Durante minhas buscas, seja através dos livros, seja através dos locais, instituições, irmandades pelas quais passei, sempre me deparei com as pessoas buscando por respostas que pudessem eliminar o próprio trabalho necessário para a compreensão de seus múltiplos conflitos emocionais. Perguntas que sempre visavam a busca de possíveis atalhos a serem ministrados pelos lideres, palestrantes e mentores de tais associações. Não raro, perguntas referentes a um “como”, “de que maneira”, “quando ocorreu”, “qual o fator que foi determinante”, “o que é preciso fazer”, “como você fez”, “o que seu mestre lhe disse”, entre outras mais. Todas perguntas prisioneiras da questão do tempo, perguntas criadoras de um tempo cronológico e psicológico para a solução futura de seu problema. Pior que ouvir tais perguntas, era ouvir os líderes também caindo nessa armadilha e discorrendo suas limitadas lembranças, como se tivesse um modo, como se fosse possível afirmar com precisão “foi exatamente aqui”. Como isso pode ser possível? Como é possível afirmar que o fator determinante foi o milionésimo segundo antecedente a consumação da verdadeira liberdade do espírito humano e não o momento da bancarrota que causou o fundo de poço emocional que levou a ocorrência benfazeja de seu “despertar iniciático”? E qual a inteligência em saber o “fator determinante” do outro? No que o “time” do outro pode potencializar o trabalho pessoal de auto-investigação, meditação e auto-conhecimento? Não seriam perguntas como estas uma espécie de inconsciente escapismo para a não consumação da dissolução desse “eu” assustado, conflitado, amedrontado? Não estaria atrás destas perguntas a inconsciente procrastinação do trabalho de auto-enfrentamento? Ou na melhor das hipóteses, no caso dos mais sérios, não seriam uma ansiedade que impede de ficar n o único momento e local capaz de solucionar tal pergunta? Na sustentação destas perguntas não se cria por parte de muitos questionadores a mistificação, a respeitabilidade separatista, a “gurutização” daquele a quem se dirige a pergunta? O que seria mais válido para o processo de quem faz a pergunta: receber o histórico do tal momento determinante da experiência ocorrida no passado da pessoa atingida pela realização (realização do que ou de quem?), ou uma resposta-pergunta capaz de fazer o questionador compreender a entidade, os motivos que a levam a questionar, bem como o encontro de sua própria resposta? (visto que quase sempre a resposta se encontra na própria pergunta). Imagino que esse tipo de situação é o mesmo que alguém se aproximar de um reconhecido e premiado pescador e lhe questionar quanto ao local exato, a direção exata do imenso oceano percorrido, o momento exato da semana, a vara exata, a linha exata, o anzol exato, a isca exata, a temperatura exata da água, o modelo exato do barco, o ajudante certo para atrair “o peixe exato”? E o pior de tudo: o bom velhinho responder e o questionador acreditar na validade da resposta e seguir viagem, tendo como isca, a imitação...
Nelson Jonas R. de Oliveira