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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

17 de julho de 2013

Sobre a dificuldade de conservar a inocência

Pergunta: Quando amo alguém e essa pessoa se irrita, por que é tão intensa sua cólera?

Krishnamurti: Em primeiro lugar, você ama alguém? Sabe o que é amar? É dar, completamente, sua mente, seu coração, todo o seu ser, sem pedir retribuição, sem estender a mão para pedir amor. Compreende? Quando existe essa espécie de amor, pode haver cólera? E por que nos encolerizamos ao amarmos alguém com isso que ordinariamente chamamos “amor”? É porque não estamos obtendo o que esperamos da pessoa, não é verdade? Amo minha esposa ou marido, meu filho ou filha, mas, no momento em que fazem algo “errado”, me encolerizo. Por que?

Por que se zanga o pai com o filho ou a filha? Por que quer que o filho seja ou faça alguma coisa, que se ajuste a um certo padrão, e o filho se rebela. Os pais procuram se preencher, se imortalizar em seus bens materiais, em seus filhos, e, quando o filho faz algo que desaprovam, se irritam violentamente. Têm um ideal do que o filho deve ser, e com esse ideal estão preenchendo a si próprios; por isso, se zangam quando o filho não se adapta ao padrão que representa o próprio preenchimento deles. Você já notou quando se zanga, às vezes, com um dos seus amigos? É o mesmo processo que se está verificando. Você está esperando alguma coisa dele e, quando essa expectativa não se preenche, você se sente desapontado; e isso, com efeito, significa que, interiormente, psicologicamente, está dependendo dessa pessoa. Assim, sempre que há dependência psicológica, tem de haver frustração; e a frustração, inevitavelmente, gera cólera, azedume, ciúme, e várias outras formas de conflito. Por isso é muito importante, enquanto ainda é jovem, amar com todo o seu ser — uma árvore, um animal, seu mestre, seu pai — por que então você pode descobrir por si mesmo o que é viver sem conflito, sem medo.

Mas, veja, o educador, em geral, está interessado em si mesmo, em seus problemas pessoais — domésticos, econômicos, profissionais. Não tem amor no coração, e esse é um dos problemas da educação. Você talvez tenha amor no coração, porque amar é coisa natural dos jovens; mas esse amor é depressa destruído pelos pais, pelo educador, pelo ambiente social. Conservar essa inocência, esse amor que é o perfume da vida, é dificílimo, requer muita inteligência, claro discernimento.

Krishnamurti — A Cultura e o problema humano

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