Não é difícil nos emancipar dos mandamentos dos pais, nos livrar das admoestações dos nossos tios, dos pedidos de nossos irmãos; mas a recusa da obediência facilmente acaba tornando nossa consciência pesada, e quando menos percebemos acabamos cedendo às pressões, porque, com base em nossa razão, as tomamos por irracionais, tanto mais conscientemente mantemos o respeito e o amor familiar, e tanto mais difícil nos é perdoar a nós mesmos uma culpa que vá contra a representação ideal que nos fazemos do amor familiar e do dever do respeito. Libertos da dependência da família concreta, caímos na mais forte dependência do conceito de família: somos dominados pelo espírito de família. A família formada por Hans, Grete etc., cujos poder e autoridade se perderam, foi apenas interiorizada, restando somente como "família" em absoluto à qual se aplica agora ao velho ditado: "é preciso obedecer mais a Deus que aos homens" (atos dos apóstolos 5,29), o que significa que "eu posso não obedecer às vossas absurdas exigências, mas, como minha 'família', continuais a ser o objeto do meu amor e da minha percepção", por que a "família" é um conceito sagrado que o indivíduo isolado não pode ofender. E esta família, assim interiorizada e desmaterializada em idéia e representação, é agora vista como coisa "sagrada", cujo poder absoluto e arbitrário é dez vezes mais irritante, porque sua voz ecoa em minha consciência. Esse poder absoluto e arbitrário só pode ser quebrado se também a família idealizada se tornar para mim um nada. As palavras cristãs: "Mulher, que eu tenho a ver contigo?" (João 2,4) e "Eu vim trazer a divisão entre filho e pai, entre a filha e a mãe" (Mateus 10, 35) e outras são acompanhadas pela referência à família celeste, a verdadeira, e indicam a exigência do Estado de, em caso de colisão entre ele e a família, obedecer aos seus mandamentos.
Max Stirner
-----
Quase todos vós procedeis de famílias ou de escolas onde fostes educados para respeitar a posição. Vosso pai e vossa mãe têm posição, o diretor tem posição, e, por conseguinte, já vindes para aqui com medo, com esse respeito à posição. Mas, temos de criar na escola uma atmosfera de liberdade, e isso só pode acontecer quando há função sem posição e, por conseguinte, um sentimento de igualdade. O verdadeiro encargo da educação correta é encaminhar-vos para serdes um ente humano valoroso e sensível, um ente humano sem medo e sem falsa idéia do respeito devido à posição.
Krishnamurti - A Cultura e o Problema Humano - Ed. Cultrix
Não sou fraterno porque, para ser fraterno, não deve haver nacionalidade, nem família; "família" como idéia - o que estou dizendo não significa que não devemos ter mulher e filhos. A família, evidentemente, é diretamente anti-social, pois está sempre oposta ao resto do mundo.
Krishnamurti - Uma Nova Maneira de Agir
-----
O humanóide é um fenômeno natural. O humanóide é criado pela sociedade - pelos padres, pelos políticos, pelos pedagogos. O humanóide é criado, é fabricado. Toda criança vem ao mundo como um ser humano - total, completo, vivo, sem nenhuma cisão. Imediatamente, a sociedade começa a sufocar a criança, a reprimi-la, a cortá-la em pedaços. Dizendo-lhe o que fazer e o que não fazer, como ser e como não ser. Sua totalidade é logo perdida. Ela sente culpa em relação ao seu ser completo. Nega uma grande parte daquilo que é natural, e por causa dessa negação, perde sua criatividade. A partir desse momento, ela será apenas um fragmento, e um fragmento não dança, um fragmento não canta. Um fragmento é sempre suicida, pois o fragmento não sabe o que é a vida. O humanóide não consegue decidir por si mesmo. Os outros precisam decidir por ele - seus pais, os professores, os líderes, os sacerdotes; eles se apoderam de toda sua capacidade para a decisão. Eles decidem, ordenam; ele simplesmente segue. O humanóide é um escravo.
Osho - Autobiografia de um místico espiritualmente incorreto
-----
A família é nossa força motriz, mas convenhamos que atualmente esta instituição milenar traduz, muitas vezes, um amontoado de pessoas de péssimo relacionamento interpessoal, de objetivos muito divergentes, de camas separadas, mas, de contas conjuntas porque "aparentar" ser uma família mantém o rótulo que a sociedade exige que seja pregado na porta de cada casa. Precisamos jogar fora as máscaras que camuflam as famílias e permitir que sejam expurgadas as mazelas que flagelaram a inviolável sociedade familiar. É necessária a família? Certamente que sim! Mas precisamos de uma família tão verdadeira quanto a necessidade de sua existência. A mentira na qual muitos vivem e chamam de família criou a doença do fingir-se casado(a) mesmo que os cônjuges nada mais tenham em comum.
Sidhartha
