CARACTERÍSTICAS DO OUTSIDER
1 – DA DEFINIÇÃO
Segundo o dicionário Aurélio:
outsider
[QwtÈsajd«Õ] [Ingl.]
Substantivo masculino.
1. Turfe Cavalo que tem o mínimo de possibilidades de vencer.
2. Fut. Lance em que a bola vai fora do campo.
3. Mar. Merc. Navio mercante que não se atém aos acordos estabelecidos nas conferências de frete.
Em termos práticos, Outsider pode ser visto como aquele que não se enquadra, que não faz questão de fazer parte de nenhum grupo determinado, alguém que vive a parte da sociedade, alguém que de fora observa um determinado grupo; alguém dotado de um estivo de vida independente e alternativo. Um estrangeiro, um forasteiro, um peregrino, um homem fora do lugar, um anônimo.
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2 - DA VOLUNTÁRIA DISSIDENCIA SOCIAL
A dissidência como “outsider” dá-se quando a pessoa começa a se irritar diante da constatação de que não é livre. Enquanto a pessoa for um ser humano comum, nascido uma só vez, ela não é livre, mas não tem consciência disso. Essa falta de consciência a deixa momentaneamente livre da irrealidade que é sua vida. Isso não quer dizer que sua ignorância não faça diferença; faz. O Outsider, voluntária e abertamente se recusa a aceitar o ambiente, com sua mecanicidade e atual virtualidade. É sempre alguém que não se deixa contagiar pelo absurdo entusiasmo geral. Possui uma profunda resistência a integração na cultura globalizada, imunização a influência da moda, mídia e economia. Assume uma condição dissidente diante de uma sociedade de desenfreado consumo. Abre mão do modo de vida burguês com todas as suas futilidades e relações destituídas de verdadeira intimidade, que para ele, não passa de uma verdadeira piada. Não tem em conta convenções familiares, onde quase sempre, por sentir-se inadequado nesses contatos, sente necessidade de afastamento físico e emocional. Não teme, através de sua mente questionadora, arrancar sistematicamente, todas as afeições e crenças que se mostrem sem fundamento, mesmo que isso implique num estado de aterrorizante vazio. É controverso e arredio as discrepâncias e falhas do sistema econômico e social. Recusa-se a desenvolver uma mecanicista mentalidade prática burguesa. Prefere buscar por caminhos diversos de experimentação e vivência, mesmo que estes conduzam a solidão e a dor, tudo em nome da experimentação da vida com total intensidade. Por ser portador de uma vontade resistente e inadaptável, a qual direciona para a questão existencialista, tem ampliada a sua problemática em torno do social. Adota uma postura ética de renúncia e disciplina que o torna menos escravo de um cotidiano voltado para a domesticação servil, a qual impede a livre expressão das potencialidades humanas. O Outsider possui potencial libertário e inconformista, além de uma vontade dúbia e tênue por rebelião às instituições básicas. Por causa disso, rompe com a vida social e passa a buscar por um modo de vida alternativo, longe dos ditames e grilhões da sociedade dita civilizada. Por estar de fora, prefere viver a essência do anonimato, do que manter-se participante dos insanos jogos de aparências, uma vez que tem consciência de que quem vive de aparências, só aparentemente vive. Ao contrário do coletivo que insiste no falseamento de sua realidade, o Outsider é uma amante da Verdade, por mais dura que esta possa ser. Sofre e faz sofrer por causa de sua sinceridade e autenticidade. Possui um profundo sentimento de não aceitação do modo de vida vivido pelos seres que se dizem humanos numa sociedade que nada tem de humana. Seu forte insight sobre a natureza da liberdade, faz com que não aceite os estúpidos valores pelos quais os demais pautam suas vidas. Sente a necessidade de assumir comportamentos completamente novos e empreender um estudo deste mundo irreal que se apresenta. O Outsider se separa das outras pessoas por uma inteligência que impiedosamente destrói os valores das mesmas e o impede de se expressar pela incapacidade de recolocar novos valores. Seu maior desejo é o de deixar de ser um outsider, não pela domesticante inserção burguesa no sistema, mas sim, pela transcendência do sistema e de si mesmo. Para ele não há como retroceder; seu problema, portanto, é o de saber como seguir em frente. Na máxima manifestação de sua dissidência, pode preferir optar pelo fim de sua existência do que negar a expressão maior de seus ideais.
