietnam, Iraque e Afeganistão. E milhões de pessoas os seguiram. Obrigação. Honra. País. Carnavais de morte. Eles sacrificam todos nós. Descobrimos que os líderes são medíocres só quando é tarde demais.

Aqui você tem a explicação do porquê de nossas elites dirigentes não fazerem nada sobre a mudança climática, se recusando a responder racionalmente a crise econômica e são incapazes de lidar com o colapso da globalização e do império. Estas são circunstâncias que interferem com a própria viabilidade e sustentabilidade do sistema. E os burocratas sabem apenas como servir o sistema. Eles sabem apenas as habilidades gerenciais que foram doutrinados em Universidades. Eles não podem pensar por conta própria. Eles não podem desafiar suposições ou estruturas. Eles não podem intelectualmente ou emocionalmente reconhecer que o sistema pode implodir. Mas nós alegremente ignoramos a realidade junto com eles. A mania de ter sempre um final feliz nos cega. Nós não queremos acreditar no que vemos. É muito deprimente. Assim, todos nós caminhamos juntos numa auto-ilusão coletiva.

Christopher Browning na coleção de ensaios, "O Caminho para o Genocídio", observa que era foram os burocratas "moderados" e "normais", e não os fanáticos, que tornaram possível o Holocausto. Germaine Tillion destacou "a facilidade trágica [durante o Holocausto] na qual pessoas "decentes" poderiam se tornar os executores mais impiedosos sem parecer notar o que estava acontecendo com eles. O romancista russo Vasily Grossman em seu livro "Forever Flowing", observou que "o novo Estado não exigia apóstolos, santos, fanáticos, construtores inspirados, fiéis e discípulos devotos. O novo estado exiga apenas servos-funcionários."

Estes exércitos de burocratas servem a um sistema corporativo que vai literalmente nos matar. Eles são tão frios e desligados como Mengele. Eles realizam tarefas a cada minuto. Eles são dóceis. Compatíveis. Eles obedecem. Eles encontram a sua auto-estima no prestígio e poder da corporação, no estado de suas posições e nas promoções de carreira. Eles asseguram-se da sua própria bondade através de seus atos privados como maridos, esposas, mães e pais. Eles se sentam em conselhos escolares. Eles vão para o Rotary. Eles freqüentam a igreja. É esquizofrenia moral. Eles erguem paredes para criar uma consciência isolada. Eles fazem possíveis as metas letais da ExxonMobil ou Goldman Sachs ou Raytheon ou companhias de seguros. Eles destroem o ecossistema, a economia e por sua vez transformam operários e de mulheres em pobres servos. Eles não sentem nada. Ingenuidade metafísica sempre termina em assassinato. Eles fragmentam o mundo. Pequenos atos de bondade e caridade máscara o mal monstruoso que amparam. E levam o sistema compressor para a frente. As calotas polares derretem. As terras agrícolas se degradam. Os drones carregam a morte do céu. O estado se move inexoravelmente para a frente para nos colocar em cadeias. Os pobres passam fome. As prisões se preenchem. E o carreirista, arrastado para a frente, faz o seu trabalho.

26 de julho de 2012

Filme - Sete Dias em Utopia

Muito mais do que um filme: uma excelente aula de educação psíquica, abordando com maestria o processo dos formatadores condicionamentos do eu à expressão da autenticidade e originalidade do ser que nos faz ser, ou, como nas palavras de Jean-Yves Leloup: dos medos do eu ao mergulho no ser. Imperdível!

Seven Days in Utopia acompanha a história de Luke Chisolm (Lucas Black), um jovem e talentoso jogador de golfe que entra em crise depois de brigar com seu pai, tornando seu primeiro grande campeonato um desastre público. Fugindo das pressões do jogo, ele bate seu carro perto da cidade de Utopia, Texas, e é obrigado a ficar no local, lar do excêntrico fazendeiro Johnny Crawford (Robert Duvall). Com ajuda de Johnny, ele começará a questionar não só suas escolhas do passado, mas sua direção para o futuro, e encontrará o seu verdadeiro amor.
Título Original: Seven Days in Utopia
Direção: Matt Russell
Ano de Lançamento: 2011
Duração: 1 hora e 38 minutos
Gênero: Drama | Esporte
Imdb: http://www.imdb.com/title/tt1699147/
ELENCO:
Robert Bear ... Chuck
Lucas Black ... Luke Chisholm
Dora Madison Burge ... Hannah chisolm
Brady Coleman ... Patron
Kim de Patri ... Golfer
Richard Dillard ... Golfer #1
Robert Duvall ... Johnny Crawford
Jerry Ferrara ... Joe Buckner
Sarah Jayne Jensen ... Maggie Swanson
Melissa Leo ... Lily
Josh Painting ... Duane

24 de julho de 2012

Eckhart Tolle - Sofrimento consciente

Se você tem filhos pequenos, ofereça-lhes toda a ajuda, orientação e proteção que estiver ao seu alcance. Contudo, mais importante ainda é: dê-lhes espaço - espaço para que possam existir. Você os trouxe ao mundo, mas eles não são "seus". A crença "Eu sei o que é melhor para você" pode ser adequada quando as crianças são muito pequenas; porém, à medida que elas crescem, essa ideia vai deixando de ser verdadeira. Quanto mais expectativas você tiver em relação ao rumo que a vida delas deve tomar, mais estará sendo guiado pela sua mente em vez de estar presente para elas. No fim das contas, seus filhos cometerão erros e sentirão algum tipo de sofrimento, assim como acontece com todos os seres humanos. Na realidade, talvez eles estejam equivocados apenas do seu ponto de vista. O que você considera um erro pode ser exatamente aquilo que seus filhos precisam fazer ou sentir. Proporcione o máximo de ajuda e orientação, porém entenda que às vezes você terá que permitir que eles falhem, sobretudo quando estiverem se tornando adultos. Pode ser que às vezes você também tenha que deixá-los sofrer. A dor pode surgir na vida deles de repente ou como uma conseqüência dos seus próprios erros.

