Convencer pessoas instruídas é tarefa ingrata. Porque as instruídas já têm o domínio – ou são dominadas – pelas suas próprias instruções.Tampouco convencer as não instruídas. Porque as não instruídas detêm suas convicções inalteráveis.
Não escrevo para convencer ninguém.
Escrevo para me elucidar. Para me elaborar e ficar de bem comigo e com o mundo. E, através desta minha
franqueza, possa contribuir ao esclarecimento – ainda que mínimo – dos
questionamentos que afligem a outros.
De nada adianta desenvolver tratados e teses sobre as ações a serem adotadas para um convívio melhor dentro da sociedade, enquanto persistir a seguinte atitude:
“eu sei o caminho que você deve tomar para ficar bem”.
Como alguém ‘de fora’ poderia favorecer a manifestação desta ‘voz interior’ de forma autêntica e inegável?
Somente quem tem acesso a sua própria ‘voz interior’ estaria apto a tal favorecimento, devendo haver prontidão para tanto. Porque existem os que têm acesso à sua ‘voz interior’, porém não estão dispostos a contribuir com a facilitação deste acesso nos outros, tomando-o como um instrumento de poder.
Favorecer a escuta da ‘voz interior’ é o maior bem que uma pessoa pode fazer a alguém.Tomemos um exemplo. Vamos supor que queremos realizar um evento.
Existem pessoas que podem criar circunstâncias de resistência ao atendimento de nosso objetivo. Porém, ao ofertar a tais pessoas o que elas realmente querem para se aquietarem, ocorre o livramento no caminho e poderemos percorrê-lo sem ameaças e sem resistências. O mesmo pode ser feito sobre nossas inclinações internas, nossa multiplicidade de ‘eus’.
Neste ponto, é necessário fazer um alerta: não estou justificando subornos, nem fazendo apologia à corrupção, pois estaria corrompendo a mim mesmo. Ressalto, também, que não estou defendendo o pagamento de propina para tirar do caminho quem o está impedindo. Esta oferta é típica de manipuladores. Não é desta espécie de oferta a qual me refiro. Estou tentando colocar aqui, como já disse acima, um registro pessoal sobre a maneira de atuação dos diversos ‘eus’ observados por mim, e em mim. Não há a intenção de fazer nenhum ‘tratado’ sobre este tema, apesar de me esforçar ao máximo para expor da forma mais clara possível. O único ‘tratado’ nestas linhas sou eu e
quem souber extrair algo daqui que possa aplicar em si mesmo.
A oferta em evidência tem base na arte de manifestar o seu grau de plenitude; sendo este, pois, um imprescindível modo de ‘tocar’ o outro, de se comunicar com o que existe de mais pleno no outro. Você oferece o que existe de mais pleno em você, seja lá em que nível esta plenitude esteja – mesmo que não esteja no grau máximo característico dos ‘iluminados’; afinal, nem eu e nem você, que está lendo estes parágrafos, estamos no grau de ‘iluminados’ – e esta sua oferta faz surgir o que há de mais pleno no outro. É simples assim. É a comunicação de minha ‘voz interior’ com a sua. Neste nível de comunicação, impedimentos são dissolvidos feito um ‘passe de mágica’.
Obtem-se, então, uma
interatividade superior... superior a qualquer afronta quanto ao nível de
escolaridade convencional!
Liban Raach