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3 - DO SEU APURADO PODER DE VISÃO
O Outsider exerce profunda observação sobre o espaço que o cerceia, excluí e por ele é excluído. Sua capacidade de visão o torna profundamente questionador, com infinitas indagações no tocante ao que é fundamental. Produz questionamentos sobre o viver correto, sobre novas formas de ver e sentir que não sejam esmagadas pelas próprias limitações e que não obstruam a capacidade de agir, bem como a potencialização de seus talentos. É dotado de uma demasiada profundidade do olhar, da qual faz uso de forma silenciosa e com a qual constata o jogo de falsidade, interesses velados e superficialidade pelo qual transcorre grande parte das relações sociais. Tem os olhos bem abertos para o caos instalado, enquanto a grande maioria, em sono profundo, se preocupada apenas com a satisfação das medianas preocupações imediatistas burguesas. A visão de vida de um Outsider não se apóia na Tradição, mas sim na relação direta de seus insights, experiências e racionalidade. Seu apurado poder de visão lhe faculta um perfeito juízo da injustiça de os seres humanos terem que viver nesse nível morno das trivialidades cotidianas; ele sente que deveria haver uma maneira de viver o tempo todo com a intensidade do êxtase criativo do artista e é para este que constantemente aponta seu olhar. Por perceber a irrealidade de tudo, começa a formular perguntas do tipo: Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? São essas perguntas que acabam com a ilusão de identidade com o script social e o “condena a ser livre”. O Outsider busca pela interioridade; reconhece as emoções que lhe roubam a energia, que não contribuem para a sua interioridade, e se dispõem a exterminá-las de si mesmo. À medida que caminha em direção ao seu objetivo, cresce o seu suprimento de força vital excedente, ampliando assim seu poder de visão.
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4 - DO SEU SOFRIMENTO, MAL-ESTAR E DIFICULDADES
Um dos seus sentimentos mais desconcertantes é o sentimento de “estrangeirismo”; de alguém que se encontra `fora de lugar’, de ser um `anormal’, um introvertido que não consegue participar de uma maneira satisfatória da vida de relação. Vivencia um estado de desespero diante da miséria da realidade social. Sente a necessidade de buscar por equilíbrio diante de tantos desequilíbrios de ordem social, econômica e psíquica. Observa seu conflito interno e o mal-estar gerado pelo sentimento de inadequação. Não teme o contato com suas feridas, ao contrário, ousa remexe-las. Por vezes, sente-se degenerado, doente, dividido, ressentindo-se por pensar (de forma errônea) não ter nenhum talento especial, nenhuma mensagem para oferecer. Tem profunda ojeriza a conversações pautadas em experiências passadas; seu interesse está nas experiências do agora que apontam para a possibilidade de um saudável futuro. Possui um excesso de energia intelectual aliada a uma nula capacidade de ação, além de dificuldades de auto-expressão, ausência de assertividade na defesa de seus valores, idéias e visão de mundo. Devido sua dificuldade de auto-realização, busca constantemente por um modo de agir no qual se aproxime mais de si e pelo qual obtenha a auto-expressão máxima (excelência de ser). Sente uma inquietante necessidade de colaborar de forma criativa e direta para a manifestação da ordem ao caos instalado, ao qual é extremamente sensível e vulnerável, mas não o suficientemente forte para esboçar reação assertiva. Anseia profundamente por um modo de vida que não seja fútil, absurdamente acelerado e impessoal. Sofre a infelicidade de perceber que não existe uma real comunicação com os outros seres humanos, nem mesmo com aqueles a quem mais ama. Experimenta constantes ataques de insatisfação, tédio e sentimentos de irrealização, os quais, depois de algum período são amenizados por breves momentos de insights criativos. É uma pessoa que se sente dividida e anseia pelo estado de unidade através do qual possa viver mais abundantemente. O sofrimento resultante de seu conflito não se trata de inferioridade, ainda que possa torná-lo menos apto a sobreviver do que o burguês; não-reconciliado