Não seria maravilhoso se você pudesse poupá-los de todo tipo de dissabor? Não, não seria. Eles não evoluiriam como seres humanos e permaneceriam superficiais, identificados com a forma exterior das coisas. A dor nos leva mais fundo. O paradoxo é que, apesar de ser causada pela identificação com a forma, ela também corrói essa identificação. Uma grande parte do sofrimento é provocada pelo ego, embora, no fim das contas, ele destrua o ego -mas não até que estejamos sofrendo conscientemente.

A humanidade está destinada a superar o sofrimento, contudo não da maneira como o ego imagina. Um dos seus numerosos pressupostos errôneos, um dos seus muitos pensamentos enganosos é: "Eu não deveria ter que sofrer." Algumas vezes, essa idéia é transferida para alguém próximo a nós: "Meu filho não deveria ter que sofrer." Esse pensamento está na raiz do sofrimento, que tem um propósito nobre: a evolução da consciência e o esgotamento do ego. O homem na cruz é uma imagem arquetípica. Ele é todo homem e toda mulher. Quando resistimos ao sofrimento, o processo se torna lento porque a resistência cria mais ego para ser eliminado. No momento em que o aceitamos, porém, o processo se acelera porque passamos a sofrer de modo consciente. Conseguimos aceitar a dor para nós mesmos ou para outra pessoa, como um filho ou um dos pais. Em meio ao sofrimento consciente existe já a transmutação. O fogo do sofrimento transforma-se na luz da consciência. 

O ego diz: "Eu não deveria ter que sofrer", e esse pensamento aumenta nossa dor. Ele é uma distorção da verdade, que é sempre paradoxal. A verdade é que, antes de sermos capazes de transcender o sofrimento, precisamos aceitá-lo.

21 de julho de 2012

Eckhart Tolle - Quem pensamos que somos

Nosso sentido de quem somos determina o que percebemos como nossas necessidades e o que importa na nossa vida - e o que nos interessa tem o poder de nos irritar e perturbar. Podemos usar isso como um critério para descobrir até que ponto nos conhecemos. O que nos interessa não é o que dizemos nem aquilo em que acreditamos, mas o que nossas ações e reações revelam como importante e sério.

Portanto, talvez queiramos nos fazer a seguinte pergunta: o que me irrita e perturba? Se coisas pequenas têm a capacidade de nos atormentar, então quem pensamos que somos é exatamente isto: pequeno. Essa é nossa crença inconsciente. Quais são as coisas pequenas? No fim das contas, todas as coisas são pequenas porque todas elas são efêmeras.

Podemos até dizer: "Sei que sou um espírito imortal" ou "Estou cansado deste mundo louco. Tudo o que quero é paz" - até o telefone tocar. Más notícias: o mercado de ações caiu, o acordo pode não dar certo, o carro foi roubado, nossa sogra chegou, cancelaram a viagem, o contrato foi rompido, nosso parceiro ou parceira foi embora, alguém exige mais dinheiro, somos responsabilizados por algo. De repente ocorre um ímpeto de raiva, de ansiedade. Uma aspereza brota na nossa voz: "Não aguento mais isto."Acusamos e criticamos, atacamos, defendemos ou nos justificamos, e tudo acontece no piloto automático. Alguma coisa obviamente é muito mais importante agora do que a paz interior que um momento atrás dissemos que era tudo o que desejávamos. E já não somos mais um espírito imortal. O acordo, o dinheiro, o contrato, a perda ou a possibilidade da perda são mais relevantes. Para quem? Para o espírito imortal que dissemos ser? Não, para nosso pequeno eu que busca segurança ou satisfação em coisas que são transitórias e fica ansioso ou irado porque não consegue o que deseja. Bem, pelo menos agora sabemos quem de fato pensamos que somos.

Se a paz é de fato aquilo que desejamos, então devemos escolhê-la. Se ela fosse mais importante para nós do que qualquer outra coisa e se nós nos reconhecêssemos de verdade como um espírito em vez de um pequeno eu, permaneceríamos sem reagir e num absoluto estado de alerta quando confrontados com pessoas ou circunstâncias desafiadoras. Aceitaríamos de imediato a situação e, assim, nos tornaríamos um com ela em vez de nos separarmos dela. Depois, da nossa atenção consciente surgiria uma reação. Quem nós somos (consciência) - e não quem pensamos que somos (um pequeno eu) - estaria reagindo. Isso seria algo poderoso e eficaz e não faria de ninguém nem de uma situação um inimigo.

O mundo sempre se assegura de impedir que nos enganemos por muito tempo sobre quem de fato pensamos que somos nos mostrando o que realmente é importante para nós. A maneira como reagimos a pessoas e situações, sobretudo quando surge um desafio, é o melhor indício de até que ponto nos conhecemos a fundo.

Quanto mais limitada, quanto mais estreitamente egóica é a visão que temos de nós mesmos, mais nos concentramos nas limitações egóicas - na inconsciência - dos outros e reagimos a elas. Os "erros" das pessoas ou o que percebemos como suas falhas se tornam para nós a identidade delas. Isso significa que vemos apenas o ego nos outros e, assim, fortalecemos o ego em nós. Em vez de olharmos "através" do ego deles, olhamos "para" o ego. E quem está fazendo isso? O ego em nós.

As pessoas muito inconscientes sentem o próprio ego por meio do seu reflexo nos outros. Quando compreendemos que aquilo a que reagimos nos outros também está em nós (e algumas vezes apenas em nós), começamos a nos tornar conscientes do nosso próprio ego. Nesse estágio, podemos também compreender que estamos fazendo às pessoas o que pensávamos que elas estavam fazendo a nós. Paramos de nos ver como uma vítima.

Nós não somos o ego. Portanto, quando nos tornamos conscientes do ego em nós, isso não significa que sabemos quem somos - isso quer dizer que sabemos quem não somos. Mas é por meio do conhecimento de quem não somos que o maior obstáculo ao verdadeiro conhecimento de nós mesmos é removido.

Ninguém pode nos dizer quem somos. Seria apenas outro conceito, portanto não nos faria mudar. Quem nós somos não requer crença. Na verdade, toda crença é um obstáculo. Isso não exige nem mesmo nossacompreensão, uma vez que já somos quem somos. No entanto, sem a compreensão, quem nós somos não brilha neste mundo. Permanece na dimensão não manifestada que, é claro, é seu verdadeiro lar. Nós somos então como uma pessoa aparentemente pobre que não sabe que tem uma conta de 100 milhões de reais no banco. Com isso, nossa riqueza permanece um potencial oculto.

