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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de agosto de 2013

O que estamos buscando?


Já que ninguém se manifestou para subir, eu vou tentar compartilhar um pouquinho, das vivências aqui, das percepções, não é? do momento. Sei lá! O que vier! Uma das coisas que eu já tenho muito em mente é que a mensagem, a transmissão da percepção, do momento, não pode ser organizada. Se eu começar a organizar, se eu tentar me preocupar em expressar alguma coisa já é o próprio fortalecimento do eu, é o próprio fortalecimento do ego, que pode até sair muito bonito, mas não vai tocar de coração pra coração; pode soar bonito e tocar de intelecto pra intelecto. Mas, o que funciona mesmo é essa reverberação, essa coisa que vem sem ser organizada e que surge quando se dá espaço pra essa consciência que somos, se manifestar, sem se preocupar em ficar buscando na memória a coisa; a coisa flui naturalmente, não é? A coisa flui naturalmente. E a gente vem aí tentar trocar o porquê dessa sala, o porquê desses encontros, e o que a gente está conseguindo vivenciar e às vezes a gente entra um pouco no processo histórico dessa personagem de algumas décadas, e o que se está percebendo.

Achei esse tema muito interessante, nós extraímos ele de um livro, que não precisaria nem abrir o livro; era só ficar na capa desse livre do Krishnamurti, não é? “O que estamos buscando?”... O nome do livro é esse... é “O que estamos buscando?”, não é? Por que começamos a buscar alguma coisa, não é? Por que, não é?

Eu percebo que é assim: esse é um vício herdado, é um vício “transgeracional”, não é? Essa busca que você vai ser alguma coisa, ou que você vai encontrar a felicidade quando lá na frente você vir a ser alguma coisa ou vir a ter alguma coisa, não é? Todos aqui já devem ter perguntado para uma criança, como, quando criança, com certeza ouviram de algum adulto significativo, aquela pergunta: “o que você vai ser quando crescer?” não é?... “O que você vai ser?” Quer dizer: você não é! Você não é nada agora!... Só lá na frente, lá num futuro longínquo, não é? se você adotar umas letrinhas na frente do seu nome, com um quadrinho pendurado na parede, com uma estampilhazinha numa moldura, aí você vai ser alguma coisa, não é? Se você conseguir a casa da praia, a casa de campo, as viagens pela Europa e blá-blá-blá, blá-blá-blá, aí você vai ser alguma coisa, não é? E aí a gente sai partido atrás das coisas que esses adultos adulterados, com a sua educação, com a sua chamada educação adulterada, vão apontando, como fatores a serem conquistados e que prometem por felicidade; e que prometem pôr respeitabilidade; e que prometem por segurança. E aí lá vai aqui o garoto, cheio de medo, cheio de vergonha, cheio de sentimentos de inadequação, conseguidos aí dentro de um lar disfuncional, de muita repressão emocional, física, verbal, temendo o ambiente de alcoolismo e neurose; de ambientes escolares também profundamente neuróticos, onde não há a mínima expressão de uma educação psíquica, de uma educação amorosa, e eu saio correndo atrás dessas coisas que me colocaram como sendo válidas pra buscar, sem ter a mínima possibilidade de fazer qualquer questionamento quanto a esses posicionamentos aí; quanto a essas condições que foram colocadas pro freguês aqui, pra que ele fosse um homem de verdade, pra que ele fosse um homem de sucesso, pra que ele fosse um homem respeitado.

Então assim: não houve muita opção de escolhas; “É fazer ou fazer!... E engole o choro! Certo?... Engole o choro!... Vai atrás aí! Se vira nos trinta! Porque se não fizer desse jeito vai para o reformatório, certo?”... “Vai pro reformatório! Nós vamos botar você na forma aí! Não vem com essa rebeldia, ai!”

