Eu não sou contra as regras, mas
as regras deveriam ser fruto do entendimento. Elas não deveriam ser impostas. Eu
não sou contra a disciplina! Mas a disciplina não deveria ser escravidão. Toda
verdadeira disciplina é autodisciplina. E a autodisciplina nunca vai contra a
liberdade — na verdade, ela é a escada para a liberdade. Só as pessoas
disciplinadas se tornam livres, mas a disciplina delas não é obediência aos
outros; é obediência à própria voz interior. E elas estão prontas para arriscar
qualquer coisa pela liberdade.
Deixe a sua própria percepção
determinar o seu estilo de vida, o seu padrão de vida. Não deixe que ninguém
determine isso por você. Isso sim é um pecado, deixar que outra pessoa decida
por você. Por que é pecado? Porque você nunca estará na sua vida. Ela ficará
superficial, será hipócrita.
Uma pessoa de percepção não é
controlada nem pelo passado nem pelo futuro. Você não tem ninguém forçando-o a
se comportar de uma determinada maneira. Os Vedas não estão mais na sua cabeça,
Mahavira e Maomé e Cristo não estão mais obrigando você a seguir em nenhuma
direção. Você está livre. É por isso que na Índia chamamos uma pessoa assim de mukta. Mukta significa uma pessoa totalmente
livre. Ela é liberdade.
Neste momento, seja qual for a
situação, a pessoa responde com plena atenção. Essa é a sua responsabilidade.
Ser capaz de responder. A sua responsabilidade não é uma obrigação, é uma
sensibilidade ao momento presente. O significado da responsabilidade muda. Não
é responsabilidade com sentido de obrigação, de dever, de um fardo, de algo que
tem de ser feito. Não, responsabilidade é só uma sensibilidade, um fenômeno
semelhante a um espelho. Você fica diante do espelho e o espelho reflete, responde.
Seja o que for que aconteça, a pessoa de percepção responde com todo o seu ser.
Ela não se prende ao passado; é por isso que nunca se arrepende, é por isso que
nunca sente culpa; tudo o que podia ser feito, ela fez, concluiu. Ela vive cada
momento total e completamente.
Na sua ignorância, tudo fica
incompleto. Você não concluiu nada. Milhões de experiências estão dentro de
você, esperando por uma conclusão. Você queria rir, mas a sociedade não permitia.
Você reprimiu o riso. Essa risada aguarda ali como uma ferida. Que estado
deplorável! Até a risada vira uma ferida! Quando não o deixam rir, a risada se
torna uma ferida, uma coisa incompleta dentro de você, esperando algum dia ser
concluída.
Você amou alguém, mas não conseguiu
amar totalmente, o seu caráter proibiu esse amor, a voz da sua consciência não o
permitia. Até mesmo quando você está com o seu amor numa noite escura, sozinhos
no seu quarto, a sociedade está presente. Vocês são constantemente vigiados.
Não estão sozinhos. Você tem uma voz da consciência, a pessoa amada tem uma voz
da consciência: como podem ficar sozinhos? Toda a sociedade está ali, toda a
praça do mercado está ali, ao redor de vocês. E Deus, olhando lá de cima,
observando vocês, olhando o que estão fazendo, ele parece um abelhudo
universal, um voyeur — fica observando as pessoas. A sociedade usa os olhos de
Deus para controlar você, para torná-lo um escravo. você não pode nem amar
totalmente, não pode odiar totalmente, não pode se zangar totalmente. Você não pode
ser total em nada.
Você come sem entusiasmo, caminha
sem entusiasmo, ri sem entusiasmo. Não pode chorar — você está segurando
milhões de lágrimas nos olhos. Tudo é um fardo, uma carga pesada; todo o seu
passado, você está carregando desnecessariamente. E esse é o seu caráter.
Um buda não tem caráter, porque
ele é fluido, porque é flexível. Caráter significa inflexibilidade. É como uma
armadura. Ela protege você de certas coisas, mas depois o mata, também.
Osho - O Livro da sua Vida