Nossos, olhos não abertos, criam obstáculos
a uma autêntica percepção das coisas.
Rabindranath Tagore
É através destes olhos que pensam ver que revelamos a nós mesmos estes olhos do coração, olhos estes que realmente veem e que, com sua presença benfazeja, traduzem ao velho olhar autocentrado, um novo olhar amoroso a tudo que se apresenta. Despertar este olhar, despertar esta visão amorosa diante de tudo que é, este divino despertar, é o que aqueles que nós chamamos de "instrutores, mestres ou gurus" traduziram como sendo "realização", como sendo "iluminação".
Para os olhos que realmente veem, para os olhos que não mais necessitam das grossas e pesadas lentes do intelecto humano condicionado, não há mais a menor necessidade de fazer uso das palavras. É por isso que afirmamos que, da abertura destes olhos, do "reinstalar" desta natural capacidade de visão perdida no decorrer da excessiva exposição à esta nefasta cultura, finda a necessidade da limitação das palavras. Termina o vício da busca, assim como o vício do questionar a esmo. Neste estado de ser, neste natural estado de visão reencontrado, o silêncio revela em tudo, a essência do que é.
Nenhuma "realização" externa, nenhuma capacidade externa, pode se mostrar tão fecunda em felicidade e liberdade, quanto a realização deste bem-aventurado estado de ser, que a tudo vê sem a limitação do espaço tempo, limitação esta, característica de um olhar ainda preso nos limites do intelecto.
Isto não pode ser uma certeza, isto precisa ser uma vivência, uma vivência direta, não traduzida, uma vivência direto na fonte de toda vivência. Precisa ser uma vivência direta no grande Vivente, no qual, a maioria ainda em estado dormente, vive.
Quando abrimos mão de nossas dependências, de nossos apegos, de nossa obtusa resistência criada por nossas desgastadas certezas, é que nos deparamos com um estreito portal que, uma vez transpassado, nos revela um estado de ser, livre de toda incerteza, livre de toda resistência, resistência esta que cria toda conflituosa necessidade de afirmar certezas. Aqui, nesta afirmação, não há nada de místico, não há nada de metafísico. Aqui, o que se faz presente é a simplicidade da constatação da evidência daquilo que é.
Nossas mentes são como fechados botões de rosa a espera da fecunda Luz da percepção direta, percepção esta que é a essência de um desabrochar que nos liberta de nosso limitado mundo de visão auto-centrada. Ao contrário do que muitos "pensam", não somos só os espinhos com os quais protegemos por anos e anos nossas inseguras certezas, espinhos estes que também nos protegem de uma verdadeira intimidade, tanto com nós mesmos como com os demais. Somos, em essência, deliciosa e invisível fragrância, fragrância esta que é livremente distribuída juntamente com a originalidade de nossas cores, originalidade que descobrimos quando nos curvamos diante da Luz.
Não é preciso acumular certezas sobre isto que escrevo agora, só é preciso "Ver" e, nesse ver iniciático, descobre-se o real sentido de Ser. Em vista disto, que a Presença Seja, agora, sempre! Portanto, bem seja!
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!
Nelson Jonas R. de Oliveira