Pela janela da Van que me leva, com o cinto de segurança bem preso a mim e a minha cadeira-de-rodas – esta mesma cadeira que me ensinou a ser livre, a ser seguro de mim - no trajeto da minha casa até a clínica da diálise, observo a multidão... a multidão caminhante na rua e me surpreendo com o desejo de estar em meio a eles, perambulando com a minha cadeira pelas calçadas, para descobrir quem, naquela multidão de indivíduos absortos em outras realidades... realidades imaginárias, estaria de prontidão para transmitir um olhar de acolhimento mínimo e de contato real.
Tolice minha...
Pessoas indo e vindo, vem e vão, passam e não ficam, vão em vão.
Vejo da Van... a mente divagando... não ficam por nada , nem por ninguém, nem deixam nada pra ninguém, nenhuma cortesia, nenhuma gentileza.
Uma cortesia faz alguém ganhar seu dia... Adia a morte!
Pra que desperdiçar seu tempo dando atenção a estranhos?
Ao espelho, estranharão as semelhanças também?
Quão vão é passar por esta Terra sem ser tocado e sem tocar a ninguém pelo olhar...
Liban Raach