Nós somos as coisas que possuímos, somos aquilo a que estamos apegados. Não há grandeza alguma no apego. O apego ao conhecimento não é diferente de qualquer outro vício prazeroso. Ele é ensimesmador, seja num grau mais baixo ou num grau mais elevado. O apego é um auto-engano, é um fuga à vacuidade do ego. As coisas às quais estamos apegados - propriedade, pessoas, idéias - tornam-se importantíssimas em razão de que sem todas estas coisas que preenchem esse vazio, o ego não existe. O medo de não existir conduz à posse; e medo produz ilusão, a escravidão à resultados. Opiniões, materiais ou ideológicas, impedem a realização da inteligência, a liberdade que apenas a realidade pode trazer à existência; e sem esta liberdade, a inteligência é consumida pela esperteza. As dimensões da esperteza são sempre complexas e destrutivas. É esta astúcia auto-protetora que conduz ao apego; e quando o apego provoca dor, é esta mesma sagacidade que busca o desapego e encontra prazer no orgulho e na vaidade da renúncia. A compreensão das manifestações da astúcia, das peculiaridades do ego, é o começo da inteligência.
Krishnamurti - O Livro da Vida