Então, aí, como você não é um adulto ainda; como você não tem nenhuma inteligência psíquica, capaz de te proporcionar aí uma autonomia psicológica, você fica nessa mendicância, da aceitação, dos tapinhas nas costas, não é? dessas pessoas significativas da sua vida. Mesmo que isso que você está fazendo para ter aceitação, “condicionada”, e que eles chamam de amor, você se estrumbique todo, se arrebente todo, se corrompa todo. Porque, corrupção, não é só passar dinheiro embaixo da mesa; corrupção é fazer tudo aquilo que fere, que contraria o seu mais íntimo estado de ser, não é?

Então, durante anos e anos, foi um processo de auto-corrupção, de auto-sabotagem aí, por querer fazer frente a essas descabidas exigências de uma estrutura familiar e social profundamente adulterada, profundamente corruptora da essência do ser que somos; que mata toda a sensibilidade; que arrebenta toda a originalidade; que estrangula toda a autenticidade.

Então, assim, você fica exposto por algumas décadas aí; pelo menos uma década e meia à esse tipo de ambiente abusivo, à esse tipo de estrutura social abusiva, limitante, que só quer fazer você ser uma peça consumista; que só quer fazer você “funcionar”, você ser um “funcionário” de sistema que faz você só uma peça para alimentar esse sistema, que não está nem um pouquinho preocupado em fazer sair essa inteligência que está aí; e trazer seu sopro; e traze sua voz; e trazer a sua nota; não tem nada disso... É uma estrutura que é só puro ajustamento a um processo tremendamente escravagista, limitante e que aqueles que não foram totalmente adulterados em sua sensibilidade, é óbvio que vão sentir uma dor muito forte e vão precisar de algum processo de anestesiar a esses sentimentos; de anestesiar essa dor dessa corrupção transgeracional; essa corrupção da essência daquilo que somos, pra nos ajustar àquilo que dizem que temos que ser, não é?

Então a gente sai aí durante muito tempo buscando tudo isso, pra ter essa respeitabilidade, pra ter essa aceitação, pra ter essa validação, pra ter esse seu cantinho, não é? onde você possa mostrar pros outros que você está sendo um homem de sucesso; que você merece respeito; que você merece ser convidado pros almoços de domingo. E todo mundo entra nesse joguinho!... Profundamente descontente!... Porque quando começa a tocar música do “Fantástico”, no domingo, todo mundo sabe muito bem aquela depressão que bate e tem que correr pra geladeira, abrir e comer alguma coisa, um chocolatinho, um docinho, um salgadinho, porque lá vem a segunda-feira, não é na cara? Com a mesma rotina, o mesmo tedio, a mesma insatisfação e aquele esforço violento, com os dentes “branco de laboratório químico”, pra disfarçar que eu sou um cara feliz, que eu sou um cara ajustado, não é cara?...

Essa aí foi minha história até que veio a depressão! E eu agradeço profundamente e, toda vez que vejo alguém com depressão eu estico a mão e dou os meus parabéns: “Você é uma bem-aventurado!”... Porque a depressão não é nada mais, nada menos, de um grito dessa inteligência psíquica, dessa inteligência que somos, dizendo: “Chega!... Chega!... Chega!... Não dá mais para se ajustar ao que não é ajustável!... Ou você faz o resgate daquilo que você é, ou eu te mato!”
Então, assim: pra mim, esse processo brecou com essa depressão profunda que quase me levou ao suicídio; por muito pouco não cheguei ao suicídio; que era uma compreensão errada da necessidade de um “egocídio” aí, que vem, sem esforço, que vem por esse processo do início de uma educação psíquica, e que cada um começa ter essa educação psíquica dentro dos ambientes que vão encontrando aí; dentro dos ambientes que vão encontrado. A minha educação psíquica começou dentro de um centro espírita, que foi o primeiro lugar que eu comecei a contrariar o processo nefasto do cristianismo que me foi apresentado; veja bem: do cristianismo que me foi apresentado; não estou falando mal contra o cristianismo, não. E aí começou todo um processo: encontrei os grupos anônimos, não é? A quem eu sou profundamente grato; em cada grupo anônimo que eu fiz parte, foi uma oficina aí de trabalho, pra colocar esses instintos naturais que nos foram dadas aí pela Grande Vida, que estavam totalmente deturpados pela ação dos condicionamentos... desse egocentrismo aí. Então, cada oficina aí foi trabalhando numa questão aí; e essas questões que me levaram a esses grupos, num determinado momento, elas foram sanadas, só que aí ficou um grande vazio, porque esse processo, esse processo de bê-á-bá psíquico, essa educação psíquica que a gente começa a colher em todas essas escolas aí; acredito que todas essas escolas que a gente foi passando aí — cada um sabe por onde passou — elas vão tirando esses condicionamentos materialistas, mas elas criam os condicionamentos espiritualistas, que às vezes são profundamente impossíveis — pelo menos pro freguês aqui, não era palpável, não é possível, não é possível. Quer dizer: eu troco uma imagem e vou pra uma imagem espiritualista e saio buscando isso daí.

