Há uma tremulante diversidade de espetáculos circenses que nos convidam, quase que diariamente, a sermos espectadores passivos e pacíficos.
Uma massa de espectadores em estado vibrante faz percorrer entre os presentes uma espécie de eletricidade humana que ganha o pejo de vibrante êxtase no curto espaço de tempo relativo à duração do espetáculo.
Pura ilusão dos sentidos.
Isto é muito bem explorado pelos que se acreditam ser manipuladores do coletivo, como as indústrias cinematográficas, audiovisuais, fonográficas etc.
O que não invalida de todo estes espetáculos é que, no meio desta avultada massa coletiva, desta massa aviltada, ainda podem existir alguns raros indivíduos conscientes deste fato, conversores deste tosco fluxo de êxtase coletivo em inspiração pessoal para criar uma obra de valor, que poderia ser a transferência deste fluxo a alguém doente, alguém com sua vitalidade debilitada.
Porém, para a efetivação desta transferência seria necessário e obrigatório um estado depurado de ser. Esta depuração requer, invariavelmente, o ajuste dos erros em acertos. E para a realização fatídica deste ajuste, há períodos de desajustamentos. Períodos em que se recebe o rótulo de desajustado. Após transpor estes períodos desajustados (quando conseguimos sair deles sem lesar nossa sanidade em definitivo), recebe-se - por prêmio - a habilidade de infundir vibração vital a quem dela precisar.
Quem não consegue deixar fluir este êxtase em estado de isolamento, em feitio de oração... de oração silenciosa e só... não conhece o Viver, não conhece a Arte de viver e, enquanto não a conhecer, continuará precisando de momentos imiscuídos com esta massa informe para vibrar como espectador, como platéia, jamais como um artista real dono do palco, dono de si no palco entediante de uma vida monótona, sem aptidão para inserir mansa alegria neste contexto mortífero!
Respeitável público, com vocês o palhaço que ri da própria desgraça...
Que vontade de chorar...
Liban Raach