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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

17 de abril de 2012

O constante impulso para a fuga de si mesmo


Parece-me que o surgimento do impulso para a fuga de si mesmo, deu-se logo cedo, com o estímulo de nossos pais, através do uso do seio de nossa mãe, o bico da mamadeira, a chupeta adocicada com mel ou o colorido e sonoro chocalho amarrado em nosso berço.  Talvez tenha sido ali que instalou-se a ilusão de que fatores externos poderiam nos distrair de nossa natural inquietação. Esse tipo de comportamento é uma ilusão, uma vez que só tem o poder de, momentaneamente, nos distrair e não o poder de resolver a questão da inquietação e da insatisfação; ela permanece sempre lá, à nossa espera, na próxima curva do caminho, na maciez de nosso travesseiro ou na papelada empilhada sobre a mesa de nosso local de trabalho pela manhã de segunda-feira.

Com o nosso acelerado desenvolvimento físico e o retardado desenvolvimento psicológico é que ampliou-se ainda mais a nossa insatisfação, bem como, a enorme rede de fuga e alienação para com a mesma. A própria cultura e retrógrada educação são quase sempre voltadas para a exterioridade alienante, para o acúmulo de conhecimento dispersivo, para a mecânica memorização de conceitos, fórmulas e imagens, todos sustentados em ideais, que em sua essência, alimentam a fuga daquilo que é, alimentam a alienação da irreal realidade à que muitos se encontram acometidos. Nossa embolorada e condicionada educação, fundamentada na comparação e no castigo e não em colocações amorosamente inteligentes que apontam para a formação de fundamentais questionamentos, não nos preparou para o importante desenvolvimento da arte da auto-observação, para a prática da reparação quanto aos nossos impulsos, tendências e manias, o que resultaria no natural processo desenvolvimento da maturidade e no consequente alcance de uma autonomia e auto-suficiência psicológica. Tudo isto, alinhado a prática de desvirtuados e herdados sistemas de crença — os quais não se sustentam quando colocados diante de um mínimo que seja da luz da lógica, da razão e do conhecimento de seu processo histórico —, adulterou tanto a capacidade de sensibilidade, que só mesmo através da entrega à um doloroso processo de narcotização, para a qual se apresentam infindáveis métodos, uns mais e outros menos socialmente aceitos,  é que muitos conseguiram se manter apenas estressadamente existindo, ainda que sem a presença de vida e a capacidade de contemplação e de seu desfrute em qualitativa abundância.
(continua)  

Nelson Jonas
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