Caracas! Como é difícil ficar no ócio! Talvez, seja essa a razão pela qual a grande maioria das pessoas busca por tanta atividade acelerada, em grandes centros, longe da beleza ainda não maculada da natureza. Sem dúvida, com essa aceleração, não sobra espaço para se depararem com a inquietute e com a insatisfação diante da mesmice operante.
E eu, solitariamente, em meio ao ócio, fico caçando algo que me faça sentido... Um texto, uma letra, uma foto, um livro, um filme... Inútil! Não acho nada que já não esteja contido na mesmice. É um saco! Só me deparo com uma enxurrada de discussões sobre política, futebol e pseudo-achismos que não levam a nada. Não encontro conteúdo, tudo me é um porre.
Não e nada fácil, nesta sociedade de contentes tecnologizados, encontrar por um eco de real inquietude... Não encontro números inteiros, apenas uma infinidade de pares de desgastadas crenças. Com certeza, deve faltar alguma válvula em mim, algum neurônio ou cromossomo deve ter saído com defeito. Parece que a grande maioria some diante de um pouco que seja de abertura e intimidade. Parecem ter medo... Sei lá!... Medo de que suas zonas de conforto sejam expostas, escancaradas, que as mentiras que contam para si mesmas, saltem diante de seus olhos com a mesma claridade do sol. Talvez, por isso, evitam se aprofundar no conteúdo dessas questões existenciais. Elas me tem ou como uma ameaça, ou como alguém a ser sutilmente desprezado por não apresentar nada com o qual possam beneficiar seu modo egocentrado de estar no mundo. Não há espaço para conversas de alto-nível, somente para discussões sobre questões nada relevantes. Não há parâmetros similares que causem uma fraternal propulsão de consciência. Sempre as mesmas certezas dotadas de profunda ingenuidade. Preferem contatos virtuais que não causam desafio e que não coloquem em risco suas paixões causadoras de ações e escolhas sempre equivocadas. É preferido qualquer conhecido midiático que avalize uma mentira que se torna uma verdade imediata do que meu rejeitado olhar questionador. Como ninguém quer saber de uma nova realidade libertadora, permaneço em solidão.
Em minhas buscas, o que mais encontro é uma infinidade de textos e conversas repletas de certezas, sem espaço para questionamentos causadores de salutares implosões. É um verdadeiro espetáculo de castelos de cartas marcadas e trabalho escravo, reafirmados pelos paladinos da religião e a liga da justiça consumista divina proliferando dizeres seculares repletos de certezas não questionadas. Não se dão conta de que a certeza é que é a expressão maior do tolo e por falta dessa consciência vivem dando murro em ponta de faca e, o pior de tudo, tentando infantilmente esconder as cicatrizes deixados por tais murros.
Mas, com certeza, o problema está no freguês aqui, que não consegue ficar bem em meio ao ócio, que não consegue se sentar com a inquietude sem palavras e motivos.
E em meio ao inquietante ócio, em solidão constato que, com bases erradas, escravidão sem fim para as presas fáceis do relógio consumista. Sem o ócio e a solidão, nunca se desfaz o castelo de ilusões da moda.
Em vista disso, fazer o que? Permanecer solitário em meu ócio... Afinal, antes só do que acompanhado de pessoas com seus plágiados assuntos que em nada somam para a formação da consciência humana. Sou exigente: os meus pares, tem que ser impares.
Nelson Jonas
Em vista disso, fazer o que? Permanecer solitário em meu ócio... Afinal, antes só do que acompanhado de pessoas com seus plágiados assuntos que em nada somam para a formação da consciência humana. Sou exigente: os meus pares, tem que ser impares.
Nelson Jonas