Comecei bem o dia por aqui: ao abrir minha caixa de e-mail, deparei-me com um daqueles avisos de comentários, do tipo marimbondo venenoso, claro, como sempre, devidamente protegido pela opção de postar de forma anônima. De graça, permitido pela Graça, uma doação psicológica de terceiros trazendo o material necessário para o auto-conhecimento. Interessante ver como o "machucadinho ego" tem a tendência de se identificar, se agarrar e de reagir de forma automática, com toda sua conhecida carga de desamor. É através dessas observações que fica latente a beleza do encontro com sua natureza real, natureza essa que consegue, de imediato, ver o falso, sem a antiga identificação doentia com todo seu pacote de resistências conflituosas. Onde não existe esse amoroso filtro desta Presença, há tão somente um revidar de sofrimentos, sustentados em puro intelectualismo. É uma Graça ter a consciência de que o "outro" tem todo direito de expressar o conteúdo que carrega em seu interior, inclusive, de se proteger com o manto do anonimato que impede a comunicação aberta.
Interessante também, é a constatação desse vício que carregamos por anos, de buscar por inimigos externos, de querer confrontar a realidade do outro, através do uso de nosso aparelhinho interno, que chamo de "iluminômetro". Dou a isso o nome de "outrite", essa doença do desfoque de si mesmo... Fui uma de suas grandes vítimas, por 47 anos. É uma Graça perceber que o inimigo nunca está lá fora, está aqui mesmo — por anos "dormimos com o único inimigo". Perceber que dedicar tempo e energia para descobrir a possível irrealidade do estado de ser do outro, não pode de forma alguma me libertar deste infectado estado de buscar por controvérsias públicas, que nada tem de amorosidade ou Presença, não tem preço. Poder perceber as tentativas do velho John Maclane, nosso ego duro de matar, de usar destes acontecimentos para poder novamente ganhar poder e, através desta percepção, vêr sua tentativa frustrada, é uma verdadeira benção. Saber que não é preciso acrescentar mais sofrimento, conflito e confusão na vida destes irmãozinhos de intelectual crítica ácida, saber que os mesmos ainda se encontram vitimados por esse brejo fétido no qual você ali esteve por tantos anos, sempre tentando se agarrar, sempre tentando não afundar, traz consigo uma leveza, um novo olhar que coloca, de imediato, tudo em seu devido lugar.
Estas situações são verdadeiros suportes para o auto-conhecimento, para a formação da consciência da necessidade da prática constante deste contato consciente com esta Amorosa Presença, pela qual, é mantida nossa autonomia psicológica, nosso estado de unidade interna, estado este, onde não mais ocorre a nefasta identificação com as conflituosas doações psicológicas de quem ainda insiste em compartilhar, de modo doentio, seu enorme sofrimento interno. Não há inteligência amorosa em querer revidar a manifestação proveniente da ausência de inteligência amorosa. Como em outros tantos casos, aqui, a melhor opção, é o silêncio.
Nelson Jonas Ramos de Oliveira