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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

15 de abril de 2011

Reflexo de toda a vida


No Oriente, nós observamos a experiência de morte das pessoas. O modo como morrem reflete toda a vida delas e o modo como viveram.

Eu só preciso assistir à sua morte para poder escrever toda a sua biografia — porque, nesse momento, toda a sua vida está condensada. Nesse único momento, com um lampejo, você mostra tudo.

Uma pessoa infeliz morrerá com os punhos apertados — ainda segurando e agarrando, ainda tentando não morrer e não relaxar.

Uma pessoa amorosa morrerá com as mãos abertas, compartilhando... compartilhando a sua morte assim como compartilhou a vida. Você pode ver tudo escrito no rosto da pessoa como se ela tivesse vivido a vida totalmente alerta e consciente.

Se ela viveu, então em seu rosto haverá um brilho luminoso; em torno do seu corpo haverá uma aura. Você chega perto dela e sente o silêncio — não tristeza, mas silêncio. Se a pessoa morreu feliz e em total orgasmo, acontece até de você de repente se sentir feliz perto dela.

Isso aconteceu na minha infância; uma pessoa muito virtuosa morreu na minha aldeia. Eu era meio apegado a ela. Tratava-se do sacerdote de um pequeno templo, um homem muito pobre. Sempre que eu passava — e eu costumava passar lá duas vezes por dia; quando estava indo para a escola, que era perto do templo, eu passava — ele me chamava e sempre me dava uma fruta ou um doce.

Quando ele morreu, eu fui a única criança a ir vê-lo. Toda a cidade se reuniu. De repente eu não pude acreditar no que aconteceu — eu comecei a rir! Meu pai estava presente e tentou me fazer parar, porque ficou constrangido. A morte não é hora de rir. Ele tentou tapar a minha boca. Disse-me várias vezes para ficar quieto.

Eu nunca mais senti essa vontade outra vez. Desde então eu nunca mais a senti; nunca antes havia sentido — rir tão alto, como se algo belo tivesse acontecido. Eu não consegui me segurar; eu ri alto.

Todo mundo ficou zangado e me mandaram para casa. Meu pai me disse: "Nunca mais deixarei que você participe de nenhuma ocasião séria! Por causa de você eu estava até ficando constrangido. Por que estava rindo? O que aconteceu? O que há na morte para rir? Todo mundo estava chorando e se lamentando e você estava rindo!"

Eu disse a ele: "Algo aconteceu... o velho liberou algo que foi extremamente bonito. Ele morreu uma morte orgásmica". Não foram exatamente com essas palavras, mas eu disse ao meu pai que eu sentia que o sacerdote estava muito feliz morrendo, muito alegre e queria que rissem com ele. Ele estava rindo, a energia dele estava rindo.

Pensaram que eu estava louco. Como um homem pode morrer rindo? Desde então eu tenho observado muitas mortes e nunca mais vi nenhuma morte desse tipo.

Quando morre, você libera a sua energia e, com ela, a experiência de toda a sua vida. Seja como for que você tenha sido — triste, feliz, amoroso, raivoso, apaixonado, compassivo, seja o que for que tenha sido — essa energia carrega as vibrações de toda a sua vida.

Sempre que um santo morre, próximo a ele há uma grande dádiva; só o fato de ser banhado por essa energia já é uma grande inspiração. Você é transportado para uma dimensão completamente diferente. Você ficará entorpecido por essa energia e se sentirá inebriado.

A morte pode ser uma completa realização, mas isso só será possível se a vida foi vivida.

Osho, em "O Livro do Viver e do Morrer: Celebre a Vida e Também a Morte"
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