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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

2 de julho de 2012

O doloroso e cirúrgico processo de desenlouquecimento


A mente vive em constante viagem na ponte do tempo psicológico, ora em lembranças de memórias eufóricas ou depressivas, ora conjecturando situações de prazer, dor, discórdias infundadas e conflito humano; nesse movimento, a mente rouba-nos a possibilidade da vivência do Agora e, consequentemente, a possibilidade do desfrute da realidade que somos. Essas memórias, conjecturas e projeções nos chegam sorrateiramente, sem a nossa participação ativa, onde, se não há um estado de “presença atenta”, a ocorrência da identificação com a mesma pode potencializar um estado de materialização de suas sugestões e influências, com suas respectivas reações insanas causadoras de enormes fontes de conflitos — por meio dos quais, a mente consegue o alimento necessário para a continuidade de seu domínio, o qual impede a manifestação de um estado de Real Consciência Amorosa. Outra tendência da mente é criar o medo que produz o retrocesso, que produz a trave de tropeço para o alcance de outras moradas de consciência, medo esse criado pela ideia de que a busca, e tudo que foi visto até o presente momento, não passe de loucura, de algo que fará com que acabemos loucos, ou cometendo alguma espécie de loucura. Aqui, é preciso estar muito atento a esse movimento da mente, movimento esse, profundamente entorpecedor, um verdadeiro canto de sereias.

De fato, não é nada fácil se abrir de forma madura para profundos níveis daquilo que convencionei chamar de “ego-conhecimento” — o que difere bastante da ideia corrente de “auto-conhecimento”. Este momento de inventariar as situações passadas, aponta-nos para o conhecimento do modo como tivemos nossa vida, até então, totalmente inconscientemente identificada com o domínio do ego e suas exigências descabidas, tanto de nós mesmos, como com os demais seres humanos com quem “pensávamos” nos relacionar. Afirmo que “pensávamos” nos relacionar, porque, de fato, nunca houve um real relacionamento; o que havia era um jogo de interesses velados entre duas — ou mais — imagens. É muito natural que assim tenha sempre ocorrido, uma vez que, em nossa sociedade, não somos incentivados a buscar pela verdade, pela autenticidade, pela originalidade, mas sim, para alimentar uma “imagem social”, para alimentar uma “persona” com ares de responsabilidade, a fim de ficarmos, como no dito popular, sempre “bem na foto”. Esse tem sido o modo como por anos e décadas nos “contatamos” com os demais que nos cercam: apresentando sempre uma bela imagem, mas nunca, como nos disse um dia, um querido e distante confrade, com a disposição para a prática de uma honestidade emocional, capaz de “revelar o nosso negativo”. Somente o lado A era apresentado, nunca o nosso lado B e, dessa forma, sempre nos mantivemos em contatos fragmentados, em contatos pela metade, onde, de modo algum, havia a possibilidade da ocorrência de uma autêntica intimidade, esta regida pelas qualidades genuína do Amor, as quais nada tem a ver com a antiga imagem que trazíamos do amor: posse, controle, apego e extensão parental, dependência emocional/física/sexual, medo de abandono e solidão. Não é nada fácil assumir no mais fundo de nosso ser, que, no que diz respeito ao genuíno Amor, Dele nada sabemos e, portanto, a maioria de nossas escolhas e ações — senão todas — fizeram-se fundamentadas, tão somente, nas enferrujadas e pesadas algemas do auto-interesse. Para se olhar isso de frente, sem qualquer tipo de justificativa, há que se ter alcançado aquele estado de “deserto existencial”, onde, meias-verdades, já não apresentam as necessárias condições para saciar nossa profunda “Sede de Vida em Plenitude”. No entanto, aqui, para aqueles homens e mulheres de mente aberta e boa-vontade, outra opção não se mostra possível, a não ser se abrir para a ação cortante e curadora do bisturi da Verdade. Nestes momentos, a prática da observação do movimento da mente em meio de recolhimento em quietude inativa, do silêncio, do centramento no sopro que nos habita e no qual somos, se fez uma importante ferramenta de equilíbrio, o qual passamos a perceber que não se emanava de nosso mente, mas sim, das profundezas de nosso centro cardíaco. A prática do contato consciente com a consciência que somos — em todas as nossas atividades —, passou a ser como que uma “hemodiálise do espírito”, através da qual, encontramos uma desconhecida energia em nosso sangue, com a qual conseguimos fazer frente ao doloroso processo pelo qual “antigos véus de ilusão”, momento a momento, passaram a ser de nós arrancados.   

Se abrir para um profundo e minucioso inventário no tocante ao nosso modo de estar na vida de relação, quase sempre se mostra profundamente doloroso, uma vez que não é nada fácil se deparar com as facetas do ego que “acreditávamos ser”, se deparar com seus auto-enganos, suas negociatas e autointeresses inconfessáveis, bem como com seus respectivos comportamentos insanos, os quais sempre tentávamos manter afastados da consciência dos demais —  bem como da nossa — a custa de uma enorme perda de energia vital. Quando nos abrimos para esta salutar prática que aponta para um “processo esvaziamento curativo”, a mente contra-ataca, sempre de forma feroz, feito inimigo acuado em suas trincheiras, atacando com sua pesada artilharia de profundas ansiedades, medos e culpas e infinidades de reações escapistas.

De fato, não é nada fácil fazer frente a esta “observação passiva”, pois, em certos momentos, a sensação que nos chega é a de que estamos num processo de “enlouquecimento”, quando, na realidade, estamos nos prontificando para a ação de um “doloroso e cirúrgico processo de desenlouquecimento”, uma vez que, aquilo que seria loucura, seria dar continuidade a manutenção de um modo de ser totalmente baseado na sustentação de uma desgastada e solitária imagem, a qual sufocou por décadas, a possibilidade da potencialização das sementes de nossa integridade, a qual tem por seus frutos, a instalação da consciência de “nossa real natureza”, esta, totalmente livre da antiga e nefasta influência egóica. Para aqueles de nós que aqui chegaram, já não havia mais espaço para a ilusão de que, o por nós tão buscado “estado de unidade interna e bem-estar comum” poderia ser conseguido por meio da manutenção de uma recheda conta bancária, uma vida familiar dotada de respeitabilidade social, o poder e o prestígio ou a satisfação de nossos instintos degenerados pela ação da rede do pensamento condicionado; no mais fundo de nós — naquela região que não pode ser maculada pela ação do pensamento —, sentíamos que, nossa única possibilidade sanidade, estava naquilo descrito por tantos místicos, poetas e santos: uma experiência direta da realidade que somos, não num futuro distante, mas neste eterno aqui e agora. Em vista desta conscientização é que, de bom grado, nos abrimos para o conhecimento da verdade e para a manifestação daquilo que por ela nos era apontado.

Agora pela manhã, as dores que até ontem se apresentavam na região escapular direita, ampliaram-se de modo quase que insuportável, estendo seu raio de ação até o antebraço, o peitoral e a base do pescoço (todos do lado direto). No entanto, apesar da dor, há uma profunda percepção de que a mesma cumpre seu devido papel naquilo que convencionamos chamar de “processo de realinhamento energético”, visto que esta dor tem percorrido várias regiões do corpo, sendo que na maioria dos casos observados, a mesma teve seu início na região lombar, ciática.    
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