Caro amigo, bom dia! Espero que você esteja vivendo momentos melhores do que aqueles vividos quando de nosso último encontro. Nesta manhã nublada de setembro, espero com todo pulsar do meu ser, que você esteja vivendo momentos "ensolarados" neste Ser que lhe faz ser.
Aproveito a ocasião para lhe convidar para uma ousada e tão negligenciada experiência, a experiência de ser você mesmo, de ser você mesmo em sua real natureza e não essa natureza com a qual, por causa de nossa nefasta cultura e educação, você se identificou desde a mais tenra idade, como sendo você. Gostaria de lhe lançar muito mais que um convite, gostaria de lhe lançar um desafio, o desafio de viver na observação do que se apresenta, agora, neste instante, tanto interna como externamente, viver a constatação e nessa constatação, perceber esse "Algo" que se apresenta, como nunca antes se apresentou. Não há como colocar em palavras o que quero dizer por esse "Algo", tudo que posso colocar é que esse "Algo" traz consigo um estado de paz, de felicidade, de compaixão, de "abarcamento", de compreensão destituída de qualquer forma de julgamento, de qualquer forma de resistência. Esse "Algo" nos livra das inúmeras formas de conflitivas identificações mentais. Se há a constatação, por minima que seja, desse "Algo", dessa natureza que não é esse falso eu com o qual estamos identificados, então, instantaneamente se apresenta a manifestação de um novo modo de viver, de um novo modo de estar na vida de relação. Uma vez que essa constatação tenha ocorrido dá-se, em sequencia, um período de assimilação, um período de experimentação, experimentação essa que leva a confirmação da instalação desse "Algo" com toda a sua propriedade, fazendo com que esse estado de presença se torne um estado comum e não um estado passageiro. Isso para alguns é muito sutil, enquanto que para outros é algo bem explosivo. Aqui, também ocorre uma forte e instantânea percepção de como a mente viciada tenta reinstalar seu domínio. Isso pode até parecer complicado agora, algo místico, mas, tenho a vivência direta de que o ponto nevrálgico aqui, vai além da esfera das análises, dos achismos, pois a análise só pode nos levar até os limites do ego, que é essa nossa identificação com essa natureza irreal. Algo precisa ocorrer, e ocorre quando há a rendição de que a análise é em si mesma limitada.
Sinto lhe dizer, mas não há como atravessar esse Portal que nos leva a uma nova dimensão, que é a dimensão do coração, que é a dimensão do Ser que nos faz ser, sem que ocorra essa rendição diante do conhecido. Quando ocorre essa rendição diante da impotência da análise, esse "Algo" se manifesta e continua em sua manifestação. Isso é muito fácil de ser identificado na vida de tantos homens e mulheres que a história lhes confere a substância da “iluminação”, da “realização”. Enquanto não ocorre esse momento de rendição, o ser humano se vê prisioneiro no labirinto da análise intelectual, análise esta baseada no acervo de seus limitados conhecimentos. Hoje, mais do que nunca sinto que a análise não é o essencial, o essencial se encontra em outra dimensão, se encontra na esfera do sentir. Todo conhecimento adquirido nos leva ao descobrimento da mente, mas, este mesmo conhecimento, por vezes, para muitos, é a grande trave em seus olhos, trave esta que lhes impede a visão e o despertar de um coração em chamas. Se esse despertar não ocorre, nos tornamos meros intelectualóides de plantão e isso é um estado terrível, um estado deplorável em que mantemos sobre tudo e todos uma ácida medição que nada conhece sobre o amor e a compaixão. Nesse estado intelectualóide somos vítimas de nosso vício de fazer perguntas que não buscam por respostas, ou, na melhor das hipóteses, se buscam por respostas, não são as respostas que nos são realmente fundamentais, realmente essenciais para que ocorra uma verdadeira mutação. Nesse estado intelectualóide não há espaço para a compreensão do momento do “outro”, o que há é a constante vontade felina de 'DERRUBAR" a sustentação do "outro", de deixá-lo a beira da calçada de si mesmo.
