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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

25 de abril de 2011

Problema de gases

O homem que tem todos os seus horários ocupados é tido por valioso. Que critério de valores é este por trás desta avaliação?

Deve ser fácil calcular quanto este homem valioso ganha em 1 hora. Às vezes, ganha – por minuto – mais do que muitos ganham por mês. O que equivale a dizer que em 60 minutos (1 hora) obtém ganhos iguais ao sustento mensal de 60 ou mais pessoas. Por mais sábio seja este homem, e por mais ignorantes sejam as 60 pessoas, eu duvido que ele – sozinho, sem ter ninguém para dar ordens – seja capaz de fazer, em 1 hora, o que fariam as demais 60 pessoas. Ninguém, sozinho, consegue realizar tarefas concernentes a um grupo de pessoas. Portanto, existe maior valor naquele que consegue se relacionar bem com muitas pessoas do que naquele que possui conhecimentos especializados isolantes.

Existem coisas realizáveis, apenas, no âmbito dos movimentos psicoemocionais, ou seja, sozinho. São coisas relacionadas às nossas disposições internas. As demais coisas são exteriores, ou seja, são ações dependentes de um mínimo de participação de outra pessoa. É neste ponto onde se detecta a escala de valores vigente. Cada um decide participar de ações que irão trazer alguma recompensa, que irão agregar algum valor para si mesmos – seja recebendo um pagamento monetário por isso, seja adquirindo um estado de bem-estar impalpável.

Ocorre que, atualmente, o estado de bem-estar tornou-se diretamente proporcional ao ganho monetário. É raro encontrar alguém que sinta bem-estar fazendo alguma coisa sem ganhar nada por isso. Há pessoas que nem conseguem conceber a mais primária idéia de bem-estar desvinculada de qualquer ganho monetário. E justificam o mal-estar momentâneo em nome de um bem-estar vindouro.

Repetindo Krishnamurti, sem uma disposição interna isenta de conflitos é impossível contar com a participação da boa-vontade de outra pessoa na realização do que quer que seja no mundo exterior. Sempre haverá um ponto de desconforto na relação, impedindo a descontração mais producente. No entanto, nem as disposições internas estão isentas de conflito e nem a participação de outra pessoa é feita de boa-vontade. O que nos leva à necessidade de regras... regras para reger as relações sociais; regras que, no fundo, visam nos proteger de nossos conflitos e de nossas más vontades.

Uma das conquistas de minha maturação está em ter atingido um ponto de saturação de conflitos. Não que os conflitos estejam extintos em mim, não. Mas eu fiquei por tanto tempo tão cheio de conflitos que, hoje, a permanência ou impermanência deles é irrelevante. Um importante indício está nas muitas vezes em que sou abordado na rua por desconhecidos, para uma mera informação. Geralmente, são pessoas simples. Sinto-me honrado por transmitir descontração suficiente para ser abordado por pessoas simples, sem lhes causar o menor constrangimento, seja pela minha aparência, seja pelo meu modo de falar. É muito cruel quando a gente vislumbra alegria, ainda que mínima, naquele que nos causa constrangimentos. E como existem aos montes...

Pessoas assim são verdadeiras flatulências itinerantes, causando constrangimentos por onde passam!

Liban Raach

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