Ela é a Usina, o manancial que, análogo a uma rede elétrica, percorre enormes distâncias até chegar à morada do indivíduo por meio de cabos. Quanto mais desimpedidas estiverem as linhas de transmissão, mais livre de impurezas se manifesta a criatividade, resultando em um modo de expressão claro, conciso e, acima de tudo, originalmente enternecedor.
A criatividade não tem hora nem lugar para se manifestar: ela permeia todas as horas e todos os lugares no aguardo de quem se guarda contra a invasão abusada e abusiva das impurezas permanentemente sugestionadas por vagalhões, por tsunamis, propagandísticos, despejando volumes exacerbados de informações – de deformações.
Tais vagalhões de desinformação começam inofensivos no ventre do oceano – tal qual a gama de instabilidades fóbicas que sujeitam a criança no ventre materno – recebendo, de forma involuntária e gradativa, em sua trajetória até a margem, acréscimo em seu potencial destruidor das predisposições amorosas.
Nascemos e crescemos sofrendo circuncisões contínuas a cada despontar de transmissão criativa. Aos poucos, as linhas de transmissão que nos conectam com a Usina da Criatividade vão sendo maculadas com centenas de fios de pipa e pares de calçados arremessados por convivas diretos (pais, irmãos, vizinhos, colegas de escola, professores e demais inseridos neste sistema).
Este crescente volume de água ao chegar em terra firme, ao querer concretizar seus planos feito o adulto em busca de realização profissional, deixa um rastro de destruição, de desafetos; pois as circuncisões do despontar criativo hostilizam as linhas de transmissão ao ponto de interromperem o fluxo com o manancial, com a Vida em sua acepção mais afetuosa: O Amor.
Então, testemunhamos as trágicas decorrências da ruptura e do esfrangalhamento da personalidade. Temos exemplos aos montes entre pessoas célebres sem lastro pscicoemocional para suportar as cobranças da notoriedade vindas com a fama. A mais recente foi a Amy Winehouse. Infelizmente não será a última.
O que aconteceu com a Amy no tocante à sensação de desconforto frente ao mundo – frente ao estado de desumanidade que vigora no mundo de hoje – está acontecendo a milhares de jovens e adultos.
Sim, o adulto civilizado, o adulto que internalizou os processos civilizatórios da sociedade ( que cresceu em instituições educacionais reconhecidas, que entrou no mercado de trabalho, que constituiu família...) é um ser que teve sua faculdade de amar paulatinamente extinta. No mínimo a teve deformada para convencê-lo a amar, ou odiar, conforme as regras.
Na origem da extinção de tantas espécies no planeta reside a mais cruel das extinções: a da nossa afabilidade natural. Portanto, ato criativo é algo em desuso. O que vemos por aí de criativo é mera aplicação diferente de uma mesma ideia, e não a manifestação original de uma ideia diferente.
Não me atrevo a dizer que o ato criativo esteja extinto, pois seria o mesmo que prever a extinção do ser humano enquanto ser creado e creador em nome da amorosidade.
Não me atrevo a dizer que o ato criativo esteja extinto, pois seria o mesmo que prever a extinção do ser humano enquanto ser creado e creador em nome da amorosidade.
Liban Raach