Eckhart Tolle - O despertar de uma nova consciência

17 de julho de 2012

O bem-aventurado estado de insatisfação e saturação com o que é

É comum, algumas poucas pessoas que se aproximam de nós, aqui chegarem nos relatando um profundo estado de insatisfação e de saturação total com tudo que se apresenta de conhecido. Segundo nossa vivência, isso é ótimo e ESSENCIAL, chamamos isso de "Ponto X", essa saturação, o fator determinante, o "Fator X" que abre um portal para nosso coração sutil. No início a coisa acontece mesmo pelo mental; é um "verbo", que leva um certo tempo para que o mesmo "vire carne e habite em nós", passando a fazer parte integrada de uma inteligência amorosa e criativa. A chave é a SATURAÇÃO, inclusive com tudo que colhemos na assim chamada "busca espiritual". Quando chegamos neste momento de saturação, nada daquilo que antes nos nutria, nos brinda com frescor ou nutrição. Há um sentimento de ausência, de falta de paz e, o que mais se apresenta é a solidão e o sentimento de não pertencer. Isso é o que convencionamos chamar de "Deserto do Real". Nesse período, é como se ninguém falasse a nossa língua, como bem diz o poeta, parece que ninguém está falando o que queremos escutar e ninguém está escutando o que queremos dizer. Mas, por mais doloroso que esse momento se apresente, o mesmo se faz profundamente essencial para o alcance de um estado de autonomia e autossuficiência psicológica. Os que se deparam com esse doloroso e fecundo período, são aqueles que, de forma arquetípica, já se encontram com mais de 40 anos no deserto do real. Já falamos aqui sobre isso, num áudio que se encontra em nosso blog, cujo título é: "40 anos no deserto — novas moradas de consciência". Se você é um daqueles que se identifica com isto que estamos falando, antes de mais nada, tenha em mente e coração o seguinte: nós lhe compreendemos, pois já vivemos isso e sabemos muito bem o quanto que esse momento é profundamente doloroso. No entanto, saiba você que, por detrás desse período doloroso é que se encontram as sementes de sua integridade emocional psíquica, bem como da descoberta de sua real vocação a qual aponta para um novo sentido e direção existencial, consciencial.
Caro confrade — poeta quase morto ressuscitado para o desfrute da realidade da vida — quando nos abrimos, quando nos prontificamos para uma escuta atenta dessa solidão, dessa insatisfação, para esse necessário processo de desilusão, nos permitimos o movimento interno de "desentulhar", movimento esse que nos prepara para a manifestação de um estado de ser cuja mente é "inocente", não condicionada, não maculada pelos limites do pensamento. Aqui já não há mais espaço para aquela doentia e tão incentivada busca pelo ajustamento ao que é tido como "normal"; isso já não faz o menor sentindo; só há espaço e energia para a entrega a algo que transcenda os limites do conhecido. É natural aqui que, muito daquilo que achávamos ser essencial, se mostrar como cinzas em nossas bocas: relacionamentos, profissões, instituições, tudo parece perder sentido; há uma imperiosa necessidade de algo mais, algo esse que, no mais intimo de nós, sabemos não se encontrar em nenhuma situação externa, nem mesmo, na antiga e tão alimentada idéia de consolo em alguma forma de um deus externo preconcebido segundo a nossa imagem e semelhança. É natural um forte impulso para abrir mão de várias situações externas, como se elas fossem a natureza exata de nossa angústia e insatisfação. No entanto, podemos afirmar que essa é mais uma das armadilhas de nossa mente condicionada. Não estamos querendo afirmar com isso que não existam situações que realmente se mostram prejudiciais e das quais talvez seja necessário nos distanciarmos. No entanto, podemos afirmar que, poucos são aqueles que conseguem perceber o que realmente precisa ser tocado; a mente, com sua sagacidade, disso que precisa ser tocado — que é ela mesma — nos mantém distanciados e inconscientes. Podemos alterar tudo em nossa volta, mas, se permanecemos presos na identificação mental, não há a menor possibilidade de conhecer o que vem a ser um estado de ser, cuja base está numa amorosa inteligência integrada, a qual é capaz de tornar nova todas as coisas, a qual é capaz de trazer um novo olhar em nossa vida de relação. Isso que torna nova todas as coisas é a essência de nossa natureza real, nossa natureza não condicionada, não contaminada pelo campo do pensamento, a qual nos brinda com a manifestação de nosso real local de ação neste espaço tempo, com uma mensagem "impessoal", da qual somos tão somente os mensageiros e não a mensagem, o que podemos também chamar de real vocação.
Caro confrade, esse período de solidão, esse período de insatisfação e descontentamento, o qual é profundamente essencial e evolutivo, funciona como uma espécie de portal que separa os adultos dos adolescentes espirituais. Em nossa adolescência espiritual é que nos permitimos ao ajustamento servil, o qual é motivado pelo medo do abandono e da solidão, pela necessidade de aceitação parental/social, a qual nos impele ao insano comportamento de autoboicote em nome de tentar atender essas inumeráveis e descabidas — quase sempre não atendidas exigências parentais/sociais. Esse período doloroso de desconstrução, aponta para uma nova maneira de ver a tudo, uma nova maneira de estar na vida de relação, nunca se quer imaginada. É natural, nesta faze de transcendência entre a adolescência e a maturidade do espírito humano, vivenciarmos um período de rebeldia — não inteligente — dotada de uma "visão ácida" e, não raro, "muito amarga", onde toda forma de relação se apresenta muito pesada, destituída de um estado de compaixão com o momento psíquico do "outro". Sem dúvida, aqui, é um momento de muita angústia e solidão que, apesar de se