Tendo adquirido o uso dos sentidos internos, tendo vencido os desejos dos sentidos externos, tendo vencido os desejos da alma individual, e tendo adquirido conhecimento, prepare-se agora, ó discípulo, para entrar realmente no caminho. O caminho foi encontrado: esteja pronto para trilhá-lo.
Tendo adquirido o uso dos sentidos internos... Conhecemos a respeito de nossos sentidos externos, mas cada sentido possui uma dupla dimensão. Por exemplo, os olhos. Eles podem olhar para fora. Esta é apenas uma dimensão de sua função. Eles podem também olhar para dentro. Esta é sua outra função. Ou os ouvidos. Você pode ouvir o que está acontecendo no exterior. Esta é uma função, uma dimensão. Você pode também ouvir o que está acontecendo no interior. Esta é a outra função, a outra dimensão.
Cada sentido possui duas portas. Uma se abre para o mundo exterior; a outra se abre para o mundo interior. Cada sentido é tanto externo como interno, mas usamos nossos sentidos somente de uma única maneira. Tornamo-nos fixos; esquecemos que esses mesmos sentidos podem ser usados para se alcançar o interior.
Tendo adquirido o uso dos sentidos internos... Tendo adquirido as dimensões ocultas dos sentidos, muitas coisas podem tornar-se possíveis. Um novo mundo se abre diante de você. O interior é tão vasto quanto o exterior, o interior é tão imenso quanto o exterior. Você se encontra exatamente no meio: encontra-se entre o universo interior e o universo exterior.
O exterior é vasto. Dizem que é infinito, sem fim, sem começo; não há limites para ele. A mesma coisa também é verdadeira para o interior. Nenhum limite - o espaço interior é, por sua vez, infinito. O exterior está sendo pesquisado por métodos científicos. O interior pode ser pesquisado através de métodos iogues.
A ciência se desenvolveu bastante e adquiriu um imenso conhecimento a respeito do mundo exterior. Mas o mundo interior foi esquecido; não se pensa mais nele. Atualmente, somos ricos no que diz respeito ao mundo exterior, às experiências exteriores, e tornamo-nos absolutamente pobres, mendigos, no que diz respeito ao interior. Mas qual a vantagem de conquistar o mundo exterior se, ao conquistá-lo, você perde a si mesmo? Perdendo-se a si mesmo, o que se ganha? Mesmo se você conquistar o mundo todo, nada será ganho. Se você perde a si mesmo, então, o próprio sentido da vida, sua própria significação, a beleza, a verdade, o bem, tudo é perdido. O homem pode acumular coisas, acumular poderes, à custa de perder a si mesmo. Então, o ponto fundamental é perdido.
A ciência tenta ampliar os sentidos externos. Hoje em dia, através de aparelhos mecânicos, podemos olhar para o espaço longínquo. Os olhos são ampliados pelo método científico. Podemos, atualmente, ouvir a longas distâncias. A tecnologia científica amplia nossos ouvidos.
A mesma coisa também é possível para os sentidos internos. Através da meditação, da ioga, do tantra - tecnologias internas - seus sentidos internos são ampliados. E, uma vez ampliados, muitas coisas são reveladas a você.
A menos que elas lhe sejam reveladas, sempre parecerão ser mitos, superstições. Ouvimos e lemos muitas coisas sobre Buda, Jesus, Krishna, nas quais não conseguimos acreditar. Maomé, Zaratustra, Moisés - todos eles parecem, hoje, mitológicos, porque tudo o que eles dizem não podemos experimentar por nós mesmos. Perdemos o contato. Moisés diz que ouviu a voz de Deus no Monte Sinai. Como podemos acreditar nisso? Jamais ouvimos algo semelhante.
Se você for a uma tribo primitiva e contar que, através do rádio, podemos ouvir vozes emitidas a partir de enormes distâncias, as pessoas dessa tribo não poderão acreditar nisso. Ou, se você contar-lhes que, pela televisão, vemos imagens de coisas que estão acontecendo em lugares bastante distantes, eles não acreditarão, porque nunca experimentaram tal coisa.
Do mesmo modo, tornamo-nos primitivos no que diz respeito ao interior. Moisés diz que ouve Deus. Jesus conversa com seu pai que está no céu. Aos nossos olhos, eles parecem neuróticos. Devem ser loucos. Há muitos estudos sobre Jesus, estudos psicológicos, que afirmam que ele deve ter sido insano. “O que ele quer dizer com conversar com Deus? Onde está Deus? Como você pode conversar com ele? E como pode Deus conversar com você? Jesus deve ter sido insano. Deve ter tido algumas alucinações e deve ter acreditado nelas. Era um neurótico.” Ele parece um neurótico porque nos tornamos primitivos no que diz respeito ao mundo interior.
