O conhecimento não nos torna livres e
nenhum projeto político pode salvar a
humanidade de sua condição natural.
humanidade de sua condição natural.
As crenças convencionais estão sempre muito afastadas da realidade. Os seres humanos desenvolvem crenças, em parte para conhecerem o mundo, mas mais frequentemente para se sentirem bem no mundo. As crenças representam a realidade até certo ponto, mas também correspondem a necessidades psicológicas de confiança e de segurança. Não há nada de mau nisso, mas se essas crenças estiverem seriamente equivocadas, se as nossas crenças acerca do mundo estão muito longe de corresponder aquilo que o mundo é de facto, isso pode mais tarde vir a causar grandes problemas. Se agirmos em função de crenças altamente equivocadas, acabamos muitas vezes por nos deparar com problemas graves.
Eu não acredito em crenças religiosas, mas acredito ainda menos em crenças políticas. No século XX, para muitas pessoas, a política substituiu a religião. O século XX conheceu muitos movimentos políticos, em regra de grandes dimensão e bastante destrutivos, o comunismo, o fascismo, foram formas seculares de crenças religiosas. Acho que uma pessoa civilizada só deve acreditar quando isso for absolutamente necessário, as crenças devem reduzir-se ao mínimo. É importante ter crenças verdadeiras, no Direito, na Ciência, na Medicina, mas em religião, em ética e em política, a dúvida é mais proveitosa do que a crença.
Não me importo de ser considerado um “céptico radical”. Isso não significa que eu rejeito a ideia de verdade, não sou um pós-modernista ou um relativista radical, acho por exemplo que a ciência, ainda que nunca alcance a verdade derradeira é o melhor guia para chegar a crenças sobre a natureza…
O erro fundamental do humanismo moderno é a crença no progresso, mas abarca a idéia mais geral de que o aumento do conhecimento é, por si próprio, libertador, os velhos mitos do Génesis e de Prometeu, o velho mito grego, daquele que foi preso numa montanha por ter descoberto o fogo, são mitos de uma grande profundidade e sabedoria. Isto não significa que se possa deter o avanço do conhecimento, não significa que se possa ou deva inverter esse avanço. Como ensina o Gêneses, depois de se comer a maçã, não se pode descomê-la, temos de aprender a viver com isso, mas temos de o fazer de olhos bem abertos. As pessoas costumam dizer, nós podemos usar o conhecimento apenas com propósitos benéficos. Quem somos “nós”? A humanidade não existe como uma unidade coletiva única, há milhões, dezenas de milhões, milhares de milhões de diferentes seres humanos com propósitos diversos, diferentes crenças e diferentes valores, todos os seres humanos têm necessidades conflituais e contraditórias, é impossível, portanto, usar o conhecimento exclusivamente para fins benéficos, haverá sempre, também, uma utilização destrutiva. O melhor a que podemos aspirar é a obter um equilíbrio mais inteligente, no sentido de usarmos o conhecimento de uma forma um pouco mais sensata, ou um pouco mais benigna.
O erro fundamental do humanismo moderno é a crença no progresso, mas abarca a idéia mais geral de que o aumento do conhecimento é, por si próprio, libertador, os velhos mitos do Génesis e de Prometeu, o velho mito grego, daquele que foi preso numa montanha por ter descoberto o fogo, são mitos de uma grande profundidade e sabedoria. Isto não significa que se possa deter o avanço do conhecimento, não significa que se possa ou deva inverter esse avanço. Como ensina o Gêneses, depois de se comer a maçã, não se pode descomê-la, temos de aprender a viver com isso, mas temos de o fazer de olhos bem abertos. As pessoas costumam dizer, nós podemos usar o conhecimento apenas com propósitos benéficos. Quem somos “nós”? A humanidade não existe como uma unidade coletiva única, há milhões, dezenas de milhões, milhares de milhões de diferentes seres humanos com propósitos diversos, diferentes crenças e diferentes valores, todos os seres humanos têm necessidades conflituais e contraditórias, é impossível, portanto, usar o conhecimento exclusivamente para fins benéficos, haverá sempre, também, uma utilização destrutiva. O melhor a que podemos aspirar é a obter um equilíbrio mais inteligente, no sentido de usarmos o conhecimento de uma forma um pouco mais sensata, ou um pouco mais benigna.
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John Gray (*17 de Abril de 1948, em South Shields) é um escritor e filósofo britânico.
Ensinou Filosofia na Universidade de Oxford atualmente ensina Pensamento Europeu na London School of Economics. Escreve também regularmente para o The Guardian, o New Statesman ou o The Times Literary Supplement. Esteve associado à Nova Direita, que em Inglaterra influenciou decisivamente a ascensão ao poder de Margaret Thatcher. Possui diversas obras, e dos vários livros influentes que escreveu sobre teoria política, destaca-se Humanos e outros Animais (2003); outros dos seus livros que merecem destaque O Falso Amanhecer; Al-Qaeda e o que Significa ser Moderno; Cachorros de Palha; A Morte da Utopia, entre outras.