é um sinal de grandeza; reconciliado, manifesta uma vida mais abundante que torna inquestionável a sua superioridade aos outros tipos de homens. Quando se torna consciente de suas forças, sente-se unificado e feliz. Parte de sua infelicidade é resultante de sua incorrigível tendência a fazer concessões, de preferir as temperadas regiões burguesas, civilizadas. Seu bem-estar encontra-se nos extremos, não nasceu para ser homem de meias medidas. Seu traço mais característico: é a incapacidade de parar de pensar. Sente-se um prisioneiro de seu pensamento. O resultado é um estado de tensão mental sem fim. Sente que seu maior inimigo é a futilidade humana. As exigências do mundo exterior, infindáveis e sem importância, são lhe um peso imenso. O Outsider é uma pessoa cansada da vida, cansada dos tolos com suas imaturas oposições. Cansada de tanto ter que recompor suas forças para ter que desperdiçá-las de novo, numa sociedade que se movimenta em direção a não vida. Esse cansaço, ao contrário do que todos pensam, é proveniente de problemas existenciais reais, e não delírios neuróticos. Ele sofre por ter elevado seu bom senso e sensibilidade ao máximo, os quais ampliam sua percepção. Um de seus maiores medos é o de se deparar com a morte sem que seu problema existencial tenha sido devidamente resolvido.
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5 - DA SUA RELAÇÃO COM A BURGUESIA
O Outsider se interessa por altas velocidades e grandes pressões; ele prefere dar atenção ao homem que se dispõe a ser muito bom ou muito mau, e não ao bom cidadão que defende a moderação em todas as coisas. Ele não se contenta com velocidades comuns. O Outsider vê naturalmente a grande maioria dos homens como fracassos; na realidade, talvez ache que a grande maioria dos homens que já viveram foram um fracasso. Em vista disso se pergunta: Como devo viver minha vida para não ter de me considerar um fracasso? Sua relação com o burguês tende a ser conflituosa uma vez que o burguês defende a complacente aceitação do establishment enquanto que o Outsider tenta sempre expressar seu senso de anarquismo dissidente. Não o faz por provocação, mas pelo profundo impulso de que a Verdade deve ser dita, custe o que custar, caso contrário, nunca será possível o estabelecimento final da ordem. Sente profunda alergia ao caos proveniente da confortável e protegida infeliz felicidade da zona de conforto burguesa, bem como pelo seu profundo esforço pela manutenção de seu ilusório prestígio passageiro. Onde o burguês vê realização, o Outsider vê pesadas correntes. Contempla o mundo burguês como uma enfermidade. Está envolvido por uma sensação de estranheza e de irrealidade que o leva a enxergar a natureza burguesa como caótica, doente e enfastiante. Sua máxima: A verdade deve ser dita, o caos deve ser enfrentado. Já para o burguês, a verdade deve ser encoberta e o caos, bem decorado. Vê o mundo burguês como um verdadeiro caos, uma irracionalidade profundamente contagiante. O outsider é o principal suporte do burguês; sem ele o burguês não existiria. A vitalidade dos membros ordinários a sociedade depende dos seus outsiders. Muitos Outsiders se unificam, se realizam como poetas ou santos. Outros permanecem tragicamente divididos e improdutivos, mas mesmo assim suprem a energia espiritual da sociedade; é a sua tenacidade que purifica o pensamento e impede o mundo burguês de afundar sob seu próprio peso morto. O outsider é o dínamo da sociedade. Possui uma imensa capacidade de renúncia, sofrimento, de indiferença pelos ideais da burguesia, e de paciência quando relegado àquele último grau de solidão que rarefaz a atmosfera do mundo burguês, transformando-o em éter gelado em torno dos que sofrem para se tornarem homens. Prefere se comprometer com um futuro incerto e solitário do que se render à conformação da pseudo-segurança e companhias interesseiras tidas num modo de vida burguês. Sem dificuldades ou hesitação, abre mão das aparências em busca da essência de tudo que é. Quanto mais aumenta sua consciência, mais aumenta o desprezo pelos valores burgueses. O outsider, por ter experienciado um contato, ainda que breve, com a “Grande Realidade”, sente-se inutilizado