Então, chegou um momento que essa busca também não estava funcional; não estava mais surtindo resultado; e foi aí que caiu na mão esse material aí, com, inicialmente, o Osho e depois com Krishnamurti. Houve antes de Krishnamurti, houve um período legal com o Osho e depois quando caiu Krishnamurti, aí a coisa começou a descer redondo... E ele começou a quebrar todos esses condicionamentos que eu também fui colhendo dentro dessa chamada busca da verdade, dessa chamada busca do despertar; que na realidade eu não estava buscando nada disso! Não estava tendo busca da verdade coisa nenhuma! Não estava tendo a busca da espiritualidade coisa nenhuma! O que ocorria é que havia um estado de profunda contradição interna, em tudo! Em tudo! Nas
nas relações; no cotidiano; na profissão... Em tudo!... Do freguês com o freguês mesmo!... Então, o que tinha aqui era uma busca pra desabafar aquele profundo estado de contradição. Foi sempre isso! Sempre procurando alguém pra me dizer como fazer pra sair daquele estado de conflito... Sempre foi isso! Não tinha esse negócio de correr atrás da verdade!

E aí eu percebo que essa coisa de buscar um Deus, aqui pro freguês, foi na realidade a tentativa de achar alguma coisa que pudesse tirar aquela dor que os humanos em volta de mim, por mais boa vontade que tivessem, tinham a sua limitação e não conseguiam expressar aquilo. Sabe aquela coisa que o poeta fala, não é? “Ninguém está me dizendo que eu quero ouvir; e ninguém também está entendendo que eu estou querendo dizer!” E aí, quando cai esse material do Krishnamurti, começo a perceber a realidade de como usei esses ambientes como uma fuga; como usei essas imagens, essas ideias de Deus, esses conceitos, esses achismos, todo esse material metafísico, esotérico, de auto-ajuda, simplesmente para tentar acabar com a dor e manter as zonas de conforto... E manter as zonas de conforto sem questioná-las. Só que é bem o que eu falei no encontro de ontem, não é? Krishnamurti não vem trazer paz pra ninguém, não! Não vem mesmo! Como nenhum homem aí que tenha tido uma percepção, como a verdade, não é? Porque não é o homem, não é a personalidade, mas essa Consciência que está ali, naquele veiculozinho de carnê e osso ali, ele não vem trazer paz, ele vem trazer a espada mesmo! Vem cortar aí, tudo o que é falso! Vem cortar tudo que é falso! E o que é difícil é justamente isso: esse processo de autoconhecimento, começa apresentar a falência de tudo o que foi montado durante décadas, em nome de encontrar essa respeitabilidade; e aí você começa a olhar a “natureza exata” de cada uma dessas relações, e começa a ver que cada uma dessas relações não foram montadas na base sólida do amor: foram sempre montadas em cima da busca da satisfação de algum instinto degenerado... É o instinto degenerado de segurança; o extinto degenerado do sexo; do companheirismo; do medo da solidão e do abandono; da facilitação diante da vida material... E aí você não sabe o que fazer com tudo isso, porque você começa a ver a grande fraude — a grande fraude — que é essa personalidade que seguiu um script social, que foi escrito por quem ele nem sabe quem escreveu isso... Então fica muito difícil olhar pra isso; e só os sérios mesmo, aqueles que tem saco roxo, vão conseguir olhar isso, de uma maneira como um cientista: sem entrar