Caro irmão, hoje, já não alimento mais o mínimo desejo de querer disputar certezas e muito menos de saber se o outro tem ou não certezas, se é ou não um iluminado, se o seu comportamento condiz ou não com aquilo que expressa... Isso não me cabe, isso é lá com o "outro". Não me interessa mais saber se o "outro" vive ou não a realidade, quero saber porque ainda vivo essa realidade ainda em partes. Isso é o que hoje conta para mim. Os inimigos externos sumiram porque caiu a ficha que há muito já durmo com o inimigo. Caiu a ficha de que alimentar controvérsias públicas me afastam desse único propósito primordial, o propósito de estabilizar esse "Algo" que aos poucos vem se manifestando e que vem derretendo todas as minhas resistências. Para o freguês aqui, a parte que me cabe está em deixar de viver isso em partes. O que sinto ser a melhor ação é deixar de ser “um mundo em trevas”. Se quero fazer algo pelo mundo, devo saber o significado de um modo de viver sem esse estado de trevas. Se conseguir isso, por osmose, o mundo também se ilumina. Hoje sinto que somos um só, tanto quando identificados com nossa irreal natureza, tanto como quando identificados no Ser que nos faz ser. Se você está identificado com sua irreal natureza, se você está identificado com essa idéia de "eu" de "ego", que é o resultado da identificação com a rede do pensamento condicionado, você alimenta esse estado de inconsciência coletiva que está no ar. Mas, se, ao contrário, pela descoberta desse "Algo" ai dentro de você, se você passa a alimentar essa constatação e, se consegue chegar a estabilização desse "Algo" em si, essa estabilização é o fim de toda identificação ilusória com sua irreal natureza, com esse ego. Isso é o fim dessa idéia ilusória de um "eu que sofre", isso é o fim da identificação com nossa irreal natureza. Em sua real natureza não existe essa coisa de um "eu sofrendo". Quando ocorre essa constatação, não de forma intelectual, mas sim, de forma holística, visceral, você de forma direta e instantânea ajuda na ampliação desse estado de consciência, estado esse consciente da própria Consciência Ilimitada, desse estado de ser que é consciente dessa Consciência. Desse modo, aquele que estiver apto, que estiver com as antenas de seu coração limpas das linhas emaranhadas dos condicionamentos capta o sinal e também acessa isso, entrando nessa maravilhosa rede amorosa. Para tanto, sinto que se faz necessário proteger essa "criança crística" que está nascendo na mangedoura de seu coração. Sinto necessário proteger esta criança do raivoso ataque do Herodes da análise, do Herodes da disputa, do Herodes da discordância intelectual. Sinto que se faz necessário o retirar-se para o deserto da Meditação, para o deserto do silêncio do nosso conhecimento. Sem esse meditativo retirar-se, esse despertar das chamas do coração não ocorre.
Caro irmão, lhe desafio de forma amorosa, a deixar que esse "Algo" reverbere ai dentro, a deixar que isso que está além das palavras faça ecos em seu coração, nunca perdendo a consciência das investidas da mente. Quanto mais se vai para a dimensão do coração e não para a dimensão da análise, que é uma limitada dimensão da mente, que é do ego, que é da nossa irreal natureza, mais esse "Algo" vai se manifestando, se manifestando com uma qualidade amorosa e abarcante. É preciso estar consciente de que a grande disputa nunca ocorre do lado de fora, isso é uma ilusão, uma forma de dispersão, toda forma de disputa sempre ocorre dentro de nossa mente, dentro de nossos sentimentos, dentro de nossas emoções. Quando nos identificamos com elas, interiormente, acabamos por vomitá-las no externo, sempre infectando aos demais. Aqui, é preciso a constatação clara de que o “outro” já não é a questão, o “outro” é tão somente uma espécie de lixa grossa que pode nos ajudar no polimento das arestas que encobrem nossa natureza real. O “outro” é quem traz a lenha para nosso fogo ascender ou, se estivermos desatentos, por meio da identificação com o irreal, nosso fogo apagar. Quanto mais nos aproximamos desse "Algo", quanto mais nos aproximamos da verdade, quanto mais próximos dela, mais os desconhecidos e benéficos resultados se apresentam, resultados estes, nunca se quer imaginados na dimensão da análise, na dimensão da lógica e do intelecto.
Mais uma vez, caro irmão, ouso lhe lançar este convite: aventure-se com aquilo que é, com aquilo que neste momento se apresenta diante de você. Constate tudo do mesmo modo que você constata a exibição de um filme diante de seus olhos. Deixe tudo fluir sem qualquer forma de julgamento, sem qualquer forma de identificação com os monólogos dos personagens que se apresentam. Se você conseguir isso, com certeza estará condenado a ser feliz, estará condenado ao final feliz dessa ilusória dimensão de tempo e espaço.
Um fraterabraço e um beijo em seu coração.
Seu sempre amigo e irmão,
Nelson Jonas R. de Oliveira