para a futilidade da vida do dia-a-dia burguês. Sente-se totalmente incapaz de se adaptar a trivialidade cotidiana. Sente que a vida é uma eterna tensão entre a “Grande Realidade” e o sofrimento resultante do conformismo ao modo de vida burguês. O outsider não gosta de sentir que a futilidade seja a única opção de vida; sua natureza lhe diz que há alguma coisa à qual possa responder com total assentimento, e, por ela, busca. Nesse ínterim, sofre pela sua não autossuficiência e pelo doloroso “vácuo” em que se encontra. Sente que o modo de vida burguês é uma forma de morte viva. Diante de sua profunda percepção da doença proveniente do modo de vida burguês, com toda sua corrupção, erros, mesquinhez, pobreza, imundice e desprezível conforto, insiste em apontar para a necessidade de reconhecimento da mesma, para uma possível cura. O Outsider tem consciência de que as demais pessoas inseridas no sistema, não possuem a consciência da natureza que move as suas ações. Para o Outsider, os homens estão contentes numa prisão – são animais engaiolados que nunca provaram o gosto da liberdade – portanto, ao contrário de si, eles não têm consciência de sua prisão. O Outsider sente que a vida tem por objetivo mais vida, formas mais elevadas de vida, viver mais abundantemente, a qualquer custo. Devido sua incansável busca por mais consciência, não vê lógica em desperdiçar seu precioso tempo e energia com futilidades. Prefere dedicar-se à contemplação, em apenas ter dinheiro necessário para a manutenção de uma vida de simplicidade voluntária. Para ele, o que importa é o hoje, nunca o amanhã. Por isso, é tido pelo burguês, como um sonhador que vive sempre no mundo da lua, que não lida com a realidade, alguém totalmente destituído de espírito prático. Mas, na realidade, nele não há nada do sonhador inútil: todos seus valores são claros e precisos. Para ele, cabe a busca do despertar da inteligência, deixando ao burguês, a mania de colecionar futilidades e tolices. O outsider não leva a vida na brincadeira; na melhor das hipóteses, é uma caminhada difícil; na pior, é uma insuportável camisa-de-força. Ele vê o mundo como um “caos dominado pelo ego” e não sente inteligência em se sentir seguro na identificação com o mesmo. Para ele, o importante é conhecer-se melhor e o estabelecimento de uma disciplina para vencer sua fraqueza e sua fragmentação interior, tendo por objetivo tornar-se harmonioso e integrado. Ele é alguém totalmente diferente do burguês que não tem nada na cabeça, a não ser a satisfação de suas infinitas necessidades físicas imediatas, estas criadas pela ausência de bom senso. Enquanto o outsider busca por momentos de contemplação, o burguês, se colocado numa ilha deserta, sem nada para lhe ocupar a mente, por lhe faltar a motivação verdadeira, entra num tédio depressivo ou enlouquece. O Outsider sente profunda urgência em se afastar dos costumes e práticas do burguês. Sente a necessidade de se manter alheio aos pensamentos, costumes e opiniões do mundo burguês, uma vez que eles valorizam as coisas com as quais o Outsider não se vê atraído.
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6 - DA SUA NECESSIDADE DE AUTO-EXPRESSÃO
O Outsider durante toda vida ansiou pela capacidade de auto-expressão sob alguma forma imaginativa, que não seja trivial nem não-heróica. Sente-se como um dínamo de energia, mas não tem a menor idéia do que fazer com essa energia. Busca por uma forma de agir que dê expressão ao que não é trivial. Questiona-se de como conseguir obter a força necessária para não se ver escravo das circunstâncias. Sente profunda necessidade de auto-conhecimento uma vez que não pode mais se desperdiçar, muito menos desperdiçar as oportunidades de auto-evolução e potencialidades. O Outsider é o resultado do homem que se interessa em saber como deveria viver, em vez de simplesmente aceitar a vida tal como ela é. É um contemplativo nato, acostumado a se recolher profundamente em si mesmo, reunindo suas energias, numa espiral bem apertada, para depois soltá-la na auto-expressão. Para ele, a negação da auto-expressão é a morte da alma; sem criação, desfalece o equilíbrio, a balança pende para o lado da aflição e do sofrimento.
