Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de agosto de 2013

A verdade não lhe pertence, nem a mim

Você não pode achar a verdade por intermédio de ninguém. Como o pode? A verdade, de certo, não é uma coisa estática; não tem morada fixa; não é um fim, um alvo. Pelo contrário, é viva, dinâmica, ativa, cheia de vitalidade. Como pode ser um fim? Se a verdade fosse um ponto fixo, não seria a verdade; seria mera opinião. Senhor, a verdade é o desconhecido, e a mente que procura a verdade a verdade nunca a achará. Porque a mente está constituída do conhecido, é resultado do passado, produto do tempo — e isso pode observar por si mesmo. A mente é o instrumento do conhecido e, por consequência, não pode achar o desconhecido; só pode mover-se do conhecido para o conhecido. Quando a mente procura a verdade, a verdade que leu nos livros, essa “verdade” é uma auto-projeção; porque em tal caso, a mente apenas está em busca do conhecido, um conhecido mais agradável do que o anterior. Quando a mente procura a verdade, está em procura de sua própria projeção, e não da verdade. Afinal de contas, todo ideal é auto-projeção; é fictício, irreal. O que existe é o que é, e o oposto não existe. Mas uma mente que busca a realidade, que busca a Deus, está em busca do conhecido. Quando você pensa em Deus, seu Deus é “projeção” do seu próprio pensamento, resultado de influências sociais. Só se pode pensar no conhecido; você não pode pensar no desconhecido; não pode se concentrar na verdade. No momento em que pensa no desconhecido, ele não é mais que o conhecido, de você mesmo projetado. Assim, Deus, ou a verdade, não podem ser pensados. Se você pensa nela, não é a verdade. A verdade não pode ser procurada; ela vem a nós. Só podemos procurar o que é conhecido. Quando a mente não é torturada pelo conhecido, pelos efeitos do conhecido, só então a verdade pode revelar-se. A verdade se encontra em cada folha, em cada lágrima; ela tem de ser conhecida de momento a momento. Ninguém pode lhe levar à verdade; e se alguém lhe guia, só pode levar-lhe ao conhecido.

A verdade só pode manifestar-se na mente que está livre do conhecido. Ela surge num estado em que o conhecido está ausente, não funciona. A mente é o depósito do conhecido, o resíduo do conhecido; e para que a mente esteja naquele estado no qual o desconhecido se manifesta, tem de estar cônscia de si mesma, de suas experiências anteriores, tanto conscientes como inconscientes, das suas respostas, reações, da sua estrutura. Quando há autoconhecimento completo, o conhecimento termina, e a mente fica completamente vazia do conhecido. Só então a verdade pode vir até você, sem ter sido chamada. A verdade não lhe pertence, nem a mim. Não podemos adorá-la. No momento em que a conhecemos, ela é irreal. O símbolo não é real, a imagem não é real; mas quando há compreensão do “eu”, desaparecimento do “eu”, desponta então a eternidade.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?     



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