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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

19 de agosto de 2011

Trincheiras do Ego

Trincheiras do Ego, upload feito originalmente por NJRO.
clique na imagem para vê-la com detalhes


 Como disse minha esposa, Deca, "a mente é cega e surda, pena que não é muda!" Tratando da mente, o ato de se comunicar requer arte, principalmente nestes tempos onde, maior parte de nossos contatos se dão na esfera da virtualidade. Se, olhos nos olhos, já ocorrem todas as formas distorcidas de interpretação do que dizemos, imagina só nesse mundo de máquinas. Imagine só, nas redes sociais repleta de "seres iluminados de plantão". O que sinto é que, quase sempre, quanto mais cultura espiritual, mais atestado para a falta de visão, mais atestado para a dificuldade de compreensão de coisas extremamente simples. De fato, quando as pessoas se agarram a palavras, a símbolos, de modo algum podem alcançar o simbolizado para onde os mesmos apontam. A visão do intelecto precisa das vírgulas, dos pontos e das reticências e tudo tem que estar devidamente colocado, senão, ele fica ali empacado, numa verborréia que faz doer os olhos e ouvidos. Por mais que repitam, por mais que escrevam, não ouvem e não leem o que já escreveram muitas vezes: a palavra não é a coisa!... Estes "iluminados de plantão", ao invés de sentirem, ao invés de perceberam para o sentido, para a direção que as palavras apontam, preferem se agarrar a elas e nesse imaturo agarrar, que é fruto do intelecto separatista, dispensam energia e tempo em polêmicas defesas de bandeiras farrapilhas.
Como diz Rabindranath Tagore: "Por que não fazemos, em cada encontro, um novo passo em direção ao outro?" Em vista disso, me pergunto: Por que não fazemos isso em cada "post", em cada "publicação", em cada comentário, em cada texto? Por que, ao contrário disso, insistimos buscar por polêmicas filosóficas dotadas de um falso ar de compreensão espiritual? O que ganhos com isso? Disputar razão pode nos outorgar a possibilidade da descoberta de nossa real natureza?... Esses debates mesquinhos podem nos levar a experiência do Ser que nos faz Ser?... O que se ganha com isso? Demonstrar conhecimento livresco, polemizar, pode nos mostrar o conhecimento direto da Divina Presença?... De que modo, por meio desses comportamentos que demonstram imaturidade, podemos ajudar algum irmãozinho que seja, a se tornar humano no mais profundo sentido desta palavra?... De que modo isso pode ajudar alguém a respirar de forma mais suave neste mundo de constantes controvérsias?
Durante todos os anos em que me fiei nesse comportamento, não consegui nada a não ser solidão e inimizades. Se não posso amorosamente esclarecer, para que, ao escrever, a mim a ao outro, embrutecer? Isso não me parece ser uma qualidade de quem realmente viva esse estado de constante contato consciente com o Ser que nos fazer. De fato, uma pessoa que se permite tal comportamento, não tem como fazer a minima ideia do que possa representar o sentido das palavras "Cuidar do Ser". Se não posso facilitar de forma amorosa, o esclarecimento, melhor deixar o outro no seu ser e tempo. A falta de respeito ao tempo e compreensão do outro, também não me parece ser uma das qualidades de quem esteja vivendo nesse estado de contato consciente com a natureza real de seu ser. Isto é tão somente, atividade do ego, do intelecto que se nutre da satisfação mórbida da disputa de palavras. É sempre assim: o que o ego, o que o intelecto não alcança, denigre, debocha — isso quando não hostiliza.  
O Finado Raulzito, um dia disse: Falta cultura para cuspir na estrutura. Talvez, se tivesse tido um pouco mais de tempo, teria dito: Quanto mais cultura, mais a cabeça é dura. É impressionante o fato corrente, quanto mais cultura espiritual, mais atestado para não cair na real. Não é preciso cuspir na estrutura, não é preciso cuspir em nada! Não há nisso o menor sinal de inteligência amorosa; isso é rebeldia estagnante, é uma postura de esquerda festiva! É preciso entender o sentido das antigas palavras: "dar a outra face"...
Somos muito rápidos em querer nos manifestar aos outros, quase sempre com frases emprestadas de terceiros, não com frases da experiência pessoal direta, mas da ideia formada sobre a experiência de terceiros, das quais nos apropriamos como se fossem nossas. Isso é uma verdadeira "pedra de tropeço" que nos impede a visão direta que nos leva a um estado de presença que é todo abarcante, todo amor. Quando fazemos uso do conteúdo de terceiro, como sendo nosso, perdemos uma grande oportunidade de ficar em silêncio, e quem sabe, por meio desse silêncio, torná-las realidade em nosso ser. Qualquer palavra, qualquer texto, que não seja genuíno, que não seja original, que não seja uma vivência direta, não tem como instalar uma revolução, uma mutação, uma transformação na mente condicionada do outro, visto que sua essência é a imitação, que é prima direta da inveja, e disso, o outro já se encontra indevidamente estocado, abastecido. O que o outro precisa é de amorosas palavras de fogo. Não precisa de gélidas palavras egóicas. Como ninguém ganha com esse tipo de ação, no meu sentir, só por agora, a melhor postura é o silêncio. Qualquer texto, qualquer comentário, qualquer palavra que seja para o engrandecimento do ego e não para a manifestação de uma consciência amorosa, tem seu espaço garantido: o cesto de lixo, a lixeira eletrônica. Antes de querer entrar em contato com o outro, antes de invadir o espaço alheio, antes de tudo, sinto que é melhor dedicar o devido tempo para fazer um "scandisk" e um  "defrag" mental, para nos certificarmos de possíveis "bad block" que possam impedir o fluxo curativo do amor. Sinto que para este texto, vale a pena apertar a tecla "enter", a tecla "publicar postagem". É no calor da chama que arde no meu peito que espero que o mesmo entre na consciência de ouvidos e olhos amorosos — mesmo que em ouvidos e olhos em estado de dormência, ou num estado de ser, onde o verdadeiro amor ainda se encontre em estado embrionário.
Mais do que nunca, é tempo de dedicar a outra face, é tempo de outra postura, uma postura de ternura. É pela doçura da ternura que se desfaz a dura estrutura. Isso precisa ser muito mais do que uma bela ideia — para quem sabe ser usada mais adiante em outra disputa por razão. Isso precisa ser uma vivência direta, profunda, uma vivência que permeie cada uma de nossas células, que altere nosso código genético. E essa vivência, de modo algum pode ocorrer através de disputas, através das maquinações de um intelecto, por  mais culto que este seja. Esta postura que precisa ocorrer é das esferas do Ser, do Ser que é puro e que ama a simplicidade da criança.
Eu digo: O que falta, é doçura para não reagir pela antiga estrutura!
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

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