Quanto de despretensiosa iluminação tem aquele desconhecido
com quem cruzamos – inadvertidamente – pela rua, ou no ônibus, ou no metrô, ou no
restaurante e, através desta aproximação indesejável, sem nenhum toque físico, ocorresse
um desencargo instantâneo de todo peso que nos oprimia... que nos retesava o
semblante... que envergava a nossa coluna vertebral?
Eu, pessoalmente, já vivi isto. Mais de uma vez. No papel
daquele que recebeu o desencargo.
Foi como se houvessem arrancado – com as mãos – o fétido e
sombrio fardo que me empalidecia o ser, da cabeça aos pés.
Humildado pela gratificante sensação de arrebatamento, fiquei
paralisado... paralisado e inconformado
por isto estar acontecendo justamente comigo?
“Eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil...” , como diria Fernando Pessoa.
Se tão maternal afago aconteceu a um ser diminuto e
insignificante como eu, leitor irmão, por que não haveria de acontecer a você também?
LibaN RaaCh