Se seus sentidos forem apurados, se seus sentidos interiores estiverem vivos, se você chegar a conhecer o modo de usá-los, poderá também entrar em sintonia com o divino. Você poderá ouvir, poderá escutar, poderá ver, poderá entrar em contato com os mistérios. Eles existem sempre. Moisés não é um neurótico - nós é que nos tornamos primitivos. Jesus não é um louco - nós é que perdemos o contato com o interior.
Tendo adquirido o uso dos sentidos internos, tendo vencido os desejos dos sentidos externos... Porque, se os desejos dos sentidos externos ainda estão vivos, você não pode se mover para dentro. Desejo significa o modo de se ir para fora; o desejo é o caminho que leva para fora. Se sua mente ainda está desejando, você não pode se mover para dentro.
É por isso que há tanta insistência no estar-sem-desejo. Não se trata de um conceito moral. O estar-sem-desejo é um conceito científico. Se você quer se mover para dentro, sua mente precisa perder todo o desejo de se mover para fora. De outro modo, como você pode se mover para dentro? É pura matemática. Se você quer ir para a esquerda, precisa abandonar o desejo de ir para a direita. Caso contrário, uma perna se move para a direita, enquanto a outra se move para a esquerda. Você enlouquecerá; ficará insano. É impossível se mover em duas direções ao mesmo tempo. O desejo leva para fora. O estar-sem-desejo, para dentro.
...tendo vencido os desejos externos, tendo vencido os desejos da alma individual... Se você ainda é egocêntrico, pensa sempre em função de seu próprio ego; pensa sempre em função de sua própria individualidade, de seu próprio interesse. Nesse caso, as mais profundas verdades da existência não lhe podem ser reveladas. Você não está pronto para elas; não é digno delas. Além disso, essa revelação, nesse momento, pode ser perigosa. Tente entender isso.
A ciência, por exemplo, conseguiu compreender atualmente alguns mistérios básicos a respeito da matéria. A ciência forçou a matéria a lhe revelar alguns segredos a respeito da energia atômica. Isso tornou-se destrutivo. O homem ainda não está pronto, ainda não é digno de conhecer um segredo tão poderoso. A ciência forçou a matéria. A ciência é agressiva.
Atribuem-se a Einstein as seguintes palavras: “Se eu nascesse de novo, não desejaria ser um cientista. Preferiria ser um encanador. Tudo o que fiz é destrutivo. Tudo o que revelei, durante toda minha vida, é inútil e nocivo. Tudo indica que poderei ser uma das pessoas responsáveis pela destruição de toda a humanidade.”
Seus últimos dias foram de profundo sofrimento. Um segredo havia sido revelado, mas o homem ainda não estava pronto, ainda não era digno dessa revelação. O homem ainda é infantil, estúpido, tolo. Esse imenso poder - a energia atômica - não lhe podia ser entregue.
Mas agora os políticos se apoderaram do segredo. E os políticos só podem ser estúpidos, não podem ser outra coisa, porque qualquer pessoa que tenha ambições políticas é egoísta. O desejo de conquistar o poder é o desejo do ego, e o ego é a coisa mais estúpida que pode haver. Obriga-o a fazer qualquer coisa; o ego é louco. A ambição política é uma obsessão do ego.
Os cientistas descobriram alguns segredos e os políticos se apoderaram desses segredos. Então eles destruíram Hiroxima e Nagasáqui. E agora, estão prontos para destruir todo o planeta. A Terra inteira pode ser destruída a qualquer momento. Temos atualmente mais forças destrutivas do que seria necessário para destruir a Terra; temos sete vezes mais. Podemos destruir sete Terras iguais a esta; esta não é nada. E estamos desenvolvendo mais e mais poderes destrutivos. Para quê? Por que há tanto desejo de morte e destruição? Einstein diz que foi uma tolice da parte dos cientistas forças a natureza a revelar certos segredos, dos quais o homem ainda não era digno. Mas você pode fazê-lo, porque a matéria pode ser violentada.
Você não pode fazê-lo interiormente. A consciência não pode ser forçada. Nenhum segredo interior lhe pode ser revelado, a menos que você esteja pronto para isso. A não ser que ele seja benéfico a você e aos outros, não pode ser revelado. Assim, este sutra diz, tendo vencido os desejos da alma individual - a ambição, o ego, o desejo de poder, a idéia de se considerar o centro do universo -, a menos que você tenha vencido esses desejos, os segredos mais profundos da consciência não lhe podem ser revelados.