mostrar por vezes um tanto terrível, com o passar do tempo, se mostra profundamente fundamental... Funda novas bases para a faculdade do uso do mental de forma consciente e não, como outrora, de forma automaticamente inconsciente e reativa. Quando atravessamos este portal que nos direciona para o contato consciente com o ser que somos, em nossa real natureza, a qual nada tem em comum com essa persona, com essa imagem, com esse feixe de memórias que até então pensávamos ser, se manifesta em nós, tanto uma enorme e profunda compreensão de nós mesmos como do "outro" que pensávamos ser "outro". Portanto, caro confrade, essa capacidade de ficar com a solidão, sem anestesiá-la de nenhuma forma — mesmo com materiais espirituais livrescos ou institucionalizados — se faz PROFUNDAMENTE NEFCESSÁRIA —; é ela que nos prepara para a limpeza de nosso antigo vício de ser psicologicamente influenciados e que, sem a manifestação, de boa vontade à tal limpeza, não há como se instalar em nós um estado de genuína autonomia psíquica, a qual nos brinda com a capacidade de saber o que é a felicidade e a liberdade de estar consigo mesmo, seja em momentos de silêncio e de ócio criativo, seja em momentos de relação social ou de momentos de desfrute com a natureza que nos cerca e da qual, agora, somos parte responsavelmente integrantes. Quando atingimos este portal do ser que somos, um profundo movimento "criativo" começa a se instalar e, desse criativo, o despertar de nossos talentos adormecidos, tão essenciais para a ocorrência de nosso transbordamento vocacional que, em última análise, é o fundamento e o sentido de nossa encarnação neste espaço tempo.
Portanto, à você caro confrade que, por ventura, neste momento se depara com este fecundo período de descontentamento, de insatisfação, de angústia e solidão, o qual chamamos de "ponto de saturação", é com grande alegria que lhe incentivamos: ouse se abrir e abraçar com zelo este fecundo momento de gestação de um novo homem profundamente integrado com a essência de tudo que é. Saiba que, neste período, muito de nós vivenciamos na pele, dores corporais, as quais são bem naturais e que nada tem a ver com o que nossa mente condicionada tende a rotular como sendo somatizações emocionais. Aqui não tem nada de místico ou esotérico, no que lhe dizemos; se não bastasse a nossa própria vivência, saiba que acompanhamos muitas pessoas no mesmo processo, lemos muitas biografias que apontam para o mesmo. Aqui, trata-se de um descondicionamento, uma espécie de realinhamento corporal, um realinhamento de nossa energia vital, a qual vai trabalhando de forma sutil, a dissolução de nossos condicionamentos, sejam estes conscientes ou inconscientes. Se você quiser um exemplo, poderá recorrer a vivência do próprio Jiddu Krishnamurti, que teve essas dores por mais de 40 anos, relatando-as em alguns poucos livros. Não podemos afirmar isso, mas, nossa intuição nos diz que Krishnamurti procurava não falar muito sobre isso, ou mesmo sobre "Deus", para não acrescentar a possibilidade de mais condicionamentos aos seus ouvintes e leitores. No entanto, nunca ocultou isso daqueles que lhe estavam mais próximos. Na maioria dos casos, essa dor começa na região lombar, ciática, depois subindo para a região do pescoço, próximo as costas, bem na base do pescoço. Depois, num estado mais a frente, é comum senti-la próxima a região do omoplata e, mais adiante, não raro, no centro coronário. É comum a mente querer nos distrair com idéias de possíveis e sérios "problemas físicos". Quando essa dor começa a se manifestar nesse ponto coronário, a mesma vem acompanhada de uma espécie de "quentura", muito benfazeja, algo parecido como uma "chama", uma energia de sagrada presença. Krishnamurti, em seu diário escrito por volta de 1961, denominava essa energia de "a coisa" ou então, de "o processo". Esse é um momento em que, pelo constante processo de desidentificação com o antigo estado de mente, a dimensão de nosso "coração sutil" começa a se manifestar. Há uma percepção de que "algo" superior a nossa vontade nos prepara para o alcance de novos "estados de retomada consciencial". Nesses momentos, ficamos em silêncio, prestando atenção no "sopro" que nos habita e no qual somos; nessa percepção, "instala-se" uma "PRESENÇA" que transcende os limites do pensamento. Isso precisa ser uma vivência direta e não apenas mais uma idéia condicionante. Nossa vivência apresenta uma mescla entre fortes dores musculares e essas "invasões de quente presença", onde se dá também, uma "observação sem resistência" com relação a essas dores; por não ter espaço para qualquer forma de resistência, não ocorre a ampliação dessas dores; uma vez que há uma percepção real de que se trata de um necessário processo de "realinhamento energético", o que ocorre é uma total entrega a este fecundo processo consciencial.
Caro confrade, se, por acaso, você estiver vivenciando algo parecido ao que acima relatamos, sugerimos que você procure pelo livro de título, "DIÁRIO DE KRISHNAMURTI", o qual para nós, se mostrou profundamente revelador nesse momento. Portanto, se esse for o seu caso, se essa saturação e essa sensação de solidão estiverem fazendo parte de sua "estruturante desestruturação" das artimanhas do pensamento, a qual vive sempre criando conflitos, lhe sugerimos que você ouse dar as boas vindas à toda manifestação mental emocional, abraçando-a sem qualquer tipo de resistência ou justificação. Para nós, segundo nossa vivencia, de fato, esse é o um momento de parto de um novo estado de consciência; é como um estado fetal. Você pode abortar esse processo através da busca de entretenimento, de distração, ou então, pode dar a devida atenção ao sopro que anima a batida cardíaca desse SER que é você, e que agora se encontra saindo da identificação com os limites da dimensão mental para a infinitas possibilidades quânticas da dimensão sensitiva intuitiva, amorosamente criativa, a qual se manifesta na região sutil do coração, não no coração no sentido "carne, físico", mas num coração sutil de ENERGIA PURA.  