A realidade é apenas para aqueles que não podem suportar o sonho.” (Jacques Lacan) Esta é uma idéia interessante. Parece até coisa de poeta, mas não é. Para quem não sabe, J. Lacan não é um poeta, mas um dos estudiosos mais importantes da Psicanálise em todos os tempos. E é uma grande verdade. É do hábito refugiarmos na realidade coletiva para fugirmos de nós mesmos. Isso nos transmite segurança e nos desobriga de maiores responsabilidades. A fuga, portanto, ao contrário do que acreditamos, está na realidade, não no sonho. Faz parte do costumeiro nossa adaptação à comodidade, ao lugar-comum, às coisas seguras, que já foram mastigadas e digeridas pela coletividade. A essência de cada indivíduo é insuportavelmente única. E nada nos incomoda tanto quanto a unicidade. Por isso criamos coisas como o tal do bom senso. O bom senso nivela e estabelece o padrão. Através dele, o máximo que conseguimos é fazer o que todos fazem ou já fizeram. Isso não é evolução. Evolução requer ousadia e capacidade de criação, inovação e quebra de paradigmas. Bom senso não é condizente com criatividade. Pessoas que só se deixam guiar pelo bom senso são sempre insossas, triviais, ordeiras e uniformes. Mulheres de bom senso são amantes ruins, nem quentes nem frias, apenas enfadonhas. Claro que precisamos saber diferenciar a ousadia da burrice, mas isso depende de inteligência, não de bom senso. A Filosofia Cartesiana diz que a virtude mora no meio. Mas o meio é relativo, subjetivo, e só pode ser encontrado e mantido pelo uso permanente da razão. E diante da luz da razão, bom senso é só mais um argumento que utilizamos na tentativa de justificarmos nossa apatia mental.
Autor: Afonso - Guaxupé - MG