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7 - DA SUA NECESSIDADE DE AUTO-CONHECIMENTO
Todo Outsider viveu uma vida “irreal” e só despertou para essa irrealidade quando se deparou com o limiar da dor e da morte, com o “desgosto de si mesmo e a conseqüente vontade de fugir de si mesmo”. Esse é o preço de entrada, o seu rito de passagem. O Outsider vive em busca de respostas para a questão: Seria ele um Outsider por ser frustrado e neurótico, ou seria um neurótico devido algum instinto mais profundo que o impele à solidão? Seu poder de auto-análise é profundo. Sente necessidade de isolamento e períodos de meditação em busca da palavra viva, que embora desconhecida, sente trazer consigo. Para alguns outsiders, é muito mais importante ter um intelecto vigoroso do que uma evoluída capacidade de “sentir”. O Outsider não tem certeza de quem ele é. “Ele encontrou um ‘eu´, mas este não é o seu verdadeiro ‘eu’”. Sua maior preocupação é a de encontrar, por meio da auto-análise, o caminho de volta a si mesmo. O Outsider sente a necessidade de cavar fundo em si mesmo para se livrar dessa prisão, mas, por vezes, sente medo de estar cavando na direção errada. O problema final, enfrentado pelo Outsider, está em responder de forma holística, visceral, a pergunta: “Que sou eu?”. Na resposta dessa pergunta encontra-se o limiar entre a identidade e a alteridade. O Outsider busca por um senso de harmonia, pela possibilidade de um modo de ver o mundo que faça da vida uma contínua forma de intensidade; uma visão de intensidade e vida. Busca como se aliar às forças que habitam em seu interior, para ajudá-las no que elas visam. Ele sente profunda necessidade de solidão para ver “dentro de si mesmo”.
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8 - DO ESTIGMA SOCIAL
Devido a não adequação ao estabelecido, o Outsider sofre o estigma social. Voluntariamente faz-se um dissidente social em nome da busca de liberdade, pela qual, não mede esforços. Sua incessante luta contra a fragmentação e destituição do sujeito, produz tensões e confrontos entre os espaços externos e internos, no âmago do grupo familiar e social que o acolhe ou exclui. Seu parecer sobre as questões do viver nunca são tidos em conta por causa de sua evidente “anormalidade e introversão”. Por se manter distante de situações que possam comprometer seu modo de vida, que possam afetar sua calma e segurança interior, quase sempre é tido por egoísta, insensível, frio e indiferente aos sentimentos alheios. Como a mediocridade do ambiente não é capaz de satisfazer suas mais profundas necessidades, acaba sendo visto como um teórico sonhador, um idealista platônico, um sonhador de outros mundos, um ocioso. Ao contrário de como é visto em seu meio, o Outsider não é um anormal, um acomodado vagabundo, mas sim, e tão somente, alguém mais sensível do que aqueles que se dizem normais e saudáveis. Sente-se um peregrino solitário, lutando desarmado contra milhares de soldados do sistema. O fator que faz com que suas palavras e modo de vida sejam levados a sério, é que ele convida seus conhecidos a jogarem fora a água suja, sendo que ele mesmo ainda não tem a fonte da água limpa. No entanto, em outras palavras, apesar de ainda não possuir a chave, diferente dos demais, vê nitidamente as grades da prisão. Em vista disso, o Outsider ínsita aos seus poucos ouvintes para que também se tornem dissidentes, para que abandonem a postura morna e burguesa do caminho do meio, afirmando sempre melhor ser um grande dissidente do que um estagnante burguês de valores corrompidos. Para ele, a força está nos extremos e não na convenção. O Outsider tem consciência de que os outros o tem por tolo, mas, sabe também da veracidade das palavras de Willian Blake:
“Se o tolo persiste em sua tolice, torna-se um sábio”.
