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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

11 de abril de 2011

Vencer, ou vencer


(Subjetividade - Parte III)

Portanto, o que sai de nossa boca e os movimentos de nosso corpo revelam a nós mesmos (vide postagem ‘A soberania da subjetividade - Parte I’ e 'Subjetividade: Princesa ou Meretriz - Parte II'). Basta ficar atento e conseguimos decifrar os mistérios da força-motriz de nossas atitudes e comportamentos. Quanto mais honesta e fiel esta auto-observação, mais ‘exata’, generosa e profunda será a compreensão do outro; apesar de inapropriado classificar como ‘exato’ quaisquer aspectos da natureza humana.
Vários são os estudos que tentam desvendar o segredo da compreensão aprofundada do alheio, porém com o objetivo de ganhar vantagens em negociações.
Houve um guerreiro samurai que ninguém conseguiu derrotá-lo numa época onde só existiam armas brancas (espadas, lanças, facas, etc.). Há, na atualidade, semelhanças nas circunstâncias ocorridas em qualquer negociação, mas as armas utilizadas nas negociações contemporâneas não poderiam ser consideradas ‘brancas’, pois agridem mais do que uma espada; como toda e qualquer exploração do homem pelo homem. O guerreiro samurai que se tornou invencível até o final de sua vida – Miyamoto Musashi, autor de ‘O Livro dos cinco anéis’ - é estudado até o esgotamento por alguns empresários (homens ou mulheres de negócio) com o objetivo de aprenderem a invencibilidade em suas negociações. Este samurai atingiu tal excelência na arte de combater que nem precisava usar uma espada de metal para vencer o adversário. Existem relatos de um combate vitorioso onde ele usou, apenas, um pedaço de madeira.
A cultura empresarial de hoje torna impossível a arte da invencibilidade. Por mais vantagens que o fechamento de contratos apresente em favor dos empresários envolvidos, sempre haverá um dano insuspeitável: a de uma postura bloqueada para a empatia solidária. Pode-se acreditar que é possível acionar este bloqueio apenas nas horas de negociação, porém não funciona como um botão de liga-desliga. Uma vez incorporada, esta postura passa a atuar em todas as relações desta pessoa, dificultando a mais rasa intimidade. Alguém capaz de verdadeira empatia solidária não presta para ser empresário; ou melhor, não se presta ao papel de obter, unicamente, recompensas materiais palpáveis. A recompensa de quem tem aptidão à empatia solidária está numa dimensão abstrata, menosprezada e inacessível a pessoas condicionadas para competir.
Não é este o fundamento de toda nossa cultura: a competição?
A invencibilidade requer afastamento de toda exigência por competição. Ninguém vence quem não se importa em ganhar ou perder; pois, de uma perspectiva supracontextual e atemporal, não há ganhadores, nem perdedores, apenas pessoas comportando-se como adversárias em seus papéis temporários. Basta um pouco de distanciamento para vislumbrar que, no médio prazo, as circunstâncias que, hoje, determinam a aparente rivalidade desaparecem. Porque nenhuma situação possui o poder de se perpetuar. Como disse Heráclito de Éfeso:
— Ninguém se banha duas vezes em um mesmo rio; nem as águas, nem o banhista serão os mesmos.
Enquanto o eterno for concebido como impraticável, os tormentos transitórios estarão revestidos pela qualidade de permanência indeterminada. Ou, de outra forma: quando há a descoberta de um ponto fixo e permanente onde se pode apoiar, pelo menos, um dos pés, haverá a possibilidade de saltitar, com o outro, pelas variadas realidades transitórias, sem lamentar derrota, ou comemorar vitória, ou se incomodar com posturas alheias hostis.
Liban Raach
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