Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que ele guarda para você através dos tempos.
A grande e difícil vitória, a conquista dos desejos da alma individual, é um trabalho que requer tempo; portanto, não espere obter sua recompensa, enquanto não forem acumulados muitos anos de experiência. Quando o momento de aprender esta regra é chegado, o homem está a ponto de se tornar mais do que homem.
O conhecimento, que agora é seu, só lhe pertence porque sua alma tornou-se una com todas as almas puras e com o mais íntimo. Ele é um bem que lhe é confiado pelo Supremo. Traia-o, faça mal uso de seu conhecimento ou negligencie-o, e é possível que, mesmo agora, você caia do elevado estado que alcançou. Seres notáveis já caíram, até mesmo do limiar, incapazes de sustentar o peso de suas responsabilidades, incapazes de passar adiante. Portanto, aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento, e esteja preparado para a batalha.
Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que ele guarda para você através dos tempos. Somos muitos apenas na periferia; a multiplicidade existe apenas na circunferência. Quanto mais nos movemos em direção ao centro, mais nos movemos em direção ao uno. No centro, somos um.
Na periferia, existimos como muitos. Sua personalidade é diferente da personalidade do seu vizinho. Sua individualidade é diferente de todas as demais. Mas seu centro mais profundo não é diferente. Seu centro mais profundo é o centro mais profundo de tudo. Quando você o alcança, alcança o uno.
O mundo todo é apenas a circunferência. O centro - você pode chamá-lo de Deus ou pode chamá-lo de alma suprema ou do que preferir - mas quando você alcança o seu centro mais profundo, alcança o centro mais profundo de tudo. E aí, nesse uno, todos os segredos estão ocultos. Aí, todos os mistérios podem ser revelados a você.
Você não pode conhecê-los antes disso. A menos que penetre no templo mais profundo do uno, os mistérios permanecerão mistérios. Você pode criar muitas teorias e filosofias sobre eles, mas não serão de nenhuma utilidade; serão fúteis, insignificantes. Você pode filosofar à vontade, mas nada pode ser concluído. Isso tem acontecido por muito tempo. Muitos séculos se passaram e os homens estiveram filosofando, criando milhares e milhares de filosofias, teorias e sistemas sem nenhum resultado. Você pode criá-los, mas trata-se de algo mental. Você não conhece.
Você pode imaginar. Pode criar um sistema bastante coerente de pensamentos, mas não será outra coisa senão seus pensamentos, seus sonhos. Os filósofos são criativos, mas criam sonhos, fantasias. Criam sistemas lógicos, apresentam argumentos para defendê-los, mas a verdade não pode ser criada através de sistemas lógicos; a verdade não pode ser alcançada por argumentos. Seja o que for que você alcance, será apenas uma hipótese. A verdade só pode ser alcançada através da experiência.
Essa é a diferença entre filosofia e religião. A religião diz que a verdade não é conhecida porque você não é capaz de conhecê-la. A menos que você seja totalmente transformado - a menos que se torne um ser diferente, a menos que sua perspectiva mude, que seu modo de ver mude, que seus olhos mudem, que seu coração mude - você não conhecerá a verdade. A verdade não pode ser conhecida através da contemplação; ela só pode ser conhecida através da sua transformação interior.
A contemplação é possível, mas você permanece o mesmo; apenas continua a pensar com a sua cabeça. Você pode criar muitas coisas em sua cabeça. Pode acreditar nelas, mas sabe que elas são criações suas. A verdade não é uma criação; você não pode criá-la. Pode apenas revelá-la, descobri-la - ela está oculta. Os argumentos não serão de nenhuma ajuda. Somente uma autêntica viagem para dentro será de alguma utilidade.
A religião é antifilosófica. Ela diz que a filosofia não tem nenhuma utilidade; trata-se apenas de uma ginástica intelectual. Você pode apreciá-la; é um jogo de palavras, de lógica, de argumentos, mas não lhe dará nada; você não chegará a parte alguma. Estará apenas sentado em sua cadeira confortável, com os olhos fechados, pensando, pensando e pensando. Você pode continuar pensando por muito tempo. Pode pensar coerentemente, consistentemente, mas, mesmo assim, não dará um passo sequer na direção da verdade.
