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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

29 de janeiro de 2011

Catarse virtual

Entre a dimensão real (fruto de nossas ações) e a ideal (fruto de nossas imaginações), passou a existir a virtual (intermediária e mediadora). Intermediária porque na dimensão virtual podemos pré-visualizar as nossas concepções mais mirabolantes, até mesmo em 3D, como os melhores projéteis de construção civil.

Mediadora porque, nessa dimensão virtual, podemos efetuar os aperfeiçoamentos necessários.

De frente para um computador, damos vazão a uma enxurrada de “pseudo-realizações”. Sim, “pseudo” porque não chegam a ser exatamente uma realização concreta, palpável; nem tampouco abstrata, pois não mais pertencem ao reino das idéias, ganharam a forma dentro do computador, sendo possível visualizá-las.

Isso representa um novo mecanismo de catarse. É um prazer solitário, comparável à masturbação.

De fato, nada é alterado no ambiente real, em um curto período de tempo, por causa das percepções individuais ou sociais registradas no ambiente virtual, ou mesmo registradas em livros, haja vista os vários exemplos de obras literárias e filosóficas do século passado denunciantes dos desacertos em nossa sociedade. Alguns trechos destas obras encontram-se publicados aqui mesmo neste blog.

O fato de escrever, aberta e livremente, sobre temas que poderiam contribuir ao aperfeiçoamento da sociedade e do indivíduo, na verdade, é resultado de um condicionamento muito bem implantado desde a mais tenra infância. Chego a acreditar, piamente, que estou sendo diferente ao agir dessa maneira; ou que, dessa maneira, eu consigo contribuir para a melhora de alguma coisa ou de alguém.

A dedicação à aprendizagem em instituições de ensino (o histórico escolar) convenceu-me de que existe satisfação, alegria e aprovação em tirar boas notas; e há nisso um sentimento de realização inegável; enquanto o mundo e as relações sociais permanecem com os mesmos padrões. Porém, é justamente isto que me inseriu no padrão do sistema vigente. É isto que tornou o sistema vigente tão entranhado em mim. Este mesmo sistema que abriga violências, guerras, preconceitos, injustiças, corrupção, corrosão de valores e toda sorte de incompatibilidades entre seres de uma mesma espécie...

Porque recebemos incentivos e estímulos ao uso de nossas exclusivas capacidades racionais em atividades individualistas como os estudos – aprender uma matéria escolar é um árido ato individual de exclusão -, ou como meros espectadores de qualquer obra artística, qual seja um filme, um quadro, uma escultura, exposições fotográficas, etc.

Só não ensinam a interagir plenamente com o que os olhos e os ouvidos percebem (talvez por desconhecerem este ensinamento).

É nesse interagir onde reside toda a graça e toda arte, todo o conhecimento e toda a beleza. Enquanto leitor e espectador, estou passivo. Entretanto, para interagir devo atuar de alguma forma. Neste atuar está contida a saída do meu estado de passividade. Torno-me atuante. Mesmo quando estou imóvel diante de uma fotografia, por exemplo, posso estar atuante, ao observar atentamente o que aquela fotografia suscita em mim... quais lembranças vêm à tona... quais emoções são despertadas. Portanto, nem todo movimento exterior significa atuação.

Ainda que idéias e ideais renovadores, revolucionários, permaneçam durante anos a fio enclausurados em ciberespaços, ou em livros empilhados nas prateleiras, a grande vantagem e diferença é que, antes, estas mesmas idéias e ideais apenas pairavam sobre seres denominados visionários, cujas percepções estavam além do seu tempo. E, hoje, elas se apoderaram de um meio mais rápido de propagação: o virtual.

É visionário enxergar a rota descendente de uma determinada tendência e querer, imediatamente, estar em outra tendência de rota ascendente. Pior é tentar transmitir tal percepção a outras pessoas, para obter delas ajuda e contribuição nessa mudança de rota, pois quase nada conseguimos realizar sozinhos. É bastante óbvio inferir disto que os poucos indivíduos com percepções semelhantes são tidos por alucinados, usuários de alucinógenos; ou lunáticos, freqüentadores assíduos do ‘mundo da lua’; principalmente se estas pessoas são reles anônimos, sem nenhuma posição de destaque no meio em que vivem.

Enquanto existirem visionários, alucinados e lunáticos a espécie humana estará ao abrigo de sua mais completa extinção...

Liban Raach
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