naquelas ideias reativas que o próprio pensamento cria. Porque o pensamento, ele também vai pegar tudo isso que a Consciência está trazendo à consciência, para criar conflito, para criar aquelas reações inconscientes inconsequentes, então chutar o pau da barraca de tudo! E não é bem isso a proposta! Pelo menos da minha compreensão aqui, na compreensão do freguês aqui; qualquer a ação que seja desse ego, desse fundo, pode trazer um alívio momentâneo, mas traz mais confusão ainda! Enquanto qualquer movimentação foi por essa base — a base é a confusão — o resultado vai ser confuso. Isso a gente foi vendo aí nessa caminhada e tem visto o quanto realmente é difícil ficar só sentado observando, porque pra mente lógica, cartesiana, racional, que foi condicionada a resolver problemas, a criar problemas e resolver problemas, a ter algum tipo de ação, “você tem que se doar”, “você precisa exercitar”, “você precisa e isso”, “você precisa fazer caridade”... Que é uma puta sacanagem, não é cara?... Você é usar o cara que está mais ferrado, para tentar tampar seus buraco aí, pela falta de competência de compreender a si mesmo, não é? É uma puta sacanagem esse negócio de caridade, não é cara?... Que criança esperança essa daí, não é cara?

Então, assim: hoje, fica bem claro, que o lance é só observar; só observar... Não é? Não buscar mais absolutamente nada! É um momento muito difícil também você se deparar, não é? Porque é frustra inclusiva essa ideia de “iluminação”. Frustra tudo! Esse material frustra tudo isso aí! Frustra toda a imagem que é criada; é tudo imagem! Até a imagem da iluminação, do que a eliminação pode trazer pra mim, do que o encontro com a verdade pode trazer pra mim. Na realidade, não se está querendo nada de um encontro com a verdade; só cá parar de sofrer, não é cara? Mas quero parar de sofrer, de novo colocando o resultado nas mãos de terceiros; só que agora o terceiro espiritual aí, é uma entidade aí. Quando você se depara com esses materiais tão claros que apontam a falência disso, a grande maioria não tem estrutura pra ficar com isso; porque não aprendeu a ficar com isso, não é? Não aprendeu a ficar nesse processo de autonomia psicológico, de sentar, não é? E observar!

E é isso que a gente vem fazendo; e é isso que essa sala vem apresentando; que esse material vem apresentando pro freguês aqui: uma capacidade de percepção nunca antes se quer imaginada; uma capacidade de ficar com o que é, nunca antes sequer imaginada; uma capacidade de não ter mais a necessidade de dar a última palavra; de não ter mais a necessidade de ficar entrando em controvérsias com aquele confradezinho que está ali totalmente identificado com esse processo de criar confusão, de querer vomitar o próprio estado interno de contradição, criando mais contradição, contaminando mais com contradição.

Então, hoje, o lance, é bem uma frase que a Deca gosta muito de falar aqui: “tempo de silêncio e solidão”... Está doendo? Faça uso dessa poderosa ferramenta que lhe foi dada pela Grande Vida: a bunda pra sentar numa cadeira; os dois cotovelos pra segurar a cabeça e observe o que está rolando. E, se você for sério, algo vai ser revelado!

Então é isso aí gente! Um fraterabraço pra vocês, obrigado pela escuta atenta!

Outsider44

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