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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

11 de julho de 2011

Sobre o vício de televisão


O rádio e a televisão (computador e outras parafernálias tecnológicas*) apanham o espírito de modo direto, não deixando tempo livre para que as crianças entretenham conversação dialética e tranquila com seus livros. As cenas do cinema e da televisão não permitem o intercâmbio da comunicação e da discussão, que estimula a liberdade. A conversação é a arte abandonada. Aquelas invenções roubam tempo e roubam a cada um a consciência de si mesmo. O que a tecnologia dá com uma das mãos — tranquilidade e segurança física  —  tira com a outra. Subtrai aos homens suas relações afetivas... A intrusão da técnica usurpa as relações humanas, como se as pessoas não tivessem mais, de maneira alguma, que dar atenção e amor umas às outras... A máquina impessoal substitui o gesto e o intercâmbio humanos. As crianças educadas desse modo preferem estar sós para se refugiarem nas suas fantasias e para brincarem com geringonças mecânicas. A mecanização precipita-as no retraimento mental...

Observei, em casos de vício de televisão, os seguintes pontos:

  1. A fascinação pela televisão é realmente um vício; isso quer dizer que a televisão pode formar o hábito, cuja influência não pode ser eliminada sem interferência terapêutica ativa.
  2. Desperta precocemente a inquietação emotiva e sexual, seduzindo as c fantasirianças a ficarem olhando para a tela, vezes e vezes, embora ao mesmo tempo não compreendam bem o que estão vendo.
  3. Oferece continuamente oportunidades para a satisfação de fantasias agressivas (cenas de far-west, de crimes), ao que se seguem sentimentos de culpa  — pois que a criança tende, inconscientemente, a se identificar com o criminoso, a despeito de todos os vingadores heroicos. 
  4. É um rouba-tempo.
  5. A preocupação com a televisão elimina a atividade do poder criador do espírito   —  as crianças e adultos não fazem mais do que se sentar e observar o falso mundo da televisão, em lugar de enfrentarem suas próprias dificuldades. Quando há conflitos entre pais que não tem tempo para dedicar a seus pequenos, estes se entregam gostosamente à televisão. Esta lhes fala, brinca com elas, leva-as para um mundo de mágicas fantasias. Substitui os adultos e é sempre paciente com elas, que interpretam isso como amor. 

Precisamos estar atentos à ação hipnotizadora, sedutora de todas as formas de comunicação que tudo invadem, como à de todos os meios de ação sobre as massas. As pessoas ficam fascinadas, mesmo quando não estão muito interessadas. Devemos nos lembrar de que o desenvolvimento individual, necessita, a cada passo, de isolamento, bem como de conversação, de debate consigo mesmo e de uma revisão com o próprio eu. A televisão embaraça este processo e prepara o estímulo para mais facilmente aceitar a coletivização e o pensamento por meio de chavões. Persuade os expectadores a pensarem segundo os valores das massas. Intromete-se na vida doméstica e elimina a comunicação mais íntima entre os membros da família...

Impelido pela tecnologia, o nosso mundo tornou-se mais interdependente e nós mesmos, por força da nossa dependência de aparelhos e de conhecimentos técnicos, corremos o risco de entregar o nosso povo aos mais brutais totalitários. É esse o dilema atual da nossa civilização. A máquina, que se transformou num instrumento da organização humana e tornou possível a conquista da natureza, assumiu posição ditatorial. Arrastou as pessoas a respostas automáticas, a padrões rígidos de comportamentos e hábitos destrutivos.

Joos A.M. Merloo


* - colocado por mim, não constando do texto original
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