Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

18 de julho de 2013

Sobre a superação do hábito de fumar

Pergunta: Você disse que quando vemos uma coisa como falsa, essa coisa falsa cai por si. Eu vejo todos os dias que o hábito de fumar é “falso”; entretanto, ele ainda não caiu por si.

Krishnamurti: Você já observou os adultos quando fumam — seus pais, seus mestres, seu vizinho ou outros? Isso se tornou um hábito para eles, não é exato? Prosseguem fumando, dia após dia, ano após ano, pois se tornaram escravos desse hábito. Muitos, compreendendo o quanto é estúpido ser escravo de alguma coisa, lutam contra o hábito, disciplinam-se contra ele, procuram por todos os meios para se libertarem dele. Mas, veja, o hábito é uma coisa morta, uma ação que se tornou mecânica e que, quanto mais a combatemos, tanto mais forte se torna. Mas se a pessoa que fuma se tornar consciente de seu hábito, estiver consciente de quando leva a mão ao bolso, retira um cigarro, “bate-o”, coloca-o na boca, acende-o e tira a primeira “fumaça” — se, cada vez que percorrer essa rotina, observá-la sem condenação, sem dizer como é terrível fumar — não estará dando mais vitalidade a esse hábito. Mas, para você poder largar de fato alguma coisa que se tornou hábito, tem de investigar muito mais profundamente, quer dizer, tem de examinar todo o problema de por que a mente cultiva um hábito; e esse problema é: Por que a mente é desatenta? Se você limpa os dentes todas as manhãs, olhando ao mesmo tempo pela janela, o escovar os dentes se torna um hábito; mas se você limpa os dentes muito cuidadosa e atentamente, então esse ato não se torna um hábito, uma rotina que se repete sem pensar.

Experimente isso, observe como a mente deseja “colocar-se a dormir”, por meio do hábito, a fim de não ser perturbada. A mente da maioria das pessoas está sempre funcionando na rotina do hábito, o qual, quanto mais velhos ficamos, pior se torna. Provavelmente você já adquiriu dúzias de hábitos. Você tem medo do que possa acontecer, se não fizer o que seus pais mandam, se não se casar conforme os desejos paternos; por conseguinte, sua mente já está funcionando numa rotina; e quando uma pessoa funciona numa rotina, ainda que só tenha dez ou quinze anos de idade, interiormente já está velha, em declínio. Poderá ter um corpo são, porém, nada mais. Seu corpo poderá ser jovem e aprumado, mas sua mente já está dobrada sob seu próprio peso.

Por conseguinte, revela compreender o inteiro problema de por que a mente permanece em seus hábitos e rotinas, seguindo sempre uma determinada “linha”, qual um carro elétrico, e tem medo de indagar, de investigar. Se você diz, “Meu pai é sikh (¹), e por isso eu sou sikh e vou deixar crescer os cabelos, usar turbante” — se você diz tal coisa, sem investigar, sem indagar, sem nenhuma intenção de se libertar, você é então semelhante a uma máquina. O fumar também lhe torna semelhante a uma máquina, escarvo do hábito, e é só quando se compreende tudo isso que a mente se torna fresca, jovem, ativa, viva, de modo que cada dia é um novo dia, cada alvorada refletida no rio um deleitável espetáculo.

Krishnamurti - A cultura e o problema humano


(¹) sikh - Adepto do sikhismo, seita fundada pelo guru Nanak, no século XVI, que não reconhece a supremacia bramânica
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