De coração e mente aberta é que lhe afirmamos não haver nada de misticismo nisso, mas sim, algo realmente qualitativamente prático. Foi aqui que muitos de nós passamos a compreender — limpos de qualquer ranço de crença religiosa organizada — o porque de vários quadros antigos com a imagem de Jesus aparecendo com um coração pegando fogo, totalmente cercado de espinhos. Você consegue se lembrar de alguma imagem como esta? Aqueles espinhos, são arquétipos da solidão e da insatisfação das quais agora você se ressente; a insatisfação, o deserto... Nesses quadros, a imagem de Jesus sempre apontava para o coração? Você se recorda? Isso é um arquétipo do que agora você vivencia; sua coroa de espinhos criada pelos violentos ataques dos pensamentos mentais já cravou em sua mente; já fez sangrar o que precisava sangrar; agora é momento de renascimento, de ressurreição da consciência que você é, em seu devido lugar, outrora ocupado por uma imagem, por um ego. Caro confrade, você agora vive dores de parto, um parto delicado, que requer cuidados, zelo, silêncio, carinho, colo e, só você é que pode dá-lo. Isso é o que chamamos de momento de "prontificação", ou seja, estar pronto, mental, emocional e fisicamente para o "derrame dessa Inteligência Integrada", a qual se fez presente em vários homens e mulheres, entre eles, Krishnamurti. Isso é o que tentamos relatar em nosso 11º Passo: "Procuramos, através da percepção intensa do momento presente e do contato com a energia de nosso corpo interior sutil, abrir um canal conducente para um acesso consciente com o Não Manifesto, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade."... Percepção intensa do movimento presente, sem qualquer forma de resistência... Sem fugir, sem brigar, sem retalhar, sem comparar, sem justificar... Só observar, em silêncio e em entrega. Se isso ocorre, essa energia calorosa aumenta, consumindo condicionamentos, medos, angústias, ansiedades, isolamento, incapacidade de amar, instalando assim, uma profunda necessidade de entrar em contato com os outros, em querer "VÊ-LOS" pela primeira vez de forma incondicionada, com uma profunda capacidade amorosa de perceber e aceitar o momento psíquico daquele ainda plenamente identificado com a limitante e fragmentadora dimensão mental. Aqui, a vida de relação ganha uma nova dimensão, dimensão esta dotada de possibilidades de qualidade quânticas nunca antes sequer imaginadas. Portanto, PRONTIFICAÇÃO é a palavra; percepção do sopro que lhe habita, retomar seu ritmo no sopro que é você, percepção dessa energia vital bem ai no centro cardíaco, aceitação das dores corporais como parte de um processo de realinhamento energético e de descondicionamento celular.
Caro confrade, outra coisa que se fez muito importante e da qual já íamos esquecendo; sugerimos que você passe a observar seu condicionamento alimentar. Isso se mostrou também fundamental neste processo de retomada da consciência real que somos. Há uma lógica nisso; percebemos que era preciso nos manter o mais ociosamente possível, nos desgastar menos possível, nos dedicar à momentos de repouso observador, diminuir as atividades externas, nos recolhendo o máximo possível, algo como que um retiro sabático e, nesse retiro, tomar a consciência da necessidade de alimentos leves afim de NÃO TER QUE GASTAR MUITA ENERGIA ATRAVÉS DO PROCESO DE DIGESTÃO; passamos a ingerir muita água e nos alimentar com mais frutas e legumes; diminuímos muito a quantidade de carne — não a deixamos de comer — mas percebemos que a mesma demora e exige muito mais ENERGIA VITAL PARA SER PROCESSADA. Percebemos que as frutas e água nos deixavam mais "leves" e com o espaço entre os pensamentos bem mais fluído. Passamos a evitar ao máximo a gordura, não por questão de estética corporal, mas sim, pela consciência de que a mesma embotava as nossas células corporais, requisitando das mesmas, uma maior quantidade de energia vital. Caminhadas passaram a fazer parte do nosso dia e vimos que isso também fazia parte de um processo também feito por Krishnamurti. Um maior centramento e acúmulo de energia vital foi se instalando, uma clareza mental foi se instalando, um estado de presença consciente foi se instalando, uma nova fala foi se instalando, em outras palavras: CONSCIÊNCIA tornando-se consciente de si mesma.
Caro confrade, você está no lugar certo e no momento certo! Só é preciso abrir mão de qualquer forma de resistência, não pelo esforço, mas pela consciência... Não é o eu quem faz as obras, mas o pai — o princípio amoroso inteligente — no qual somos, quem faz a obra. Você nos parece estar num momento muito fecundo; parece ser um "defunto bom!", parece estar no ponto, pronto para morrer antes de morrer! Você parece estar farto para tudo isso que é ilusório e pronto para o conhecimento do REAL. Se é isso que você busca, tão somente o conhecimento da verdade que é você, estamos juntos para trocar figurinhas sem colar. Estamos juntos para trocar experiência quanto a este caminhar por esta terra sem caminho. Sugerimos que, quanto antes possível, busque pelo seu ritmo, pela observação do sopro no qual você é, sentando-se em silêncio contemplativo... Retomar o ritmo, oxigenar a mente e, o mais importante: DESENTULHAR!... Você já tem tudo o que precisa ai com você, nesse agora que é você, então, mãos no colo e coração na massa! Descanse no ser que é você! Pegue-se no colo e encontre ai, aquilo que busca! Você e o mundo merecem isso!
Um fraterabraço e que haja excelência no AGORA QUE É VOCÊ!
Outsider44

