O pensamento é profundamente fragmentário, separatista, isolacionista. Ele é a raiz de toda forma de conflito, discórdia, desentendimento, discussão, disputa, antagonismo, ódio, crueldade. Qualquer coisa que seja vista, por meio do pensamento, terá o conflito como resultado. Qualquer coisa que seja ouvida por meio do pensamento, não poderá, de fato, ser escutada, uma vez que o pensamento é velho, limitado, condicionado.
O pensamento criou o senso de separatividade dando a ilusória realidade à individualidade e, através da idéia de individualidade, de um "eu" e um "você", deu-se início a toda forma de competição e crueldade. Quando se dá importância psicológica ao pronome, este fragmenta a totalidade, impedindo a comunicação, que se torna coisa distante, isolada.
O pensamento é o causador do processo de "escolha", que defende como "livre arbítrio", o qual, obrigatoriamente cria "resistência" que, por sua vez, cria o conflito que retroalimenta o pensamento sustentado na idéia de "eu", do "indivíduo" que tem direitos a escolha e que, por se achar com "direitos", cria o conflito na defesa desses direitos contra outro que se sente como "indivíduo" e que também defende seus direitos antagônicos.
O pensamento busca por segurança e continuidade nos estreitos limites das possibilidades apontadas pela lógica, pela razão, pelo conhecido, portanto, nunca pode se deparar com o atemporal, com o mundo das infinitas possibilidades. Sua visão é limitada no condicionado, no convencionado, pelo que se encontra no script socialmente aceito. Cada estrutura, com seus fragmentos, com sua particular forma de ambição, de desejo, quando se depara com "outra" estrutura igualmente fragmentada, cria conflito, caos e desordem. Isso é o que o pensamento chama de relação, de relacionamento: uma relação de mentes isentas de realidade; o que chama de relacionamento, na verdade, não passa de ego-conveniência, com breves intervalos de bem estar, causado pela ausência de conflito. Isso ocorre inclusive com aqueles que se encontram como "egos em processo de esclarecimento"; os momentos de bem-estar perduram até que seja suportável a contenção do desejo, da ambição, o que torna possível, momentaneamente, abrir mão da idéia de defesa da "individualidade". Quando, na defesa da idéia de direito de defesa da individualidade, o conflito entre egos se instala.
Tudo aquilo que o pensamento "pensa" entender, nomeia como realidade e, tudo aquilo que, por não conseguir "pensar" não consegue entender, rotula como sendo absurdo, sendo levianamente descartando por imediato. Sem se aventurar num minucioso e destemido mergulho no que julga absurdo, mantém sua continuidade, sempre nos estreitos limites do conhecido.
NJRO