Você pode até mesmo se afastar cada vez mais, porque a verdade não é uma construção mental. Ela já está aí; não é uma construção mental. Ao contrário, por causa de sua ação mental, devido à excessiva atividade de sua mente, a verdade se oculta. Sua mente cria as nuvens. Você fica se movendo nas nuvens e o céu se oculta. Disperse as nuvens, disperse os pensamentos, disperse os argumentos, a lógica, as filosofias, e subitamente a verdade se revela. Ela sempre esteve aí; ela já é um fato. Você não precisa fazer nada para criá-lo. Você precisa simplesmente ser dócil a ela, render-se a ela, sem pensamentos, alerta, atento, e ela se manifesta. Ela sempre esteve aí. A verdade está oculta dentro de você; portanto, você não precisa ir a parte alguma. Não há necessidade de ir para o Himalaia. A única coisa necessária é ir para dentro.
Este sutra diz: Pergunte ao mais íntimo, ao uno, sobre o segredo derradeiro que el guarda para você através dos tempos. Mas somente através do não-pensar é que você pode perguntar. Isso parece contraditório, pois sempre que perguntamos utilizamos o pensamento. O nosso método habitual de perguntar consiste em pensar e pensar. Mas esse questionamento, o questionamento religioso, não consiste em pensar. O questionamento religioso pode ser feito somente quando você está alerta e sem pensamentos.
Lembre-se disto: dou ênfase ao estado de se estar alerta, sem pensamentos, porque quando você não está pensando, caso não estiver também alerta, poderá adormecer. Então não será de nenhuma utilidade. Quando você está pensando, está alerta, mas de nada adianta, porque o pensamento cria as nuvens. Ou então, você pode estar sem pensamentos e adormecido. Isso também de nada adianta, porque o céu está ali mas você está adormecido e não pode vê-lo. Portanto, duas coisas são necessárias: o não-pensar e o estar alerta. Consciência, sem nenhum pensamento. Atenção, sem nenhuma mente. Se você pode criar este fenômeno em seu interior (de um lado, nenhuma mente, de outro, atenção), isso é meditação; é a isso que denomino dhyana.
Nesta situação, a verdade torna-se revelada. E essa verdade é una, a mais profundamente una. Ela não é sua. Esse centro é o centro de toda a existência.
Você existe apenas na periferia, na circunferência. Quanto mais para dentro você se move, menor você se torna. Quando alcança o centro mais profundo, você não existe mais. Num certo sentido, você não existe mais; o velho morreu. Mas, num outro sentido, você existe pela primeira vez, pois agora a realidade mais profunda lhe é revelada, o eterno lhe é revelado. Agora você alcançou aquilo que nunca muda.
A grande e difícil vitória, a conquista dos desejos da alma individual, é um trabalho que requer tempo; portanto, não espere obter sua recompensa, enquanto não forem acumulados muitos anos de experiência. Quando o momento de aprender esta regra é chegado, o homem está a ponto de se tornar mais do que homem.
Quando você vai para dentro, em direção ao uno, atinge um novo estado de existência e de ser. Torna-se mais do que homem; torna-se um super-homem. Você vai mais alto que a condição humana; o animal humano é transcendido.
O animal humano vive adormecido, num sono profundo, inconsciente. Você vai fazendo coisas enquanto está profundamente adormecido. Anda pela rua e está adormecido. Come seu alimento e está adormecido. Ouve minhas palavras e está adormecido. Você não está alerta, não está atendo. Interiormente, a mente continua a tecer coisas, o sonho continua.
Você pode estar aqui fisicamente. Psicologicamente, você pode não estar aqui. Então, você está adormecido. Em sua mente, você pode ter se movido para alguma outra parte. Se você se moveu para alguma outra parte, então, conscientemente, você não está aqui. Apenas seu corpo físico está aqui.
Lembre-se disto: o que quer que esteja fazendo, faça-o de tal modo alerta, com tamanha atenção, que sua consciência esteja ali; não permita que ela se mova. Só então você saberá o que significa estar atento. A cada instante, mova-se no presente. Não se distancie do presente, ou terá ido para os sonhos. Essa atenção torna-se totalmente diferente da humanidade comum. Você está alerta. Tornou-se mais do que homem.
O conhecimento, que é agora seu, só lhe pertence porque sua alma tornou-se una com todas as almas puras e com o mais íntimo. Assim, não assuma de modo algum uma atitude egoística em relação a esse conhecimento, não pense que adquiriu um estado super-humano porque você está alerta. Você está alerta, está atento, transcendeu a humanidade apenas porque agora você está se tornando uno com todas as grandes almas. Está se tornando uno com a própria existência.