14 de julho de 2012

O caminho do Amor


O desejo não é uma coisa que possamos aniquilar, subjulgar ou torcer. Como tenho explicado, por mais vontade que tenhamos de abandonar o desejo, tal nunca será possível, porque o desejo é um processo constante, tanto do consciente como do inconsciente, e ainda que logremos controlar temporariamente o desejo consciente, é dificílimo subjulgar ou controlar o inconsciente. Sinto que de qualquer ação isolada haveria de resultar a confusão e o caos; e parece-me, igualmente, que os mais de nós vivemos ocupados com tais ações. Os entendidos e os especialistas separam a ação é a idéia; isso eles tem feito em diferentes níveis, em diferentes padrões, e nos tem dito como devemos agir. Existem, como sabem, os economistas, os políticos, as pessoas religiosas, etc.; deram-nos eles a ver apenas fragmentos da vida. parece-me que os que sentem ardente interesse em compreender esse processo da ação que não é isolada, fragmentada, ou parcelada, devem precaver-se. Tal só é possível se compreendermos, na sua inteireza, o processo do desejo. Foi disso, ou mais ou menos, que tratamos sábado e domingo passados.
Compreender o desejo não significa condená-lo. Uma vez que os mais de nós estamos condicionados, que temos idéias e opiniões fixas com relação ao desejo, nos é quase impossível seguir o movimento do desejo, sem o condenarmos, sem formar opiniões. Se desejo compreender qualquer coisa, preciso observá-la sem nenhum processo que implique atitude condenatória. Não é isso que devo fazer? Se desejo lhes compreender e se vocês desejam me compreender, não devemos nos julgar, não devemos nos condenar; precisamos estar abertos e receptivos para todo o significado das palavras que cada um d nós profere, para a expressão de nossos rostos; devemos estar completamente receptivos e de espírito aberto. Tal não é possível quando há condenação. É possível haver ação sem idéia? Para a maioria de nós, as idéias vêm primeiramente e a ação depois. As idéias são sempre fragmentárias sempre isoladas; e qualquer ação baseada em idéia há de ser fragmentária, isolada. É possível haver ação que não seja fragmentária, ação total, integral? Parece-me que tal ação é a nossa única redenção possível. Todas as outras ações hão de fatalmente deixar confusão e mais conflito. Como então encontrar a ação que não esteja baseada em idéia?
Que se entende por idéia? A idéia, por certo, é o processo do pensamento. Não é verdade? A idéia é um processo de mentalização, um processo de pensamento; e pensar é sempre uma reação, quer do consciente, quer do inconsciente. Pensar é um processo de verbalização, o qual é resultado da memória; pensar é um processo de tempo. Assim, quando a ação se baseia no processo do pensar, tal ação, inevitavelmente, será condicionada, isolada. Idéia tem de opor-se à idéia, idéia tem de ser dominada por idéia. Há sempre um vazio entre a ação e a idéia. O que estamos tentando averiguar é se é possível a ação existir sem idéia. Vemos como a idéia separa as pessoas. Como já tive ocasião de explicar, o saber e a crença são, essencialmente, qualidades separativas. As crenças nunca unem as pessoas; sempre separam as pessoas; quando a ação está baseada em crença, ou idéia, ou em ideal, tal ação não pode deixar de ser isolada, fragmentária. Será possível agir sem o processo do pensamento, — sendo o pensamento um processo de tempo, um processo de cálculo, um processo de autoproteção, um processo de crença, negação, condenação, justificação? certamente, já deve  ter ocorrido á vocês pensar, como a mim tem ocorrido, sobre se é possível a ação sem idéia. percebo, tão bem como vocês, que quando tenho uma idéia e baseio minha ação nessa idéia, ela cria necessariamente oposição; idéia tem de enfrentar idéia e há de criar, inevitavelmente, repressão, oposição. Não sei se estou me fazendo claro. Se forem capaz de compreendê-lo, não com a mente nem com o sentimento, no íntimo, creio que teremos transcendido todas as nossas dificuldades. Nossas dificuldades se referem a idéias, e não à ação. Não é o que devemos fazer — pois isso é mera idéia — que é importante, mas sim o agir. Será possível a ação sem o processo de cálculo, que é resultado da autoproteção, da memória, das relações pessoais, individuais, coletivas, etc.? Afirmo que é possível. Vocês podem experimentá-lo aqui. Se pudermos acompanhar, sem condenação, todo o processo do desejo, verão então que é inevitável a ação sem idéia. Isso, sem dúvida, requer uma extraordinária vigilância por parte da mente; pois todo o nosso condicionamento leva-nos a condenar, a justificar, classificar em categorias — sendo tudo isso um processo de cálculo, de mentalização. Para a maioria de nós, a idéia e a ação são duas coisas diferentes. Há primeiro a idéia, a ação vem depois. Nossa dificuldade consiste em unir a ação à idéia. Consideremos a questão de maneira diferente.
Sabemos que a avidez, sob qualquer forma, é sempre destrutiva. A inveja conduz à ambição — política, religiosa, coletiva, ou individual. Qualquer espécie de ambição, se lhe prestamos atenção, é limitada e destrutiva. Todos nós sabemos disso; não precisamos que nos digam; não precisamos pensar muito a respeito. A ambição produz a inveja. A ambição é resultado do desejo de poder e de posição, de progresso individual, político e religioso — politicamente em nome de uma idéia do futuro ou do presente, e espiritualmente em nome de algo igualmente bom ou igualmente mau. Conhecemos bem estas ambições — ser alguém, dominar pessoas em nome da paz, em nome do Mestre, em nome do que só Deus sabe. Onde há ambição deve haver exploração, homem contra homem, nação contra nação; e as próprias pessoas que bradam "paz" são justamente as que estão fazendo coisas altamente destrutivas, talvez para si mesmas, e para suas nações ou para sua idéia. Esses indivíduos não trazem a paz. Falam muito de paz, mas não têm a paz no coração. Tais pessoas, obviamente, não podem trazer ao mundo a paz ou a felicidade; só hão de trazer luta, discórdia, e guerra.
