Você assiste novelas? Ou não, prefere filmes?
Consegue discernir a influência deles em seu comportamento, quão incentivadores das paixões inerentes ao ser humano eles são?
Se não consegue, você é um sério candidato a ter a vocação para bode expiatório desenvolvida em seu mais alto grau. Nada mais eficaz para a continuidade de uma situação do que a existência de um bode expiatório. E isto pode ser amplificado para uma coletividade, para uma sociedade, uma nação e toda a humanidade.
As grandes campanhas publicitárias visam estabelecer agrupamentos, acreditando ser a única maneira economicamente viável de preservarem a sua existência, contrariando - combativamente - a particularização e a individualidade. Porque é antieconômico considerar um indivíduo como um ser passível de vontade própria e concepções particulares diferentes de uma massa coletiva. Seria a falência de todos os veículos de massa assim considerados. Seria a falência do sistema social qual o conhecemos hoje. Isto é aterrorizante.
Feliz aquele que convive com quem tem vocação para “bode expiatório”. Sempre terá em quem se descarregar para obter alívio e conforto de suas cargas e sofrimentos. Penso que toda a publicidade acaba por estimular tal vocação, no âmbito particular e coletivo. Quando é chegado o dia da separação entre aquele que sobrecarrega e o que funciona como “bode expiatório”, notamos o desespero de quem sempre sobrecarregou – pois agora terá que conviver com suas sobrecargas, sozinho – e o sentimento de libertação no “bode expiatório”, que passou a não ter mais ninguém a lhe atormentar.
Porém, este é só o primeiro estágio. Como a nave espacial precisa soltar e se desprender, gradativamente, de suas partes mais pesadas para atingir maiores distâncias no espaço sideral, o homem, também, precisa adquirir um estado de desprendimento em favor de uma beatitude leiga.
Liban Raach