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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

31 de maio de 2011

Anseio Universal de Libertação

Vai pela humanidade dos nossos dias um anseio universal de libertação. Essa ânsia redentora é provocada por uma consciência profunda de irrendenção. Parece que a função peculiar da inteligência é fazer sentir ao homem que nenhum conforto material, por mais refinado e potencializado, pode libertar o homem desse doloroso senso de inquietude e insatisfação que caracteriza, sobretudo, o cidadão da Era Atômica. Quanto mais o homem se afasta, pelo poder da inteligência, do seu centro humano, invadindo os espaços externos, tanto mais sente  ele, consciente ou inconscientemente, a necessidade de voltar a si mesmo, pela conquista do espaço interno, pelo descobrimento do seu verdadeiro Eu. O progressivo centrifuguismo produzido pelo ego intelectual exige um correspondente centripetismo, que só o Eu espiritual pode realizar. Quanto mais liberto o homem se julga pelo conforto material, que a ciência proporciona, tanto mais escravizado se sente pela falta de consciência de seu verdadeiro destino. E essa consciência de irredenção desperta na alma humana um crescente anseio de redenção. 

A fim de diminuir essa consciência de vácuo e insatisfação, procura o homem profano toda espécie de satisfações — mas... satisfações não dão satisfação. Bens de fortuna, prazeres sensuais, poder político, ciencia, arte, diversão social — pode tudo isto atuar como lenitivo temporário, narcótico e anestésico artificial, mas a raiz do mal continua, por mais que os sintomas da doença sejam camuflados, de tempos a tempos.

Por isto, os mais sensatos dentre nós procuram ir além desse charlatanismo barato de cura de sintomas mórbidos e tentam sanar o mal pela raiz. O globo está coberto de sociedades iniciáticas, místicas, esotéricas, espiritualistas, que prometem a seus adeptos definitiva quietação metafísica e plena integração do individuo nos mistérios do Cosmos. As classes mais simples e os crentes unilaterais, por outro lado, se contentam com a prática de cerimônias rituais e sacramentais, sob a direção de seus respectivos chefes.

O homem da Era Atômica que passou por duas guerras de extermínio não pode mais crer na força redentora da nossa cultura e civilização, como muitos otimistas do século 19 ainda acreditavam. O homem de hoje perdeu a fé na ciência e técnica como fatores de libertação.

Ciência, técnica, política, progresso, civilização, humanismo, ritualismo, nacionalismo, e outras pretensas panacéias de antanho, sofreram tremendo colapso; está provado que nada disto nos pode libertar, porque tudo isto falhou e afogou a humanidade num mar de sangue e de ódio.

Nunca se sentiu o homem tão frustrado e céptico de si mesmo como em nossos dias. Não pode o lucifer do nosso ego redimir-nos dos resultados do nosso egoísmo. E a perspectiva de uma nova guerra mundial, com armas nucleares, apaga na alma do homem moderno a derradeira centelha de otimismo e de confiança em si mesmo.

A humanidade anseia pela redenção. Donde vir o redentor?

De fora? Através de dogmas, ritos, teologias? Mas esses provocaram as guerras!

De dentro? Através da inteligência humana? Mas foi precisamente esta que nos desgraçou, criando engenhos bélicos de destruição universal.

Não nos resta senão ultrapassarmos ritualismos e cientifismos e descobrirmos em nós mesmos o "ponto de Arquimedes" em que apoiar a alavanca redentora. Esse fulcro não pode ser nosso ego, mas tem de ser algo mais profundo e sólido.

O homem pensante e sinceramente espiritual se contenta cada vez menos com a magia mental e técnicas rituais. Crê tão pouco em alo-redenção ritual como em ego-redenção mental, mas sabe que há auto-redenção espiritual...
(...)
A humanidade-elite deste século não quer crer de olhos fechados, mas saber de olhos abertos. Os melhores dentre nós são praticamente "inconvertíveis"; não voltarão atrás, esperando libertação por ritos externos, nem confiam na magia mental de certas técnicas científicas. 

E continua a agonia dos irredentos...
(...)
Uma voz íntima lhe diz que nem o nascer nem o morrer o podem redimir, mas que é necessária uma vivência mais profunda e uma experiência mais alta do que estes fatores lhe possam garantir. Numa intensa vivência experiencial estaria sua redenção - mas como conseguir essa vivência?... Onde está a chave do mistério, fora ou dentro dele?... 
(...)
Auto-redenção não é ego-redenção. O homem é remido por um fator não idêntico a seu ego humano, mas esse elemento redentor não está fora do homem, está dentro dele, é o seu verdadeiro centro, o seu divino Lógos ou Verbo que nele encarnou e nele habita, embora em estado ainda latente. Despertar em si essa vida divina dormente - isto é redenção, salvação, auto-realização. 

O ego é um objeto que o homem tem - o Eu é o próprio sujeito que o homem é. O que eu sou isto me redime daquilo que eu tenho...

Huberto Rohden
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