Não assuma uma atitude egoística em relação a isso, porque, se isso acontecer, a jornada cessa. Você pode recuar novamente. O egoísmo é o último ponto pelo qual o sono pode entrar outra vez. O egoísmo é o ponto pelo qual a inconsciência pode, de novo, vir a você. Você pode cair de volta na armadilha, pode começar a sonhar novamente.
Ele é um bem que lhe é confiado pelo Supremo. Essa consciência é um bem que lhe é confiado pelo Supremo, pela unidade mais profunda.
Traia-o... Você pode, mesmo agora, traí-lo; pode recuar novamente. Você ainda é fluido; ainda não está cristalizado. O velho estado foi-se embora, o novo ainda está se formando - está num estado fluido. Você pode voltar atrás, pode recuar. A transformação não aconteceu em sua totalidade. Você está diferente apenas em parte. Uma parte de você ainda é o velho.
Ele é um bem. Traia-o, faça mal uso de seu conhecimento... Você pode traí-lo. Se assumir uma atitude egoística - se disser: “Este conhecimento é meu” - se disser: “Eu consegui conhecer. Eu compreendi. Eu conheci Deus. Eu me tornei isto e aquilo” - se você reivindicar, terá traído. A reivindicação mostra que o ego ainda persiste em você; o ego está por trás dela. Você tornou a cair na armadilha. Aquele que conheceu não alegará que conheceu. Não há nenhuma necessidade de se reivindicar. Toda a reivindicação vem do ego; reivindicação significa ego. Se você reivindica, está traindo esse bem.
Faça mal uso de seu conhecimento... Você pode usá-lo mal. Pode usá-lo para explorar os outros, pode usá-lo para dominar os outros, pode usá-lo para fins que não são espirituais, mas então você recuará. O conhecimento é perigoso porque conhecimento é poder, e se você o usar para fins que não sejam corretos, perderá o controle; você recuará. Aquilo que lhe foi dado pode ser tomado de volta. Ninguém o retira de você - você, você mesmo, é que o perde.
Ou negligencie-o... Você pode negligenciá-lo. Se negligenciá-lo, ele cessará de se desenvolver. E, lembre-se, se alguma coisa não está se desenvolvendo, você está voltando para trás. Na existência, nada é estático. Ou você se desenvolve ou você retrocede; ou se move para a frente ou se move para trás. Você não pode permanecer em repouso. Eddington disse, em algum lugar, que a palavra “repouso” é a palavra mais ilusória. Não há no mundo nada que se assemelhe a isso. Ou as coisas estão avançando ou estão retrocedendo. Ou você está crescendo em alguma coisa, ou está decrescendo. Não há nada semelhante ao repouso; seja onde for que você esteja, você não pode repousar. Se estiver tentando repousar, você recuará. Mesmo se quiser repousar no ponto em que se encontra, precisa se desenvolver mais. Somente através do desenvolvimento você pode repousar. De outro modo, recuará.
... negligencie-o - você pode negligenciá-lo - e é possível que, mesmo agora, você caia do elevado estado que alcançou. Seres notáveis já caíram, até mesmo no limiar, incapazes de sustentar o peso de suas responsabilidades, incapazes de passar adiante. Portanto, aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento, e esteja preparado para a batalha.
Até mesmo do próprio limiar do templo do divino você pode se afastar. Bastaria uma batida e a porta teria sido aberta; mas se você não bater, poderá ir-se embora. Quanto mais perto você está, maior a possibilidade de se afastar, porque você se torna mais seguro de que alcançou o conhecimento. Isto é ainda mais perigoso. A menos que você tenha alcançado o conhecimento tornando-se uno com a chama, não fique demasiado seguro. Você pode perdê-lo a qualquer momento. A segurança pode ser perigosa.
Ocorre que, sempre que você chega bem perto da meta, sente-se muito cansado. Quer repousar. Você sabe que agora o templo está bem próximo e que pode alcançá-lo a qualquer momento; não há nenhuma dificuldade. “Posso relaxar um pouco, repousar um pouco.” Então você pode perder aquilo que estava bem próximo. Ele pode se distanciar. Relaxar perto da meta é perigoso porque, no momento em que você relaxa, pode recuar. E quando você se tornar novamente atento, descobrirá que o templo desapareceu.
Quando a meta está próxima, não relaxe seu esforço. Ao contrário, concentre agora toda a sua energia nisso; deixe-se absorver totalmente. Este é o momento referido no sutra, quando diz, aguarde, sempre com respeito e temor, por este momento. Não relaxe. Não há relaxamento enquanto você não se tornar uno com Deus. Antes disso, nenhum relaxamento é possível.
Osho