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9 - DO SENTIMENTO RELIGIOSO
O Outsider sente que as experiências religiosas individuais, diferentemente dos preceitos estabelecidos pelos sistemas de crença organizadas (que nada tem a ver com religião), constituíam a espinha dorsal da vida religiosa, a qual facultam a capacidade de apaziguamento dos sentidos e a reorganização do intelecto. Ele vive de elevados valores éticos transreligiosos. É avesso a qualquer sistema de crença organizada erroneamente tida por religião. Para o Outsider, não há melhor lugar para se assistir à eterna comédia humana dos seres humanos se enganando a si mesmos do que no culto de uma congregação qualquer. Para o Outsider, a religião é algo pessoal, único e intransferível, resultante de seu processo de unicidade. Sua religião pode ser traduzida na busca de liberdade sem isolamento, na necessidade de livre movimento sem a necessidade de renúncia de sua singularidade; na busca pela experiência do êxtase criativo que lhe incentive a sair da cama pela manhã. Para o Outsider, em algum momento de tensão, deu-se uma experiência religiosa que não pode ser traduzida em palavras, um vislumbre de um poder, o contato com alguma realidade extraordinária, a percepção de uma área desconhecida de sua consciência, uma realidade mais elevada, um êxtase repentino, um momento “atemporal”. A experiência se vai, mas a consciência de sua existência permanece, deixando um forte sentimento de irrealidade quanto à realidade cotidiana experimentada. A reconquista do insight, da bem-aventurança perdida é a grande esperança para muitos Outsiders. Sua religião se fundamenta num profundo desejo de “vir-a-ser”, de progressão, de unidade, em que nada se refere à satisfação de ninharias materiais. É através de sua religiosidade que vivencia a educação dos sentidos. Por ser profundamente avesso a idolatria e ideais, é um ser que se equilibra sobre uma corda, onde em uma das pontas, bem atrás se encontra a mediocridade do conformismo a filiação a organizados sistemas de crença e, pela frente, a possibilidade de transcendência. Para o Outsider, o mundo no qual ele nasceu sempre é um mundo sem valores. Comparado com seu próprio desejo de finalidade e direção, o modo pelo qual a maioria dos homens vive não é absolutamente viver; é deixar-se levar. Tal é a desgraça do Outsider, pois todos os homens têm um instinto de rebanho, e esse instinto os leva a crer que o que a maioria faz deve ser o certo. A menos que ele desenvolva através de sua própria religiosidade, (um conjunto de valores que correspondem à sua mais alta intensidade de propósito), melhor será dar término a sua existência sem vida, pois sempre será um marginal um desajustado. Uma vez encontrado esse propósito, porém, metade das dificuldades será vencida. Se o Outsider aceitar sem hesitar que é diferente dos outros porque é destinado a algo maior; se ele se vir no papel de poeta predestinado, de profeta predestinado, ou de alguém que vai melhorar o mundo, metade de seus problemas estará resolvida. O Outsider é um profeta mascarado – mascarado até para si mesmo – cuja salvação está em descobrir o seu propósito mais profundo e a ele se entregar. Ele não possui nenhuma inclinação para a doutrina do ajustamento, do engajamento. Sua inclinação maior está na vontade de gritar ao mundo: “Acordem!” Ele é inevitavelmente um visionário. Possui uma intensidade de visão que poucos homens conheceram. Ele reconhece que todos os homens são desonestos consigo mesmos, que todos os homens se deixam cegar pelas emoções. As “respostas dos sistemas de crença” parecem-lhe mentiras destinadas a anestesiar os homens. Ele rejeita tudo que o burguês tem por religião. Para ele só interessa o “Eu sei” e nunca o “Eu creio”. Como resultado, boa parte do seu tempo e energia é aplicada na busca de formas de atração de outros homens para o modo de vida Outsider. Pode-se dizer que, o Outsider que for fiel ao seu impulso interior, que seguir em sempre frente não deixando erguidas sólidas pontes de retrocesso, esta fadado a ser um santo, ou, em outras palavras, alguém portador de perfeita sanidade mental.
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Organizado por: Nelson Jonas
Referências:
O Outsider - O drama moderno da alienação e da criação
Autor: Colin Wilson
Autor: Colin Wilson
Editora: Martisn Fontes
A necessidade da Arte
Autor: Ernst Fischer
Editora: Zahar