A submissão ao empresariado é a fuga do homem das realidades ameaçadoras da vida para o abusador ventre materno do patrão. As atividades dos indivíduos são dirigidas por esse ventre patronal - pelo "sagrado asilo" empreendedor. A cúpula empresarial tudo domina; desse modo, o homem já não precisa mais assumir responsabilidade por sua própria vida. Reinam a ordem e a lógica do mundo pré-natal. Há paz e silêncio, a paz e o silêncio da submissão integral auto-imposta. Os membros do empresariado ventre - na realidade não se comunicam; reina entre eles o silêncio, o silêncio da possível traição, não o sazonado silêncio da reticência e da discrição. No mundo do empresariado, é maior a distância existente entre aquilo que demonstramos e que dizemos aos outros e aquilo que em segredo sonhamos e pensamos no recesso profundo de nossas mentes. Surge a inclinação artificial para a dissociação, que se manifesta por meio de um silêncio político. Um pouquinho que reste do sentimento e da opinião individual é cuidadosamente escondido. Não há no mundo esquizofrênico do empresariado, livre intercâmbio, nem conversação franca, nem exclamação, nem desabafo da tensão emotiva. É um mundo de conspiradores silenciosos. Na verdade, a atmosfera de desconfiança é a grande inimiga da liberdade mental porque faz com que as pessoas se agarrem umas às outras para conspirarem contra inimigos misteriosos — primeiro estranhos, depois do próprio grupo.
No ventre do empresariado, todo cidadão é continuamente vigiado, onde tem sua consciência moldada para os interesses do seu senhor, nada podendo reclamar como seu. É vigiado por seus vizinhos de trabalho, que são a representação do empresariado punidor. E ele também pode representar o empreendedor e vigiar os outros. Não traí-los é um crime contra a própria estabilidade nesse ventre abusador.
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Que resta ao homem fazer quando se entrega à submissão dessa tremenda máquina chamada empresariado? O pensamento — e o próprio cérebro — tornou-se supérfluo, isto é, reservado exclusivamente para a elite. Tem o homem que renunciar à sua unicidade, à sua personalidade individual e tem que se submeter aos padrões igualitários, homogeneizadores e mecanicistas da chamada integração padronizadora. Isso provoca nele o grande vazio interior da criança selvagem, o vazio do robô, que, sem o saber, anseia pela grande destruição.
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Que resta ao homem fazer quando se entrega à submissão dessa tremenda máquina chamada empresariado? O pensamento — e o próprio cérebro — tornou-se supérfluo, isto é, reservado exclusivamente para a elite. Tem o homem que renunciar à sua unicidade, à sua personalidade individual e tem que se submeter aos padrões igualitários, homogeneizadores e mecanicistas da chamada integração padronizadora. Isso provoca nele o grande vazio interior da criança selvagem, o vazio do robô, que, sem o saber, anseia pela grande destruição.
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O cidadão submisso toma consciência disso? provavelmente, não. A psicologia moderna nos ensinou como é grande o poder do mecanismo mental de rejeição da realidade. A vista se desvia de ocorrências externas, quando o espírito não quer que elas aconteçam. Formam-se justificações e fantasias secundárias com o fim de sustentar e de explicar as essas rejeições.
Tudo isso parece uma amarga comédia, mas a fantasia dos esquizofrênicos nos ensinou como pode recuar o espírito humano para o delírio, quando teme a existência cotidiana... O homem apavorado, oprimido por uma cultura que não compreende, regride para a fantasia da força sem limites, própria dos brutos, a fim de disfarçar o vácuo que tem dentro de si mesmo. Essa fantasia começa com seus chefes e depois arrebata as massas que eles oprimem.
Parafraseado de Joost A.M. Merloo