P: Esse voltar-se para dentro é um meio de ignorar o ego?
R: Não. O voltar-se para o interior pode apenas acontecer, você vê. O voltar-se para dentro é esse processo de evolução espiritual. A evolução ocorre em todas as coisas. Há a evolução física, há a evolução na música, na arte, na ciência e há evolução espiritual.
Nessa evolução espiritual, há primeiro a identificação que ocorre através de muitos milhares de organismos corpo-mente. Quero dizer, poderiam ser centenas de milhares ou milhões, esse não é o ponto mas é que ocorre através de diversos organismos corpo-mente. E num certo organismo corpo-mente o voltar-se para dentro irá acontecer. Um pensamento ocorre ou um evento ocorre ou algo acontece, e com isso como uma aparente causa, a mente volta-se para dentro. E em vez da mente ir para fora, querendo mais e mais objetos materiais, a mente volta-se para dentro e quer conhecer sua natureza real: "Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Qual é o sentido da vida?" Então o processo de desidentificação começa. A busca espiritual nessa evolução começa com a mente voltando-se para dentro e o indivíduo começando a buscar. E essa busca, que na verdade é o processo de desidentificação, continua através de vários processos na evolução. De um tipo de busca você vai para outro tipo de busca e passa por muitas frustrações, até que finalmente há uma compreensão repentina de que nenhum "indivíduo" jamais pode ser iluminado. A iluminação, sendo um acontecimento impessoal, pode acontecer apenas através de um objeto. Para qualquer evento poder acontecer um objeto é necessário. Assim, quando a iluminação está para acontecer um organismo corpo-mente que está pronto para receber essa iluminação é criado nesta evolução. Ele tem as características físicas, mentais, temperamentais, que tornam esse organismo corpo-mente capaz de receber a iluminação. E esse próprio organismo corpo-mente é um processo de evolução.
O início dessa compreensão, na duração, é a aceitação de que a iluminação pode não acontecer através deste organismo corpo-mente. Para um buscador é uma coisa muito difícil de aceitar, para um indivíduo buscador, mas esse é um marco importante nesse processo na dualidade. Então um "abrir mão" acontece e há um tremendo sentido de liberdade. "Se eu não posso ter a iluminação e se um objeto não pode ser iluminado, o que estou buscando?"
De modo que esse "abrir mão" acontece e essa identificação com este corpo-mente, esse "eu", fica mais fraca. Mas um certo salto quântico acontece no processo. E o salto quântico final, que está logo antes da iluminação, é este: "não há mais busca, não há mais preocupação se a iluminação vai acontecer ou não." Quando essa aceitação surge, o "eu" praticamente já se foi. Porque é o "eu" que é o buscador, não o organismo corpo-mente. O organismo por si mesmo é apenas um objeto inerte, necessário para a iluminação acontecer.
Ramesh Balsekar: trechos do livro "Consciousness Speaks"