...tendo vencido os desejos da alma individual, e tendo adquirido conhecimento, prepare-se, agora, ó discípulo, para entrar realmente no caminho. Tudo aquilo com o que nos ocupamos até agora foi um trabalho dedicado à consciência: à sua própria consciência, à consciência subjetiva. Até o momento, todos os sutras eram para trabalhar, atuar, alterar, transformar, mudar a consciência subjetiva. Quando alguém se torna totalmente consciente de seu mundo subjetivo, pode entrar na realidade.
Lembre-se disto: se você se move para dentro, move-se para o subjetivo; se você se move para fora, move-se para o objetivo; se você se move para além de ambos, move-se na realidade. O objetivo não é realidade; o objetivo é apenas uma parte da realidade. O subjetivo também não é a realidade. Ele é, por sua vez, uma parte da realidade. Quando a subjetividade e a objetividade são, ambas, transcendidas, você entra na realidade.
Se você usar seus sentidos para a jornada exterior, alcançará os objetos. Se usar seus sentidos para a jornada interior, alcançará o sujeito, o conhecedor. Através do exterior, o objeto: o conhecido. Através do interior, o conhecedor: o sujeito, o eu. Mas cada um deles é apenas uma parte. A realidade consiste em ambos.
De fato, os dois são um. A isso denominamos brahma: a realidade suprema. Você não pode entrar na realidade suprema através do objeto ou através do sujeito. Precisa perder os dois. É por isso que para conhecer a alma você precisa usar os sentidos internos, e para conhecer a matéria precisa usar os sentidos externos; mas para conhecer brahma não precisa usar nenhum sentido, seja externo, seja interno. Se você quer entrar na realidade suprema, os sentidos precisam ser totalmente abandonados, tanto os externos quanto os internos. Sem os sentidos, entra-se na realidade.
É por isso que Shankara não pode admitir que a ciência conheça a realidade. Ele diz que a ciência conhece apenas o objetivo. E ele não pode admitir que aqueles que defendem a inexistência de brahma conheçam a realidade, porque conhecem apenas o eu subjetivo. Somente aqueles que vão além de ambos - além dessa dualidade de objeto e sujeito - conhecem a verdade suprema.
... prepare-se, agora, ó discípulo, para entrar realmente no caminho. O caminho foi encontrado: esteja pronto para trilhá-lo.
Pergunte à terra, ao ar e à água, a respeito dos segredos que eles guardam para você.
Se você está disposto a abandonar as distinções entre o objetivo e o subjetivo, pode perguntar diretamente. Pergunte à terra, ao ar e à água, a respeito dos segredos que eles guardam para você. Você pode perguntar diretamente aos elementos. Se você está disposto a abandonar a divisão entre o sujeito e o objeto, se está disposto a abandonar todos os pensamentos, se está disposto a abandonar sua mente, sua ação mental, se está disposto a abrir espaço em você e se tornar vazio, pode perguntar aos elementos a respeito dos segredos que eles contêm para você.
E que segredos eles contêm? Buda aconteceu neste mundo. Ele está registrado na terra, no ar, na água, no céu, no espaço, em todas as coisas. O acontecimento de um Buda é um fenômeno tão imenso que o universo registra como ele acontece. Krishna dançou nesta terra. Ele está registrado. O próprio fenômeno é tão culminante que a terra não pode esquecê-lo, o céu não pode esquecê-lo. Eles o registram. Tudo o que acontece de tamanha magnitude é registrado pelos elementos.
Você pode perguntar diretamente. Se você se encontra totalmente vazio, pode perguntar diretamente, e a terra revelará seus segredos. Se Krishna proferiu realmente o sermão do Gitã no campo de batalha de Kurukshetra, isso deve estar oculto em alguma parte do ar, no coração do ar. Se você está pronto, se você merece, o ar pode lhe revelar as mais secretas doutrinas.
Você se sentirá muito estranho quando isso lhe for revelado, sentir-se-á muito confuso, porque o Gitã que foi registrado pelo homem nada significa; está profundamente errado. Muitas coisas foram projetadas nele, muitas coisas foram suprimidas dele. Ele não é a coisa real; é apenas um registro humano. E é natural à mente humana errar.
Mas as forças elementares da natureza também registram, e seus registros são absolutamente verdadeiros, porque não há nenhuma mente que interprete, altere, acrescente ou suprima. O mais puro está ali registrado. Se Maomé falou, se Jesus falou, isso está registrado ali. A Terra não pode perder o contato com seres tão altamente evoluídos, tão altamente desenvolvidos, com seres transformados. Ela não pode perder o contato com eles; o contato permanece. Ele pode ser revelado a você. O desenvolvimento de seus sentidos interiores fará com que você se torne capaz de penetrar nisso.
