Fico pensando o que teria sido desta Vida, se aquele por quem Dela tomei conhecimento, tivesse escolhido relaxar em seu sofá da sala, se tivesse ao invés do antigo isolamento terrestre, optado pelo "isolamento celeste"? O que seria daquela pobre criatura errante, se este homem tivesse criado este erro? O que seria desta Vida, se ele tivesse se isolado da real vida de relação através da idéia auto-centrada de que somente o silêncio se faz necessário? Se acreditasse que as novas palavras de fogo, palavras que nada tem a ver com as antigas e melhores palavras intelectuais de seu passado, não devessem ser compartilhadas através do olhar, do calor da compaixão? O que seria desta maravilhosa Presença, que momento a momento sinto "derreter" meu antigo sombrio e solitário estado de ser, se ele tivesse optado pelo desfrute solitário deste estado de bem-aventurança? O que teria sido desta criatura se tivesse rejeitado o convite feito por aqueles que foram tocados por sua experiência divina?
Sinto-me um bem-aventurado, um ser agraciado e nunca haverá palavras que possam traduzir a enorme gratidão que trago neste coração em chamas, por todos aqueles que de forma direta ou indireta, dedicaram de seu amoroso tempo para que esta mensagem de cura, para que esta poderosa mensagem saneadora, mensagem que traz um novo chão sob os pés de um caminhante errante, que traz um novo estado de ser na vida de relação, se fizesse instalada em meu coração.
De que modo posso, depois de 47 anos de uma existência sem Vida, repleta de ocultos e abafados medos, vergonhas, complexos, ansiedades, diversas compulsões, desejos infundados, uma existência marcada pela ausência de um sentimento de pertencer, pela existência da ilusória sensação de separatividade, criadora de tantas disputas isolacionistas, como posso optar por relaxar em minha poltrona e não pensar naquele que ainda sofre devido a errônea identificação de seu ser como sendo o conflituoso conteúdo de sua mente? Como que posso relaxar nesta maravilhosa Presença, de modo solitário, sem querer compartilhá-la com aqueles que se veem enredados por essa enorme e emaranhada rede do pensamento condicionado coletivo?
Como posso me abster de tornar disponível ao "outro", um modo de ser dotado de real unidade interna entre mente e coração, unidade esta que traz consigo uma nunca imaginada autonomia espiritual, autonomia psicológica, seja lá o rótulo que possamos a ela dar, autonomia esta que nos liberta das antigas e profundas ânsias por conhecimento, ânsia essa que nos tornou por anos e anos, dependentes prisioneiros de tantas instituições, associações e sistemas de crença, sistemas estes que erroneamente tem sido nomeados como sendo "religião"?
Como posso lavar as mãos e não querer compartilhar com os demais das infinitas possibilidades de relação amorosa que agora sinto diante de meus olhos e coração? Como posso deixar de compartilhar a bem-aventurança de poder estar e sentir o prazer diante daqueles, onde naquele antigo estado de ser, apenas a presença deles já me causava o profundo mal estar proveniente de antigos ressentimentos e imagens? Como posso deixar de querer compartilhar deste desejo profundo de conhece-los pela primeira vez, de querer fazer parte de suas vidas, sem querer deles nada receber, sem querer disputar razões, conhecimentos ou então, opinar egocêntricamente em suas vidas? Como posso me abster de compartilhar deste maravilhoso estado de ser, onde, felicidade e liberdade se fazem presentes? Como posso manter minha mente em silêncio, se me abstenho de compartilhar desta maravilhosa obra que pode permitir que o outro deixe de sofrer pelo fato de não ter uma mente que consiga se manter em estado de silêncio? Essas são perguntas que se mantem, não em minha em mente, mas em meu coração.
Não consigo ver nada mais importante do que dedicar esta nova energia, para esta obra de "pescar homens e mulheres de boa-vontade", boa-vontade esta, expressa pela busca do auto-conhecimento, pela busca do conhecimento de sua real-natureza. Hoje sinto que, enquanto neste trabalho, as demais necessidades vão sendo alimentadas por "Algo" que conhece a realidade de minhas reais necessidades. Tenho visto isto acontecer, não só comigo, mas também, com outros que se dedicam com paixão a este amoroso trabalho.
Sinto que, qualquer palavra, qualquer sentimento, qualquer percepção proveniente deste novo estado de ser, se faz necessário registrar, seja pela escrita, seja pelo áudio. Não que o Ser necessite de qualquer registro, aliás, sua beleza esta justamente em ser uma chama que não faz fumaça, nem deixa cinzas. Sinto que o registro se faz necessário como placas indicativas para solitários e sofredores "buscadores sérios", como um dia fui. Se o registro, se as palavras não fossem necessárias, o que teria sido de cada um de nós? Se o registro e as palavras não são necessárias, porque então, nos permitimos compartilhar do trabalho daqueles que sentem que os mesmos se fazem necessário? Se não são mais necessários, porque não optamos pelo isolamento dentro de nossas casas? O que sinto é que não há esforço que possa ser medido para que, ao menos um ser humano, possa respirar melhor neste mundo, respirar melhor, após o contato com este trabalho que faculta a escuta de algo que sempre esteve em seu interior, mas profundamente encoberto pela enorme camada de condicionamentos provenientes de uma nefasta cultura herdada.
Não posso viver como Pilatos, não posso lavar as mãos. Sinto que isto que carrego em meu coração, sinto que esta chama amorosa que, de momento em momento, neste amoroso processo, queima todos os resquícios daquele antigo e doentio estado de ser, só pode se manter aceso, uma vez que amorosamente seja disponibilizado para aquele que, de forma consciente ou inconsciente, o busca. Sinto, que enquanto vários de meus irmãozinhos dormem, suas casas pegam fogo. Não posso, no descanso de minha casa, em estado de graça, assistir seu incêndio. Sinto que se faz emergencialmente necessário compartilhar, que seja, ao menos com uma gota desta Água Viva, deste infinito poço que descobri dentro deste ser que sou. E para isto, sinto que sou responsável.
Nelson Jonas Ramos de Oliveira