A ambição e o resultado da cupidez, da inveja, do desejo de poder. Toda ela está baseada numa idéia. Não é assim? A idéia nada mais é do que reação. Ela o é, neurologicamente, psicologicamente, ou fisicamente. A ambição é uma idéia de ser algo, politicamente, religiosamente; "quero tornar-me uma pessoa importante e quero trabalhar para o futuro". Que reflete isso? Conhecemos também a ambição política, em nome da pátria, etc. Tudo isto está baseado numa idéia. E uma idéia, um conceito, uma formulação daquilo que eu serei ou do que será o meu partido. Tendo estabelecido a idéia, levo então avante a idéia na ação. Em primeiro lugar, moralmente, uma pessoa ambiciosa é imoral. É um fator de discórdia; e, entretanto, todos nós estimulamos a ambição. Que mais podemos fazer? Arriscamo-nos a nada realizar. Considerando-a bem, verão que a ambição é uma idéia, o cultivo de uma idéia em ação; "vou ser alguma coisa" — o que implica exploração, crueldade, horrenda brutalidade, etc. Afinal de contas, o "eu" é uma idéia que não tem realidade. É um processo de tempo. É um processo de memória, reconhecimento, e tudo isso, na essência, não passa de idéias.
Pode a ambição ser abandonada completamente, quando percebo que a ação, se baseada numa idéia, há de, no fim, gerar ódio, inveja? Posso abandonar a ambição completamente, e, por conseguinte, agir sem o processo da idéia? Vou expressá-lo de maneira mais simples. Se somos ambiciosos, é possível abandonarmos por completo a ambição, politicamente, religiosamente? Só então sou um centro de paz. Mas não é fácil abandonar de todo a ambição, com tudo o que ela significa — confusão, brutalidade — e com tudo o que decorre do desejo de poder e de condenação. Só posso abandoná-la completamente quando não mais cultivo a idéia que é o "eu"; não há então mais problema algum sobre como não devo ser ambicioso, como livrar-me da ambição. Não é este o nosso problema. Somos todos gananciosos, todos invejosos; vocês tem mais e eu tenho menos; tem mais poder e eu quero ter esse poder, espiritual ou secularmente. Porque estou nas malhas da ambição, meu problema é como libertar-me dela, como abandoná-la. Introduzimos, assim, o problema do "como"? Isso é apenas um adiamento da ação. Se percebo que a ação baseada em idéia ocasiona adiamento, percebo então a necessidade da ação sem ideação. Não sei se estou me fazendo claro. A ambição não é destrutiva? As nações ambiciosas, os indivíduos que andam à cata do poder, ou as pessoas imensamente convencidas de sua própria importância, constituem verdadeiros perigos; vocês sabem quantos males causam a si próprios e aos que os rodeiam. Como nos livrar dessas coisas, não superficialmente, mas profundamente, tanto no consciente como no inconsciente?
A idéia levada à ação produz ação negativa. A ação não baseada em idéia será imediata, não amanhã. Se sou capaz de perceber sem ideação toda a brutalidade, todo o significado da ambição, há ação imediata. Já não interessa mais saber como não devo ser ambicioso. Se desejamos ação que não seja separada, que não seja fragmentária, que não seja isolada, precisamos pensar bem nesta questão. Vocês não tem visto homem contra homem, nação contra nação, uma seita contra outra, um grupo comunal contra outro, um dogma contra outro, um Mestre contra outro? Conhecem toda gama de brutalidade. Depois de conhecida, de percebida como um fato, pode a ambição ser abandonada? Estamos conscientes de que há dominação espiritual, econômica e política; e temos notado os seus resultados — que são constantes guerras, fome, fragmentação do homem, etc. Sabemos que qualquer ação, sem compreensão do processo integral da ideação e do curso das idéias, só há de gerar mais antagonismo.
Assim, um homem que seja sincero, que seja realmente pacífico, não apenas politicamente pacífico, não pode contaminar esse problema por meio da idéia; porque idéia é adiamento, idéia é coisa fragmentária, e não inteligência integrada. O pensamento há de ser sempre limitado pelo pensador, que é condicionado; o pensador é sempre condicionado e nunca livre; se ocorre pensamento, imediatamente ocorre idéia. A idéia, visando à ação, criará infalivelmente mais confusão. Sabendo tudo isso, é possível agir sem idéia? É pelo caminho do amor. A amor não é idéia; não é sensação; não é memória; não é sentimento de procrastinação, recurso de autoproteção.  Só conhecemos o caminho do amor, quando compreendemos todo o processo da idéia. Pois bem; é possível abandonar os outros caminhos e seguir o caminho do amor, que é a única redenção possível? nenhum outro caminho, político ou religioso, nos levará a solução do problema. Isso não é uma teoria sobre a qual devem refletir e que devem adotar na vida; tem de ser uma realidade; e só pode ser uma realidade ao perceberem e compreenderem que a ambição é destrutiva e que, por conseguinte, deve ser afastada de nós.
Nunca experimentamos aquele caminho do amor. Temos experimentado todos os outros caminhos. Não se deixem embalar pela palavra amor. O amor não é processo de pensamento. A reação imediata de você é "que é amor?" — "Posso conhecê-lo?" — "Como viver de acordo com ele?" — "Qual é o caminho do amor que existe separado do processo de pensamento e da idéia?" Quando vocês amam, há idéia? Não aceitem isso que estou dizendo; olhem, examinem, penetrem profundamente; porque já experimentamos todos os outros caminhos e não encontramos solução para o sofrimento. Os políticos poderão prometê-la; as chamadas organizações religiosas poderão prometer a felicidade futura; mas nós não a temos agora, e o futuro é relativamente sem importância quando tenho fome. Já experimentamos todos os outros caminhos; e só conheceremos o caminho do amor se conhecermos o caminho da idéia e abandonarmos a idéia, o que significa agir. Poderá parecer absurdo ou insensato à maioria de vocês ouvir dizer  que a ação pode existir sem a idéia; mas se o penetrardes um pouco mais profundamente, em vez de o afastarem para o lado, dizendo-o insensato, se o penetrarem profundamente, com toda a seriedade, constatarão que a idéia nunca pode tomar o lugar da ação. A ação é sempre imediata. Veem algo, como a ambição ou a ganância; não há nenhum "como": como livrar-me? É possível? — Pensem bem nesta questão. Podemos discutir a respeito. Constatarão que o amor é o único remédio, que ele é a nossa redenção, em que é possível o homem viver em paz com o homem, com felicidade, sem exploração, sem dominação, sem que uma pessoa se torne mais importante e superior, por obra da ambição, da astúcia. Não conhecemos aquele caminho. Ponhamo-nos bem conscientes de tudo isso, Ao reconhecermos plenamente o significado da ação baseada em idéia, esse próprio reconhecimento é agir e afastar-se dela  — eis o caminho do amor. 