Pergunte aos santos da Terra a respeito dos segredos que eles guardam para você. A conquista dos desejos dos sentidos externos lhe fornecerá esse direito.
Pergunte aos santos da Terra a respeito dos segredos que eles mantém para você. Nós existimos no corpo, mas há muitos santos ao seu redor que existem num estado incorpóreo. O espírito humano pode existir tanto num corpo como numa forma não-corpórea. A forma não-corpórea ainda faz parte do universo; ainda está no mundo. Não escapou dele; a liberação não aconteceu ainda. Essa forma incorpórea está sujeita a voltar, tende a voltar. Simplesmente aguarda pelo útero certo.
Há muitos mestres sagrados que existem numa forma não-corpórea, que não estão totalmente iluminados. Quando um ser se ilumina totalmente, ele desaparece do corpo e da própria forma. Desaparece completamente; dissolve-se na fonte do mundo. Buda, Jesus - eles se dissolveram, regressando à fonte original. Porém, há muitos outros que não estão totalmente iluminados, mas que chegaram a conhecer muitas coisas, a compreender muitas coisas belas, muitas verdades ( mas não “a” verdade). Eles compreenderam muitas, muitas coisas e alcançaram um certo nível. Eles não estão iluminados, mas alcançaram um certo nível. Por isso, são denominados “santos”. Eles podem ajudá-lo muito. Se você está aberto a eles, pode entrar em contato com eles. Na teosofia, eles são denominados “os Mestres”.
O livro Luz no Caminho foi ditado pelos Mestres a Mabel Collins. Os Mestres conhecem muitos segredos que desapareceram da Terra, dos registros da humanidade, ou foram distorcidos. Ou simplesmente não podemos lê-los porque a linguagem foi esquecida. Ainda não é possível saber o que está escrito na cultura Harappa Mohenjodaro. Continua a ser um segredo. Sabemos que alguma coisa está escrita, mas o que está escrito não sabemos. A forma permanece, mas as chaves estão perdidas. Conhecemos muitas escrituras de diversas culturas, mas a linguagem se perdeu.
Esses santos podem revelar muitas coisas que permanecem conservadas. Eles podem fazer-nos lembrar. Você pode entrar em contato com elas se estiver silencioso, inocente, movendo-se para dentro. Se você está usando seus sentidos internos, pode entrar em contato com eles e sua vida pode ser transformada muito facilmente. Você, sozinho, pode levar muitas vidas para alcançar a meta; mas, com esses santos, isso pode se tornar mais fácil.
E há muitos deles. Você precisa apenas estar aberto, sem medo, disposto a receber a orientação, e então a orientação lhe será dada. Mas antes que possa recebê-la, você precisa predispor-se à receptividade, à profunda receptividade. Através da meditação, essa receptividade se manifestará em você. E não há outro caminho. Apenas através do silêncio você se tornará capaz de ouvir alguma coisa que venha do além.
Lembre-se constantemente de uma coisa: você precisa se tornar cada vez mais silencioso e concentrado em seu interior. Sempre que tiver algum tempo, feche os olhos e mova-se para dentro. Não se ocupe quando não houver nenhuma ocupação, não permaneça ocupado desnecessariamente.
Vejo pessoas que estão desnecessariamente atarefadas. Tenho visto pessoas que lêem o mesmo jornal várias vezes. Elas não têm nada para fazer, então lêem o mesmo jornal repetidas vezes. Não podem permanecer vazias, não podem permanecer desocupadas. Ser meditativo significa aprender a permanecer desocupado, vazio.
Feche os seus sentidos externos e dirija-se para dentro. Utilize qualquer tempo que encontrar para isso, e logo chegará o dia em que isso se tornará tão fácil quanto entrar e sair de sua casa. Você sai de sua casa sem nenhuma dificuldade; você volta para sua casa sem nenhuma dificuldade. Você não precisa nem sequer pensar a respeito de como sair e entrar. Você sai quando precisa sair; entra quando precisa entrar. O fenômeno de ir para dentro de si mesmo torna-se igualmente simples se você o praticar. Então, você pode saltar para fora a qualquer momento, e pode saltar para dentro a qualquer momento.
E, uma vez que você se torna capaz desse simples movimento, torna-se livre. Então, o mundo não pode perturbá-lo. Nada pode perturbá-lo, porque nada o atinge quando você se encontra em seu centro mais profundo. Quando você está na periferia, o mundo o atinge. Quando está no centro, você está além do mundo.
Osho