Krishnamurti - 12 de janeiro de 1952 - Quando o pensamento cessa    

O despertar da "Inteligência Integrada"

Há muitos que afirmam que a disciplina é necessária, senão todo sistema social, econômico e político, deixaria de existir; que para se fazer isto ou aquilo, para se conhecer a Deus, necessita-se disciplina. É necessário seguir determinada disciplina, porque sem disciplina não se pode controlar a mente, sem disciplina nos excedemos.
Eu, porém, desejo conhecer a verdade contida na questão e não o que Sankara, Buda, Patanjali, ou outro qualquer disse. Desejo saber qual é a verdade a esse respeito. Não desejo depender de nenhuma autoridade, para descobrir. Eu imporia disciplina a uma criança? Disciplino uma criança quando não tenho tempo, quando estou impaciente, irado, quando quero obrigá-la a fazer alguma coisa. Mas se ajudo a criança a compreender o problema de porque a criança está procedendo de tal ou tal maneira, então, de certo, a disciplina é desnecessária. O que é necessário é despertar a inteligência, não acham? Se for despertada em mim a inteligência, então, evidentemente, não praticarei certas coisas. Visto que não sabemos a maneira de despertar essa inteligência, construímos muralhas de controle, resistência, a que chamamos disciplina. A disciplina, pois, nada tem em comum com a inteligência: ao contrário, destrói a inteligência. Como devo então despertar a inteligência? Se compreendo que determinada maneira de pensar — pensar, por exemplo, em termos de nacionalismo — é um processo errôneo, se percebo toda a sua significação, o isolamento, o sentimento de identificação com uma coisa maior, etc., se percebo toda significação do desejo, da atividade da mente, se verdadeiramente lhe compreendo e percebo o conteúdo, se minha inteligência desperta para essa compreensão, então, o desejo desaparece; não preciso dizer "este é um desejo perverso". Isso requer vigilância, atenção, exame, não acham? E porque não somos capazes de tal, dizemos que precisamos de disciplina, maneira muito infantil de se pensar num problema tão complexo. os próprios sistemas educativos estão abandonando a idéia de disciplina. Estão procurando investigar a psicologia da criança e a razão por que ela procede de tal ou tal maneira; estão-na observando, ajudando-a.
Considerem agora o processo da disciplina. Em que ele consiste? A disciplina, sem dúvida, é um processo de compulsão, de repressão, não é certo? Desejo fazer uma determinada coisa e digo: "tenho de fazê-la, porque desejo alcançar tal estado", ou "essa coisa é má". Compreendo alguma coisa quando a condeno? E quando condeno uma coisa, observo-a, examino-a? Eu não a vi. Só a mente indolente se põe a disciplinar, sem compreender a significação que isso tem; e estou convencido de que todos os preceitos religiosos foram estabelecidos para os indolentes. É tão mais fácil seguir do que investigar, inquirir, compreender. Quanto mais disciplinada uma pessoa, tanto menos aberto o seu coração. Vocês sabem todas estas coisas, senhores? Como pode um coração vazio compreender algo que não está sob a influência da mente?
O problema da disciplina, com efeito, é muito complexo. Os partidos políticos se servem da disciplina como meio de alcançar um determinado resultado, como meio de fazer o indivíduo se ajustar ao padrão ideal de uma sociedade futura, pela qual estamos plenamente dispostos a nos deixar escravizar, porque ela promete algo maravilhoso. Assim, a mente que está em busca de recompensa, de um objetivo, obriga-se a ajustar-se a esse objetivo, que é sempre projeção de uma mente mais engenhosa, uma mente superior, uma mente mais astuciosa. A mente disciplinada nunca é capaz de compreender o que significa "estar em paz". Como pode a mente que está cercada de regras e restrições enxergar qualquer coisa que está além?
Se examinarem esse processo de disciplina, verão que o desejo é que o sustenta, o desejo de ser forte, o desejo de alcançar um resultado, o desejo de tornar-se algo, o desejo de ser poderoso, de se tornar "mais" e não "menos". Esse impulso do desejo está sempre ativo, impelindo ao conformismo, à disciplina, à repressão, ao isolamento. Vocês podem reprimir, podem disciplinar. Mas o consciente não pode controlar e moldar a mente consciente. Se procuram moldar a mente consciente de vocês, isso é o que se chama disciplina. Não é verdade? Quanto mais reprimem, quanto mais amordaçam a mente, tanto mais se revolta o inconsciente, e no fim a mente ou se torna neurótica ou extravagante.
Por conseguinte, o que tem importância, nesta questão, não é seu eu condeno a disciplina ou se vocês a aprovam; vejamos como se desperta a inteligência integral, não a inteligência dividida em compartimentos, mas a inteligência "integrada", a qual traz a sua compreensão própria e evita, por conseguinte, certas coisas, naturalmente, automaticamente, livremente. A inteligência é que guiará, e não a disciplina. Senhor, esta é uma questão realmente importantíssima e muito complexa. Se de verdade desejamos investiga-la, se observamos a nós mesmos e compreendermos todo o processo de disciplina, veremos que não somos verdadeiramente disciplinados, em absoluto. Você são disciplinados, em suas vidas? Ou estão apenas reprimindo as suas ansiedades, resistindo às várias formas de tentação? Se vocês resistem por meio da disciplina, aquelas tentações e ânsias continuarão a existir. Não ficam elas profundamente ocultas, aguardando apenas uma brecha por onde saírem impetuosamente? Vocês não tem notado como, à medida que vão ficando mais velhos, voltam a se manifestar os sentimentos outrora reprimidos? Vocês não podem usar de artifícios com o inconsciente de vocês; ele lhes dará o troco multiplicado por mil.
Posso lhes assegurar que a disciplina não lhes levará a parte alguma; pelo contrário, ela é um processo cego, privado de inteligência e de pensamento. Mas despertar a inteligência constitui um problema totalmente diferente. Não se pode cultivar a inteligência. A inteligência, uma vez desperta, traz consigo sua própria maneira de operar; ela regula a sua própria vida, observa várias formas de tentações, inclinações, reações, e as investiga; compreende, não superficialmente, porém, de maneira integral, completa. Para tal, precisa a mente estar sempre atenta, sempre vigilante. Não é verdade? Certo, para a mente que deseja compreender, as restrições por ela própria impostas a si mesma são de pouquíssima valia. Para compreender, é necessário liberdade; essa liberdade não vem por meio da compulsão de espécie alguma; e a liberdade não está no fim, e sim no começo. Nosso problema é o despertar a inteligência "integrada", e isso só pode realizar-se quando somos capazes de compreender o todo.
este complexo problema do desejo expressa-se por meio da disciplina, do conformismo, da repressão, da crença, do saber. Logo que percebermos a vasta estrutura do desejo, começaremos a compreendê-lo. A mente começará então a ver-se a si mesma e a ser capaz de receber algo que não é projeção dela própria.
Krishnamurti - 06 de janeiro de 1952 - Quando o pensamento cessa.   
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